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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Filmes: "Tudo Pelo Poder"

OS FINS JUSTIFICAM OS MEIOS?

Filmes sobre política geralmente não caem bem no gosto popular, porém este merece ser visto e, principalmente, debatido, pois levanta questões que não possuem respostas fáceis.

- por André Lux, crítico-spam

George Clooney, em seu quarto trabalho na direção, mostra que é um cineasta inteligente e engajado politicamente. “Tudo Pelo Poder” (adaptação pobre para o título original “Os Idos de Março”, uma referência a Julio Cesar, de Shakespeare) é um filme sobre os bastidores da campanha política de dois candidatos do partido Democrata que pleiteiam a vaga para a próxima disputa pela presidência da república dos EUA. Um deles, interpretado por Clooney, é um homem de fortes ideais humanistas e trabalhistas e que defende projetos francamente radicais (como acabar com os motores de combustão a petróleo e taxar os milionários, coisas que soam como total heresia na sociedade de consumo dos EUA).

Por trás dele existem dois assessores, especializados no jogo político. O mais experiente e calejado, interpretado por Phillip Seymour Hoffman com seus maneirismos de sempre, e o novato e cheio de ideais nobres (o excelente Ryan Gosling, de “Diários de Uma Paixão”). A trama traz o básico nesse tipo de filme: intrigas, traições, decepções, suspeitas, as chantagens da mídia e debates sobre ideologias. Mas acima de tudo, Clooney deixa no ar a pergunta mais importante de todas quando se trata de política e eleições: afinal, os fins justificam os meios?

Quem vai ter que respondê-la é justamente o assessor jovem e idealista que descobre, da pior maneira possível, que seu estimado candidato é, afinal de contas, apenas um ser humano com qualidades e defeitos. Assim Clooney, que também é co-autor do roteiro inspirado em uma peça de teatro, mostra de forma contundente que todo ser humano é passível de falhas e de cometer atos desprezíveis, mesmo que tenha bom caráter e as melhores intenções. E é justamente essas falhas e deslizes que os políticos sem escrúpulos buscam encontrar espionando e escrutinando com uma lupa a vida de seus adversários.

“Tudo Pelo Poder” é também uma verdadeira aula de realpolitik, algo que todo radical de esquerda deveria entender de uma vez por todas: no sistema democrático capitalista não é possível ganhar uma eleição e governar sem fazer concessões e alianças, mesmo que elas em última instância manchem os nobres ideais daquele político ou de seu partido. Quem não entende isso, obviamente não pode ser levado a sério quando se fala em disputa política dentro do atual sistema eleitoral, a não ser é claro que queira apenas servir de bobo da corte, tanto à direita quando à esquerda.

Filmes sobre política geralmente não caem bem no gosto popular, porém “Tudo Pelo Poder” merece ser visto e, principalmente, debatido, pois levanta questões que não possuem respostas fáceis. Assista e comprove.

Cotação: * * * *

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Blu-Ray: Trilogia "Jurassic Park"

JURASSIC PARK: O PARQUE DOS DINOSSAUROS

DINOSSAUROS PSICOPATAS

Spielberg mexeu demais na história e banalizou e diluiu uma trama extremamente rica e promissora

- por André Lux, crítico-spam

É uma decepção total essa adaptação do best seller JURASSIC PARK, escrito pelo também cineasta Michael Crichton (COMA, O 13º GUERREIRO). Mas a culpa é do diretor Steven Spielberg, que mexeu demais na história e banalizou e diluiu uma trama extremamente rica e promissora. 

Quem leu o livro de Crichton sabe que ele estava mais interessado em abordar a questão da intervenção do homem na natureza, principalmente na genética - tema que o filme explora de maneira débil. 

Em uma das passagens mais terríveis do livro, por exemplo, o dr. Grant (Sam Neil) descobre que os dinossauros, criados todos fêmeas pela engenharia genética, estão se reproduzindo na ilha, fator que, somado aos acontecimentos descritos no início do livro, indicam nada menos do que a extinção da raça humana. No filme, a descoberta é seguida de um sorrisinho do tipo "ohhhh, eles estão se reproduzindo, que fofo!".

Entretanto, o livro não se limita a discussão intelectual e filosófica, pois traz momentos realmente genuínos de tensão e aventura, além de uma quantidade impressionante de perseguições e dinossauros dos mais variados tipos. Já JURASSIC PARK, o filme, é basicamente um engodo, pois é visivelmente um filme de segunda unidade, já que Spielberg estava com sua atenção voltada totalmente para A LISTA DE SCHINDLER, que foi filmado simultaneamente. A trama foi sumariamente reduzida e idiotizada e o sucesso do filme justifica-se apenas pela estrondosa campanha de marketing em cima dos efeitos especiais digitais que embora impressionem, são poucos, já que a maioria das criaturas era mesmo animatronicks criadas pelo saudoso Stan Winston.

A única cena realmente boa do filme é a da chegada à ilha, que conseguiu reproduzir por alguns momentos (graças à majestosa trilha musical de John Williams) aquele clima mágico dos filmes antigos de Spielberg. Mas tirando isso e uma ou outra cena de suspense legítimo, o resto de JURASSIC PARK resume-se a uma correria desenfreada e cansativa, onde além da canastrice geral do elenco, temos que aturar criancinhas metidas a engraçadinhas, dinossauros psicopatas (que perseguem os personagens sem nenhuma explicação lógica e abrem até portas!) e incriveis furos no roteiro (como a jaula do T-Rex, que em uma cena fica no nível do solo, mas instantes depois é mostrada como um altíssimo precipício).

A expressão "muito barulho por nada" nunca fez tanto sentido para descrever um filme como JURASSIC PARK - embora a continuação O MUNDO PERDIDO tenha conseguido a proeza de ser ainda pior!

Cotação: **1/2

JURASSIC PARK: O MUNDO PERDIDO

DINOSSAUROS PSICOPATAS: O RETORNO

Mais uma vez somos obrigados a ver personagens burros e esquemáticos correndo de um lado para o outro enquanto são perseguidos por monstros digitais

- por André Lux, crítico-spam

Não dava mesmo para esperar muito desse O MUNDO PERDIDO, seqüência do já fraco JURASSIC PARK. Mas Spielberg e sua trupe realmente superaram-se! É difícil dizer o que é pior nesse filme, que mais parece uma produção B de Roger Corman, só que sem o charme e o clima de auto-gozação daquelas películas.

Não há história, já que O MUNDO PERDIDO basicamente é uma refilmagem do primeiro filme. Mais uma vez somos obrigados a ver um monte de personagens burros e esquemáticos correndo de um lado para o outro enquanto são perseguidos (e devorados) por dinossauros digitais psicopatas.

Entretanto, o troféu abacaxi certamente vai para Jeff Goldblum (no auge da canastrice) e sua filha que proferem alguns dos diálogos constrangedores em atuações amadorísticas. Sem falar que o personagem dele, o dr. Ian Malcom, mudou completamente de personalidade de um filme para o outro! Nem mesmo a sempre competente Juliane Moore salva-se, completamente perdida em um personagem irritante, profundo como uma poça d'água e extremamente burro. O que dizer então do cientista/ativista "interpretado" por Vince Vaughan, que passa o filme todo dizendo frases de efeito e piadinhas fora de hora - e que simplesmente evapora na segunda parte do filme?

Para piorar tudo, os conflitos e situações de perigo são filmados apressada e displicentemente (tipo, "deixa como está que o pessoal da computação gráfica dá um jeito") e as cenas de ação são forçadas e banais - atingindo o ápice do rídículo na seqüência onde a menina negra derrota um Velociraptor usando seus dotes de ginástica olímpica!

No final, um T-Rex corre solto pela cidade de San Diego e, em uma seqüência grotesca, devora um homem interpretado pelo próprio roteirista do filme, David Koepp. Pena que isso não tenha acontecido na vida real, pois daí não teríamos que aturar mais essa irritante bomba cinematográfica que não serve nem mesmo como comédia involuntária...

Cotação: *

JURASSIC PARK III

DINOSSAUROS DIVERTIDOS, ENFIM!

Filme é divertido, alucinante, assumidamente B e, por que não, verdadeiramente assustador.

- por André Lux, crítico-spam

Depois do decepcionante JURASSIC PARK e da ridícula continuação O MUNDO PERDIDO, esse JURASSIC PARK III parecia ser o fundo do poço para o franchise baseado no ótimo livro de Michael Crichton.

