terça-feira, 25 de março de 2025

“Adolescência” mostra como a extrema-direita torna jovens desajustados em potenciais assassinos

Série é um soco no estômago que serve como alerta para sobre o tipo de pessoas que estão sendo criadas nos submundos da internet

- por André Lux, crítico-spam

A minissérie “Adolescência”, produzida pela Netflix, é um soco no estômago que serve como um aterrador alerta para pais e educadores sobre o tipo de jovens que estão criados nos submundos da internet, onde predomina a ideologia machista, misógina e violenta da extrema-direita que prega, entre outras barbaridades, que a culpa pela incapacidade de alguns homens se relacionarem com mulheres é do feminismo.

Dividida em quatro capítulos, a série possui apenas quatro longos planos-sequências filmados sem corte de maneira inacreditável, num esforço hercúleo dos realizadores. Mas esta escolha vai muito além de uma mera firula estética, pois a movimentação constante da câmera em torno dos atores e suas interações gera um clima de suspense e ansiedade.

No primeiro episódio acompanhamos a prisão do adolescente Jamie, de 13 anos, sua viagem até a delegacia e o interrogatório. No segundo, seguimos a visita dos policiais até a escola na qual o jovem estudava, onde tentam entender suas motivações. No terceiro, é a vez da visita de uma psicóloga até a prisão e suas tentativas de entrar na psiquê do adolescente a fim de traçar seu perfil psicológico. E no último, testemunhamos as consequências das ações do rapaz na vida de sua família, principalmente o pai (Stephen Graham, também um dos autores da série).

O grande mérito de “Adolescência” é não fazer julgamentos, nem tentar justificar os atos do garoto, mas sim mostrar a realidade dos fatos para que o espectador tire suas próprias conclusões. Embora não seja baseado em um fato específico, o roteiro faz um apanhado de vários casos reais no Reino Unido envolvendo adolescentes “INCELS” que cometeram atos violentos contra mulheres.

O termo “INCEL” significa “involuntary celibates” (celibatários involuntários) ou seja, jovens membros de uma subcultura virtual que se definem como incapazes de encontrar um parceiro romântico ou sexual, apesar de desejarem ter. Quando eu tinha essa idade, éramos conhecidos como “virgens” e sentíamos a mesma frustração ao não conseguir “pegar mulheres” como os outros faziam. Mas as semelhanças param por aí.

Não sou reacionário que sonha com a volta “daquela época onde as coisas eram melhores”, mas é inegável que os “virgens” de outrora, embora frustrados e depressivos, não sentiam ódio pelas mulheres ou pela luta delas por direitos iguais como os atuais Incels. A gente ficava chateado, achando que a culpa era nossa mesmo por sermos feios ou desajeitados para os “jogos do amor” e vida que segue.

O que mudou? A mudança veio com a invasão de gurus da extrema-direita que, a fim de manipular os jovens em direção ao fascismo e à defesa de valores machistas, saem por aí afirmando que eles não conseguem transar por causa do feminismo e das mulheres mesmo, que são todas interesseiras e superficiais (um deles é inclusive citado nominalmente). A série aborda isso de forma sutil ao mostrar as publicações do protagonista em seu Instagram e o comentário de muitos jovens, chamando-o de “Incel”, “Red Pill” e outros termos associados à ideologia machista vomitada por extremistas de direita, fatores que passam batidos para a maioria dos adultos, inclusive para os policiais.

E já existem estudos que demonstram isso de forma cabal, confira neste link: They Walk Among Us: Misogyny, Right-Wing Authoritarianism and Social Dominance Orientation Predict the Endorsement of Incel Ideologies (Misoginia, Autoritarismo de Direita e Orientação de Predominância Social Predispõe a Aceitação da Ideologia Incel).

