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segunda-feira, 16 de maio de 2005

Filmes: "Olga"


GLOBAL, MAS NEM TANTO


Filme ganha profundidade ao questionar a apatia dos brasileiros em relação aos levantes liderados por Prestes

- Por André Lux, crítico-spam

Depois da exibição de "Olga", do diretor Jayme Monjardim, várias pessoas, especialmente as mulheres, mal conseguiam segurar as lágrimas. E realmente o filme, baseado na obra do escritor Fernando Morais, é emocionante.

E grande parte desta emoção está diretamente ligada à ótima performance do elenco que o diretor Jayme Monjardim teve à disposição. Como não vejo televisão nem seus subprodutos há um bom tempo, não conhecia o trabalho dos atores principais Camila Morgado e Caco Ciocler (exceto nas participações dele em longas como ''Bicho de Sete Cabeças'' e ''O Xangô de Baker Street''). E os dois estão muito bem em seus papéis, especialmente Ciocler (cujo semblante e postura são parecidos com os do ator Ralph Fiennes de ''O Paciente Inglês'') que passa muita sensibilidade e verdade ao seu Luís Carlos Prestes.

Morgado demora um pouco para encontrar o tom certo para Olga (em algumas cenas ela parece dura e declama seus diálogos artificialmente), mas depois acerta, principalmente nas cenas mais fortes (como as da despedida de Prestes e a separação de sua filha). Demonstra coragem também ao aparecer nua sem pudores (e sem truques) e ter seu cabelo totalmente raspado para as cenas no campo de concentração nazista (quando o filme ganha toques de ''A Lista de Schindler'', só que sem final redentor). Vale dizer também que os dois atores têm um boa química em cena, fator que deixa o amor entre os protagonistas convincente.

O restante do elenco é bastante homogêneo. Fernanda Montenegro empresta muita dignidade à mãe de Prestes (que lutou pela vida do filho e da nora até sua morte) e Osmar Prado sai-se bem como Getúlio Vargas, um papel que facilmente poderia ter virado uma mera caricatura. O único que destoa um pouco é Floriano Peixoto, como o infame torturador Filinto Müller, que faz tudo no mesmo tom.

Foi boa também a opção da produção em rodar o filme todo em português, não importando a localidade onde se passava, dando ocasionalmente pequenos ''lembretes'' da língua original saindo da boca de alguns coadjuvantes ou dos protagonistas (coisa absolutamente comum nos filmes estadunidenses, por exemplo). Só erra quando coloca os atores falando português com sotaque estrangeiro, como na cena do refeitório na extinta União Soviética onde alguns falam com carregado sotaque russo e outros não. Atrapalha um pouco também o abuso de tomadas em close dos protragonistas. Parece que o diretor não soube tirar proveito da tela larga do cinema em sua plenitude e preferiu manter-se fixo à estética quadrada da televisão.

Um dos pontos altos de ''Olga'', além dos já citados e da perfeita reconstituição de época (coisa rara em filmes nacionais), é a trilha musical de Marcus Viana que é de ótima qualidade, composta (intencionalmente ou não) na tradição de Alfred Newman e outros compositores da ''era de ouro'' hollywoodiana, além é claro de ser diretamente influenciada por ''A Lista de Schindler'', de John Williams. É muito interessante o uso que Viana faz do ''Tema Internacional Socialista'', o qual incorpora de tempos em tempos ao resto da partitura. A única restrição vai para o uso exagerado da música em algumas cenas chaves do filme, mas a culpa disso certamente não é do compositor e sim do diretor que, inseguro, parece querer reforçar sem necessidade o que os atores e o roteiro já estão passando com perfeição. Este didatismo simplório típico das telenovelas globais que o cineasta impôe à partitura acaba atuando contra o filme e não ao seu favor.

Uma das cenas mais emocionantes do filme é a da chegada dos protagonistas ao Brasil de avião, quando Prestes diz ''Chegamos ao meu país'' e Olga olha pela janela para ver uma maravilhosa praia do nosso litoral. Outra é quando a protagonista, já quando todos estão sendo perseguidos pela polícia, pergunta ''Qual é o problema deste país?'' em alusão à apatia da população em relação aos levantes que tinham como objetivo maior justamente levar mais justiça social ao povo sofrido. Esta é uma pergunta que sempre será pertinente e que, vinda de uma obra realizada por um dos mais prolíficos diretores das alienantes telenovelas da rede Globo, ganha ainda mais reverberação.

A história de Olga e Prestes, assim como tantas outras de pessoas que abdicaram de suas vidas para lutar por um ideal maior, merece ser contada - ainda mais da maneira digna e honesta como foi contada aqui. Independente da crença política ou filosofia de vida, duvido que alguém consiga assistir ao filme impassível aos horrores que os protagonistas enfrentam durante o terceiro ato da história. No final, fica mais uma vez a constatação de que o ódio e a intolerância foram, e continuam sendo, os maiores males que podem afligir a raça humana.

Infelizmente, a despeito do seu imenso sucesso junto ao público, "Olga" foi vítima de um violento ataque por grande parte dos críticos especializados brasileiros, muitos dos quais basearam suas análises em preconceitos e também naquele velho ódio que muitos têm do sucesso alheio. Por isso, ignore o que os recalcados de plantão andaram escrevendo por aí, veja o filme e tire suas próprias conclusões.

Cotação: * * * 1/2

2 comentários:

André Lux disse...

Realmente, o filme não é bom porque o diretor não usou a grua...

Eu gostei sim de "Olga". Pode espalhar, ok? ;-)

Abraços e volte sempre.

André Lux disse...

E se o cara deixou um monte de equipamento caríssimo no estúdio sem usar é problema de quem estava pagando a conta, não de quem foi ao cinema ver o filme... Acho até legal saber que a rede Globo ficou mais pobre por causa disso! Passei a gostar ainda mais do filme agora. Hahahaha!!