Mas, para surpresa geral, o terceiro exemplar da série é o mais divertido e bem realizado de todos. Tudo bem, não é nem de longe uma "obra-prima" da sétima arte, mas é exatamente a falta de pretensão (que sobrou no primeiro) e da pieguice do segundo, que transforma este filme em uma boa pedida para quem está em busca de ação e aventura incessantes.

Basicamente não há história - até aí nenhuma novidade, já que os outros dois também não tinham - e o roteiro aproveita diversas situações dos livros, que haviam ficado de fora dos dois primeiros filmes (como toda a sequência dentro da gaiola dos Pterodáctilos, o ataque no barco e mesmo a conclusão). Entretanto, o maior acerto do filme é não se levar a sério, evitando papo-furado pseudo científico e as irritantes piadinhas fora de hora (fatores que ajudaram a arruinar os anteriores).

E finalmente os dinossauros são mostrados em toda sua grandeza, lutando, destruindo e comendo gente sem dó, ao contrário da baboseira politicamente correta imposta por Spielberg nas outras produções - nos quais as cenas mais eletrizantes ficavam por conta de carros pendurados em desfiladeiros. Por sinal, a saída de Spielberg da direção parece ter sido a melhor coisa que poderia acontecer com a série, já que Joe Johnston ficou livre para ir direto à jugular do espectador, tendo a seu lado efeitos especiais assombrosos. 

Também é uma grata surpresa a ausência de criancinhas chatas e intrometidas e de Jeff Goldblum, cuja atuação constrangedora arrasou o segundo filmes.

Enfim, JURASSIC PARK III é tudo aquilo que os dois antecessores não eram: divertido, alucinante, assumidamente B e, por que não, verdadeiramente assustador. Sem dúvida uma boa surpresa - se você não estiver esperando muito mesmo...

Cotação: ***

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Filmes: "O Preço do Amanhã"

ROBIN HOOD 2.O

Crítica ao capitalismo derrapa em roteiro fraco que insiste em inventar cenas de perseguição e ação

- por André Lux, crítico-spam

Em "O Preço do Amanhã" o diretor e roteirista Andrew Niccol (do excelente "O Senhor das Armas") tenta fazer uma crítica oportuna ao sistema capitalista por meio de uma ficção científica que apresenta um futuro distópico onde o tempo vira, literalmente, dinheiro.

Por meio de engenharia genética a raça humana só vive até os 25 anos e, a partir daí, tem que "comprar" tempo para continuar viva sem envelhecer. A idéia parece promissora e faz uma parábola óbvia com o sistema atualmente vigente onde a maioria das pessoas trabalha hoje para poder comer amanhã. A sociedade é separada por castas na qual os mais ricos tem mais tempo de vida e vivem separados dos mais pobres por barreiras policiais.

A confusão começa quando um operário pobre (o fraco Justin Timberlake, ex-cantor pop) recebe mais de um século de tempo de um rico entediado com mais de 100 anos de vida que quer morrer. Obviamente ele vai para o setor dos ricos e numa série de eventos que não são muito convincentes, começa um relacionamento com a filha de um banqueiro (Amanda Seyfried, que passa o filme todo com uma peruca ridícula). Perseguido pela "polícia do tempo", ele rapta a filha do magnata e vira uma espécie de "Robin Hood 2.0", roubando tempo dos ricos e distribuindo entre os pobres.

Se a premissa é interessante, o filme derrapa na sua execução, culpa de um roteiro fraco que insiste em inventar cenas de perseguição e ação sem que houvesse necessidade só para tentar fisgar uma audiência mais jovem. A mensagem do filme contra o capitalismo, apesar de óbvia, é por demais ingênua (de acordo com o filme, basta você roubar 1 milhão de dólares e distribuir entre os pobres para fazer o sistema entrar em colapso!). Como sempre nos filmes de roliudi temos um vilão mor que representa a maldade do "sistema", policiais incorruptíveis que perseguem os heróis sem trégua e personagens unidimensionais que passam o tempo todo disparando frases de efeito.

Além disso, o filme tem algumas besteiras imperdoáveis, como os heróis sofrendo um acidente de carro violento (sem usar cinto de segurança) e saindo andando ilesos, a mocinha correndo de lá pra cá usando salto alto agulha, os ridículos relógios que todos tem implantados na pele e eles assaltando bancos que não tem qualquer tipo de segurança.

No final das contas, "O Preço do Amanhã" não agrada quem procura um filme de ficção mais elaborado nem quem quer apenas ver perseguições e correrias. Uma pena.

Cotação: * *

sábado, 26 de novembro de 2011

Filmes: "A Coisa"

COISA MAIS SEM GRAÇA

Filme não passa de um amontoado de cenas de ação, correria e efeitos visuais exagerados que não transmitem qualquer emoção

- por André Lux, crítico-spam

É uma decepção total esse prólogo do filme de terror cult de 1982 dirigido por John Carpenter "O Enigma de Outro Mundo" (agora chamado corretamente de "A Coisa"). A nova obra se propõe a contar o que aconteceu no acampamento dos noruegueses que encontraram o alien enterrado no gelo e tenta ao máximo seguir os passos do filme anterior no design visual e sonoro. Porém, o resultado não tem graça nenhuma.

O filme já começa em plena ação, com os noruegueses encontrando a nave espacial no pólo norte e depois, com a ajuda de uma paleontóloga estadunidense, desenterram o alienígena que logo foge e já começa a matar indiscriminadamente. Ou seja, tudo é rápido demais, não há qualquer tempo para desenvolver os personagens e muito menos criar algum clima de suspense.

A criatura sai atacando de forma ilógica e incoerente com o que vimos no primeiro filme (no qual ela só se atacava na certeza de isolamento ou quando era exposta). Os efeitos visuais são fracos e as transformações da Coisa não causam nenhum tipo de choque (tão diferente do filme de Carpenter).

Há ainda muitas oportunidades perdidas, como quando entram na espaçonave e nada de interessante acontece. Eles poderiam também tentar se comunicar com a criatura, afinal ela era inteligente o suficiente para viajar pelo espaço sideral e assumia a forma humana, mas que nada, os diálogos são bobos e frouxos e todo mundo já corre tacar fogo na Coisa.

Nem mesmo a tentativa no final de unir as pontas com o filme de John Carpenter chega a convencer e nem vou falar aqui da conclusão da história principal, que é ridícula - o filme simplesmente para e entram os créditos, sem qualquer explicação sobre o destino de um dos sobreviventes!

A trilha musical de Marco Beltrami é interessante e incorpora de maneira inteligente o tema principal composto por Ennio Morricone para o filme original, mas no final das contas o compositor não tem muito o que fazer além de compor música barulhenta já que o filme não passa de um amontoado de cenas de ação, correria e efeitos visuais exagerados que não transmitem qualquer emoção. Lamentável.

Cotação: * 1/2

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Filmes: "A Lista de Schindler"

MONSTROS HUMANOS

Revisto hoje, filme levanta de forma involuntária a questão de que não estariam hoje os próprios judeus de Israel cometendo as mesmas atrocidades dos nazistas contra os palestinos?

- por André Lux, crítico-spam

Que motivos levaram uma nação que foi berço de alguns dos maiores artistas e pensadores da história a se render a uma ideologia que pregava o ódio e a intolerância? Como podem as diferenças entre seres humanos tornarem-se desculpas para que atos bárbaros sejam cometidos? O que leva uma pessoa aparentemente normal a matar a sangue-frio um semelhante seu como se fosse um inseto?

Não era o objetivo do diretor Steven Spielberg responder a essas perguntas, mas é impossível não formula-las ao final de “A Lista de Schindler”, filme que finalmente deu ao cineasta por trás de “Tubarão” e da série “Indiana Jones” o status de diretor sério que ele tanto queria.

Filmado em preto e branco para, segundo Spielberg, deixar o filme menos insuportável devido à violência gráfica de algumas cenas, “A Lista de Schindler” é construído sobre um ótimo roteiro de Steven Zaillian que mostra com tintas extremamente realistas a perseguição aos judeus na Polônia e sua recolocação no Gueto de Krakow, em 1941, onde famílias inteiras eram amontoadas em pequenos quartos, até a transferência de todos para o infame campo de concentração comandado pelo sociopata Amon Goëth (um impressionante Ralph Fiennes, em sua estréia no cinema).

