Filme é excelente conclusão e os destaques vão novamente para o desenho de produção e os efeitos visuais, além da ênfase na mensagem contra os falsos messias
- por André Lux, crítico-spam
É impossível analisar “Duna – Parte 2” sem falar do primeiro,
já que é basicamente um único filme dividido em duas partes. Diferente de “O
Senhor dos Anéis”, de Peter Jackson, que dividiu o livro em três filmes rodados
simultaneamente, a segunda parte de Duna só começou a ser filmada depois do
lançamento do primeiro – e só foi confirmado depois que deu lucro ao estúdio!
Isso tem um lado bom e outro ruim. O bom é que permitiu ao
diretor Dennis Villeneuve fazer algumas mudanças em sua obra, como dar
mais leveza e humor à narrativa, algo que sempre agrada ao público dos cinemas
menos interessados em obras áridas e cerebrais.
O lado ruim é que algumas dessas mudanças de tom
influenciaram negativamente na caracterização de certos personagens, principalmente
o Stilgar, feito por Javier Barden, que no primeiro filme segue à risca a
persona arredia do livro, mas na sequência vira mais alívio cômico, quase um
bufão. Em uma das cenas mais engraçadas Villeneuve faz uma homenagem à “A
Vida de Brian”, do Monty Python que também tratava de falsos messias.
Outra alteração para pior foi a de reduzir os Harkonnens a meras bestas feras nazi-fasicistas, em especial o Raban, feito de forma descontrolada por Dave Bautista que grita o tempo todo e mata subalternos furiosamente em praticamente todas as cenas em que aparece. Infelizmente isso enfraquece os personagens, deixando o filme mais raso, como se fosse uma mera luta do bem (Atreides) contra o mal (Harkonnens).
A maior mudança, todavia, se deu em Chani (Zendaya) que toma
um rumo completamente oposto ao da obra original, mas isso é explicado pelo
diretor como necessário para dar mais ênfase à mensagem contra os perigos dos
falsos messias, que é um dos temas centrais dos livros de Frank Herbert. Só que
isso vai trazer uma série de problemas para as possíveis continuações da obra,
afinal Chani será a fiel concubina de Paul e mãe de seus futuros filhos.
“Duna – Parte 2” foca a maior atenção narrativa nas cenas de ação, no romance entre Paul e Chani e nas maquinações dos Atreides para manipular os Fremen por meio da falsa profecia do “salvador” que foi plantada lá pelas Bene Gesserits, fatores que deixam o filme bem mais palatável ao público em geral. Mas, para quem conhece a obra original, salta aos olhos uma omissão imperdoável: o roteiro deixa de lado a importância dos vermes da areia para Duna, já que são eles quem produzem a Especiaria, essencial para o funcionamento daquele universo. Basta dizer que sem ela não seriam mais possíveis as viagens espaciais! No filme parece que os vermes gigantes servem apenas como montarias - e, verdade seja dita, a sequência em que Paul tem que domar o verme pela primeira vez é de tirar o fôlego!
Apesar desses problemas, “Duna – Parte 2” é uma excelente
conclusão para a adaptação e os destaques vão novamente para o desenho de produção
e para os efeitos visuais primorosos. O elenco também é formidável, com
destaque para Timothée Chalamet que tem uma transformação notável de um jovem
inseguro e tímido para o guerreiro líder dos Fremens. Austin Butler também
impressiona como o sociopata Feyd-Rautha.
Até a trilha musical do abominável Hans Zimmer funciona já
que, felizmente, partiu para um experimentalismo quase tribal, deixando em
segundo plano temas bombásticos orquestrais que ele simplesmente é incapaz de
compor de forma minimamente competente.
Assim sendo, “Duna” é um prato requintado que vai agradar em
cheio quem procura ficção científica de qualidade e sabe apreciar um filme
extremamente bem realizado, repleto de nuances e inflexões narrativas que
captam a rica essência da obra original, principalmente as alegorias ao
petróleo, ao cristianismo e islamismo e à ecologia, porém com voz própria
dentro da linguagem cinematográfica.
Cotação: ****
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