Assista este filme para entender porque, afinal, ninguém tem coragem de se assumir como sendo de “direita” na América Latina...
- por André Lux, crítico-spam
Você já se perguntou por que ninguém tem coragem de admitir que seja de “direita” na América do Sul? Assista “Machuca” e vai saber a resposta. Este filme chileno do diretor Andrés Wood se passa durante os últimos meses do governo socialista de Salvador Allende, quando o padre que dirige uma escola para crianças da classe média alta implanta uma política do governo que reserva vagas para alunos oriundos das classes pobres.
Um desses meninos é justamente o Machuca do título, que acaba ficando amigo de Gonzalo, um filho das “elites” e provável alter-ego do próprio cineasta (o filme termina com uma frase em homenagem a um padre real, que obviamente deve ter semelhanças com o personagem de "Machuca").
A amizade dos dois representa o abismo que existe entre as classes sociais, o qual fica escancarado quando um vai visitar a casa do outro. Gonzalo, que mora numa bela residência, tem um pai boa praça, porém ausente e alienado, enquanto sua mãe é a personificação da “dondoca” suburbana fútil e louca por dinheiro (ao ponto de ser amante de um político rico do qual recebe vários “presentes” chiques). A irmã do menino namora uma boçal violento e agressivo que faz parte do “Comando de Caça a Comunistas” chileno.
Já Machuca mora numa favela com a mãe, a irmã e um tio. Seu pai é um bêbado que aparece só para arrancar dinheiro da mãe e dar porrada nos filhos. Só por curiosidade, li um profissional da opinião dizendo que o filme “falha” ao mostrar a pobreza de forma idílica! Concordo com ele, afinal quem é que não sonha em morar num barraco feito de tábuas e lonas enquanto recebe uns sopapos do pai bêbado e cafetão dia sim, dia não?
Enfim, dessa improvável amizade acompanhamos os dois meninos passando por várias situações que servem para reforçar o caos político promovido pelos golpistas que se abatia sobre o país. O tio de Machuca ganha a vida vendendo bandeiras dos partidos de direita e de esquerda nas várias passeatas contra e a favor do governo. E leva os garotos juntos, que ignorantes do que se passava, saiam alegremente repetindo os jargões dos manifestantes, seja de qual tendência eram representantes.

Não quero revelar mais da trama, mas basta dizer que o filme segue o ritmo dos golpistas até a sangrenta derrubada do governo socialista pelos milicos do general Pinochet, que lançaram sobre o Chile a mais brutal e selvagem ditadura da América Latina. Ditadura que foi notável também por ter sido o primeiro regime a implantar - sobre o cadáver de milhares de cidadãos que ousaram lutar por um mundo mais justo e menos desigual - a nefasta ideologia neoliberal, que hoje colocou o mundo de joelhos.
Nem preciso dizer que o final de “Machuca” será terrivelmente trágico e doloroso. E basta assisti-lo para entender porque, afinal, ninguém tem coragem de se assumir como sendo de “direita” por essas bandas...
Cotação: * * * *
2 comentários:
Obs.: além de ter entrevistado por e-mail o Andres Wood, diretor do filme 'Machuca', também entrevistei o Roberto Farias de 'Pra Frente, Brasil'.
https://salafehrio.blogspot.com.br/2012/11/entrevista-com-andres-wood-diretor.html
https://salafehrio.blogspot.com.br/2012/11/entrevista-com-roberto-farias-diretor.html
Gostei das duas entrevistas, mas repare a diferença de enfoque ...
Very cool article, it’s very interesting to see if the commenting on blogs works
Postar um comentário