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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Filmes: "Conversas Com Meu Jardineiro"

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ENCONTRO DE MUNDOS

Filme francês aborda questões complexas e faz crítica social de modo simples e humano, sem radicalismo, conflitos ou panfletagem.

- por André Lux, crítico-spam

É incrível a capacidade que alguns filmes têm de tocar em temas complexos e profundos sem serem panfletários, melodramáticos ou didáticos. “Conversas Com Meu Jardineiro”, filme francês dirigido por Jean Becker, é um desses raros exemplares.

Construído a partir do relacionamento entre dois personagens oriundos de classes sociais bem distintas, o roteiro aborda de forma sensível e discreta o abismo social que existe entre a burguesia e os operários. O primeiro é representado pela figura de um artista em crise conjugal e criativa (o sempre ótimo Daniel Auteuil) e o segundo por um ex-ferroviário que, aposentado, atua como jardineiro (Jean-Pierre Darroussin, que lembra o ator estadunidense Billy Bob Thornton).

Como uma relação próxima entre pessoas de classes sociais tão distintas seria inverossímil, mesmo num país do dito primeiro mundo, cria-se entre eles um passado em comum. Assim, ambos estudaram juntos na mesma escola quando eram crianças e acabaram expulsos depois de aprontar com um de seus professores. O mais rico prosseguiu os estudos, enquanto o outro largou tudo para pegar no batente. “Escola é o que acontece com a gente enquanto não temos idade para trabalhar”, ironiza o jardineiro.

Para o espectador mais atento aos problemas sociais do mundo, fica evidente o teor crítico das observações feitas pelo jardineiro, especialmente ao modelo neoliberal que, a exemplo do que aconteceu na América Latina, também foi implantado na França com resultados catastróficos para os mais pobres. “Hoje em dia, não existem mais empregos para os jovens”, reclama. Situação que tende a piorar ainda mais depois da eleição do extremista de direita, Nicolay Sarkozy.

Estabelecido o vínculo que permite aos protagonistas interagirem de forma convincente, “Conversas Com Meu Jardineiro” faz jus ao título e mostra uma série de diálogos entre os dois que variam do divertido ao lacônico. Aos poucos, a realidade de cada um começa a interferir na vida do outro.

Como era de se esperar, o convívio com o jardineiro e ex-ferroviário vai causar mais impacto no artista burguês, que vem de uma classe social geralmente alienada e insensível às questões sociais, colocando-o frente a frente com os problemas e injustiças sofridos pelos mais pobres – tais como atendimento médico precário, falta de opção de lazer e limitado conhecimento cultural. Tudo isso vai torná-lo uma pessoa mais sensível, ajudando-o inclusive a recuperar laços familiares e a inspiração perdida.

E é justamente a maneira que esse encontro entre mundos tão distintos é abordada que torna o filme especial. Sem discursos, conflitos nem radicalismos. Tudo muito humano e, em última instância, tocante.

Apenas duas coisas me incomodaram um pouco durante a projeção: a ausência de trilha musical e de canções (exceto por duas peças eruditas, uma delas de Mozart que também encerra os créditos) e o excesso de bate papo entre os protagonistas em algumas cenas que acabam se tornando redundantes. Mas é só. Nada que conte muitos pontos para tornar a experiência menos agradável e rica.

Cotação: * * * *
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