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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Filmes: "O Som ao Redor"

BISONHO

Como cineasta, Kleber Mendonça Filho é um ótimo crítico de cinema 

- por André Lux, crítico-spam

"O Som ao Redor" é um filme dirigido por Kleber Mendonça Filho, um sujeito que atua também como crítico de cinema e cujos textos eu acompanhei durante um certo tempo. 

Mas, como quase todos os que vivem de tecer opiniões sobre o trabalho alheio, ele não era muito chegado a ser contestado ou mesmo ter seus erros apontados pelos leitores. Por ter ousado cometer tais heresias, acabei sendo esculachado publicamente por ele em seu site, onde entre outras coisas, me rotulou de "crítico-spam", apelido que adotei carinhosamente e uso até hoje (clique aqui para saber mais detalhes dessa divertida história).

Quando soube que ele tinha dirigido um longa metragem (até então só tinha feito alguns curtas), fiquei bastante curioso para ver o resultado final, até porque a obra recebeu elogios entusiasmados e até foi indicada para a lista dos brasileiros que poderiam concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Chegaram a dizer que era melhor até que "Cidade de Deus"! Certamente ajudou essa boa vontade toda o fato de ter sido produzido de forma independente e fora do domínio mercadológico da Globo filmes, fato que gerou até uma divertida pendenga entre Kleber Mendonça e um dos arrogantes diretores da Vênus Platinada.

Sinceramente, eu devo ter visto o filme errado. Pois o que assisti foi um desfile canhestro de atores amadores incrivelmente mal dirigidos, os quais nem conseguiam pronunciar suas linhas direito ou então começavam a falar em cima do outro, deixando mais do que evidente que nem mesmo ensaiaram o suficiente (as atuações das crianças, então, são catastróficas). Alguns pareciam até estarem dopados, de tão catatônicos, especialmente o rapaz que faz o corretor de imóveis e sua namoradinha. As cenas de amor entre eles tem a mesma intensidade de uma corrida de lesmas! 

O roteiro, do próprio Kleber, não conta uma história propriamente dita, mas apenas mostra várias situações corriqueiras que envolvem moradores de um bairro de classe média de Recife que, eventualmente, se cruzam. Até aí não há nada que desabone a obra, pois vários outros filmes já tiveram esse mesmo tipo de narrativa, como "Short Cuts", de Robert Altman, com resultados excelentes. 

O problema é que aqui nada de interessante ou pertinente acontece e as conversas entre os personagens não apenas são vazias, mas forçadas e inconvincentes. O ponto alto do filme, para se ter uma ideia, é a cena em que uma dona de casa entediada se masturba em cima da máquina de lavar roupas, que vibra vigorosamente. A não ser, é claro, que você ache uma reunião de condomínio tal qual a mostrada no filme seja algo extremamente excitante. 

Se bem que a única piada do filme aconteça justamente nessa sequência, quando uma dondoca reclama do porteiro que entrega sua revista Veja fora do plástico, onde já se viu! Pena que a cena é tão mal marcada e filmada que a gozação com os leitores do pasquim nazi-fascista praticamente passa em brancas nuvens.


A única piada do filme vai te fazer rir, se ficar acordado até ela chegar...
Muitos enxergaram na obra comentários sociológicos fortes, mas aposto que foi porque leram antes o material de marketing ou então entrevistas do diretor. Porque, sinceramente, nada disso está no filme, exceto uma outra cena que pode até remeter ao eterno conflito de classes na forma das relações entre patrões e seus empregados domésticos, realidade bem característica da sociedade brasileira. 

Mas nem isso fica registrado, já que não existe maior relevância nas interações entre eles. O conflito mais marcante do filme se dá entre uma dona de casa e a empregada que queima o aparelho que emite um zumbido para espantar o cão do vizinho, daqueles que não param de latir. 

Vai ver que enxergaram esses conteúdos todos naquela cena enigmática em que três personagens estão se banhando em uma cachoeira e, de repente, começa a cair uma tinta vermelha em cima de um deles. Minha primeira reação foi achar que o rio tinha ficado menstruado. Passado o choque com o nível de amadorismo com que tal cena foi realizada e editada, tentei identificar o sentido daquilo, mas não consegui. Foi um um delírio do personagem? Um insight, talvez? Quem sabe uma premonição do futuro? Ou não? Certamente a genialidade do autor me escapou, tão acostumado que estou com filmes estadunidenses que explicam tudo à plateia...

