MACACO INTELIGENTE
De vez em quando o cinemão estadunidense lança, no meio da enxurrada de lixo, um filme decente
- por André Lux, crítico-spam
De vez em quando o cinemão comercial estadunidense dá sinais de vida inteligente e lança, no meio da enxurrada do lixo enlatado que despeja nos cinemas, um filme decente, bem dirigido, com roteiro coerente e humano e técnica exemplar usada a favor da história a ser contatada.
O mais irônico é que, na leva recente, os melhores exemplares acabaram sendo dois filmes que não tinham os humanos como protagonistas. O primeiro sendo o novo "Godzilla" e o outro é esse "Planeta dos Macacos: O Confronto".
É até difícil classificar o filme, já que ele é uma continuação de "Planeta dos Macacos: A Origem", que era um prólogo para o clássico de 1968, com Charleton Heston, mas ao mesmo tempo uma espécie de refilmagem de uma das continuações daquele filme, "A Conquista do Planeta dos Macacos". Enfim, é tanto prólogo, continuação e refilmagem atualmente em Róliúdi que é melhor nem tentar entender.
"Planeta dos Macacos: O Confronto" é muito superior ao outro filme de 2011, o qual nem precisa ser visto para que se possa seguir o novo. Basta saber que um vírus criado em laboratório, e que deu origem a macacos inteligentes, devasta a raça humana, acabando com a civilização e deixando poucos sobreviventes (isso é resumido logo no prólogo).
O filme é dirigido com muita segurança por Matt Reeves, que fez os ótimos "Cloverfield - Monstro" e "Deixe-me Entrar". Trata-se de um cineasta de verdade, que sabe enquadrar as cenas com carinho a fim de gerar um efeito dramático verdadeiro e evita com maestria aqueles exageros que emporcalham cada vez mais os filmes comerciais estadunidenses.
Nem mesmo as cenas de ação, tiros e lutas descambam para a histeria e são mantidas pelo diretor na medida certa, deixando tudo real e verossímil. Os efeitos visuais impressionam e os astros, lógico, acabam sendo os macacos feitos em computação gráfica, ricos em expressão e detalhes (o líder Cesar é feito pelo mesmo Andy Serkis que foi o Gollum em "O Senhor dos Anéis" e agora é chamado para tudo quanto é filme).
Vale destacar também a música composta por Michael Giacchino (dos novos "Star Trek"), que é hoje um dos poucos compositores atuando em Róliúdi que tem coragem de peitar o "estilo" simplório e bombástico inventado pelo abominável Hans Zimmer e que todo mundo é praticamente obrigado a copiar em todo e qualquer filme de ação ou ficção científica atual.
O maior ponto fraco do filme é justamente os personagens humanos, que acabam sendo pouco mais do que caricaturas, já que a maior parte do tempo de projeção é investido no aprofundamento dos sentimentos e relações entre os macacos. Não é algo que chegue a incomodar, mas também impede que a conclusão seja mais forte.
O mais importante, contudo, é a mensagem do novo "Planeta dos Macacos", que é muito bem conduzida até o desfecho e mostra que realmente nada de bom advém de sentimentos podres como o ódio, o racismo e a intolerância.
Chega a ser comovente a transformação que sofre o protagonista César, ao se deparar com traições dento de sua própria casa.
O fato de ainda serem necessários que filmes com mensagens desse tipo tenham que ser produzidos mostra bem o quanto a humanidade ainda está longe de chegar à um estado mais evoluído, tanto ético quanto moralmente.
Infelizmente, parece que vai ser mais fácil a gente se aniquilar em guerras e disputas mesquinhas do que atingir um patamar mais elevado. Quem viver, verá...
Cotação: * * * *
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