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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Filme: "Che - Parte 2: A Guerrilha"

ÁRIDO DEMAIS

Com um material tão rico e explosivo em mãos, chega a ser imperdoável o resultado frio e alienante que Soderbergh atingiu.

- por André Lux, crítico-spam

A segunda parte do épico “Che” tem os mesmos defeitos da primeira. É por demais contemplativa, fria, chega a ser árida até. E com um agravante: foca-se totalmente na fracassada luta armada comandada por Guevara na Bolívia, culminando com seu assassinato covarde pelo exército boliviano sob ordens da CIA quando já era prisioneiro. Ou seja, é totalmente anticlimática.

Por mais que se admire a coragem do diretor Steven Soderbergh em aceitar tão controversa empreitada, não dá para entender algumas de suas opções estéticas.

A mais estranha delas foi filmar quase tudo em planos abertos e distantes, o que não dá maiores oportunidades aos atores e impede qualquer aprofundamento dos personagens - ao ponto de todos parecerem meros coadjuvantes, inclusive o próprio Che (mal dá para perceber a presença de Rodrigo Santoro, como Raul Castro, ou mesmo Matt Damon, que faz ponta como um padre). Além disso, o cineasta joga os eventos de forma caótica e confusa, o que vai deixar a maioria dos espectadores alienados e, por fim, entediados.

Parece que Soderbergh ficou tão preocupado em parecer neutro e fugir de qualquer tipo de panfletarismo (tanto de esquerda quanto de direita) que se esqueceu do principal: contar uma história. Embora ambos os filmes tenham uma perfeita reconstituição dos fatos (mostra, inclusive, o respeito que os guerrilheiros tinham pelos camponeses e a participação ativa do governo dos EUA no treinamento e combate à guerrilha), o distanciamento e a secura como tudo é apresentado impede que entremos na trama ou mesmo vivenciemos o drama dos personagens.

“Che” passa ao largo também de qualquer aprofundamento ideológico ou político, exceto por meia dúzia de frases soltas que, tiradas do contexto e sem qualquer peso, viram mera citação, quase clichês. Benício Del Toro, na maioria das cenas, parece um robô, sempre com a mesma expressão sorumbática. Nem mesmo a cena do assassinato brutal do Che passa qualquer emoção - e o que deveria ser a derradeira cena para o ator é absurdamente filmada por meio de uma câmera subjetiva!

Com um material tão rico e explosivo em mãos, chega a ser imperdoável o resultado frio e alienante que Soderbergh atingiu. Às vezes “Che” parece querer ser um épico do Akira Kurosawa, tipo “Ran” ou “Kagemusha”, mas sem aqueles momentos de total arrebatamento em que o mestre subvertia a estética acadêmica até então dominante e sacodia o espectador pelo pescoço.

Walter Salles em “Diários de Motocicleta” abordou a juventude de Guevara e o início de sua tomada de consciência, conseguindo um resultado muito mais humano e tocante sem ser panfletário e tendo um material bem menos forte para trabalhar.

Apesar de tudo, não deixa de ser curioso analisar a fracassada luta de Guevara na Bolívia com a realidade atual da América Latina, que se liberta do julgo imperialista estadunidense e da opressão de suas elites econônicas, depois da eleição de vários políticos de esquerda, como Lula, Evo Morales, Hugo Chaves e afins.

O que vem ao encontro do que Guevara responde a um de seus algozes quando este lhe pergunta o que havia conquistado na Bolívia, já que a população pobre não aderiu à guerrilha: “Não sei. Talvez nosso fracasso ajude a despertar os oprimidos”. Nada mais profético...

Cotação: * 1/2

5 comentários:

Magno disse...

Parabéns por tão sinceras expressões. Concordo Ipsis literis.

Unknown disse...

"Não há hospitais para todos, não há escolas. A mortalidade infantil atinge índices catastróficos e, o povo com fome. Estão ou não criadas as condições para a revolução? Óbvio que sim!"

DEUS!

DSK disse...

Perfeito.. Excelente resenha, concordo plenamente...

Abraços...

edvilson disse...

muito mais que mito,muito mais que lenda,un heroi de verdade,un homen que lutava pur un idealnao so pra si ;para o mundo.vivaaaaaaaaaaaaaaaa a che guevara.

Anônimo disse...

Cara, a camera distanciada tem um sentido. No primeiro havia muitos closes, no segundo a imagens afastadas nos dizem o que realmente transparece... pense a respeito.