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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Filmes: "Cazuza - O Tempo Não Para"

RETRATO BORRADO

Por mais que os diretores tentem aprofundar o personagem, nunca ficamos sabendo direito quem foi Cazuza, o que pensava e de onde tirava suas inspirações artísticas.

- por André Lux, crítico-spam

O defeito básico de “Cazuza - O Tempo não Para” vem do fato do roteiro ter sido baseado num livro escrito pela mãe do cantor. Vejam bem, nada tenho contra a senhora em questão. Pelo contrário, nem mesmo a conheço. O problema é que pais e mães, por mais bem intencionados e presentes que tenham sido, quase nunca conhecem a fundo seus filhos.

E isso é simples de entender, já que a fase mais complexa da vida de qualquer pessoa é a adolescência - onde todos nós vamos ter nossas experiências mais importantes, muitas das quais vão nos marcar para o resto da vida. E é justamente durante essa turbulenta fase que mais nos distanciamos de nossos pais, seja física (morando longe) ou mesmo psicologicamente. O inevitável choque das gerações tem aí seu ponto máximo.

Esse distanciamento natural entre pais e filhos fica mais do que evidente na construção narrativa do filme. Por mais que os diretores Walter Carvalho e Sandra Werneck tentem aprofundar o personagem, nunca ficamos sabendo direito quem foi Cazuza, o que pensava e de onde tirava suas inspirações artísticas.

Essa visão superficial é o que mais incomoda. Ficamos sabendo o suficiente sobre a sua trajetória artística e sobre a sua vida sexual promíscua e recheada de drogas, mas nunca entramos realmente na mente dele a ponto de entender de onde veio a sua poesia e a sua sensibilidade artística. Afinal, não seria esse o ponto mais importante em uma biografia no final das contas? E para chegar a isso não basta colocar meia dúzia de frases de efeito saindo da boca dele ou fotos de Che Guevara na parede de seu quarto, nem mostrá-lo cantando suas músicas de sucesso.

Esses são mistérios que somente seus amigos e parceiros íntimos poderiam ajudar a desvendar. Todavia, apesar de viver cercado de dezenas deles em cena, nenhum tem algo de interessante a dizer e acabam virando meras figurações. Nem mesmo a presença da filha de João Gilberto, Bebel (interpretada por Leandra Leal), que foi uma das melhores amigas de Cazuza, é explorada. Na verdade, quem não sabe disso na vida real jamais vai descobrir pelo filme. O que dizer então de seus amores, suas paixões, suas decepções, suas ideologias? A paixão tórrida do artista por Ney Matogrosso também é simplesmente ignorada.

Enfim, onde estão no filme as pistas que nos levariam a tentar montar o complexo quebra-cabeça que foi a formação do mito Cazuza? Infelizmente em nenhum lugar, exceto em alguns bons diálogos entre ele e o que seria o seu guru Ezequiel Neves (Emilio Neto, caricato demais) e em momentos tocantes na fase final, quando já descobriu estar com AIDS.

Fora isso, o que sobra é um retrato um tanto borrado do que foi a vida do artista visto basicamente pelo prisma moralista da mãe, no qual ele é pintado como um garoto mimado e inconsequente que, na visão dela, destruiu sua vida fazendo loucuras regadas a muita droga e sexo. Nem mesmo os motivos que o levaram a ter tal comportamento autodestrutivo são abordados, embora algumas pistas estejam evidentes (pai ausente, mãe dominadora, falta de limites, etc). Nem mesmo o fato dele ser visivelmente bissexual chega a gerar qualquer tipo de conflito familiar, como se isso fosse normal em nossa sociedade repressora!

Sinceramente, isto é muito pouco para dar vida à biografia Cazuza na tela e acaba deixando-a parecida com muitas outras que existem por aí. E por mais que o ator Daniel de Oliveira se esforce (com sucesso, diga-se de passagem) para incorporar o cantor na tela, ele não tem como segurar o filme todo sozinho.

Certamente Cazuza foi bem mais do que é mostrado. Quem conhece a fundo e gosta da obra do artista vai ter no filme uma ótima oportunidade de ver um registro quase documental de várias fases da vida do ídolo. Para o resto, “Cazuza - O Tempo Não Para” reserva alguns momentos tocantes, uma interpretação formidável de Daniel Oliveira e, infelizmente, nada mais do que um retrato pálido do que poderia ter se tornado hoje um dos maiores compositores de MPB, caso não tivesse o lamentável azar de contrair AIDS e morrer prematuramente aos 32 anos de idade (justamente quando começava a amadurecer e deixar de agir como um menino mimado).

Enfim, o esforço da produção e a intenção do projeto são dignos de elogios, mas o artista retratado obviamente merecia muito mais.

Cotação: * * 1/2

4 comentários:

Dilberto L. Rosa disse...

Muito boas observações de um filme tão superficial quanto o foi "Madame Satã", mais ou menos com os mesmos envolvidos por trás das câmeras, onde nem Lázaro ramos, numa interpretação genia, salva o vazio do que é mostrado de um punhado de dias a esmo do personagem mais controverso da boêmia carioca...

Chega a ser risível quando Cazuza "compõe" "Eu preciso dizer que te amo": a coisa toda sai prontinha, sem nenhum esforço...

Um abração e apareça nos Morcegos (aquele blogue que lhe rendeu homenagens quanto à sua postagem fantástica sobre Guerra nas Estrelas!

André Lux disse...

Bacana o blog Morcegos, já o linkei na minha lista de recomendados. Mas não sabia de homenagem a minha sátira do PiG x Star Wars. Onde está?

Abraços!

Guilherme disse...

Impressionante sua análise sobre o Filme! Continue assim.

Piotr Ilianovic disse...

Outra coisa sobre filme: ficamos com a impressao de que o Barao Vermelho nunca saiu do Rio!