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quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Filmes: "O FILHA DA NOIVA"

RETRATO DA AUTO-DESTRUIÇÃO

Excelente filme argentino mistura drama, comédia e psicologia para analisar as relações patológicas entre mãe e filho

- por André Lux, crítico-spam

"O Filho da Noiva" é um filme argentino que fez boa campanha nas bilheterias dos cinemas mesmo sem contar com grandes campanhas de marketing. E a explicação é simples: trata-se de uma comédia dramática extremamente humana e próxima de todos nós.

Mas o que torna esta fita, dirigida com grande sensibilidade por Juan José Campanella, tão interessante é o fato de que os dramas e conflitos vividos pelos personagens têm muito mais profundidade e riqueza do que normalmente acontece, trazendo inclusive interessantes abordagens psicológicas.

O roteiro é muito bem amarrado e gira em torno de Rafael Belvedere (o simpático Ricardo Darin), um quarentão fechado e arredio, que herdou o restaurante italiano do pai quando desistiu de seguir carreira como advogado - profissão que "escolheu" por pressão principalmente da mãe, que passou a rejeitá-lo depois que resolveu seguir outros caminhos.

Essa situação mal resolvida entre mãe e filho dá o tom ao filme e é acentuado pelo fato dela estar agora internada em um asilo, já que sofre de Mal de Alzheimer. Pressentindo o final da vida de ambos, seu pai (o excelente ator Hector Alterio) resolve realizar o único sonho da esposa que ele não satisfez: casar na igreja. E para isso pede ajuda ao filho.

Mas Rafael é um adulto imaturo e travado emocionalmente, que vive preso à necessidade patológica de provar seu valor à mãe (a venerável Norma Aleandro) - fato que o impede de ser feliz e o empurra cada vez mais para a auto-destruição. A uma certa altura da narrativa, ele é acometido por um enfarte que quase o leva à morte. É a partir dessa parada forçada no rítimo alucinante de seu dia-a-dia que ele passa a perceber o quanto sua vida é vazia e destituída de relações verdadeiras.

Separado de uma mulher que o despreza com quem teve uma filha que negligencia, às voltas com uma namorada que ele resiste em assumir (Natalia Verbeke) e infeliz no trabalho, Rafael vê-se de repente numa encruzilhada emocional. Uma das saidas que ele considera é "mandar tudo à merda" e viver seu sonho infantil de mudar para o México e criar cavalos! A outra seria buscar o auto-conhecimento, amadurecer e tomar as rédias de sua própria vida.

Felizmente, ele acaba escolhendo pela segunda (logicamente a mais difícil, porém, a mais gratificante a quem tem coragem de pagar o preço), mesmo que meio a contra-gosto a princípio. É tocante a cena na qual Rafael tenta conversar com sua mãe à sós e acaba por perceber finalmente que aquela mulher que tanto o dominou (muito mais em sua própria mente do que na realidade) é apenas um ser humano cheio de fraquezas, dúvidas e problemas como qualquer outro.

Ou seja: ela não tem nada de ameaçadora como a sua criança interior, por meio da qual ele ainda vê o mundo, acreditou a vida toda. É a partir dessa "revelação" (ou insight, como chamam os psicólogos) que o protagonista passa a amadurecer e a assumir plenamente suas responsabilidades, buscando aquilo que realmente quer ou, ao menos, o que é melhor para ele naquele momento.

Mas não pense que todo esse conteúdo complexo deixa o filme chato e arrastado, pois os realizadores sabem dosar com grande precisão os momentos mais dramáticos com outros genuinamente cômicos, repletos de diálogos afiados e atuações precisas de todo o elenco. De quebra, ainda dão uma alfinetada sempre pertinente na religião católica (o diálogo entre Rafael e o padre que recusa-se a casar seus país é hilariante!).

Em um mundo repleto de filmes pré-fabricados ou que transbordam de pretensões pseudo-profundas sem sentido é com grande alegria que recomenda-se uma fita como "O Filho da Noiva", daquelas para se ver com a mente e o coração abertos.

Procure em sua locadora favorita ou compre o DVD, pois vale muito a pena ver e rever este excelente filme argentino que chegou a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e ganhou os prêmios de Melhor Filme e Melhor Atriz, para Norma Aleandro, no Festival de Gramado 2002.

Cotação: ****
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Um comentário:

A. Harlan disse...

Lux, tou saindo de férias hj e só volto depois do ano novo. Queria te deixar um abraço, e votos de feliz natal e um excelente 2008.

Vamos ver se conseguimos ter menos desavenças no ano q virá, heheehehe...