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segunda-feira, 20 de junho de 2005

Filmes: "Batman Begins"

BOM, NAS NEM TANTO

Dizer que “Batman Begins” é melhor que os filmes de Tim Burton e Joel Schumacher é verdade. Mas, convenhamos, não chega a ser um elogio tão impressionante.

- Por André Lux

Ainda não foi desta vez que o homem-morcego encontrou sua versão definitiva nos cinemas. Depois dos excessos cometidos contra o personagem nos histéricos filmes de Tim Burton e Joel Schumacher, a Warner resolveu apostar numa leitura mais realista e contida da saga do justiceiro de Gotham City. Para isso, chamou o diretor Christopher Nolan (dos bons “Amnésia” e “Insônia”) e investiu num roteiro supostamente menos rocambolesco e mais concentrado em humanizar os personagens e situações.

Mas, se nos filmes anteriores sobravam situações bizarras e atuações histéricas (principalmente dos vilões), em “Batman Begins” tudo é levado a sério demais, a ponto de tornar o filme quase tedioso e arrastado, especialmente na primeira parte que aborda a busca de Bruce Wayne por um “sentido na vida” – o qual ele eventualmente encontra ao juntar-se à organização Liga das Sombras, que se propõe a acabar com o crime a qualquer preço. Durante o treinamento árduo, há um excesso de frases de efeito e psicologia de almanaque proferidas pelo seu mentor, Henri Ducard (Liam Neeson, repetindo seu papel de “mestre Jedi”), que acabam sendo redundantes e poderiam ter sido cortadas sem prejuízos. Incomoda também a insistência do roteiro em pintar os milionários pais do herói como se fossem espécies de “santos imaculados”, dispostos a tudo para ajudar os pobres (a cena da morte deles, por sinal, é muito mal dirigida e apressada, não passa qualquer emoção).

Depois de uma fuga exagerada e não muito convincente do quartel general da Liga (quando o exército imbatível de ninjas é derrotado com facilidade incompatível com o que havia sido mostrado até então), Wayne volta para sua cidade natal disposto a combater o crime. Esse segundo ato, o qual mostra o protagonista dando forma ao seu alter-ego mascarado, é o que o filme tem de melhor. Graças à participação de coadjuvantes de peso, como Michael Caine (como o mordomo Alfred), Morgan Freeman (o guru em armamentos), Gary Oldman (o sargento Gordon) e Rutger Hauer, o filme fica menos pretensioso e cresce, reservando ao menos algumas tiradas mais amenas e divertidas.

Infelizmente tudo desanda no terceiro ato quando os planos dos vilões são revelados e o roteiro vira um mero festival de lutas, perseguições e explosões exageradas. O pior é que novamente não conseguiram solucionar satisfatoriamente o fato de que o Batman (diferente do “Homem-Aranha” ou do “Superman”) é apenas uma pessoa normal, que veste armadura, capacete, capa e anda cheio de badulaques e bugigangas penduradas.

Ou seja, fazê-lo correr, saltar, voar, desaparecer e lutar com incrível rapidez e agilidade simplesmente não convence e priva o filme de qualquer verossimilhança. Nos quadrinhos tudo bem, afinal é uma outra linguagem. Já no cinema fica fantástico e absurdo demais. Tanto isso é verdade que nas cenas de luta mal conseguimos ver o que está acontecendo ou quem está acertando quem, tão rápidos são os cortes na edição. Não seria melhor assumir essas características que dão "peso" ao personagem e então explorá-las de maneira mais eficiente e realista, como fizeram por exemplo no primeiro "Robocop" (que, por sinal, tinha muito de "Batman)?

O maior defeito do filme, contudo, reside no fato de que não foram capazes de criar um mundo coerente com a proposta “realista” original. O design visual é claudicante e alterna tomadas de Gotham como se fosse uma cidade normal contemporânea com outras em que prédios com visual futurista são inseridos (especialmente a sede das empresas Wayne). Os filmes de Tim Burton tinham um desenho de produção radicalmente gótico e surrealista, o que ao menos os deixavam coerentes em sua totalidade. Já “Batman Begins” não assume de vez sua veia realista, nem deixa-se dominar por uma aproximação mais radical, tornando-se por conseqüência meramente medíocre e bem menos marcante do que se esperava.