Nem vou falar da "grande surpresa" que acontece no final e envolve o antigo "coronel" local porque é simplesmente absurda e fica ainda mais ridícula com os atores proclamando suas falas com a expressividade de uma estátua de pedra.


"Socorro! O rio ficou menstruado!"
O filme poderia ter sido salvo caso tivesse uma edição minimamente profissional. Todavia o que vemos em "O Som ao Redor" são sequências emendadas umas às outras sem qualquer ritmo ou fluidez, com várias cenas se alongando muito além da conta. Não causa estranheza saber que a edição foi feita pelo próprio Kleber, o que comprova que nunca é uma boa ideia deixar o cineasta cortar seu filme.

Os realizadores tentam dar sentido ao nome do filme enfiando um monte de barulhos do cotidiano de uma cidade grande em quase todas as cenas, porém eles não acrescentam quase nada e acabam apenas ajudando a atrapalhar ainda mais a compreensão das falas empoladas dos atores. Quem quiser ver esse recurso sendo usado com maestria e significado, recomendo algum filme do grande Jacques Tati, principalmente "Meu Tio".

No final da exibição desse tedioso e bisonho filme, confesso que fiquei até triste. Estava torcendo para que fosse realmente a obra prima que muitos profissionais da opinião estavam dizendo, afinal seria uma glória para mim ter meu apelido de "crítico-spam" associado a um cineasta de alto calibre. Mas, que nada! Nem isso consegui. 

No final das contas, como cineasta Kleber Mendonça Filho é um ótimo crítico de cinema. Pena que ele não vai poder detonar seu próprio filme, como faz com tanta veemência quando se trata da obra de outros realizadores. 

Mas certamente eu vou ganhar mais um merecido esculacho do crítico e dublê de cineasta por ousar não confessar que sua obra é genial por puro rancor. Afinal, como diz aquele velho ditado Klingon: "a vingança é um prato que se come frio"...

Cotação: *

7 comentários:

Anônimo disse...

Sobre o filme, utilizo-me das palavras de Fernando Alonso, piloto de F-1, profeta da era moderna: "This is ridiculous".

Lucas Rafael Chianello, Piracicaba/SP.

Jonathan disse...

Desse aí eu gostei bastante. O modo como lida com a nova realidade do bairro de Boa Viagem (que eu conheci numa viagem em dezembro de 2010), coma ascensão econômica do nordeste a partir do governo Lula, é original, bem amarrada e pertinente. A única coisa que eu concordo é que o personagem do corretor e a namorada são mesmo um pé no saco.

Jordan disse...

André, uma curiosidade sincera:

depois de quase uma década, como você se sente sabendo que:

1- o pablo villaça é um ótimo evangelizador de esquerda, escrevendo inclusive durante as eleições textos brilhantes, abertamente petistas, que orientaram milhares (talvez centenas de milhares) de jovens a votarem na nossa presidenta.

2- o kleber fez campanha tb, é petista aberto. e seu filme é considerado por mtos uma ótima peça de propaganda de um sentimento, de uma alma petista, que tb foi captado por mta gte.

ou seja, os dois são militantes abertos e apaixonados, e estão no mesmo barco que vc.

como vc se sente diante especificamente disso?

André Lux disse...

Ninguém é perfeito, não é mesmo? ;-)

Anônimo disse...

muito me diverte passear pelos blogs chapa branca e ver como, quando a chapa esquenta, eles fogem da pauta politica como diabo da cruz...e tome critica de cinema e divagações sobre qualquer besteira

André Lux disse...

Até onde eu saiba, a chapa esquentou para a direita e seus papagaios de pirata, que amargaram a quarta derrota consecutiva nas urnas... risos!

Diego disse...

pff. "muito me diverte passear pelos blogs chapa branca e ver como, quando a chapa esquenta, eles fogem da pauta politica como diabo da cruz".

Sinal que ele pouco passa por este blog. Postagens de filmes são bastante comuns por aqui. Além de que são assuntos variados do teu gosto, André.

Esses coxinhas são muito sem noção...