Filme provoca menos risadas, porém é mais pertinente ao
mostrar o estado de loucura no mundo depois que nova onda conservadora se
instalou na mente de grande parte da população
- por André Lux, crítico-spam
Nunca achei muita graça no ator Sacha Baron Cohen. Primeiro
porque seu estilo de humor histérico e caricato não me atrai muito. E segundo
porque sempre me pareceu um sujeito extremamente narcisista e egocêntrico.
Vi o primeiro “Borat” no cinema e, apesar de dar boas
risadas, não achei nada genial ou revolucionário como muitos disseram na época.
Apenas um filme bobo repleto de “pegadinhas” onde o protagonista agia de forma
tosca e ofensiva para provocar reações de choque de seus interlocutores (leia aqui minha análise do filme).
Chega agora “Borat 2” e, rapaz, finalmente o comediante
acertou o alvo! Ao que parece Sacha amadureceu e aprendeu a deixar o ego de lado
e se concentrar em criar quadros realmente surpreendentes sem que Borat seja o
centro das atenções ou apele para provocações baratas ou escatologia (que
sobraram no primeiro filme).
Desta vez o autor tem uma missão: desmascarar a hipocrisia,
o falso moralismo e a falta de noção da extrema-direita estadunidense,
representada de forma máxima hoje na figura do grotesco Donald Trump e seus asseclas
mais próximos. Assim, Borat sai do Cazaquistão para tentar agradar o atual mandatário
dos EUA a fim de que o ditador de seu país também possa entrar para o “Clube
dos Homens Fortes”, cuja lista passa por Putin, Kim Jong-Un e, claro, Jair
Bolsonaro. Para isso ele tem que dar de presente sua filha de 15 anos, pois os
homens poderosos adoram meninas, segundo explica um dos personagens do filme.
A estrutura de “Borat 2” é bem menos caótica do que a do
primeiro longa e acompanhamos as peripécias do protagonista e sua filha inseridos
em situações que seriam inacreditáveis caso não fossem reais. Assim, Borat
veste a famigerada túnica da Klu-Klux-Klan para entrar despercebido na
convenção do partido Republicano. Logo em seguida se disfarça de Trump e sai
gritando no meio do discurso do vice-presidente enquanto leva a filha pendurada
no ombro.
É de fazer cair o queixo algumas cenas que presenciamos. Como
as conversas negacionistas e sobre teorias da conspiração entre Borat e dois “rednecks”
do sul dos EUA, quando dizem, por exemplo, que o casal Clinton bebe o sangue de
crianças. Ou quando o protagonista canta durante um protesto contra a
quarentena lotado de gente segurando metralhadoras e rifles. A canção que diz
que “Obama é um traidor que deveria estar preso” e “Jornalistas e cientistas
deveriam ser injetados com o vírus de Whan ou esquartejados” recebe aplausos
entusiasmados da plateia, que conta inclusive com algumas saudações nazistas.
A cena mais constrangedora e grotesca se dá quando o grande
amigo conservador de Trump, Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York e
advogado pessoal do presidente, quase chega às vias de fato com a filha de 15
anos do Borat, disfarçada de repórter, num quarto de hotel.
“Borat 2” provoca bem menos risadas do que o primeiro e tem
algumas cenas arrastadas (como as que ele troca faxes com o governo do
Cazaquistão), porém é muito mais pertinente e provocador ao mostrar de forma
explícita o estado de loucura que se encontra o mundo hoje depois que a nova
onda conservadora se instalou na mente de grande parte da população, onda essa cujo
epicentro obviamente é os EUA e seus políticos que apostam no que existe de
pior no ser humano para conquistar o poder e permanecer nele.
Será que um filme como esse será capaz de mudar os corações
e as mentes de quem se deixou infectar por esse vírus terrível? Quem viver,
verá...
Cotação: * * * *
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