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Roteiro simplista, personagens vazios e excesso de efeitos deixam refilmagem de “Poseidon” sem qualquer dramaticidade
Para quem assistiu o “Destino do Poseidon” original, de 1972, fica impossível não compara-lo com essa refilmagem dirigida pelo alemão pau-para-toda-obra Wolfgang Petersen (de “Tróia” e “Força Aérea Um”). E o segundo perde feio no quesito dramaticidade. Culpa do excesso de efeitos especiais e do orçamento generoso (140 milhões de dólares) que transformam o filme em mais uma viagem de montanha russa, cheia de aventura e correrias, mas sem qualquer substância. Isso quer dizer que, tirando a adrenalina e a ansiedade gerada pelas intermináveis seqüências onde os personagens liderados por Kurt Russel e Josh Lucas escapam do perigo por um triz (com as ocasionais vítimas entre os coadjuvantes), não sobra mais nada no quesito emoção.
Mas o problema maior é da falta de sutilezas do roteiro, que falha em proporcionar qualquer tipo de aprofundamento nos personagens ou mesmo criar situações dramaticamente interessantes. A ausência de conflitos ou mesmo de personagens de caráter duvidoso também contribui para deixar o filme sem qualquer sal ou açúcar. No “Poseidon” de 2006 todo mundo é bonzinho, prestativo, disposto a se sacrificar pelo próximo e profundo como uma poça de água. Vejamos o personagem interpretado por Richard Dreyfuss, por exemplo. No início, descobrimos que ele é gay e quer se matar, pois acabou de ser abandonado pelo namorado. Qual a relevância disso no transcorrer do filme? Absolutamente nenhuma! O mesmo pode ser dizer de todos os outros, inclusive da latina que viaja clandestinamente (Mia Maestro, de "Diários de Motocicleta"), o ex-prefeito e ex-bombeiro (Russel), o ex-militar e atual jogador de cartas profissional (Lucas).
Esse tipo de abordagem simplista e superficial não gera qualquer empatia entre o público, que pode roer as unhas durante as cenas de perigo, mas não dá a mínima quando alguém morre ou se fere. E filme-catástrofe que não é capaz de gerar emoções jamais será memorável. O original podia ter menos recursos e situações de perigo, porém, mesmo longe de ser um clássico da sétima arte, tinha personagens mais humanos e interessantes, cujas personalidades, conflitos e deficiências eram explorados com calma e paciência, levando o filme numa crescente, onde o suspense girava em torno deles e não das pirotecnias visuais.
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Ou seja, dá para assistir se você não esperar muito, mesmo porque algumas tomadas de efeitos especiais são realmente muito bem feitas (especialmente quando a Tsunami vira o navio de ponta cabeça). É só forma sem qualquer conteúdo, daqueles que você esquece cinco minutos depois de sair da sala de projeção.
Cotação: * *
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