Os dois episódios mais impactantes são o terceiro, onde o jovem assume seu machismo, misoginia e agressividade frente à psicóloga, e o último, onde vemos a família dele sendo aos poucos destruída pela culpa e pelos ataques que sofrem da comunidade. Neste segmento a série levanta o questionamento a cerca do que pais e educadores devem fazer em relação aos limites da liberdade que os adolescentes devem ter ao acessar a internet. “Nós demos um computador a ele e achamos que ele estava seguro aqui dentro de casa, em seu quarto, mas a verdade é que ele não estava seguro. Será que nós deveríamos ter feito mais?”, questiona a mãe do adolescente numa das cenas mais tocantes.

O desespero do pai cujo filho foi cooptado pelo extremismo de direita

A realidade é que a enxurrada de gurus de extrema-direita na internet vem envenenando a mente da atual geração e isso passa desapercebido para a maioria dos pais e educadores. Muitos, inclusive, acham ótimo que seus filhos fiquem com a cara enfiada em celulares e computadores já que assim não os incomodam. Mas existem pais que querem ajudar seus filhos a não caírem nessa armadilha, porém simplesmente não sabem o que fazer já que, ao tentarem desviar a atenção dos jovens para atividades mais nobres como leitura, arte ou esportes, vão despertar a fúria deles tamanho o nível de viciamento que as redes proporcionam na mente.

Uma situação bastante complicada e que precisa ser encarada com a importância que exige. Porque depois não vai adiantar chorar o leite derramado...

Cotação: ***** 

quinta-feira, 20 de março de 2025

“Duna Parte 2” encerra a adaptação da obra de Frank Herbert de maneira formidável

Filme é excelente conclusão e os destaques vão novamente para o desenho de produção e os efeitos visuais, além da ênfase na mensagem contra os falsos messias

- por André Lux, crítico-spam

É impossível analisar “Duna – Parte 2” sem falar do primeiro, já que é basicamente um único filme dividido em duas partes. Diferente de “O Senhor dos Anéis”, de Peter Jackson, que dividiu o livro em três filmes rodados simultaneamente, a segunda parte de Duna só começou a ser filmada depois do lançamento do primeiro – e só foi confirmado depois que deu lucro ao estúdio!

Isso tem um lado bom e outro ruim. O bom é que permitiu ao diretor Dennis Villeneuve fazer algumas mudanças em sua obra, como dar mais leveza e humor à narrativa, algo que sempre agrada ao público dos cinemas menos interessados em obras áridas e cerebrais.

O lado ruim é que algumas dessas mudanças de tom influenciaram negativamente na caracterização de certos personagens, principalmente o Stilgar, feito por Javier Barden, que no primeiro filme segue à risca a persona arredia do livro, mas na sequência vira mais alívio cômico, quase um bufão. Em uma das cenas mais engraçadas Villeneuve faz uma homenagem à “A Vida de Brian”, do Monty Python que também tratava de falsos messias.

Outra alteração para pior foi a de reduzir os Harkonnens a meras bestas feras nazi-fasicistas, em especial o Raban, feito de forma descontrolada por Dave Bautista que grita o tempo todo e mata subalternos furiosamente em praticamente todas as cenas em que aparece. Infelizmente isso enfraquece os personagens, deixando o filme mais raso, como se fosse uma mera luta do bem (Atreides) contra o mal (Harkonnens).

A maior mudança, todavia, se deu em Chani (Zendaya) que toma um rumo completamente oposto ao da obra original, mas isso é explicado pelo diretor como necessário para dar mais ênfase à mensagem contra os perigos dos falsos messias, que é um dos temas centrais dos livros de Frank Herbert. Só que isso vai trazer uma série de problemas para as possíveis continuações da obra, afinal Chani será a fiel concubina de Paul e mãe de seus futuros filhos.

