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quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Filmes: "Filhos da Esperança"

O ÚLTIMO QUE MORRER
APAGUE A LUZ

Apesar dos defeitos, obra de Cuarón vale pelo paralelo direto que traça entre o futuro devastado do filme e a realidade atual.

- por André Lux

“Os Filhos da Esperança” nada mais é do que uma cópia do filme “É Proibido Procriar” (“Zero Population Growth”, com Oliver Reed e Geraldine Chaplin), que a gente assistia quando criança na TV Record no fim dos anos 1970. O enredo é basicamente o mesmo (até os finais dos filmes são idênticos), a única diferença é que aqui a humanidade ficou misteriosamente estéril enquanto no de 1972 era o governo fascista que proibia a reprodução, alegando que a Terra já estava super-povoada e com seu meio ambiente destruído.

Mas isso não impediu o diretor mexicano Alfonso Cuarón (de “E Sua Mãe Também”) de realizar um bom trabalho, bastante tenso e com algumas cenas emocionantes. O problema é mesmo o roteiro, que não faz muito sentido e é cheio de clichês (como traições tolas, grupos políticos primários e personagens que só servem para explicar a trama). Parece que o cineasta estava ciente disso e, ao invés de se concentrar no óbvio, preferiu criar seqüências que traçam um paralelo direto entre o futuro devastado do filme e a realidade atual.

A chegada dos refugiados aos campos de concentração, por exemplo, é uma cópia perfeita das imagens das torturas realizadas pelo exército do EUA no Iraque e em Guantanamo. Assim como toda a cena final de perseguição e tiroteios, que nos leva para um cenário de desumanidade idêntico ao que acontece hoje no Iraque, na Palestina ou no Líbano.

É tragicômica a seqüência em que soldados e guerrilheiros paralisam o conflito quando os protagonistas revelam sua preciosa carga, a qual no fundo é a razão para todo o ódio, só para retomarem a selvageria em seguida, como se nem lembrassem mais porque lutam. Como se vê, uma perfeita parábola das guerras atuais.

O filme também é valorizado pela fotografia de Emmanuel Lubezki, que utiliza bem o recurso de câmera na mão, e pelas boas atuações do elenco, principalmente Michael Caine, que está impagável no papel de um velho ativista de esquerda que não perde a chance de pregar a famosa peça do “puxe meu dedo” em quem cruzar seu caminho, mesmo que traga conseqüências trágicas para ele.

Para os mais atentos, “Filhos da Esperança” também tem outros achados, como a reprodução da capa do disco “Animals”, do Pink Floyd, filmado na mesma estação de energia Batterseas usada na foto original (com direito a porco flutuante e tudo), além de diversos recortes de jornal que indicam que o planeta havia sido varrido por conflitos nucleares. Intervenções irônicas vindas do rádio (“essa música é de 2003, época em que os seres humanos insistiam em não perceber que o futuro começaria amanhã”) ou de pichações nas ruas (“o último que morrer, por favor, apague a luz”) também ajudam a enriquecer a obra.

Por tudo isso o filme merece ser visto e discutido, embora tenha um apelo limitado já que as suas pretensões certamente vão passar em branco na cabeça de quem só entra no cinema para passar o tempo. O que, sabemos, é a intenção da grande maioria das pessoas que lotam as salas dos multiplex...

Cotação: * * *

4 comentários:

Anônimo disse...

André, seu blog foi um achado, gosto muito dos seus "posts". Só não concordo com você quanto ao final do filme ser idêntico aquele do Oliver Reed /Geraldine Chaplin. Se me lembro bem, os dois personagens (e o bebê) acabam parando numa área que estava contaminada por radiação... Enquanto que, em Filhos da Esperança, o personagem principal morre, enquanto o navio dos ambientalistas chega para levar a mãe e a criança para o local seguro... Um grande abraço!

André Lux disse...

O destino dos personagens é diferente, claro, até pela temática, mas a maneira como fogem (por um galeria de água num barco) é idêntico.

recco disse...

É proibido procriar em um filme que faz tempo que estou procurando onde consigo baixar

Ecristio disse...

"a única diferença é que aqui a humanidade ficou misteriosamente estéril enquanto no de 1972 era o governo fascista que proibia a reprodução". Diferença pequena, não??