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quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

"1917" derrapa no excesso de pretensão do diretor Sam Mendes



TECNICAMENTE BRILHANTE, DRAMATICAMENTE NULO

Filme é raso e pouco emocionalmente, uma vez que tudo é investido no embonecamento das tomadas e nada no desenvolvimento dos personagens

- por André Lux

Quem acompanha minhas críticas sabe que não sou apreciador do diretor Sam Mendes, o qual considero por demais pretensioso e chato. Entra este “1917”, passado na Primeira Guerra Mundial cujo roteiro foi escrito pelo próprio Mendes e um parceiro, supostamente baseado nas memórias do avô dele.

O filme, como sempre no caso do cineasta, está sendo louvado pela maioria dos críticos e recebeu uma penca de indicações ao Oscar – prêmio máximo da indústria cultural estadunidense. Muitos estão dizendo que deve ser o melhor filme sobre esta guerra já feito. Mas não é mesmo. Até mesmo o claudicante “O Resgate do Soldado Ryan”, que conta uma história similar na II Guerra, dá de dez a zero.

Fui assistir ao filme sem preconceitos, curioso para ver o resultado final, uma vez que o grande “truque” de “1917” é parecer ter sido filmado em uma única longa sequência, algo obviamente impossível de ser feito e que para convencer precisa de uma série de recursos visuais usados para esconder as emendas entre os cortes.

Mas nem isso é novidade, sendo que o primeiro a usar tal recurso foi Alfred Hitchcock, em 1948, em seu longa “Festim Diabólico”. Outros filmes recentes como “Birdman”, do igualmente pretensioso Alejandro Iñárritu, também apelaram para este recurso. O problema é que não há lógica alguma em se filmar dessa maneira, exceto talvez naqueles filmes de terror que usam a premissa da “filmagem encontrada”, e isso serve apenas como algo cosmético, feito para a plateia ficar se perguntando “nossa, como filmaram isso?”, algo que tira o foco da narrativa e a transfere para o diretor, obviamente alguém apaixonado pelo próprio umbigo.

Vários cineastas muito melhores que Mendes, como Brian de Palma, filmavam de maneira convencional, mas inseriam uma ou duas tomadas longas sem cortes em momentos vitais, o que servia para engrandecer a narrativa, sem nunca tirar o foco da história contada. Um excelente exemplo disso pode ser visto no maravilho “Desejo e Reparação”, na cena que mostra a chegada dos soldados à desolada praia de Dunkirk, na França, durante a segunda guerra mundial: são mais de cinco minutos de um plano-sequência sem cortes, onde uma multidão de pessoas é movimentada com precisão, trazendo resultados arrebatadores.

Em “1917” a tentativa de fazer tudo parecer um único plano sequência funciona bem em alguns momentos, como na cena em que um soldado morre depois de ser esfaqueado, mas na maior parte do tempo acaba se tornando uma experiência modorrenta, pois nunca vemos direito o que está acontecendo e o constante movimento da câmera seguindo os personagens ou girando em volta deles causa uma sensação de alienação e distanciamento, justamente o oposto do que os realizadores queriam transmitir.

Do ponto de vista puramente técnico, “1917” realmente impressiona, afinal sabemos como é difícil a logística de produção para filmar essas longas sequências-plano sem cortes, algo que certamente deu muita dor de cabeça para o premiado fotógrafo Roger Deakins e para todos os envolvidos na produção do longa.


Mas, tirando o aspecto técnico, o filme acaba sendo raso e pouco emocionalmente – nem mesmo as sequências que deveriam trazer suspense funcionam, uma vez que tudo é investido no embonecamento das tomadas e nada no desenvolvimento dos personagens, suas motivações e sentimentos. A trilha musical de Thomas Newman, colaborador habitual do cineasta, também é fraca – às vezes soa apenas como um zumbido, outras apela para clichés melodramáticos batidos.

Como um registro acurado do que foi a Primeira Guerra Mundial “1917” até funciona, porém como experiência cinematográfica é uma decepção. Nem mesmo como um filme anti-guerra chega a funcionar, pelo contrário, comete o pecado de muitos outros do gênero que se perdem enaltecendo bobagens como patriotismo e heroísmos dignos de filmes de super-heróis, enquanto pinta os soldados alemães como caricaturas sanguinárias. Novamente, é muito barulho por nada.

Cotação: * * 1/2

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