“Duna – Parte 2” foca a maior atenção narrativa nas cenas de ação, no romance entre Paul e Chani e nas maquinações dos Atreides para manipular os Fremen por meio da falsa profecia do “salvador” que foi plantada lá pelas Bene Gesserits, fatores que deixam o filme bem mais palatável ao público em geral. Mas, para quem conhece a obra original, salta aos olhos uma omissão imperdoável: o roteiro deixa de lado a importância dos vermes da areia para Duna, já que são eles quem produzem a Especiaria, essencial para o funcionamento daquele universo. Basta dizer que sem ela não seriam mais possíveis as viagens espaciais! No filme parece que os vermes gigantes servem apenas como montarias - e, verdade seja dita, a sequência em que Paul tem que domar o verme pela primeira vez é de tirar o fôlego!

Apesar desses problemas, “Duna – Parte 2” é uma excelente conclusão para a adaptação e os destaques vão novamente para o desenho de produção e para os efeitos visuais primorosos. O elenco também é formidável, com destaque para Timothée Chalamet que tem uma transformação notável de um jovem inseguro e tímido para o guerreiro líder dos Fremens. Austin Butler também impressiona como o sociopata Feyd-Rautha.

Até a trilha musical do abominável Hans Zimmer funciona já que, felizmente, partiu para um experimentalismo quase tribal, deixando em segundo plano temas bombásticos orquestrais que ele simplesmente é incapaz de compor de forma minimamente competente.

Assim sendo, “Duna” é um prato requintado que vai agradar em cheio quem procura ficção científica de qualidade e sabe apreciar um filme extremamente bem realizado, repleto de nuances e inflexões narrativas que captam a rica essência da obra original, principalmente as alegorias ao petróleo, ao cristianismo e islamismo e à ecologia, porém com voz própria dentro da linguagem cinematográfica.

Cotação: ****

segunda-feira, 17 de março de 2025

“Mickey 17” é uma grande porcaria!

Filme tolo e sem sentido tenta misturar ficção científica, crítica política e comédia sem sucesso

- por André Lux, crítico-spam

É uma grande porcaria este “Mickey 17”, o novo filme do queridinho da crítica Bong Joon Ho que ganhou o Oscar de melhor diretor com “Parasita”, uma obra supervalorizada na minha opinião. A Warner deu um cheque em branco para o cineasta realizar seu próximo projeto e o resultado é desastroso em todos os sentidos.

O filme custou 120 milhões de dólares e não vai render nem metade, causando um gigantesco prejuízo para o estúdio. Mas não era para menos. “Mickey 17” é um projeto tolo e sem sentido, que tenta misturar sem sucesso ficção científica, crítica política e comédia, culpa de um roteiro caótico e da direção frenética de Ho que se mostra incapaz de controlar seus atores, deixando todo mundo histérico e apelando para um tipo de humor que faria vergonha para o extinto Zorra Total da rede Globo.

Os piores são o sempre péssimo Mark Ruffalo, aqui fazendo uma parodia grotesca de Trump, e Toni Collette como sua esposa, uma boa atriz que às vezes descamba para o ridículo quando mal dirigida. O único que se salva é o coitado do Robert Pattinson como Mickey, mas seu personagem é mal delineado e tem mudanças de personalidade sem lógica, afinal são clones do original que inclusive tem implante das memórias dele.

Os insuportáveis

O terceiro ato é incrivelmente arrastado, principalmente quando aparecem uns aliens nativos do planeta que pretendem colonizar e ameaçam uma guerra, mas é tudo muito chato e a solução para o conflito é simplesmente patética. O filme poderia ter meia hora a menos e a culpa disso é do próprio Bong Joon Ho já que é dele o corte final.

Feio (o desenho de produção é péssimo), mal dirigido, arrastado e apelando para um tipo de humor rasteiro e histérico, “Mickey 17” é um filme a ser evitado.