O mesmo pode-se dizer da trilha musical que, embora seja assinada pelo sempre pavoroso Hans Zimmer (desta vez dividindo a autoria com o mais competente James Newton Howard, de "O Sexto Sentido"), nunca ultrapassa o nível de mediocridade e indiferença (ao ponto de me obrigar a reconhecer que mesmo as fracas partituras de Danny Elfman para os filmes de Tim Burton eram melhores!).

Não ajuda muito também a atuação neutra do Christian Bale (de “Psicota Americano”) como o protagonista. O rapaz é bom ator, mas não tem carisma para segurar o filme e apela para truques manjados de interpretação (como falar com voz grossa e sussurrante quando vestido de Batman, praticamente repetindo o que Michael Keaton tentou fazer nos dois primeiros filmes da franquia), o que contribui ainda mais para a sensação de decepção que permeia o filme todo.

Por essas e outras, dizer que “Batman Begins” é melhor que os filmes de Tim Burton e, especialmente, os de Joel Schumacher é verdade. Mas, convenhamos, não chega a ser um elogio tão impressionante...

Cotação: * * *

sexta-feira, 3 de junho de 2005

Música: Trilha sonora do filme "Diários de Motocicleta"

Delicada e intimista, partitura adequa-se com perfeição às belas imagens do filme

- Por André Lux

Um dos fatores que mais chamam a atenção durante a exibição de ''Diários de Motocicleta'' é a sua trilha musical, composta pelo argentino Gustavo Santaolalla (de ''Amores Brutos'' e ''21 Gramas''). E não por ser grandiloqüente ou opulenta, mas sim por ser extremamente delicada e intimista adequando-se com perfeição às imagens captadas pelo diretor Walter Salles e pelo fotógrafo Eric Gautier.

Ao narrar a primeira aventura do jovem Ernesto Guevara muito antes de transformar-se no mitológico ''Che'', o cineasta optou sabiamente por uma aproximação sutil e humana. E isso está refletido na música de Santaolalla que, além de escrever a partitura, também tocou vários dos instrumentos acústicos utilizados nela - violão, guitarra, ronrocco, charango, caja, flautas, percussão, vibros e baixo.

A trilha musical de ''Diários de Motocicleta'' é dominada principalmente pelo violão de Santaolalla, o qual o músico utiliza para para destacar sentimentos de isolamento ou de melancolia, em faixas como ''Lago Frias'', ''Leaving Miramar'', ''Jardín'', ''La Morte De La Poderosa'' e ''Leyendo En El Hospital'', ou para dar contraponto aos diversos tipos de instrumentos de percussão que ressaltarem o sabor ''latino'' do filme, em faixas como ''Apertura'' e ''La Partida''.

O compositor utiliza a guitarra elétrica junto com a percussão na faixa ''La Salida de Lima'', que pontua a seqüência em que Enersto e Alberto saem da capital peruana em direção ao leprosário numa balsa, passando através da música a crescente sensação de inquietação dos protagonistas que Salles busca mostrar neste ponto do filme.

Em momentos de tensão, Santaolalla prefere deixar a música baixa e indefinida usando para isso basicamente solos de percussão (''Procéssion'', ''Amazonas'' e ''El Cruce''). Já em cenas de caráter intimista, predominam a performance de instrumentos de sopro criando uma textura etérea que busca apoio nas imagens invertendo a função da trilha sonora (''Montaña'', ''Círculo En El Rio'' e ''Partida Del Leprosario'').

O material temático e as diferentes instrumentações criadas pelo compositor são resolvidos com precisão e riqueza de detalhes em ''De Usuhaia a La Quiaca'', a qual descreve de maneira tocante a cena que encerra o filme de Walter Salles.

O album com a trilha sonora de ''Diários de Motocicleta'' traz ainda a divertida canção ''Chipi Chipi'' de Gabriel Rodriguez, ''Que Rico El Mambo'' de Dámasco Pérez Prado e a sensível ''Al Outro Lado Del Rio'' composta especialmente para o filme por Jorge Drexler, que também é responsável pelos vocais e solos de violão.

Quem gostou do filme certamente vai apreciar também esse trabalho de muito bom gosto de Gustavo Santaolalla registrado em um CD que contém aproximadamente 38 minutos de música, mas que dá impressão de ser mais curto e deixa um gosto de ''quero mais'' no final - o que é sempre um grande elogio.

Cotação: * * * *