quinta-feira, 20 de março de 2025

“Duna Parte 2” encerra a adaptação da obra de Frank Herbert de maneira formidável

Filme é excelente conclusão e os destaques vão novamente para o desenho de produção e os efeitos visuais, além da ênfase na mensagem contra os falsos messias

- por André Lux, crítico-spam

É impossível analisar “Duna – Parte 2” sem falar do primeiro, já que é basicamente um único filme dividido em duas partes. Diferente de “O Senhor dos Anéis”, de Peter Jackson, que dividiu o livro em três filmes rodados simultaneamente, a segunda parte de Duna só começou a ser filmada depois do lançamento do primeiro – e só foi confirmado depois que deu lucro ao estúdio!

Isso tem um lado bom e outro ruim. O bom é que permitiu ao diretor Dennis Villeneuve fazer algumas mudanças em sua obra, como dar mais leveza e humor à narrativa, algo que sempre agrada ao público dos cinemas menos interessados em obras áridas e cerebrais.

O lado ruim é que algumas dessas mudanças de tom influenciaram negativamente na caracterização de certos personagens, principalmente o Stilgar, feito por Javier Barden, que no primeiro filme segue à risca a persona arredia do livro, mas na sequência vira mais alívio cômico, quase um bufão. Em uma das cenas mais engraçadas Villeneuve faz uma homenagem à “A Vida de Brian”, do Monty Python que também tratava de falsos messias.

Outra alteração para pior foi a de reduzir os Harkonnens a meras bestas feras nazi-fasicistas, em especial o Raban, feito de forma descontrolada por Dave Bautista que grita o tempo todo e mata subalternos furiosamente em praticamente todas as cenas em que aparece. Infelizmente isso enfraquece os personagens, deixando o filme mais raso, como se fosse uma mera luta do bem (Atreides) contra o mal (Harkonnens).

A maior mudança, todavia, se deu em Chani (Zendaya) que toma um rumo completamente oposto ao da obra original, mas isso é explicado pelo diretor como necessário para dar mais ênfase à mensagem contra os perigos dos falsos messias, que é um dos temas centrais dos livros de Frank Herbert. Só que isso vai trazer uma série de problemas para as possíveis continuações da obra, afinal Chani será a fiel concubina de Paul e mãe de seus futuros filhos.

“Duna – Parte 2” foca a maior atenção narrativa nas cenas de ação, no romance entre Paul e Chani e nas maquinações dos Atreides para manipular os Fremen por meio da falsa profecia do “salvador” que foi plantada lá pelas Bene Gesserits, fatores que deixam o filme bem mais palatável ao público em geral. Mas, para quem conhece a obra original, salta aos olhos uma omissão imperdoável: o roteiro deixa de lado a importância dos vermes da areia para Duna, já que são eles quem produzem a Especiaria, essencial para o funcionamento daquele universo. Basta dizer que sem ela não seriam mais possíveis as viagens espaciais! No filme parece que os vermes gigantes servem apenas como montarias - e, verdade seja dita, a sequência em que Paul tem que domar o verme pela primeira vez é de tirar o fôlego!

Apesar desses problemas, “Duna – Parte 2” é uma excelente conclusão para a adaptação e os destaques vão novamente para o desenho de produção e para os efeitos visuais primorosos. O elenco também é formidável, com destaque para Timothée Chalamet que tem uma transformação notável de um jovem inseguro e tímido para o guerreiro líder dos Fremens. Austin Butler também impressiona como o sociopata Feyd-Rautha.

Até a trilha musical do abominável Hans Zimmer funciona já que, felizmente, partiu para um experimentalismo quase tribal, deixando em segundo plano temas bombásticos orquestrais que ele simplesmente é incapaz de compor de forma minimamente competente.

Assim sendo, “Duna” é um prato requintado que vai agradar em cheio quem procura ficção científica de qualidade e sabe apreciar um filme extremamente bem realizado, repleto de nuances e inflexões narrativas que captam a rica essência da obra original, principalmente as alegorias ao petróleo, ao cristianismo e islamismo e à ecologia, porém com voz própria dentro da linguagem cinematográfica.

Cotação: ****

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