Cotação: *

terça-feira, 4 de março de 2025

Exagero e pretensão transformam “Nosferatu” em versão live action de “Hotel Transylvania”

Outros filmes do diretor Eggers sofrem do mesmo defeito: são desnecessariamente obscuros, modorrentos e pretensiosos

- por André Lux, crítico-spam

Fazia tempo que não via um filme tão chato e equivocado como esta releitura de “Nosferatu” dirigida pelo cineasta Robert Eggers, que vem se especializando no gênero terror e virou queridinho da crítica. Porém, o único filme dele que me agradou foi “O Farol”. Os outros sofrem do mesmo defeito deste: são desnecessariamente obscuros, modorrentos e pretensiosos.

Como todo mundo já sabe, o “Nosferatu” original é um filme mudo dirigido por Murnau em 1922. Na verdade, era para ser uma adaptação de “Dracula”, de Bram Stoker, mas quando os realizadores não conseguiram os direitos da obra, simplesmente mudaram o nome dos personagens e algumas situações, o que gerou um processo movido pela viúva do escritor e na quase destruição total da película (felizmente algumas cópias sobreviveram). A mesma história foi novamente adaptada por Werner Herzog em 1979, com Klaus Kinski no papel título.

Agora é a vez de Eggers fazer a releitura do original e, rapaz, ele falhou feio desta vez. Ele erra em alguns elementos que deveriam ser primordiais para o sucesso da empreitada. A começar pela fotografia que, embora tenha vários planos bonitos, é escura ao ponto de simplesmente ser impossível ver o que se passa na tela grande parte do tempo. Uma coisa é ser sombrio e contrastado, outra é ser um completo breu. O cineasta também abusa de movimentos de câmera repetitivos que saem do nada e chegam a lugar nenhum, em uma tentativa “artística” de gerar medo.

O roteiro também não traz nada de novo ao gênero, ou seja, quem já leu o livro ou viu as inúmeras adaptações cinematográficas de “Drácula” vai ficar entediado e até irritado por causa da edição modorrenta do filme. O personagem feminino principal não tem qualquer nuance ou arco. Ela já começa o filme totalmente histérica e não tem para onde ir, o que obriga a atriz Lily-Rose Depp a gritar, espumar e rolar pelo chão de forma cada vez mais ridícula e descontrolada, ao ponto de gerar risos na plateia. Perto dela, a menina de “O Exorcista” parece calma.

Nem mesmo o coitado do Willem Dafoe escapa da canastrice geral, fazendo o caçador de vampiros que deveria ser o Van Helsing do original, e também se perde numa atuação caricata na qual ainda tem que proferir ataques contra a ciência em favor de um misticismo tosco, algo muito inadequado para os dias de terraplanismo em que vivemos.

Mas a âncora que afunda de vez o filme é personagem título, em uma caracterização ridícula feita por Bill Skarsgard, com direito a bigodão estilo Leôncio do Pica-Pau, cujo sotaque extremamente carregado me fez lembrar do Drácula da animação “Hotel Transylvania”, do Adam Sandler. 

Para piorar, o diretor parece que ficou com vergonha do seu Nosferatu e o deixa escondido a maior parte do filme, chegando a desfocá-lo em primeiro plano, algo que consegue apenas gerar irritação pois dá a impressão que a projeção está fora de foco!

Nosferatu e Drácula do Adam Sandler: separrrrrrradossssss no nasssssscimentooooooo

A trilha musical de um tal de Robin Carolan é fraca e repleta de clichês do gênero terror. Basta comparar com a música sensacional composta por Wojciech Kilar para o “Drácula” de Francis Ford Coppola. Por sinal, é impossível não comparar “Nosferatu” com a exuberante obra de Coppola e o novo perde feio, mas muito feio, em todos os quesitos.

Enfim, uma grande perda de tempo que não merece os elogios que vem recebendo por aí. Novamente estão julgando um filme pelo que ele deveria ser e também pela pretensão de quem o dirigiu e não pela obra em si que, diga-se de passagem, é uma bela porcaria.