É impossível não se emocionar com o poder das imagens dirigidas com surpreendente comedimento por Spielberg e captadas magistralmente pela câmera de Janusz Kaminski. As cenas de mulheres, homens e crianças sendo friamente assassinados com tiros na cabeça são de uma crueza insuportável, mas nunca apelativas ou redundantes. Mas o que difere “A Lista de Schindler” de tantos outros filmes sobre o Holocausto Nazista é o caráter profundamente humano e realista que os realizadores conseguiram imprimir à obra, até mesmo ao retratar o monstruoso líder do campo de concentração, Goëth.

Apesar de ser o “herói” do filme, Oskar Schindler (Lian Neeson) é mostrado como um empresário ganancioso e sem escrúpulos que enriqueceu se aproveitando da guerra e do fato que podia usar judeus em sua fábrica praticamente como mão de obra escrava. A princípio ele mantem-se afastado dos horrores que acontecem à sua volta, mas vai gradativamente sensibilizando-se até o ponto de sentir-se obrigado a agir em favor dos oprimidos.

Para tentar ilustrar o ponto da transformação do protagonista, Spielberg construiu duas seqüências chave usando um recurso até certo ponto simples, porém extremamente eficaz: a menina do vestido vermelho que ganha cores por meio de trucagem na pós-produção, vista correndo perdida no meio dos nazistas e, depois, já morta sendo levada para a pilha de cadáveres queimando. É nesta cena que “A Lista de Schindler” atinge seu ápice como obra cinematográfica, numa perfeita fusão de som, imagem, música (uma das obras-primas de John Williams) e interpretação do elenco capaz de arrepiar até o último fio de cabelo do corpo.

A partir daí o filme vira uma corrida contra o tempo, na qual Schindler tenta salvar o máximo de seus empregados que pode, usando para isso toda a sua fortuna. Alguns dos cacoetes do diretor relativos ao uso de crianças como fonte de humor e um certo didatismo desnecessário podem ser encontrados em certos pontos do filme, mas nada que chegue a comprometer o resultado final.

Spielberg só escorrega mesmo quando coloca Schindler tendo um acesso de dor na consciência durante o qual cai de joelhos aos prantos questionando se não poderia ter salvado ainda mais vidas. Justamente por ser redundante e apelativa, esta sequência acaba tornando-se a menos plausível do filme todo.

É impressionante o poder que o filme tem sobre quem o assiste, mesmo numa revisão. O impacto do registro quase documental daquela monstruosidade praticada em nome de uma suposta “raça superior” e de uma ideologia grotesca (que lamentavelmente ainda encontra seguidores até hoje) vai continuar chocando sempre, independente de credo religioso ou ideologia política.

Por tudo isso, “A Lista de Schindler” será sempre um alerta poderoso que, embora não consiga responder às questões levantadas no início deste texto, mostra com riqueza de detalhes as consequências terríveis geradas pelo ódio, pela intolerância e pelo preconceito. Além de involuntariamente levantar a questão de que não estariam hoje os próprios judeus de Israel cometendo as mesmas atrocidades dos nazistas contra os palestinos?

Cotação: * * * *

domingo, 16 de outubro de 2011

Filmes: "Fuga de Los Angeles"

SNAKE IS TRASH

A gente até tenta gostar, mas chega um certo ponto que só nos resta desistir e rir de toda ruindade.

- por André Lux, crítico-spam

Não deu certo essa tentativa do diretor John Carpenter e do astro Kurt Russel em trazer de volta o personagem Snake Plissken do cult "Fuga de Nova York". 

Realizada com 15 anos de atraso, o que deveria ser uma continuação dos eventos narrados no primeiro filme acabou virando uma mera refilmagem, com o protagonista repetindo os feitos que realizou anteriormente. 

Só que agora em Los Angeles que, assim como Nova York, também virou uma prisão de segurança máxima.

O problema básico de "Fuga de Los Angeles", além do roteiro clonado, é que não foram capazes de recriar o clima do primeiro filme, nem visualmente muito menos no tom da narrativa. Se os méritos de "Fuga de Nova York" eram justamente a capacidade que Carpenter e sua equipe tiveram para disfarçar o baixo orçamento com uma fotografia escura e cheia de contrastes, um roteiro enxuto, efeitos especiais realistas e personagens críveis, aqui foram na direção oposta.

Tendo um orçamento bem mais generoso ao seu dispor, Carpenter optou por uma aproximação exagerada, beirando a histeria, em clima de sátira e auto-referência, esquecendo que Snake Plissken sempre foi cult, mas nunca foi popular. Isso quer dizer que o slogan do filme, "Snake Está de Volta!", certamente deixou a maioria das pessoas coçando a cabeça, sem saber o que aquilo queria dizer.

Além disso, os realizadores cometem outros pecados, como optar por uma direção de fotografia (de Gary B. Kibe) clara e desprovida de profundidade que deixa o filme com um ar totalmente falso e sem a menor chance de provocar algum suspense. 

Apesar de Kurt Russel ainda estar bem na pele de Snake, só isso não é suficiente para salvar o filme, já que as situações em que ele se encontra são geralmente absurdas demais e, por vezes, ridículas (como ele tendo que jogar basquete sozinho para não ser morto ou surfando em um maremoto!). Nem engraçado o filme consegue ser, apenas constrangedor. 

Bons atores como Steve Buscemi, Peter Fonda, Stacy Keach, Bruce Campbell e Pam Grier (como um travesti com voz de zumbi) são desperdiçados em personagens sem o menor carisma ou caricatos ao extremo.


Kurt Russel e Peter Fonda surfando numa "nice"
Esse é o tipo de filme que a gente até tenta gostar por causa de todos os envolvidos na produção, mas chega um certo ponto que só nos resta desistir e perceber os efeitos especiais capengas, os diálogos embaraçosos e as atuações canhestras. 

Ao menos Carpenter imprime à narrativa uma boa dose de humor corrosivo contra os políticos de direita de seu país na figura do presidente dos EUA (Cliff Robertson) o qual, no filme, é um fanático religioso que previu o terremoto que devastou Los Angeles e, por causa disso, ganha plenos poderes para alterar a constituição de seu país e decretar uma série de medidas que restringem a liberdade dos cidadãos - nesse sentido acabou sendo premonitório ao governo de George Bush Junior.

É uma pena que Snake tenha voltado de maneira tão lamentável. E o fracasso retumbante do projeto acabou frustrando os planos de fazerem mais uma seqüência, que seria intitulada "Fuga do Planeta Terra". 

Melhor mesmo rever o original ou então entrar no clima de trash e dar risada de toda aquelas pessoas e situações ridículas que colocaram o pobre Snake no meio...

Cotação: * 1/2

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Filmes: "Fuga de Nova York"

CULT POR EXCELÊNCIA

Obra resiste muito bem a uma revisão e continua a ser um dos mais bem sucedidos filmes "B" da história do cinema

- por André Lux, crítico-spam

"Fuga de Nova York" é uma mistura inteligente e eficaz de vários elementos de ficção científica, faroeste e terror, todos muito bem orquestrados pelo diretor John Carpenter (de "Halloween - A Noite do Terror" e "Starman"), que usa toda sua criatividade para disfarçar o baixo orçamento do filme (apenas US$ 6 milhões).

Calcando seu roteiro em cima da figura carismática do anti-herói rabugento e arredio Snake Plissken (Kurt Russel, em ótima interpretação), Carpenter consegue o milagre de nos fazer acreditar numa trama completamente absurda cujo ponto de partida é a transformação da cidade de Nova York numa prisão de segurança máxima, dentro da qual são jogados (para nunca mais voltar) todos os tipo de criminosos.

Essa premissa maluca ganha contornos ainda mais surreais quando o avião do presidente dos EUA, o Força Aérea Um, é seqüestrado por rebeldes contrários ao governo chamado por eles de fascista e jogado dentro da prisão. Mas o presidente escapa, só para ser capturado pela gangue liderada pelo temível Duque de Nova York (o cantor negro Isaac Hayes). O problema é que o mundo está em guerra e o presidente estava indo justamente para uma conferência de paz apresentar uma fita Cassete (que coisa datada!) que iria mudar os rumos do conflito (não era mais fácil pegar o cara que falava na fita e leva-lo até a tal reunião?).

Como não podem invadir o presídio, resta ao chefe de polícia (Lee Van Cleef, o "Mau" de "Três Homens em Conflito" e de outros filmes de Sergio Leone) coagir Snake, ex-soldado e recém-condenado a ser jogado na prisão de NY, a ajudar no resgate. Obviamente que ele aceita com relutância sem saber que só tem 22 horas para entrar e sair com o presidente, caso contrário será o fim da conferência e também do próprio Snake, que teve injetado em seu corpo duas cápsulas explosivas que só podem ser desativadas pela equipe da polícia!

