Série é violenta, mal feita e tem um impressionante número de furos no roteiro, sem falar da traição ao espírito das séries criada por Gene Rodenberry
- por André Lux
É simplesmente lamentável o rumo que a franquia “Star Trek” (“Jornada nas Estrelas”) tomou depois do “reboot” iniciado por J.J. Abrams no cinema em 2009. Eu até gostei desse filme, porém começou a desandar no segundo “Star Trek: Além da Escuridão” (o terceiro foi inofensivo) e desembocou na grotesca série “Star Trek: Discovery”, certamente uma das coisas mais ridículas e ofensivas já produzida por Hollywood (clique aqui para ver minha análise das duas temporadas da série).
O grande culpado por isso certamente é um tal de Alex Kurtzman, roteirista e cineasta sofrível que simplesmente destrói tudo que põe a mão. Surge então “Star Trek: Picard”, nova tentativa do Kurtzman e do estúdio CBS em continuar lucrando em cima da franquia, dessa vez sobre o grande Jean-Luc Picard, capitão da Enterprise D em “Star Trek: A Nova Geração”. Mas sinceramente não tem absolutamente nada a ver com a série que teve sete temporadas e é muito amada pelos fãs da franquia.
Confesso que não estou entre eles. Gosto da série, porém sempre achei meio tediosa e nunca me conectei satisfatoriamente com os personagens. “Star Trek” para mim continua sendo a série original com Kirk, Spock e o doutor McCoy. Todavia, “A Nova Geração” tem muitas qualidades, sendo a principal delas justamente o capitão Picard (feito pelo grande Patrick Stewart, um inglês interpretando um francês!) que era um formidável diplomata, quase sempre conseguindo resolver os problemas com uma boa conversa racional.
Infelizmente, quando “A Nova Geração” foi para o cinema, mudaram bastante a caracterização de Picard tornando-o mais brigão e heroico, dizem que por exigência do próprio ator, algo que irritou os apreciadores da série. Porém, não chega nem perto dessa aberração chamada “Star Trek: Picard” que da franquia tem apenas os nomes. Consegue ser ainda pior e mais irritante que “Discovery”, algo que ninguém imaginava possível. É impressionante o número de furos e inconsistências no roteiro e a total falta de sentido na trama como um todo. Sério, daria para escrever um livro sobre isso se analisarmos a fundo cada episódio de tão grotescos que são.
Todavia, o que mais incomoda é como pintam a Federação dos Planetas nessa realidade, especialmente os seres humanos. Nas séries originais criadas pelo grande Gene Rodenberry, a humanidade do futuro havia resolvido suas mesquinharias e aprendeu a viver pacificamente, sendo a Federação uma irmandade de seres das mais variadas espécies, voltada para a ciência e para a exploração espacial. Claro, de vez em quando as coisas esquentavam e aconteciam lutas e guerras, porém quase sempre tudo era resolvido com diplomacia, até mesmo por Kirk que adorava ter sua camisa rasgada durante uma troca de socos.
Em “Star Trek: Picard” a Federação é a grande vilã, pintada como uma organização decadente e cheia de preconceitos! Como assim? Na verdade, essa ideia vem da cabeça dos criadores da série Michael Chabon e Kurtzman que queriam levar uma mensagem contra o presidente Donald Trump e a favor das minorias e dos perseguidos aos espectadores. Até aí, nada contra, porém tudo é feito com a sutileza de um elefante com dor de dentes e acaba sendo um grande tiro no pé. A situação ficou tão ruim que vários produtores e roteiristas foram demitidos no meio das filmagens, muita coisa teve que ser alterada e várias sequências foram refilmadas de forma completamente diferente, o que resultou numa série sem pé nem cabeça, onde nem mesmo a trama principal faz o menor sentido ou tem qualquer resolução.
Por exemplo, alguém consegue explicar como e por que as duas androides gêmeas foram parar uma na Terra e outra dentro de um cubo Borg? Ou como os romulanos sabiam disso? E o que elas tem realmente a ver com o comandante Data (Brent Spiner, que aparece em pontas)? E como explicar então que os romulanos, que tiveram seu império dizimado por uma supernova (eventos que acontecem no “Star Trek” de 2009) obrigando muitos de seus membros a viverem em um planeta em condições precárias, no final aparecem com uma frota de mais de 200 poderosas naves? É tanto furo e coisas sem sentido que, como falei, daria para ficar dias falando só sobre isso.
“Picard” consegue também ser pior que “Discovery” nos aspectos técnicos, pois parece pobre, mal feita, tem uma edição péssima (alguns cortes parecem ter sido feitos por amadores), efeitos especiais fracos e um elenco formado por canastrões risíveis (a direção e o roteiro dos episódios também não os ajuda em nada), onde até Patrick Stewart está fora de forma (aos 80 anos de idade ele parece cansado e praticamente sussurra seus diálogos sem vigor). Acho que o pior personagem é o romulano ninja que parece irmão gêmeo do Elrond, o elfo de "O Senhor dos Anéis"!
Separados no nascimento: o Elfo e o Romulano Ninja |
Mas, acima de tudo, a série é chata, desinteressante, repleta de cenas de violência extrema (chegam a arrancar o olho de um personagem e várias cabeças são decepadas!), palavrões e gírias típicas da nossa época. Se fosse uma série de ficção científica qualquer resultaria abaixo do medíocre, porém ao usar o nome “Star Trek” fica simplesmente abominável, principalmente quando incorpora o magnífico tema musical criado pelo mestre Jerry Goldsmith para “Star Trek: O Filme” e que depois foi escolhido como o tema principal de “A Nova Geração”.
“Picard” está sendo massacrada pela maioria dos fãs, que dizem que a franquia agora está sendo feita "por gente que não conhece Star Trek, para gente que não gosta de Star Trek". Com razão. Seria bom que os executivos da CBS os ouvissem e repensassem como vão tratar a franquia daqui para frente, porque se continuarem assim, somente os fanáticos que louvam qualquer coisa que tenha o nome de sua adoração vão continuar assistindo. O que é uma pena. Gene Rodenberry não merece isso, sinceramente...
Cotação: ZERO
2 comentários:
o que você achou da trilha sonora composta pelo Jeff russo?
Achei fraca, como quase tudo que esse clones do Zimmer fazem.
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