DECEPÇÃO
A tentativa de misturar ficção científica com crítica social
não funciona como em "Distrito 9"
- por André Lux, crítico-spam
O diretor Neill Blomkamp chamou a atenção do mundo
cinematográfico com o interessante "Distrito 9", um filme que misturava
ficção científica com crítica social e trazia uma forte mensagem contra o
racismo.
Com o sucesso do longa (que chegou a ser absurdamente
indicado ao Oscar de melhor filme) ele obviamente foi recrutado por Róliudi
para tentar repetir a façanha, agora com mais dinheiro. Só que dificilmente um
raio cai duas vezes no mesmo lugar e seu novo filme, "Elysium", é uma
decepção em todos os sentidos.
A tentativa de misturar ficção científica com crítica social
também se faz presente, mas não funciona como em "Distrito 9". A
causa principal disso é que o mundo do futuro apresentado pelo cineasta não faz
sentido e nunca ficamos sabendo como funcionam as engrenagens políticas dele.
A trama acontece em 2154 e mostra a Terra devastada por
poluição e superpopulação. Nessa época, os ricos se mudaram para uma estação
espacial chamada Elysium e vivem totalmente separados do resto do mundo. Um
rapaz pobre, feito por Matt Damon quando adulto, sonha em viajar até lá, mas
depois de uma vida de crimes, é obrigado a trabalhar em condições desumanas em
uma fábrica de policiais-robôs. Depois que um acidente de trabalho o condena à
morte, ele tenta desesperadamente chegar a Elysium, pois lá existe uma máquina
que cura milagrosamente todas as doenças.
A alegoria social aí é óbvia, porém é pouco desenvolvida e o
resto do filme não faz qualquer sentido. Para chegar à estação dos ricos, o
protagonista procura Spider, um gangster local que vive de tentar mandar os
pobres coitados para Elysium em troca de grana. Esse sujeito é feito pelo
brasileiro Wagner Moura (O capitão Nascimento de "Tropa de Elite"),
que se esforça em dar vida um personagem muito mal desenvolvido.
Suas ações
levantam todo tipo de questionamento: como ele consegue arrumar todas aquelas
naves para transportar o pessoal pelo espaço? Por que as autoridades não rastreiam
a trajetória delas e prendem os "bandidos"? Como é possível para ele implantar
tecnologia nas pessoas que é reconhecida pela máquina que cura doenças? Como
seus ajudantes são capazes de fazerem cirurgias complicadas como a que implanta
um exoesqueleto metálico no corpo do protagonista, inclusive em seu cérebro?
O filme tem ainda outros furos terríveis no roteiro que só
ajudam a diluir ainda mais o seu conteúdo. A estação Elysium parece não ter
qualquer tipo de defesa anti-aérea e para derrubar as naves que tentam
invadí-la, a chefe de segurança (feita de maneira péssima pela Jodie Foster)
tem que acionar um agente secreto (interpretado pelo mesmo ator de
"Distrito 9" que com sua cara de nerd não convence nem um minuto como
vilão malvado) que está na Terra para lançar foguetes nelas! Hein, como assim?
"Vai uma cirurgiazinha no cérebro aí, chefia?" |
Também não fica claro como funciona aquela sociedade.
Existem dois governos paralelos, um em Elysium e outro na Terra? Enfim, os
furos se amontoam e eu poderia gastar mais seis parágrafos aqui citando-os.
O maior problema, contudo, é o excesso de cenas de ação e
luta, todas elas esticadas e redundantes, no que parece ser uma tentativa de
nublar a consciência do espectador para que não perceba todos os furos do
roteiro. Mas não funciona, principalmente porque elas são mal encenadas e
feitas no irritante modo "câmara tremida" que deixa a gente com
vontade de vomitar. O final também beira o ridículo e é totalmente incoerente
com a proposta do filme.
Apesar de bem intencionado, "Elysium" naufraga em
suas pretensões basicamente porque não tem uma história lógica para contar e
precisa enfiar um monte de tiros, lutas e explosões para tentar disfarçar.
Todavia, o filme foi detonado por um colunista da revista Veja, que chamou-o de
"lixo
ideológico da esquerda caviar de Hollywood". Ou seja, conseguiu
irritar os porta-vozes da extrema direita tupiniquim, o que, convenhamos, é um
grande mérito.
Cotação: ** 1/2
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DECEPÇÃO
A tentativa de misturar ficção científica com crítica social não funciona como em "Distrito 9". Todavia, o filme foi detonado por um colunista da revista Veja, que chamou-o de "lixo ideológico da esquerda caviar de Hollywood". Ou seja, conseguiu irritar os porta-vozes da extrema direita tupiniquim, o que, convenhamos, é um grande mérito.
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