Mesmo com tantos absurdos na trama, Carpenter segura com mão firme seu roteiro e para isso conta com um desenho de produção que sabe explorar muito bem as locações e com a ótima fotografia de Dean Cundey (ele depois iria trabalhar com Spielberg em vários filmes). Os efeitos especiais também são muito eficientes e nunca parecem ter sido feitos com parcos recursos. James Cameron, diretor de "Titanic", foi um dos que ajudaram na confecção dos efeitos, muito antes de sonhar em ficar famoso! A trilha musical, feita pelo próprio Carpenter em parceria com Alan Howart, também é um dos ponto altos e garante ao filme um clima de opressão e suspense constantes.

Graças a tudo isso "Fuga de Nova York" virou cult e conquistou uma grande quantidade de apreciados, gerando inclusive várias imitações. Mas a obra resiste muito bem a uma revisão e continua a ser um dos mais bem sucedidos filmes "B" da história do cinema e, na minha opinião, o melhor filme do diretor John Carpenter até hoje, inclusive no excelente uso do humor negro, da crítica social e da ironia.

15 anos depois, a mesma equipe produziu uma espécie de continuação, chamada "Fuga de Los Angeles", mas infelizmente não conseguiram chegar nem perto das qualidades do original.

Cotação: * * * *

domingo, 9 de outubro de 2011

Filme: "O Enigma de Outro Mundo"

HORROR EXPLÍCITO

Filme tem qualidades suficientes que o fizeram virar cult no mundo todo depois de fracassar nos cinemas

- por André Lux, crítico-spam

"O Enigma de Outro Mundo" (tradução ridícula para "The Thing" - A Coisa) foi a grande chance que John Carpenter (de "Fuga de Nova York") teve, em 1982, de entrar para o time dos cineastas que têm portas abertas nos grandes estúdios de Hollywood. 

O filme, uma releitura da obra "Who Goes There?" que já dera origem ao clássico "O Monstro do Ártico", de Howard Hawks, foi bancado pela Universal que colocou à disposição de Carpenter um generoso orçamento - algo inédito na carreira do diretor, acostumado até então a trabalhar com produções classe B e recursos limitados.

Só que o filme acabou sendo um grande fracasso tanto de crítica quanto de bilheteria na época, prejudicando a carreira de Carpenter pelo menos até a Fox o chamar, anos mais tarde, para fazer "Os Aventureiros do Bairro Proibido". Um dos motivos apontados para isso foi o azar que teve de ser lançado junto com "E.T." (também produzido pela Universal). 

Ao que parece o público se encantou com o alienígena benevolente de Spielberg a ponto de rejeitar completamente o outro filme, que trazia uma criatura que era justamente o oposto disso.

A verdade é que John Carpenter tende a se perder quando tem um orçamento muito generoso em suas mãos, concentrando sua atenção em exageros e redundâncias e deixando de lado justamente aquilo que é o esteio de sua obra: a capacidade de usar sua criatividade para driblar de modo engenhoso as limitações de produções pobres.

Isso é um fato que já pudemos facilmente constatar analisando outros filmes dele bancados por um grande estúdio como "Os Aventureiros do Bairro Proibido" e "Fuga de Los Angeles".

E "O Enigma de Outro Mundo" não é exceção. Enquanto a produção é caprichada (com direito a uma réplica real das instalações de pesquisa científica numa locação de difícil acesso no Ártico, design da criatura e produção dos efeitos de maquiagem do consagrado Rob Bottin e trilha do maestro Ennio Morricone), acabaram deixando de lado o que o filme deveria ter de melhor: justamente o seu roteiro! 

Escrito por Bill Lancaster, ele não tem muita consistência narrativa e deixa várias pontas soltas e personagens perdidos ou sem profundidade. Por causa disso, todos ficam parecendo mau humorados o tempo todo e torna-se difícil identificar quem é quem na trama - fator que não permite empatia e, por conseqüência, impede que nos importemos com seus destinos. Nem mesmo Kurt Russel chega a se destacar como o piloto de helicóptero que acaba tendo que liderar a contragosto a luta contra a criatura.

Entretanto, o filme tem qualidades suficientes que o fizeram virar cult no mundo todo depois de seu lançamento em vídeo. A mais evidente delas é o excelente trabalho de Bottin. Ele realmente caprichou na bizarrice e no grotesco, dando a "O Enigma de Outro Mundo" o charme de se tornar um dos filmes de horror mais explícitos e chocantes de todos os tempos. 

Algumas cenas são realmente inacreditáveis até hoje, de tão fortes, especialmente a do peito de um sujeito que se transforma numa enorme boca, enquanto a sua cabeça se desgarra do corpo e sai correndo com pernas de inseto!

A música de Morricone, feita nos moldes do que o próprio diretor estava acostumado a compor para seus filmes (isto é, minimalista ao extremo), é quase que totalmente calcada em sintetizadores e no uso das cordas da orquestra, dando ao filme uma textura extra de frieza e desolação cortantes que até fazem sentido tendo em vista a falta de calor dos protagonistas. Todavia, muito do material que Morricone compôs para o filme acabou não sendo usado na montagem final (mas pode ser ouvido no CD com a trilha sonora).

O clima opressivo da neve e do frio congelante (cortesia da fotografia azulada de Dean Cundey) também ajuda a manter um clima de constante tensão. 

Principalmente quando os protagonistas se dão conta do que está acontecendo à volta deles e passam a viver em total paranóia sem saber quem está ou não infectado pela criatura alienígena (que aqui não é um mero monstro à espreita como em "Alien", mas algo que clona tudo que encontra pela frente tornando-se uma imitação exata).

A verdade é que o fracasso do filme durante seu lançamento é até justificável e compreensível por causa de todos os fatores negativos apontados acima. Mas, por isso mesmo, "O Enigma de Outro Mundo"acaba melhorando muito numa revisão, principalmente quando passamos a diferenciar melhor os personagens uns dos outros e, claro, devido aos efeitos visuais que continuam impressionando até hoje.

A prova disso está no lançamento agora em outubro de 2012 do novo "The Thing", que será uma espécie de prólogo do filme de John Carpenter e deverá mostrar os fatos que se sucederam com a equipe de cientistas noruegueses que descobriram a criatura antes dela atacar a base estadunidense.

Cotação: * * * 1/2

Trailer do novo "The Thing"

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Cine Trash: "STARCRASH"

TRASH ABSOLUTO

Não perca esse filme, candidato fortíssimo ao prêmio de pior de todos os tempos!

- por André Lux, crítico-spam

Quando eu achava que já tinha visto todas as imitações ridículas de “Star Wars” feitas nos anos seguintes ao lançamento do filme original de George Lucas, em 1977, eis que surge “Stracrash”, um filme que consegue a proeza de ser ainda pior do que “O Humanóide” e “Yor, O Caçador do Futuro”!

Também dirigido por um italiano usando pseudônimo de estadunidense, “Starcrash” é tão ridículo, mas tão ridículo que, claro, é uma ótima comédia involuntária. É difícil até começar a falar do filme, pois a ruindade é espantosa desde a primeira cena até a última.

Bom, o herói desse colosso da ruindade é um sujeito narigudo com um cabelo no melhor estílo “colméia de abelhas”, típico dos anos 1970, chamado Akton (“interpretado” por Marjoe Gortner) que passa o filme todo com uma cara de pateta, dando sorrisinhos amarelos mesmo nas horas mais difíceis.

O mais engraçado desse personagem é que, sem mais nem menos, ele começa a demonstrar poderes sobrenaturais dignos de um Jedi, desviando raios laser, curando os enfermos e prevendo o futuro (coisa que ele não faz muito porque é “proibido por lei” – hein, como assim?). Ele também empunha um tipo de sabre de luz igual ao do Luke Skywalker e parece ser invencível, até que é atingido de raspão no braço por um tiro e... simplesmente morre!

O herói narigudo e sua espada laser dos pobres
O vilão de “Starcrash”, chamado Count Zarth Arn, é a coisa mais bizonha que eu já vi, uma mistura de Conde Drácula com Zé Bonitinho. O sujeito faz umas caretas dignas das maiores risadas! Tem também um robô que acompanha os heróis cujo nome é Elle que fala com sotaque de alguém que acabou de chegar do interior do Texas! Os efeitos especiais são tão primários que é quase impossível entender o que se passa na tela.

