Novo filme da série Mad Max parece uma colcha de retalhos da perseguição do segundo com o que existiu de pior no terceiro
- por André Lux, crítico-spam
Esse novo Mad Max é uma grande decepção. Confesso que não estava esperando muito depois de ver os trailers, que já deixavam claro que o excesso e a histeria iriam prevalecer. Mas mesmo assim aguardava algo um pouco melhor do que uma longa (e tediosa) sequência de perseguição que dura duas horas e, basicamente, sai do nada e chega a lugar nenhum.
O filme tem pouca relação com os anteriores, estrelados por Mel Gibson, cujo segundo capítulo é uma obra-prima do cinema, especialmente nos quesitos edição e fotografia. Apesar de ter sido concebido e dirigido pelo mesmo George Miller da trilogia original, "Mad Max: Estrada da Fúria" parece uma colcha de retalhos da antológica perseguição ao caminhão tanque do segundo filme com o que existiu de pior no terceiro capítulo ("Mad Max Além da Cúpula do Trovão"), que foi estragado justamente pelo excesso de figuras caricatas e uma narrativa flácida e praticamente isenta de suspense.
O novo filme já começa mal, com Max sendo preso facilmente e passando os próximos trinta minutos de projeção sendo arrastado de um lado para o outro por um bando de moleques chatos e histéricos, dando a impressão que é um sujeito incompetente e burro - o oposto do que deveria ser.
Mas o que mata mesmo o novo filme é a falta de qualquer elemento dramático que nos ligue aos personagens e nos faça sentir algo por eles. Embora algumas cenas de perseguição sejam bacanas e bem encenadas "ao vivo" e sem muitos efeitos digitais, é tudo tão primário, caricatural e excessivamente coreografado que a gente acaba não dando a mínima para o que acontece. Não há aqui nem sombra da tensão e suspense de "Mad Max 2", que ainda se dava ao luxo de ter um humor negro afiadíssimo, inexistente aqui.
O problema nem é tanto a premissa de fazer um filme que é, basicamente, uma única e longa cena de perseguição, mas sim a falta de sutileza como que tudo é mostrado e o grande número de clichês de filmes de ação que deveriam ter sido evitados. A primeira parte da caçada, que termina durante uma tempestade de areia imensa, não chega a incomodar. Mas, depois disso, o filme vai ficando cada vez mais absurdo, já que não tem como um caminhão daquele tamanho e peso continuar correndo mais que centenas de carros potentes e então ficam inventando desculpas sem nexo para atrasar os perseguidores.
A ação dos vilões, comandados por um sujeito deformado pela radiação, chamado de Immortan Joe (feito pelo mesmo ator que foi o Toecutter no primeiro "Mad Max"), também não faz muito sentido, pois se no começo da perseguição o objetivo deles é resgatar as fugitivas, depois esquecem isso e saem atirando para matar todo mundo. Não convence o fato de tentarem imputar uma liderança místico-religiosa ao vilão frente à sua gangue, especialmente os tais moleques pintados de branco, e isso só serve para aumentar o nível geral de histeria.
Também não foi uma boa ideia colocar no papel título Tom Hardy (que surgiu no cinema como o ridículo vilão Shinzon de "Star Trek: Nemesis"), pois continua sendo um ator neutro, que fala pra dentro, grunhe toda hora e não tem o menor carisma (algo que sobrava para Gibson).
Quem nasceu para Shinzon nunca será Mad Max... |
É triste também ver um diretor como Miller, que trabalhou com monstros da música cinematográfica como Jerry Goldsmith, John Williams, Maurice Jarre e Brian May, rendendo-se ao que há de pior no gênero hoje ao chamar para compor a trilha musical um tal de Tom Holkenborg, que se auto-intitula “Junkie XL” (um nome artístico que já diz tudo!). O sujeito é um DJ ou coisa parecida que andou participando de algumas trilhas do abominável Hans Zimmer, como “Homem de Aço”, e, claro, segue a cartilha zimerística de “como compor música ensurdecedora, opressiva, quase sempre em ré menor e repleta de ostinatos simplórios e repetitivos”. Haja saco para aguentar esse lixo que está agora em tudo quanto é filme e periga estourar nossos sensíveis tímpanos!
Para ser sincero, uma das únicas coisas positivas no filme é o tom feminista que guia às ações da personagem Furiosa (feita por uma apática Charlize Theron), embora seu plano de fuga seja completamente absurdo e forçado. O desenho de produção dos vilões e sua cidadela é realmente criativo, mas muito exagerado, caindo para o nível "desfile de escola de samba" que colabora para deixar tudo ainda mais caricatural.
Não ajuda nada o fato do exagero no número de carros perseguindo o caminhão tanque, ainda mais com gente tocando tambor e um sujeito fazendo solos de guitarra que espirra fogo, um contra-senso já que o filme se passa num mundo pós-apocalíptico onde tudo é racionado ao extremo, especialmente a água e o combustível.
A fotografia de John Seale é deslumbrante e recheada de cores vivas e quentes, porém depois de um tempo acaba cansando porque o filme todo se passa num deserto e nem mesmo chegamos a ver qualquer ruína da antiga civilização.
Estranhamente, esse novo Mad Max está sendo altamente elogiado pelos críticos mundo afora, mais uma prova do delírio coletivo que de vez em quando toma conta dos profissionais da opinião que, aparentemente, também são vítimas do “efeito manada”.
Mas, infelizmente, é muito barulho por nada pra variar e não cumpre nem o que promete.
Cotação: * *
Cotação: * *
Um comentário:
André,você já conheceu e/ou conversou com pessoas importantes(Pedro Bigardi não conta)?
E falando em Pedro Bigardi, como é que estão as coisas em Jundiaí?Ele tem popularidade alta e/ou chances de reeleição?
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