MULHERES NO PODER
Apesar da motivação ser sempre o lucro, quem entende a luta das feministas não tem do que reclamar
- por André Lux, crítico-spam
A Disney está investindo agora em filmes que trazem mulheres em posição de destaque, mostrando força e independência, bem diferente dos contos de fadas do passado, onde ficavam sempre esperando passivamente o príncipe encantado para serem salvas.
Claro que isso só acontece porque fizeram intensas pesquisas de mercado e descobriram que as mulheres são as espectadoras mais fiéis desse gênero e, por isso, estão tentando lucrar nesse nicho.
Mas quem entende a luta das feministas não tem do que reclamar. Filmes como "Malévola", "Frozen" e "Valente" não deixam de ser bem vindos nessa sociedade basicamente machista e patriarcal em que vivemos, onde as mulheres tem sempre lugar secundário e são tratadas por muitos como seres inferiores. Não por acaso, esses filmes foram acusados pelos fundamentalistas de plantão de serem "obras demoníacas a serviço da conspiração comunista-gayzista-feminazi" ou coisa parecida. Só rindo mesmo.
Pena que essa releitura feminista do clássico "A Bela Adormecida" se perca num roteiro mal escrito e na necessidade de tentar enfiar monstros e lutas no estilo de "O Senhor dos Anéis" no meio do filme, fatores que apenas servem para deixá-lo confuso e sem foco.
Angelina Jolie se esforça em dar algum sentido à protagonista, vista aqui como uma fada que é traída pelo seu amor de infância, tem suas asas cortadas e então se deixa consumir pela sede de vingança. Jolie consegue convencer, mas faltam-lhe cenas que deixem seus conflitos internos mais evidentes.
Também nunca fica claro quais são as extensões de seus poderes. No final, ela consegue até conjurar um dragão, o que nos faz pensar: por que simplesmente não fez crescer novas asas em suas costas? E por que os humanos tinham tanto ódio das criaturas mágicas de Moors, sendo que, com exceção da Malévola e algumas árvores-soldados, tudo que víamos por lá eram uns bichinhos totalmente inofensivos e até bobos? Quanto mais fantasioso um filme é, mais preocupado em criar certas regras para "prender" seus personagens tem que ser, senão fica tudo sem lógica.
O ator que faz o rei, Sharlto Copler (de "Elysium"), e as três fadinhas que cuidam da jovem Aurora também são péssimos e ajudam a estragar o resultado final. O rapaz que pegaram para ser o príncipe Felipe é ridículo, mas aí parece que foi proposital, já que ele não tem qualquer importância na trama, pelo contrário, é até usado de forma irônica.
E a produção foi bastante complicada, a ponto dos executivos da Disney dispensarem o diretor no final e obrigarem a refilmagem de todo o prólogo, com outro cineasta e uma nova atriz como a Malévola jovem. Isso é sinal de que não estavam certos sobre os rumos que o filme deveria tomar e, como sempre, quanto mais mexem, pior fica o resultado final.
Ao seu favor, "Malévola" é lindamente filmado, graças ao diretor Robert Stromberg, que é também artista de efeitos visuais, e ao consagrado fotógrafo Dean Semler. A música de James Newton Howard é muito boa também, cheia de poder sinfônico, o que demonstra sensibilidade do cineasta por trás das câmeras, que é irmão do compositor de trilhas William Stromberg.
Dá para assistir e certamente vai agradar as mulheres, mas poderia ser bem melhor.
Cotação: * * 1/2
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