QUEIJO SUÍÇO
Se você conseguir desligar o cérebro e esquecer que existiram outros filmes dos X-Men, pode até ser que goste desse novo filme
- por André Lux, crítico-spam
Gostei muito do primeiro “X-Men”, que foi feito meio às pressas e com um
orçamento pequeno para o gênero, fatores que obrigaram o diretor Brian Singer
(do ótimo “Os Suspeitos”) a buscar saídas inteligentes para esconder a falta de
dinheiro e a focar no desenvolvimento dos personagens, algo raro nesse tipo de
produto.
O filme explorou também com maestria a praga do racismo e do preconceito
que infesta a raça humana, colocando os mutantes como alvo desse tipo de
sentimento, algo que só enriqueceu a trama.
Como fez sucesso, duas continuações e dois filmes solo com o Wolverine vieram e foram progressivamente piores. Como não sabiam mais o que fazer com os personagens originais, decidiram então gerar um daqueles infames prólogos, que mexem com eventos anteriores aos mostrados nos filmes que deram origem à série.
Como fez sucesso, duas continuações e dois filmes solo com o Wolverine vieram e foram progressivamente piores. Como não sabiam mais o que fazer com os personagens originais, decidiram então gerar um daqueles infames prólogos, que mexem com eventos anteriores aos mostrados nos filmes que deram origem à série.
Nasceu então “X-Men: Primeira Classe”, que embora não seja desastroso, não
chega aos pés do primeiro filme e ainda por cima bagunçava a mitologia
apresentada no início (como sempre fazem esses benditos “prequels”).
Chega agora “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido” que tenta ser uma
continuação de todos os filmes mostrados anteriormente, inclusive dos do
“Wolverine”, ao mesmo tempo que não deixa de ser também um prólogo de tudo que
já foi mostrado.
Entendeu? Nem eu.
Não preciso nem dizer que o filme faz pouco sentido e para tentar costurar
essa colcha de retalhos imensa apelam para o velho clichê de mandar um dos
personagens de volta no tempo, no caso o mesmo Wolverine de sempre que, apesar
de participar do filme todo, quase nada faz (e nem usar suas famosas garras
metálicas pode, pois volta para quando ainda não havia sido fundido com
adamantium).
O filme começa no futuro, quando os mutantes estão à beira da extinção
pelas mãos de indestrutíveis robôs criados por um cientista malvado (feito por
Peter Dinklage, o anão de “Games of Thrones”, que é desperdiçado num papel tolo)
a partir de DNA dos próprios X-Men. A solução inventada pelo Professor X
(Patrick Stewart) e Magneto (Ian McKellen) é então mandar alguém para uma época
que foi crucial para a produção desses “sentinelas”, no caso 1973.
E a pílula mais difícil de engolir é que a personagem mais importante acaba
sendo a Mística que virou meia-irmã do Professor X no “Primeira Classe” e é a
chave para os eventos catastróficos do futuro. Essa nova leitura da personagem é
bem ridícula, já que nos filmes originais ela não passava de uma capanga boazuda
do Magneto sem maior importância. Agora, do nada, vira a perseguida e amada por
todas.
O roteiro é também cheio de furos, o maior deles sendo que simplesmente não
existia tecnologia em 1973 para fazer aqueles robôs e, se levarmos em conta a
cronologia da saga X-Men, levou algo em torno de 50 anos para que as versões
finais dos “sentinelas” fossem finalmente colocadas em ação! E como é que o
Magneto fez para controlá-los no final? Tudo bem que ele enfiou metal dentro,
mas isso no máximo os tornaria marionetes dele, não?
E desde quando a Kitty Pryde consegue mandar “mentes de volta no tempo”? E
como é que a "ameaça" mutante só começa a se fazer presente no começo do
primeiro "X-Men" se lá em 1973 já estavam todos falando deles abertamente e até
foram capazes de prender o Magneto por suspeita de matar o JFK?
Assim como em “Primeira Classe”, a melhor coisa do filme acaba sendo a
dupla de atores que interpretam os jovens Professor X e Magneto, feitos por
James McAvoy e Michael Fassbender. Embora, verdade seja dita, a maneira como são
mostrados na época dos eventos é muito forçada, principalmente o Professor X,
que inclusive descobre a cura para a paralisia e depois a esquece.
Não dá pra deixar passar batido o fato de que ele havia sido literalmente
desintegrado no final do terceiro filme, mas volta milagrosamente à vida, com o
corpo original e tudo, sem que ninguém nem tente esclarecer como isso foi
possível (e, sim, eu vi a ceninha no final do “Confronto Final” que mostra ele
reencarnando na mente de uma mulher em coma. E daí?).
Tem muitos outros furos imensos na trama e contradições com tudo que foi
mostrado antes, então vou parar por aqui para não me estender.
Um ponto que sempre me incomodou na saga dos X-Men no cinema é que foram
incapazes de dar aos filmes uma identidade musical coerente através deles. Cada
um teve a música composta por diferentes compositores que ignoraram
completamente o trabalho de quem veio antes. As únicas exceções foram o 2 e esse
novo, ambos com música composta John Ottman (que também é o montador), o qual
reusa o tema principal do segundo filme, embora a trilha seja fraca, cheia de
cacoetes inventados pelo abominável Hans Zimmer, como a ridícula "Sirene do
Inferno" que inventou para "A Origem" e agora é usado em todo santo filme para
identificar perigo.
Certamente minha crítica da a impressão que o filme é intragável, mas até
que da pra assistir, não chega a ser um desastre também. Consegue até ser um
pouco melhor que o "Primeira Classe". Mas, confesso, não consegui deixar de lado
todas as incongruências e furos no roteiro e isso estragou completamente
qualquer possibilidade de maior engajamento.
A melhor cena acaba sendo quando assistimos a ação do jovem Quicksilver
pelo seu ponto de vista. O que levanta outra questão: por que diabos não o
levaram junto para o resto da missão? Certamente ele teria ajudado e
muito...
Ah, deixa prá lá! Quanto mais eu penso, pior fica. Se você conseguir desligar o cérebro e esquecer que
existiram outros filmes dos X-Men, pode até ser que goste desse verdadeiro
queijo suíço.
Cotação: * * 1/2
4 comentários:
O cara vai pro cinema se divertir ou ficar um bocado de perguntas chatas?
Enquanto Mística e Magneto são esquerdistas, os X-Men são liberais.
Na verdade, é o contrário. Mas vou parar por aqui pois sei que mais de três linhas fará seu cérebro de coxinha travar.
Na verdade, é o contrário. Mas vou parar por aqui pois sei que mais de três linhas fará seu cérebro de coxinha travar.
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