Cotação: *

“Solaris” é uma ficção científica que reflete sobre a natureza humana

Assim como reflete um dos personagens sobre o enigmático planeta, o filme apresenta apenas escolhas, cabendo ao espectador fazer a sua 

- por André Lux, crítico-spam 

 Há pelo menos uma cena antológica em "Solaris" de Steven Soderbergh: ao falar sobre a descoberta do estranho planeta que dá nome ao filme com seu amigo psiquiatra Chris Kelvin (George Clooney), o cientista Gibarian descreve: "Ao observarmos Solaris, ele reagia como se soubesse que estava sendo observado". Ao mesmo tempo em que essa fala é proferida, observamos a bela Rheya (Natascha McElhone) desfilando sedutoramente na tela, reagindo ao olhar penetrante de Kelvin. Essa cena primorosamente dirigida e editada é a chave para a compreensão do filme como um todo, especialmente a sua conclusão.

Baseado no livro do escritor polonês Stanislaw Lem, "Solaris" narra a história de um grupo de cientistas a bordo de uma estação espacial em órbita de um planeta que parece ter vida própria e estranhos poderes, capaz de materializar sonhos e desejos dos tripulantes levando todos à beira da loucura. Para tentar solucionar o enigma, é enviado ao local o psiquiatra Kelvin, que passa também a sofrer com as aparições de sua falecida esposa cuja morte o deixou traumatizado.

Essa trama já havia sido adaptada para os cinemas em 1972 pelo pretensioso cineasta russo Andrei Tarkovsky. Embora a nova versão também tenha um ritmo lento e bastante cerebral, as semelhanças entre as duas versões acabam aí. No primeiro filme predominava um clima árido desprovido de emoção e sobravam discussões filosóficas enigmáticas e enfadonhas, bem como intermináveis sequências que nada acrescentavam à trama (como um passeio de carro pelas ruas de Moscou que durava longos minutos!). Tudo isso prejudicava a narrativa e alienava o espectador, de tal forma que transforma a conclusão do filme em algo praticamente indecifrável.

Já Soderbergh, também autor do roteiro da nova versão, preferiu investir em um clima mais humano dando ênfase ao relacionamento do casal central, cujos encontros e desencontros são apresentados por meio de uma narrativa brilhante e convincente, na qual presente, passado e futuro se misturam e se fundem sem nunca perder o fio da meada. É louvável o grau de maturidade que o diretor tem ao analisar a relação do casal, fato que parece incomodar algumas pessoas (prova disso é a ridícula polêmica levantada em relação à nudez de Clooney em uma cena casual).

Ao contrário da verborrágica e indecifrável fita de Tarkovsky, as questões levantadas pelo autor do livro - muitas delas relativas à própria natureza do ser humano - ficam perfeitamente claras na nova versão e, portanto, relevantes tanto para a trama do filme quanto para o espectador mais atento. É nesses momentos que "Solaris" chega perto de tornar-se uma obra-prima da ficção científica.

Pena que o filme caia um pouco quando surgem em cena os atores coadjuvantes Jeremy Davies (como Snow) e Viola Davis (comandante Gordon), pois ambos são muito fracos e destoam do restante. O visual do planeta também deixa a desejar (ficou parecendo uma bexiga cor-de-rosa que brilha no escuro) e perde feio se comparado ao do filme de Tarkovsky, que era muito mais enigmático e perturbador. 

Muitos reclamam também da conclusão do novo filme, que realmente difere da do livro e da primeira versão, mas a verdade é que ela em nada afeta o resultado final. Apenas demonstra que Soderbergh não teve medo de apresentar sua própria versão do que o planeta buscava - fato deixado em aberto na obra original.

Quem procura algo mais no cinema do que simples diversão e entretenimento descerebrado deve assistir ''Solaris'', uma ficção científica que não procura dar respostas ou soluções fáceis e certamente vai exigir um maior grau de maturidade e atenção da plateia. Assim como reflete um dos personagens sobre a natureza do enigmático planeta, o filme apresenta apenas escolhas, cabendo ao espectador fazer a sua. 