É ou não é o vilão mais assustador de todo os tempos?
Na verdade esse filme é um veículo para que a "atriz" Caroline Munro, uma das musas do cinema B da época, exiba seus dotes físicos em vestimentas sumárias. Numa das cenas mais engraçadas do filme, ela, usando um biquini futurista, escapa de um planeta prisão simplesmente começando uma briga e saindo por uma porta do cenário – que misteriosamente parece dar direto em um matagal!

O espaço sideral é mesmo um bom lugar para se usar biquini!
O filme tem algumas cenas antológicas em termos de cinema trash:
1) os heróis sendo atacados por amazonas malvadas que comandam uma gigante de ferro que possui inclusive tetas!
2) O robo texano sendo esbugalhado por um monte de homens da caverna que se jogam sobre os heróis!
3) Uma batalha espacial em que pessoas dentro de torpedos são literalmente jogadas através das janelas (?) da nave do vilão!
4) O herói conversando com o computador central da sua nave que é representado por um cérebro gigante no meio da sala de controle!

Nossos heróis sendo perseguidos por um colosso tetudo!
E, assim como “O Humanóide” (Ennio Morricone) e “Yor” (John Scott), “Starcrash” também teve trilha musical produzida por um compositor classe A, no caso o consagrado John Barry, de vários filmes do James Bond e “Dança Com Lobos”. Diz a lenda que os produtores escondiam o filme dele e só mostravam algumas cenas para ele musicar, com medo que Barry desistisse de trabalhar tamanha a ruindade do resultado! A bomba conta também com uma constrangida participação de Christopher Plummer no papel do imperador bondoso.

Vou parando por aqui, senão passo o dia citando as passagens ridículas desse filme que é um primor do trash, candidato absoluto a pior filme de todos os tempos! Não perca!

Cotação: ZERO 
Como comédia: *****

Vejam algumas cenas do filme:





quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Filmes: "X-Men: Primeira Classe"

FORÇANDO A BARRA

Filme seria um prólogo do primeiro da série, mas tudo parece forçado para tentar encaixar as coisas na mitologia já consagrada dos X-Men

- por André Lux, crítico-spam

Depois de três filmes da série e um solo do Wolverine, “X-Men: Primeira Classe” é mais uma tentativa dos executivos da Fox de tentar lucrar em cima da franquia baseada nos personagens criados por Stan Lee, cujo primeiro capítulo era muito bom. Mas o resultado é medíocre. Não chega a ser ruim, mas não passa do banal.

A melhor coisa do filme é a dupla de atores que interpretam os jovens Professor X e Magneto, feitos por James McAvoy e Michael Fassbender. Os dois são ótimos atores e seguram bem seus personagens, mesmo quando o roteiro insiste em dar a eles cenas tolas e diálogos banais.

O problema dessa obra é que se trata de uma daquelas infames “prequels”, ou seja, seria um prólogo dos eventos descritos no primeiro filme da série. Então eles inventam um monte de cenas e autoreferências (como uma aparição ridícula do Wolverine) que servem apenas para ligar os dois filmes. E muitas delas não tem a menor lógica.

A pior de todas é terem inventado que a Mística seria uma espécie de irmã adotada do professor Xavier, o que é totalmente absurdo se levarmos em conta a participação dela nos outros filmes da série.

Eles criam também um vilão super malvado, que seria um cientista nazista que faz testes com o Magneto ainda jovem no campo de concetração (que foi mostrado no início do primeiro filme). Mas o personagem é mal delineado (nunca entendemos direito quais são seus poderes), caricato e feito de forma descontrolada por Kevin Bacon.

Mas triste mesmo é o plano dele: forçar os EUA e a já extinta União Soviética a entrarem em guerra nuclear para destruir o mundo e, assim, governá-lo (realmente um plano genial!). Isso coloca os mutantes do bem, recrutados pelo serviço secreto estadunidense, no meio da crise dos mísseis entre EUA, Cuba e URSS, tentando assim imitar sem sucesso “Watchmen”, onde os heróis também intervinham em eventos reais a serviço dos EUA.

O filme tem cenas de ação e efeitos especiais suficientes para agradar quem gosta do gênero, porém não apresenta quase nada além disso. Nem mesmo a separação dos mutantes entre os que ficam com o Professor X e os que aderem às ideias do Magneto chega a convencer e, no final das contas, tudo parece forçado para tentar encaixar as coisas na mitologia já consagrada pelas outras histórias.

Mas, ao que tudo indica, mais continuações virão na esteira dessa obra. Afinal, os executivos de roliudí não famosos por forçar a barra para tentar tirar leite de pedra...

Cotação: * *

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Filmes: "Cowboys & Aliens"

DÁ PRO GASTO

Maior defeito do filme é se levar a sério demais

- por André Lux, crítico-spam

Claro que não dá pra levar a sério um filme cujo título é “Cowboys & Aliens” - e talvez esse seja seu maior defeito: ele é levado com mão pesada e violência excessiva. O estranho é que o diretor é Jon Favreau, bom comediante (esteve em “Friends”) que fez o razoável “Homem de Ferro”, que funcionava justamente por ser leve e trazer muito humor.

Aqui partiu para a direção oposta. Apenas um personagem tenta trazer graça à história (o dono do saloon feito por Sam Rockwell) e o nosso eterno “paizão” Harrison Ford tenta de vez em quando fazer umas caretas cômicas sem muito sucesso. Por sinal, o personagem dele é muito esquisito, começa meio vilão com um sotaque estranho e sem mais nem menos vira bonzinho e fica sem sotaque algum do meio para o final. O coadjuvante mais interessante, o padre feito por Clancy Brown (o inesquecível vilão Kurgan de “Highlander”), infelizmente sai de cena muito cedo.

O protagonista é um sujeito sem memória que acorda no meio do deserto e já de cara mata três mal encarados a sangue frio e com requintes de crueldade (naquela velha máxima roliudiana do cidadão que sofre de amnésia e esquece de tudo, menos de suas super habilidades marciais!). Ele é feito pelo feioso novo James Bond, Daniel Craig, que aqui atua no módulo “robô-sem-expressão”. A bela Olivia Wilde (a 13 de “House”) tem um personagem misterioso que ajuda os mocinhos a lutarem contra os aliens do título.

No final, vira uma bagunça só, com um monte de gente – inclusive índios - se juntando para combater os malvados aliens, que, ilogicamente, parecem e agem como um monte de ogros babões que dominam tecnologia avançadíssima. Se você desligar o cérebro por duas horas (o filme também é um pouco longo demais) dá até para se divertir. Pelo menos é bem feitinho, tem bons efeitos visuais e o elenco ajuda. Ou seja, dá pro gasto, desde que não se espere muito.

Cotação: * * 1/2

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Filmes: "O Planeta dos Macacos - A Origem"

MACACO BANAL

Lição de moral maniqueísta contra a ciência dilui qualquer pretensão maior desse prólogo de uma das maiores obras primas da ficção científica.

- por André Lux, crítico-spam

O “Planeta dos Macacos” original, de 1968, é considerado por muitos com uma obra prima da ficção científica no cinema. Seu impacto e sucesso na época foram tão grandes, principalmente pela conclusão que impressiona até hoje, que o filme deu origem a quatro continuações caça-níqueis (uma pior que a outra), uma série de TV e até uma refilmagem ridícula dirigida por Tim Burton recentemente.

Chega agora “Planeta dos Macacos – A Origem”, que os estadunidenses chamam de “prequel”, ou seja, uma espécie de prólogo do filme original. Só que se a gente pensar bem, o novo filme nada mais é do que uma refilmagem do terceiro episódio da série original, “A Conquista do Planeta dos Macacos”, que mostrava uma revolução simiesca liderada pelo filho de Cornélius e Zira.

Esse novo filme elege a ciência e sua busca por novas curas para doenças como os vilões da história. Assim, os macacos evoluem por causa de experiências feitas no laboratório de uma grande indústria farmacêutica, na qual os cientistas fazem o mal involuntariamente enquanto os homens de negócios são mostrados como gente sem qualquer escrúpulo.

