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terça-feira, 21 de outubro de 2014

Filmes: "O Expresso do Amanhã"

LUTA DE CLASSES NO TREM

Não é uma obra-prima, mas vale pelas questões básicas que ao menos tem a coragem de levantar

- por André Lux, crítico-spam

No futuro próximo, o aquecimento global está destruindo a Terra. Numa tentativa de salvá-la, cientistas lançam um experimento nos céus que acaba congelando toda a superfície do planeta. Os poucos sobreviventes vivem num trem, chamado de "Snowpiercer" (picador-de-gelo), que roda sem parar.

Essa é a premissa básica de "O Expresso do Amanhã", primeiro filme em inglês do diretor sul-coreano Bong Joon-ho (do cultuado "O Hospedeiro"), que foi baseado numa história em quadrinhos francesaO filme, na verdade, é uma alegoria ao sistema capitalista e sua divisão de classes, reproduzida também no trem: os pobres vivem amontoados nos vagões finais, enquanto os ricos moram no luxo da parte da frente. No meio, claro, fica a força policial responsável por manter as massas subjugadas.

"O Expresso do Amanhã" vem recebendo críticas muito positivas ao redor do mundo, mas confesso que fiquei num meio termo. Apesar da sempre pertinente reflexão sobre o sistema no qual somos obrigados a viver hoje, no qual o dinheiro vale mais do que uma vida, o filme derrapa em vários aspectos que, na minha opinião, o impedem de atingir resultados mais altos.

Um dos maiores problemas é de escala. O trem é estreito demais para conter tantas parafernálias como as que aparecem durante a projeção. A cena do aquário dos seres marítimos é a mais ridícula, de tão desproporcional. Poderiam ter resolvido isso de forma simples: bastava inventarem um trem maior, mais largo, mais radical e estilizado. 

O o que mais me decepcionou foi realmente a conclusão. Primeiro porque a grande "revelação" dos motivos reais da rebelião dos oprimidos é frouxo. E segundo porque escolheram o final mais tolo e sem impacto possível. Mas, ao menos a direção é inventiva e abusa de um humor negro e nonsense digno dos melhores filmes do diretor Terry Gilliam (do "Monty Python" e "Brazil"). O personagem de John Hurt, por sinal, chama-se Gilliam - homenagem mais explícita, impossível. 

O resto do elenco também é de primeira linha, com Chris Evans (o "Capitão América") surpreendendo num papel pesado, e Ed Harris fazendo o possível para dar algum sentido ao personagem do dono do trem, que é cultuado quase como um deus nessa nova ordem social.

Embora não chegue a ser uma obra-prima do gênero, vale a pena assistir e refletir um pouco sobre as questões básicas que o filme ao menos tem a coragem de levantar.

Cotação: * * *