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sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

“Matrix Resurrections”: Wachowski trola os fãs e dá um tiro no pé da franquia

Boas ideias são desperdiçadas em roteiro fraco e precariedade técnica, algo que entra em conflito gritante com a trilogia original

- por André Lux

Expectativa é tudo quando se trata de apreciar um novo filme que pretende dar continuidade a uma franquia bem sucedida. Foi assim com Star Wars. É assim com Star Trek. E não poderia deixar de ser com Matrix. Ou seja, é praticamente impossível para qualquer apreciador assistir ao novo produto sem trazer consigo a bagagem de tudo que veio antes.

O primeiro filme data de um longínquo 1999 e revolucionou a sétima arte em termos de novas tecnologias de filmagem, efeitos especiais e incorporação de diversos aspectos da cultura pop e filosóficos em uma única obra. Visto hoje, o “Matrix” original continua impressionante, porém seu impacto jamais será o mesmo para quem o assiste pela primeira vez agora, haja visto as centenas de imitações que vieram na sua esteira. Os efeitos e truques de filmagens que na época eram inovadores, hoje parecem meros clichês.

Até mesmo as duas continuações, “Matrix Reloaded” e “Matrix Revolutions”, falharam em impressionar e muita gente simplesmente não gostou porque os realizadores, os irmãos Wachowski, subverteram as expectativas e fecharam a trilogia de forma bem diferente do que se esperava do clichê da “jornada do herói”. Eu fui um dos poucos que realmente sacaram as intenções dos dois filmes e gosto deles até hoje, mesmo reconhecendo seus defeitos (leia aqui minha análise da trilogia).

Chega agora, 20 anos depois de “Revolutions”, a quarta parte da franquia, intitulada “Matrix Resurrections”. A grande pergunta sobre o filme é: por que foi feito? E a resposta está no próprio longa, em uma das várias tiradas sarcásticas que os roteiristas inventaram para rir de si mesmos: porque a Warner Brothers, detentora dos direitos, iria dar sequência à franquia com ou sem a participação de seus criadores, que hoje são duas mulheres transexuais Lana e Lily Wachowski (antes Larry e Andy), embora somente Lana aceitou participar da produção de “Resurrections”.

Já que foi forçada a fazer a nova sequência contra sua vontade, a cineasta optou por sabotar seu próprio filme. Embora “Revolutions” tenha fechado a trilogia original sem deixar muitas pontas soltas para uma continuação, obviamente o universo de Matrix poderia ser explorado de inúmeras formas, mas Lana optou pelo caminho mais fácil: fazer uma espécie de reboot do primeiro filme ao mesmo tempo que dá sequência aos eventos do último, algo que está na moda hoje em Hollywood e quase sempre resulta em fracasso junto aos fãs.

“Resurrections” é uma colcha de retalhos que mistura boas ideias, nostalgia e soluções simplistas. Mas são as duas últimas que predominam e as (poucas) premissas interessantes são desperdiçadas e não chegam a lugar algum. A melhor coisa acaba sendo o primeiro ato, quando Neo, novamente preso à Matrix, começa a perceber que algo está errado quando é obrigado a fazer uma continuação da série de videogames de sucesso chamado, bem... Matrix. E aí Wachowski aproveita para alfinetar a lógica corporativa que quer tirar leite de pedra dessas franquias, ao mesmo tempo que ironiza a falta de entendimento do público médio sobre os reais significados de Matrix.

É uma pena que tudo isso seja esquecido a partir do segundo ato que vira uma mera releitura do que já foi visto (inclusive com várias inserções de cenas dos filmes anteriores), com os personagens repetindo o que já foi feito, só que sem a menor vibração, suspense ou emoção. Keanu Reeves nunca foi um bom ator, mas aqui está catatônico, sussurrando seus diálogos como se estivesse... prestes... a... ter... um... ataque... de... cólica... intestinal. O resto do elenco é fraco e parece saído de uma série para adolescentes da Netflix. No terceiro ato alguns diálogos mais profundos melhoram a experiência, mas ainda é muito pouco perto do que já foi mostrado antes.

O que mais chama a atenção, além do roteiro fraco e sem qualquer inspiração, é a precariedade técnica do filme, algo que entra em conflito gritante com a trilogia original: lutas coreografadas de modo apressado, perseguições simplórias e efeitos visuais capengas. Fica evidente que faltou dinheiro e certamente a pandemia da Covid-19 atrapalhou bastantes as filmagens. No final das contas, parece um filme feito por algum fã de Matrix.

Já vi duas vezes “Matrix Resurrections”. Na primeira algumas passagens chegaram a me deixar constrangido. Na segunda achei menos ofensivo, certamente porque já estava sem qualquer expectativa. Infelizmente não é por isso que o filme deixa de ser fraco, apenas fica mais tolerável. E novamente a gente se pergunta: por que diabos fizeram esse filme? Embora a resposta seja óbvia, fica difícil de entender porque deixaram ser realizado dessa forma, já que é uma clara trolagem contra o estúdio e os fãs que já estão enfurecidos xingando o filme nas redes sociais e nos canais de youtube. Ou seja, mais um tiro no pé - só que em “bullet time”...

Cotação: **

2 comentários:

Anônimo disse...

A bem da verdade, eu nunca achei nada de mais em Matrix, que o saudoso José Wilker descreveu perfeitamente como um filme onde um sujeito aprende a brigar melhor.

André Lux disse...

O Wilker falava umas besteiras indefensáveis...