O problema dessa abordagem é que esse é um conceito por demais complexo para ser pintado de forma tão maniqueísta. Tudo bem, mal tratar animais é algo abominável, assim como podemos questionar a ética de usá-los como cobaias em experiêncais. Todavia, quantas vidas foram salvas nos últimos séculos justamente por causa dessas experiências? No filme toda essa dualidade desaparece e, devido à abordagem preto-no-branco, somos forçados a torcer para os macacos em sua luta por liberdade, o que transforma o líder César numa espécie de Che Guevara símio, outro sinal da esquizofrenia de uma cultura flácida e escapista que, na vida real, trata o revolucionário argentino como um enviado do diabo. Ou seja, tudo bem você se identificar com a luta e torcer por personagens iguais a Guevara no cinema, mas nunca no mundo real!

Existem várias referências ao filme original, porém nenhuma delas é inteligente o suficiente para se tornar marcante (por que mostrar o ator Charlton Heston em uma imagem de filme na TV e não no embarque da nave que seria a usada pelos astronautas na obra de 1968?). Tecnicamente o filme é bem feito, tem uma direção segura, excelente edição e trilha musical adequada de Patrick Doyle (dos filmes de Shakespeare de Kenneth Branagh).

Os efeitos especiais também seguram bem o fato de serem macacos digitais, criados a partir da captura dos movimentos e expressões de atores humanos (Andy Serkis, que foi o Gollum na trilogia “O Senhor dos Anéis” dá vida ao protagonista César).

Porém, com uma lição de moral tão óbvia e maniqueísta, qualquer pretensão que o filme poderia ter acaba sendo diluída, transformando-o apenas em uma ficção científica banal e sem maiores consequências. Nem mesmo o final chega a ter qualquer impacto (sem dizer que é idêntico ao do filme "Os Doze Macacos"!) e deixa aberta a porta para continuações que certamente virão, já que o filme foi um grande sucesso de bilheteria e de crítica nos EUA.

De qualquer forma, nada supera a grandeza e o impacto, inclusive político, do filme original, dirigido por Franklin Schaffner que, entre outras qualidades, contém uma trilha musical incrivelmente inventiva e marcante do mestre Jerry Goldsmith. Vale mais a pena revê-lo.

Cotação: * * 1/2

Filmes: "Deixe-me Entrar"

UMA GRATA SURPRESA

Filme serve também de alerta para pais que não dão aos filhos a atenção necessária nesse mundo cada vez mais violento e individualista

- por André Lux, crítico-spam

O diretor Matt Reeves confirma seu talento para o gênero terror e suspense com o ótimo “Deixe-me Entrar”, que é uma refilmagem de um filme sueco de 2008. 

Totalmente diferente do sua obra anterior, “Cloverfield”, que possuía a estética frenética de algo que havia sido filmado durante a ação por um dos protagonista, “Deixe-me Entrar” é lento e investe na construção do suspense em cada fotograma, emoldurado por enquadramentos muito bem feitos.

A história gira em torno de duas crianças, sendo uma delas um vampiro, que iniciam uma amizade inusitada. Os atores mirins Kodi Smit-McPhee (do assustador “A Estrada”) e Chloe Moretz dão um show a parte em atuações precisas e muito bem dirigidas por Reeves. 

A luta pela aceitação é o tema básico do filme, já que ambas crianças tem dificuldade imensa em se inserir no mundo que as cerca. Uma delas é atormentada pela violência latente de um grupo de valentões no colégio e sofre também com o divórcio dos pais. A mãe, além de fanática religiosa, é totalmente ausente (ao ponto de nem vermos seu rosto durante o filme todo) fator que apenas aumenta ainda mais as inseguranças da criança.

A outra é uma criatura que vive em corpo de criança mas tem idade muito acima das aparências e necessita de sangue humano para viver. Aos poucos, vai nascendo uma amizade entre ambos, enquanto eventos trágicos vão se acumulando durante a projeção. 

Apesar de ser sobre vampiros, o filme não prioriza as cenas de violência ou de efeitos sanguinolentos, preferindo investir num clima sombrio e trágico, que vai aumentando à medida que a trama avança – no que a trilha musical discreta e assombrosa de Michael Giacchino ajuda muito.

Num gênero que caminha a passos largos para a saturação, “Deixe-me Entrar” é uma grata surpresa e serve também de alerta para pais e mães que não dão aos filhos a atenção necessária para garantir sua proteção nesse mundo cada vez mais violento e individualista no qual vivemos.

Cotação: * * * *

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Filmes: "Super 8"

**ATENÇÃO: Essa crítica contém spoilers!**

SEM MAGIA

Roteiro mais furado que queijo suiço e repleto de absurdos detona pretensão de capturar o espírito dos filmes de aventura dos anos 80

- Por André Lux, crítico-spam

"Super 8" é uma tentativa do diretor J.J. Abrams (da série "Lost" e do novo "Star Trek") de reviver a época mágica dos filmes de aventura e ficção que fizeram a festa da garotada nos anos 80. Não é a toa que Steven Spielberg atua na produção.

Mas a receita desandou nessa espécie de "Os Goonies encontram E.T." que contém todos os ingredientes (ou clichês) que ajudaram a fazer o sucesso dos filmes originais (como dramas familiares, turma de amigos inseparáveis, o primeiro amor, etc). O problema inicial são os garotos escolhidos por Abrams para os papéis principais. Nenhum deles tem carisma ou talento suficientes para gerar empatia - alguns chegam a ser realmente chatos, como o gordinho que dirige o filme em Super 8 e o dentuço que adora fazer bombas (que, obviamente, serão usadas num ponto chave da trama). O romance do casalzinho central também não convence nem um minuto.

O segundo (e maior) problema é o roteiro, mais furado que queijo suiço, repleto de absurdos e falta de lógica. Por exemplo: como é que um monstro daquele tamanho ia ficar andando pela cidade roubando motores de carros e fornos de microondas de casas sem que ninguém o visse? Outra besteira enorme: até parece que os militares (que são os verdadeiros vilões, no limite do caricato) iam deixar um cientista que participou das pesquisas com o alien livre e solto depois que se rebelou contra o exército! Quer mais uma? Que tal deixarem os objetos que seriam usados para a construção da nave bem no meio da cidade? Eles não queriam capturar a criatura novamente? Então no mínimo iam levar os tais dispositivos para bem longe...

E por aí vai. Nem vale a pena ficar enumerando tudo. Outra coisa que detona o filme e suas pretensões é o fato do alien ser realmente malvado durante todo o filme, no estilo do terrível "Cloverfield", destruindo carros, ônibus e casas e literalmente comendo pessoas!  Então, quando tentam fazer um final no estilo emocionante de "E.T.", tudo soa absolutamente forçado e ridículo, por mais que tentem nos convencer que ele estava apenas bravo por ter sido mal tratado pelos milicos. Outro problema grave: os meninos, que deveriam ser os protagonistas da história, não tem realmente o que fazer ao ponto de a resolução da trama não ter qualquer participação deles (exceto como observadores), tão diferente de "E.T." ou mesmo "Os Goonies".

A única coisa boa do filme é a trilha musical de Michael Giacchino (colaborador constante de Abrams) que realmente contém um pouco da magia que o filme tenta capturar em vão. Nem mesmo o Super 8 rodado pelos meninos consegue ser trash o suficiente para ao menos gerar riso.

Esse é o típico caso em que o feitiço se virou contra os feiticeiros. O que é uma pena, pois um bom e divertido filme de ficção e aventura seria muito bem vindo nesses tempos de abominações insuportáveis como "Transformers" e "Fúria de Titãs 3D"...

Cotação: * *

sábado, 6 de agosto de 2011

Filmes: "Capitão América: O Primeiro Vingador"

DIVERSÃO PURA

O filme é muito bom e não tem nada de patriotadas irritantes pelas quais os estadunidenses são famosos

- por André Lux, crítico-spam

Tinha tudo para dar errado mais esta adaptação de um super-herói da Marvel, a começar pelo nome “Capitão América”, que evoca as piores bravatas patrióticas pelas quais os estadunidenses são famosos.

Mas, por incrível que pareça, o filme é muito bom e não tem nada de patriotadas irritantes (que destruíram, por exemplo, “Invasão do Mundo: A Batalha de Los Angeles”). Pelo contrário, deram até um jeito de ridicularizar o herói quando é reduzido a um mero garoto propaganda do exército para angariar dinheiro em bônus de guerra.

O diretor Joe Johston, que veio dos efeitos especiais e não tem lá um currículo muito brilhante (seu filme melhorzinho era “Rocketeer”), até que se sai bem aqui, equilibrando satisfatoriamente cenas de ação com outras mais intimistas que ajudam a gerar simpatia pelos personagens, essencial para que esse tipo de filme funcione.

