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terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Filmes: "BORAT"

RINDO DO GROTESCO

Não vejo nada de genial num sujeito que, usando bigodão falso e sotaque esdrúxulo, sai provocando pessoas com frases ofensivas ou promovendo ações escatológicas chocantes

- por André Lux, crítico-spam

Ok, "Borat" é um filme engraçado. Dei muitas risadas durante a projeção. Mas, daí a chamar seu autor de gênio ou achar que é extremamente politizado e quer "desmascarar" o racismo e a intolerância do povo estadunidense, como muitos profissionais da opinião têm feito, já é ir longe demais.

Sinceramente, não vejo nada de genial num sujeito que, usando um bigodão falso e sotaque esdrúxulo, sai por aí provocando as pessoas com frases ofensivas ou promovendo ações escatológicas chocantes (os comediantes do "Casseta & Planeta", quando ainda eram engraçados, cansaram de fazer esse tipo de coisa).

Assim, quando vai "entrevistar" um grupo de feministas, Borat profere comentários chauvinistas e denigre a inteligência das mulheres. Ao entrar numa arena de rodeio, infestada por caipiras preconceituosos e fundamentalistas, ridiculariza os esforços de guerra dos EUA e o hino nacional deles. Quanto se vê "cercado" por judeus, age como pavor e joga dinheiro neles. E assim por diante... Isso quer dizer que seu método de provocar risos é primitivo, embora eficaz, afinal todo mundo gosta de ver os outros sofrendo "pegadinhas" e sendo vítima de discursos nada politicamente corretos. Ou seja, qualquer criança de seis anos de idade já está acostumada a fazer esse tipo de coisa com seus amiguinhos. Que garoto nunca teve suas cuecas puxadas para cima da calça no meio de uma festa, por exemplo? Todo mundo ri, menos a vítima da piada.

É partindo desse princípio humorístico que Sacha Baron Cohen concebe seus quadros, ligados por um fiapo de história que o tira de sua terra natal, o Cazaquistão (que logicamente é retratado de maneira extremamente ofensiva e nada tem a ver com o país real), para os EUA, a fim de "aprender com a cultura" daquele país. Infelizmente, o filme peca por tentar esconder que quase tudo aquilo que vemos na tela foi combinado previamente. E, mesmo quando algo acontece supostamente de maneira imprevisível (como o jantar, a entrevista da TV ou o rodeio), fica sempre a impressão de engodo, pois nunca somos informados sobre como Borat conseguiu chegar lá. As pessoas sabiam que se tratava de um comediante fazendo um filme ou achavam que ele era realmente um jornalista do Cazaquistão em visita pela América? Essa interrogação paira sobre quase todo o filme e acaba desviando o foco da atenção.

Além disso, o ator não sabe tirar proveito máximo de seu personagem, caindo muitas vezes para o exagero e para a afetação, quando a situação exigia uma atuação mais fria e séria justamente para servir de contraponto à bizarrice que ocorre à sua volta.

Sacha, evidentemente, não é John Cleese, muitos menos Peter Sellers, cujas inacreditáveis caras-de-pau transformavam sketchs muitas vezes banais em clássicos da comédia, seja nos shows do grupo Monty Python ou nos filmes da "Pantera Cor de Rosa", respectivamente.

Quando eu tinha uns 16 anos e morava com um primo sarrista, tivemos a grande idéia de dublar filmes. Para tanto, escolhíamos uma cena, definíamos quem dublava quem e pronto, saíamos falando no gravador qualquer asneira que viesse à mente. Nem preciso dizer que chegamos a literalmente chorar de rir quando ouvíamos as pérolas que saíam no meio daquela histeria toda. Imagino que se eu embalar tudo aquilo num formato "pretensioso" e soltar na internet, vai ter muita gente entoando loas à nossa "genialidade em lapidar frases e piadas em cima de filmes clássicos". Se bobear, somos até indicados ao Oscar de melhor roteiro original...

Menos, por favor, menos. Rir de besteiras e cenas grotescas, tudo bem. Agora, querer enxergar genialidade e politização nesse tipo de humor rasteiro e primário já é demais, não? Fala sério...

Cotação: * * *

Um comentário:

Anônimo disse...

Concordo plenamente com você. Ouvi tantos elogios e boas críticas sobre o filme, parecia algo de outro mundo, mas quando o assisti, tive uma enorme decepção. Sinceramente, achei de péssimos gosto as piadas e muito sem noção...