Cotação: ****

“A Substância” falha ao não criticar o capitalismo

 

 Nada faz sentido neste filme grotesco que acaba sendo um desserviço à causa feminista que pretende defender

- por André Lux, crítico-spam

“A Substância” é mais um daqueles filmes ruins que por motivos misteriosos vira queridinho da crítica e ganha prêmios nos festivais da indústria cultural.

Sim, eu entendi a MENSAGEM do filme de criticar a ganância dos executivos dessa mesma indústria cultural, que desprezam as mulheres depois que chegam à maturidade em sua ânsia por lucrar em cima dos corpos perfeitos das jovenzinhas. Essa lógica é concentrada num personagem extremamente caricato vivido por Dennis Quaid.

Mas mensagens não garantem a qualidade de uma obra de arte, por mais bem intencionada que seja. E aqui essa pretensão de criticar a ditadura da beleza é rasa como uma poça de água já que, em momento algum, toca na real causa dela: o capitalismo.

Criticar essa realidade sem enfiar o dedo na ferida do modo de produção capitalista, que busca o lucro acima de tudo e de todos, não faz sentido. Por isso “A Substância” vira apenas uma colcha de retalhos de clichês de filmes de terror “gore”, apelando a todo momento para lente grande angular, efeitos especiais nojentos, sangue e vísceras, virando uma espécie de “A Mosca” encontra “O Enigma de Outro Mundo” – dois excelentes filmes do gênero.

Demi Moore virando A Coisa

Sobra para a coitada da Demi Moore ficar o tempo todo fazendo caras e bocas, enquanto tem seu corpo cada vez mais coberto com maquiagem grotesca ao ponto de virar um monstro no fim do filme. Por sinal, a conclusão é simplesmente ridícula, digna de risos, ainda mais porque é levada a sério. Faria sentido se, no fim, descobríssemos que tudo não passou de um pesadelo ou delírio da protagonista, mas como isso não acontece não dá pra acreditar que aquela figura monstruosa não provoque reações de nojo nas pessoas, que inclusive a aplaudem.

O roteiro é cheio de furos e não explica nem mesmo como funciona a tal substância, quem está por trás dela e sequer como é comprada. A atriz que faz a jovem Demi Moore é sofrível e aparece o tempo todo hiper-sexualizada para atrair atenção, fazendo justamente aquilo que o filme dizia criticar. E se ela era uma versão jovem da protagonista, como é que ninguém a reconhecia?

Enfim, nada faz sentido neste filme grotesco que no fim das contas acaba sendo um desserviço à causa feminista que pretende defender. O mais triste foi ver Demi Moore perdendo o Oscar justamente para uma atriz jovenzinha, confirmando aquilo que o filme critica, mas reforçando que essa lógica nunca vai mudar enquanto o capitalismo existir.

Cotação: *

segunda-feira, 3 de março de 2025

“Alien Romulus” é um Alien para a geração tik-tok

 

A pílula mais amarga do filme é a insistência do Ridley Scott em inserir na trama as besteiras que inventou para os ridículos “Prometheus” e “Alien Covenant”

- por André Lux,  crítico-spam temente ao Alien

Quem segue meu canal sabe que sou grande apreciador da franquia Alien, especialmente do primeiro que considero um dos mais aterrorizantes filmes de terror já feitos. Gosto até do polêmico “Alien 3” e dos crossovers entre Alien e Predador. Mas parei por aí.

A partir de “Alien: A Ressureição” a franquia oficial desandou e piorou muito quando o próprio Ridley Scott, cineasta que dirigiu o primeiro Alien, voltou a explorar este universo e nos brindou com “Prometheus” e “Alien Covenant”, de longe dois dos filmes mais ridículos já produzidos por um grande estúdio.