O desenho de produção é muito bom (bem diferente do horrível “Thor”) e evoca com maestria o clima dos anos 40 (a história passa em plena segunda guerra mundial). Ajuda muito o elenco, principalmente os coadjuvantes, que dão força ao ator principal Chris Evans como Capitão América (aqui num papel bem diferente do arrogante e cheio de si Tocha Humana que interpretou nos filmes do “Quarteto Fantástico”). Mas quem brilha é o sempre excelente Hugo Weaving, o eterno Sr. Smith de “Matrix”, como o vilão Caveira Vermelha.

Os efeitos especiais são bons e na medida certa, o que é sempre uma surpresa já que hoje em dia, depois do advento da computação gráfica, a maioria dos filmes de ficção e aventura desse tipo acabam poluídos pelo excesso deles. O irregular compositor Alan Silvestri, da trilogia “De Volta Para o Futuro”, acerta também ao compor uma trilha musical adequada e sem exageros, muito bem orquestrada e executada, que atua em favor do filme – principalmente nas cenas de ação.

O filme também tem bastante humor (do tipo inteligente, não igual ao “Thor”, onde quase todas cenas cômicas mostravam o herói batendo a cabeça em alguma coisa) e, maior dos méritos, não se leva a sério. Nesses quesitos lembra bastante o “Superman” de 1978, com Christopher Reeve. É diversão pura e sem pretensões além disso. Por tudo isso, vale a pena ser visto.

Cotação: * * * *

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Filme: "Um Conto Chinês"

"LOS HERMANOS" ACERTAM MAIS UMA

O filme é muito hábil em misturar momentos de pura comicidade com outros tocantes.

- por André Lux, crítico-spam

Falar da qualidade excepcional do cinema argentino já é chover no molhado, mas é impressionante a capacidade que "los hermanos" tem em transformar história simples e cotidianas em obras cinematográficas tocantes e ricas em profundidade.

É o caso deste "Um Conto Chinês", que traz o rosto mais conhecido do cinema da Argentina, Ricardo Darin, às voltas com um encontro totalmente inesperado com um chinês que vai parar em seu país depois que sua noiva morre ao ser atingida na cabeça por uma... vaca!

Darin interpreta com a maestria de sempre um dono de loja de ferragens que sofre de Transtorno Obssessivo Compulsivo (TOC). Por isso, é cheio de manias, mal humorado e solitário até o dia em que vê um chinês sendo jogado para fora de um taxi e, depois de fazer de tudo para se livrar dele, acaba sendo obrigado a dar-lhe abrigo.

O chinês não fala uma palavra de espanhol e tem apenas tatuado no braço o endereço de seu tio, que não mora mais no local. Enquanto esperam a embaixada chinesa tentar localizar o tio perdido, o argentino e o chinês são obrigados a conviver, para desespero do primeiro.

O filme é muito hábil em misturar momentos de pura comicidade (principalmente nas tentativas frustradas de comunicação entre ambos) com outros tocantes. Aos poucos, o arredio argentino vai deixando o chinês entrar em sua vida e mudanças começam a acontecer lentamente.

Um tema simples, singelo até, mas que rende um filme muito agradável e que vale a pena ser visto.

Cotação: * * * *

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Filmes: "ALEXANDRIA"

O SER HUMANO É INVIÁVEL

A condenação a todo tipo de fanatismo está no centro de “Alexandria”

- por André Lux, crítico-spam

Fazia tempo que eu não assistia a um filme tão impressionante como “Alexandria”, do diretor chileno radicado na Espanha Alejandro Amenabar (de “Os Outros” e “Mar Adentro”). Trata-se de uma obra arrebatadora, extremamente bem feita e que recria com perfeição o que seria a Alexandria do Século IV D.C., época em que o Império Romano já estava em decadência e o cristianismo acabara de deixar de ser proibido, apenas para então começar a perseguir e proibir os outros cultos.

No meio de toda essa agitação e caos estava a professora, filósofa e astrônoma Hypatia, homenageada por Carl Sagan em seu "Cosmos". Amada por um de seus alunos e por seu escravo, ela não se curvava a ninguém, pois sua única paixão na vida era o estudo dos corpos celestes. É essa personagem real que serve de esteio ao filme, enquanto o roteiro avança de forma trágica à medida que os conflitos entre cristãos, pagãos e judeus culmina em violência e guerras declaradas.

A condenação a todo tipo de fanatismo está no centro de “Alexandria” e Amenabar imprime suas críticas com grande destreza, dosando com perfeição cenas grandiosas e cheias de efeitos visuais com outras mais intimistas e profundas. De vez em quando, a câmera viaja até o espaço e vemos a Terra em toda sua majestade, como que para nos lembrar da nossa insignificância perante o universo. Em momentos como esse, o filme chega perto do sublime.

Numa das cenas mais emocionantes de “Alexandria”, a protagonista, vivida esplendidamente por Rachel Weisz, confronta um de seus ex-alunos que se tornou bispo cristão e tenta convertê-la à sua fé que, como bem sabemos, não permite jamais o questionamento: “Mas se você não questiona a sua fé, então não acredita realmente nela”. Em outro momento, ao ser acusada de "não acreditar em nada" pelo seu ateísmo, Hypatia responde: "Eu acredito na Filosofia". Sinceramente, diálogos em filmes não podem ser mais perfeitos do que esse.

É interessante também como a obra mostra de forma clara o retrocesso que a seita cristã trouxe para o mundo. Se a civilização anterior obviamente não era isenta de falhas (como permitir a escravidão, servir sacrifícios aos deuses e se dividir em castas), é inegável que reservava ao ser humano um papel muito mais nobre e intelectual do que a submissão e o obscurantismo cegos pregado pelo cristianismo. Tanto é que, pouco tempo depois da ascensão daquele culto ao poder, o mundo entraria na escuridão e retrocesso da idade média e de todo o horror cometido durante aquele período.

O mais importante de “Alexandria”, todavia, é o paralelo que o cineasta trava entre o mundo retratado pelo filme e o fanatismo que existe até hoje, capaz de gerar suficiente ódio entre as pessoas para que cometam os atos mais escabrosos possíveis. E tudo em nome de algum deus inventado que, se realmente existisse, estaria morrendo de vergonha de toda a loucura que realizam em seu nome e certamente diria algo como: “o ser humano é inviável”.

Uma obra forte, porém imperdível.

Cotação: * * * * *

sexta-feira, 10 de junho de 2011

DVD: "O PACTO DOS LOBOS"

DIVERSÃO DE PRIMEIRA

Não é um filme para todos os gostos e vai agradar mais quem conseguir entrar com a mente aberta e preparada para curtir essa "viagem" diferente

- por André Lux, crítico-spam

É engraçado como críticas positivas acabam, muitas vezes, mais prejudicando do que ajudando a carreira de certos filmes. É exatamente o caso desse PACTO DOS LOBOS, fita francesa que fez grande sucesso em seu país de origem, mas acabou passando em branco no resto do mundo. Esse fracasso relativo é, em parte, explicado pelos elogios excessivos que andou recebendo, com frases desconexas do tipo "É a melhor aventura de ação dos últimos dez anos" ou "Um épico grandioso" que, infelizmente, acabam criando na platéia uma grande expectativa em relação ao filme, fazendo-a esperar por uma obra-prima revolucionária ou algo do tipo.

O que, no final das contas, é uma grande injustiça, pois esse filme dirigido por Christophe Gans (que já havia demonstrado talento no pouco visto O COMBATE - LÁGRIMAS DO GUERREIRO) é, antes de mais nada, extremamente bem feito e original. O erro mais uma vez é tentar vender um produto tipicamente europeu como se fosse uma fita de "ação e aventuras" feita nos moldes do cinemão comercial dos EUA. Ou seja, querem nos fazer acreditar que estamos diante de uma simples fita de consumo rápido e superficial quando, na verdade, o que encontramos é um filme rico em conteúdos psicológicos e nuances, no qual o mais importante é o relacionamento entre os personagens (e aqui são muitos e complexos) e o desenvolvimento da personalidade deles.

Soma-se a isso uma grande quantidade de cenas de luta brilhantemente realizadas (que deixam bobagens pretensiosas como O TIGRE E O DRAGÃO comendo poeira) e uma pitada das fitas assumidamente trash que tanto amamos e, pronto, temos aqui uma ótima diversão indicada para quem conhece o mundo dos quadrinhos para adultos e filmes como EVIL DEAD (não por acaso a trilha musical é do mesmo Joseph Lo Duca, cuja assinatura está também no seriado XENA, A PRINCESA GUERREIRA).

