Trilogia serve para confirmar que um diretor sem controle e dominado pelo ego acaba tendo seu talento tolhido
- por André Lux, crítico-spam
O capitulo final da trilogia "O Hobbit" é a prova final de que foi um grande erro do diretor Peter Jackson esticar o pequeno livro de Tolkien em três filmes de quase três horas de duração cada.
Muita gente está dizendo que esse é o melhor deles, mas eu não achei. Pelo contrário. Os outros dois ao menos tentavam contar uma história, sem muito sucesso, é verdade. Já em "A Batalha dos Cinco Exércitos" temos apenas lutas e batalhas sem fim, durante praticamente toda a projeção.
O que mais choca é a total falta de foco narrativo na trilogia. Enquanto em "O Senhor dos Anéis" Jackson manteve tudo girando em torno do Um Anel e sua capacidade de corromper, em "O Hobbit" a gente nunca sabe em torno do que gira o roteiro. É do Bilbo? É do Gandalf? É do anão Thorin? Do dragão então? Impossível saber, pois o foco muda a cada sequência, deixando tudo desconjuntado e frio.
Pelo que eu me lembro do livro, o protagonista é mesmo Bilbo, cujo arco seria mais ou menos transformar-se de um hobbit preguiçoso e covarde em um aventureiro e cheio de coragem. Nos filmes, não vemos nada disso, nesse último, por sinal, ele quase não tem o que fazer.
E o dragão Smaug, então? Sua participação no terceiro filme é totalmente anti-climática, com ele sendo despachado com menos de 15 minutos de projeção! Já que Jackson ia deturpar tanto a obra original, poderia então mudar o destino do dragão, deixá-lo vivo por mais tempo, sei lá, qualquer coisa! Depois de ficar quase dois filmes inteiros nos provocando com pequenas aparições, a maneira como o diretor encerra a participação dele nos filme é lamentável.
A guerra entre os tais cinco exércitos, que no livro dura meia dúzia de páginas, no filme vira uma orgia de orcs, anões, elfos e humanos digitais se matando por mais de 45 minutos, com resultado emocional pífio! Confesso que não aguentava mais ver aqueles dois chefões orcs sendo golpeados, caindo e levantando para serem golpeados novamente pela enésima vez. Já estava esperando eles gritarem: "Ai amor, me joga na parede, me chama de lagartixa!".
A resolução da história de amor entre a elfa Tauriel (personagem inventado para o filme) e um dos anões é lamentável. Basicamente sai do nada e chega a lugar algum. Jackson, por sinal, parece perder o controle dos atores, principalmente do sujeito que faz o "aspone" do prefeito da Cidade do Lago, cuja atuação é pavorosa, e do rei dos Elfos Thranduil, feito por um Lee Pace que passa toda a trilogia com a mesma cara de empáfia, como se fosse uma drag queen cuja peruca foi roubada.
"Foi você que roubou a minha peruca favorita, não foi?" |
O coitado do Howard Shore, cuja música para "O Senhor dos Anéis" entrou para qualquer lista das melhores de todos os tempos, esforça-se em vão para criar alguma dramaticidade para os filmes, mas a ausência de um foco narrativo definido e de personagens fortes deixa sua partitura sonsa e repetitiva.
O fato de Jackson optar por enfiar música praticamente do começo ao fim dos filmes sem pausa, serve para limitar ainda mais a paleta musical do compositor, que é obrigado a esticar as notas para tentar cobrir tantas cenas sem graça e redundantes.
Contorci-me novamente na poltrona com a trama paralela que traz Sauron para o meio da narrativa, pois é completamente absurda, especialmente quando a Galadriel usa "a força" para expulsar o vilão. E como é que depois desse terrível encontro, o Gandalf está lá todo tranquilão no começo de "O Senhor dos Anéis"? Nesse ponto, Jackson dá uma de George Lucas e tenta estragar seus filmes originais com essas informações incoerentes.
No final das contas, a trilogia "O Hobbit" apenas serve para confirmar que um diretor sem controle e dominado pelo seu ego acaba tendo seu talento tolhido e sobra apenas o exagero e a grandiloquência, como se isso fosse sinônimo de grandeza. Só que não é. Uma pena.
Cotação: **
2 comentários:
Esse foi o único da trilogia que gostei. Talvez tenha sido justamente porque minha expectativa estava lá embaixo. Vários dos defeitos dos anteriores continuam: nenhuma música memorável do Howard Shore, Uso indiscriminado da câmera lenta nas batalhas só pra dar duração de 3 horas, etc. Mas pelo menos tiveram coragem de matar personagens importantes (nos outros dois não tinha sensação de perigo, a gente já partia do pressuposto que todo mundo ia escapar ileso) e algumas reviravoltas interessantes - a morte do dragão logo no começo foi uma.
Diferente do Jonathan, achei esse o pior da trilogia. Até os vermes de Duna apareceram, santo deus! Muita encheção de linguiça para um livro curto. O Hobbit é livro para um filme curto, e deu. A morte do dragão não é reviravolta (rindo litros com essa pérola), tá no livro, rsrs. No Brasil de analfabetos talvez isso cole como surpresa, mas no mundo civilizado é comum as pessoas terem lido os livros antes de verm os filmes.
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