AMÉLIAS EM DESFILE
Nariz postiço de Nicole Kidman é o retrato perfeito desse drama pretensioso e repleto de "momentos Oscar"
- por André Lux, crítico-spam
Existem filmes que são feitos para ganhar Oscar. AS HORAS é mais um deles. Os ingredientes estão todos lá: atrizes respeitáveis e de peso (no caso, Nicole Kidman, Meryl Streep e Juliane Moore), roteiro baseado numa obra e numa escritora apreciadas por intelectuais e premiadas, narrativa arrastada e pretensiosa, etc. Às vezes essa receita até resulta em grandes filmes, verdadeiras obras-primas do cinema, carregadas de conteúdos e diálogos marcantes, cenas memoráveis e interpretações irretocáveis.
Nada disso, infelizmente, aconteceu aqui. Essa necessidade de “ser genial” e “premiável” atrapalha o filme desde o início, tornando-o falso, mecânico e modorrento. Ele tem tanto ritmo, profundidade e emoção quanto uma poça de água parada. A cada quinze minutos alguma das atrizes principais faz um longo monólogo diante das câmeras, que invariavelmente terminam em choros ou demonstração de emoções compulsivas: é puro “momento Oscar”!
Baseado no livro AS HORAS, de Michael Cunningham, ganhador do prêmio Pulitzer (o Oscar da literatura estadunidense), tem como ponto de partida o suicídio da escritora Virginia Wolf, passando em seguida a traçar um paralelo entre sua vida e obra (particularmente “Mrs. Dalloway”) com duas outras mulheres, distantes dela no tempo e no espaço. Uma é a dona de casa (Juliane Moore) que está lendo justamente aquele romance. Outra é uma lésbica assumida e editora (Meryl Streep em papel quase idêntico ao que interpretou em ADAPTAÇÃO), que passa o tempo cuidando de um ex-amante doente de AIDS (Ed Harris, cuja maquiagem o deixa parecido com o homem-mosca) e, ao que parece, está justamente vivenciando a história do livro (mas o filme nunca deixa isso claro e só mesmo quem leu “Mrs. Dalloway” vai saber responder).
Mas o que essas mulheres têm em comum, além das referências à obra de Wolf? As três são chatas, infelizes e psicologicamente regredidas. Verdadeiras "Amélias" em desfile. Nunca um filme mostrou o universo feminino como sendo algo tão desinteressante e modorrento. As personagens são totalmente vazias, obsessivas, suas vidas medíocres, seus atos e resoluções incoerentes.
Nem sequer ficamos conhecendo direito a escritora Virgina Wolf, que no filme parece ser simplesmente uma mulher louca, mal vestida e chata, cujo maior prazer na vida é fazer cara de coitada ou irritar o marido passivo e suas serviçais (isso sem dizer em tentar suicidar-se). O grotesco nariz postiço que Nicole Kidman usa para tentar ficar mais parecida como a escritora deixa sua atuação ainda mais artificial e inconvincente, visto que paralisa seus olhos, obrigando-a a ficar sempre com a mesma cara. Não faz o menor sentido, portanto, quando fica proclamando ter um “apego à vida”, como se esse jargão em si significasse alguma coisa. Do jeito que vive, parece ser justamente o contrário. Ora, suicidas podem ter tudo, menos "apego à vida"!
O filme, por sinal, parece querer convencer que tendência suicida é sinônimo de personalidade forte e complexa. Essa conclusão psicológica primária e bizarra fica evidente na atuação de Juliane Moore, de longe a pior do elenco, cuja expressão durante o filme lembra a de uma deficiente mental, nunca a de uma mulher em luta consigo mesmo ou à procura de uma nova vida. Parece que ela quer se matar só porque não consegue fazer nada, nem mesmo um bolo de chocolate!
Existem outros personagens que entram e saem sem trazer a menor conseqüência para a história, muito menos para o desenvolvimento dela (Toni Collete e Jeff Daniels, por sinal, estão absolutamente ridículos). Há também uma obsessão por parte dos realizadores em mostrar mulheres beijando-se, como se tentasse justificar as loucuras e problemas delas pelo fato de serem homossexuais reprimidas ou algo que o valha (repare que todo mundo no filme é gay ou então parece que gostaria de ser e, clichê dos clichês, adora ópera, teatro e poesia). Dá-lhe psicologia de almanaque!
É particularmente irritante a trilha musical do minimalista Philip Glass (outro que é sinônimo de “erudição” e “refinamento” na corrida pelos Oscar). Sua música onipresente e repetitiva pode até combinar com filmes estáticos ou desfiles de imagens, como KOYAANISQATSI, mas é absolutamente errada para esse tipo de drama.
Sinceramente, o filme é tão chato, frio e inconseqüente que não consegue nem mesmo despertar o interesse por parte do leigo em conhecer a obra da escritora Virginia Wolf! Lamentável. Recomendado só para intelectuais entre aspas ou para pessoas que possam se identificar com as personagens vazias e regredidas que desfilam pelo filme.
Cotação: * ½
3 comentários:
Vi esse filme ano passado e achei ruim também. Concordo em particular com esse trecho aqui:
"As três são chatas, infelizes e psicologicamente regredidas. Verdadeiras "Amélias" em desfile. Nunca um filme mostrou o universo feminino como sendo algo tão desinteressante e modorrento."
Embora você não vá publicar esse comentário, preciso dizer o quão desnecessário e vazio de conhecimento da psicologia o seu texto foi escrito. Pronto, agora pode excluir o comentário e continuar fingindo que escreve bem.
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