Mas vai quebrar a cara quem está esperando ver um filme mal feito ou tosco, pois tecnicamente é primoroso, onde a montagem e a direção de fotografia são os destaques, alternando cortes e fusões inspiradíssimos com tomadas de rara beleza (é essencial assistir ao filme na versão original em widescreen). Gans não tem o menor pudor em colocar sua câmera em locais pouco ortodoxos nem em movimentá-la livremente por um cenário natural de fazer cair o queixo, sem nunca interferir na trama chamando a atenção para sí a não ser quando era necessário - como nas seqüências de luta, por exemplo.

A trama gira em torno de um fato real que aconteceu numa província da França do final do século 18, quando mais de uma centena de camponeses foram trucidados por uma besta feroz. O caso nunca foi solucionado e é a partir dessa premissa que Stéphane Cabel e Christophe Gans constroem seu roteiro, que começa com a chegada ao local do naturalista e filósofo Grégoire de Fronsac (Samuel Le Bihan) que vem para investigar os crimes a pedido do rei, acompanhado de seu fiel escudeiro Mani, um índio Iroquoi que também é mestre em artes marciais (interpretado por Mark Dacascos), que já na sua primeira cena dá uma surra exemplar em um bando de brutamontes.

É nessa excelente seqüência que o diretor deixa claro a que veio: fazer um filme de fantasia no melhor estilo das graphic novels e mangas adultos, cuja preocupação com a lógica é deixada um pouco de lado em favor de cenas esteticamente brilhantes e ricas em detalhes gráficos. Não é nada mais, portanto, que um ótimo quadrinho filmado. Ajuda muito o fato de contar com um elenco formado por atores de verdade, todos trabalhando a serviço da trama e do desenvolvimento de seus personagens, tão diferente dos enlatados do gênero feitos em série nos EUA com seus "astros" fazendo caras e bocas, soluções simplórias ou piadinhas irritantes.

Todavia, é preciso perdoar-se os detalhes sangrentos, os efeitos sonoros exagerados e a duração excessiva, resultando em 2h20 de projeção que, embora não chegue a incomodar como afirmam seus detratores, podia ter 20 minutos a menos sem trazer danos à trama. O maior problema do filme na verdade é mesmo sua conclusão, na qual tentam dar um sentido à história por trás das aparições da Besta que ficaria melhor se deixado em aberto com um tom mais sobrenatural. A própria revelação da criatura (cujo visual remete a RAZORBACK, outro trash talentoso feito por Russell Mulcahy) acaba sendo meio anticlimática, baseando-se muito em efeitos digitais exagerados e desnecessários.

Outro escorregão foi ter transformado metade do elenco em clones de "Conan, o Bárbaro" durante o confronto final, com direito inclusive a duelos com espada e outros instrumentos de luta que ficariam bem nas mãos de um Bruce Lee, mas não nas dos personagens do filme - exceto o índio Mani, cujo ar misterioso ajudava a engolir sua bizarra perícia em artes marciais.

Mas, entre mortos e feridos, O PACTO DOS LOBOS é diversão de primeira como há muito não se via nas telas, extremamente bem realizada e envolvente. E se não bastasse tudo isso, traz ainda de quebra a presença de Mônica Bellucci e suas curvas exuberantes (às quais são muito bem exploradas pelo diretor). Claro que não é um filme para todos os gostos e vai agradar mais quem conseguir entrar com a mente aberta e preparada para curtir essa "viagem" diferente.

Cotação: ****

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Suite de "Outland", de Jerry Goldsmith

Uma das minhas trilhas favoritas do mestre, vi o filme no cinema em 1981 com a minha avó!
É um "Matar ou Morrer" no espaço sideral, mais precisamente em uma das luas de Júpiter, com um clima de "Alien" (mas sem monstros).
Ouçam abaixo duas suites da trilha sensacional de Jerry Goldsmith, que se inspirou bastante no estilo de Stravinsky - principalmente nas faixas de ação.



sábado, 14 de maio de 2011

DVD: "Battlestar Galactica" (2004)

MEU DEUS!

Série que começou muito bem implode na conclusão ridícula e absurda

- por André Lux, crítico-spam

Finalmente consegui assistir às quatro temporadas da série de ficção científica "Battlestar Galactica" (incluindo aí o piloto de duas horas). O mais engraçado é que eu já havia tentado assistir antes, quando estava sendo exibido na TV a cabo entre 2004 e 2009, mas depois de alguns episódios a rejeitei totalmente, certamente por ser um fã da série original que foi exibida no Brasil no início dos anos 1980 (o filme piloto inclusive foi exibido nos cinemas aqui).

O problema, na época, é que não consegui aceitar todas as mudanças radicais que a nova série tinha em relação à original, como colocar Starbuck e Boomer como mulheres, o latino Edward James Olmos como Adama, até o clima ultra realista e a música minimalista e tribal.

A série "Battlestar Galactica" original teve apenas uma temporada e era um dos muitos subprodutos do sucesso de "Star Wars" e trazia no enredo uma simples disputa do bem contra o mal. No caso, o bem era representado pelos humanos enquanto o mal estava encarnado nos malvados Cylons, que eram uns robôs zarolhos comandados por uma criatura que parecia uma formiga gigante com cabelo afro, chamado apenas de "Líder Imperioso".

Na nova versão, os Cylons foram criados pelos próprios humanos, se rebelaram e, depois de um longo tempo de trégua, resolvem exterminar a humanidade de vez. Assim como na série original, os poucos sobreviventes se reúnem num comboio e partem em direção à mítica Terra, sob a vigilância da nave de combate Galactica. Mas as semelhanças param por aí.

Na nova série há um desejo de deixar a diferença entre o bem e o mal mais cinzenta, não tão bem definida. O personagem do doutor Baltar é o ponto mais forte deste aspecto, já que vendeu segredos da segurança das 12 colônias a uma agente Cylon em troca de sexo sem saber o mal que estava causando. Aí entra outro diferencial radical em relação à série original: os Cylons evoluíram e agora tem modelos que são idênticos aos humanos (e que no desenrolar da série passam a ser chamados de "skyn jobs", numa referência direta ao filme "Blade Runner"). Ou seja, seriam replicantes.

Tanto o piloto de duas horas, quando as duas primeiras temporadas do novo "Battlestar Galactica" são excelentes e conseguem mesclar o que poderia existir de melhor na ficção científica. Mas, a partir de terceira temporada, as coisas começam a derrapar até chegar a um final completamente ridículo e absurdo.

A série original, de 1978
O criador da nova série, Ronald D. Moore, ao que tudo indica é um religioso fervoroso que milita contra a tecnologia e isso fica claro na conclusão. Mas nem é isso que estraga a série. O problema é que Moore e sua equipe de roteiristas criaram dezenas de situações e mistérios que não foram solucionados de maneira satisfatória e coerente ou simplesmente foram deixados de lado.

Fica claro desde o início que existem doze modelos de Cylons que se parecem com humanos - e isso serve para criar um clima de paranóia muito interessante nas duas primeiras temporadas. Com o passar do tempo, sete deles são revelados. Depois disso, fica bastante óbvio que Moore não sabe o que fazer com os cinco finais e aí começa a inventar uma série de besteiras relacionadas a eles, como o fato de não saberem que são Cylons e todos estarem a bordo da Galactica, preenchendo os buracos da trama como sonhos premonitórios, papo furado sobre anjos e deuses e pregação religiosa da mais irritante.

No último episódio, com duração de três horas e dividido em três partes, todos os mistérios e pontas soltas deixadas durante a série são explicadas da maneira mais simples e idiota possível: "Tudo foi obra de deus". E ponto final. É um brutal Deus Ex Machina jogado como uma bomba atômica no final da série que praticamente destrói tudo que foi visto antes. E que negócio foi aquele dos sobreviventes decidirem, ao chegar na nova Terra, abandonar toda a tecnologia e o conforto que tinham para viver ao relento e usando tangas feitas de pele? No mínimo iam morrer de fome, de doenças, de frio ou do ataque de algum predador selvagem!

É uma pena, pois a série realmente era muito boa no seu começo...

Cotação: 
Temp 1 ****
Temp 2 ***1/2
Temp 3 **
Temp 4 *