Surge então “Alien Romulus” que prometeu trazer a franquia de volta aos trilhos. Ledo engano. Embora tenha sido dirigido por um cineasta competente, Fed Alvarez, o roteiro é um verdadeiro queijo suíço, repleto de furos e besteiras que acabam comprometendo o esforço técnico investido no filme.

Já começa a história com a bendita companhia achando o Alien do primeiro filme encapsulado num casulo em meio aos destroços da Nostromo. Mas como isso é possível se a nave foi destruída por nada menos do que três explosões nucleares e o próprio monstro foi ejetado pela Ripley a milhares de quilômetros do local da explosão? E por que diabos iriam vasculhar o espaço atrás do Alien se já sabiam da transmissão que vinha do planeta onde existem centenas de ovos?

O mais triste é que, já que resolveram trazer a criatura original, podiam ter feito algo bem melhor e coerente mostrando o caos e a destruição causada por ela na estação espacial. Mas, não, ao invés disso inventam uma trama sem pé nem cabeça onde um bando de adolescentes idiotas resolve sair do planeta onde são obrigados a trabalhar praticamente como escravos e ir buscar suprimentos na tal estação espacial que tem o nome de Romulus/Remus.

A partir daí as perguntas começam a pipocar no cérebro de qualquer um que tenha mais do que dois neurônios funcionais: por que a companhia abandonaria a estação, na qual investiram milhões em busca de domar o “organismo perfeito”, na órbita do planeta onde ela operava? Por que jogaram no lixo um androide em perfeito estado que tem acesso às dependências da empresa? Como os jovens poderiam sair do planeta usando uma nave da própria companhia sem qualquer tipo de represália? E por aí vai...

Tudo isso seria desculpável se o filme ao menos seguisse a lógica criada pela própria franquia, todavia, como foi feito para tentar prender a atenção dos jovens espectadores acostumados a ver vídeos de 2 minutos no Tik Tok, apelam para uma edição frenética e desmiolada na qual o tempo de duração da impregnação de um personagem pelo facehugger até o surgimento do monstro em sua forma final é de 5 minutos.

Se não bastasse tudo isso, ainda trazem de volta um “irmão gêmeo” do androide Ash do primeiro filme num efeito de computação gráfica sofrível que desrespeita a memória do ator Ian Holm e ainda acaba com a lógica do original. Ora, naquele filme o sintético foi colocado em segredo na nave justamente para ajudar a trazer o Alien de volta à terra. Se existissem outras cópias daquele mesmo androide andando por aí nas naves da companhia, todo mundo saberia de cara que ele era um deles, não é mesmo?

Androide gêmeo de Ash destrói a lógica do primeiro filme
O gêmeo do Ash: destruindo a lógica do primeiro filme

Mas a pílula mais amarga que existe em “Alien Romulus” é a insistência do Ridley Scott, que é um dos produtores do filme, em inserir na trama as besteiras que inventou para os ridículos “Prometheus” e “Alien Covenant”, ou seja, aquela maldita gosma preta que cria Aliens do nada e os patéticos Engenheiros, que pareciam uns bebês mutantes bombados. Isso faz o filme desembocar em mais uma conclusão tosca, na qual a protagonista tem que lutar contra um híbrido entre Aliens, humanos e Engenheiros que consegue ser ainda pior que o Newborn de “Alien Ressureição”. 

Besta quadrada: é um alien? É um humano? É um engenheiro?

Ao que parece, Ridley Scott parece determinado a destruir o legado de todos os filmes bacanas que fez no passado, haja visto que também é responsável pelas bombas “Blade Runner 2049” e “Gladiador 2”. Alguém precisa parar esse homem!

Apesar de todos esses pontos negativos, “Alien Romulus” é perfeitamente passável, tem algumas sequências tensas e a parte técnica é primorosa, usando muitos efeitos práticos nas criaturas. Mas é pouco frente ao que poderia ter sido feito com o material.

Cotação: **

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025