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Filme fracês mostra que a falta de capacidade de diálogo com os filhos não é "privilégio" apenas da direita!
- por André Lux, crítico-spam
É incrível a capacidade que os cineastas franceses tem de contar histórias humanas de forma sempre simples, porém tocante. É o caso desse “A Culpa é do Fidel!”, dirigido por Julie Gravas, filha do famoso Costa Gravas, cineasta de esquerda que realizou vários filmes políticos engajados em denunciar os males causados pela direita mundo afora.
E essa relação entre pai e filha torna o filme ainda mais interessante, pois, apesar de ser baseado numa obra da italiana Domitilla Cammile , o “A Culpa é do Fidel!” tem óbvias referências autobiográficas à vida da diretora. Afinal, trata-se da história de uma menina de nove anos que é criada por país esquerdistas que vivem engajados em causas em favor da democracia e da luta contra o fascismo, seja na Espanha de Franco ou no Chile (o filme começa em 1970 e termina na época do golpe militar contra Allende).
A história é sempre contada pelo ponto de vista da menina Anna (a ótima Nina Kervel-Bey), que não entende a luta dos pais e acaba se portando como uma verdadeira “fascistinha” (ou “múmia”, que é como os chilenos chamavam os reacionários em seu país). Esse é um dos aspectos mais interessantes do filme: a falta de diálogo entre país e filhos. O casal de esquerda, super engajado em causas humanitárias e democráticas, esquece de aplicar suas crenças dentro de casa e alienam a filha mais velha, que acaba sendo influenciada negativamente por uma empregada cubana que odeia Fidel Castro e todos os “barbudos vermelhos”, pelos avós ricos e reaças e pela educação rígida que recebe numa escola católica de freiras! Pior que eu mesmo já conheci pessoas assim: ultra-libertárias de esquerda na rua, mas que agem como verdadeiras tiranas dentro de casa. Ou seja: a falta de capacidade de diálogo com os filhos não é "privilégio" apenas da direita!
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Com o passar do tempo e do contato constante com os vários “barbudos” que vivem em sua casa e com suas babás (refugiadas ajudadas pelos pais), a pequena Anna vai aos poucos começando a questionar suas próprias crenças e certezas o que, obviamente, começa a fazê-la confrontar os reacionários que a influenciavam, principalmente as freiras católicas.
Tudo isso é tratado como bom humor, sem melodramas, mas com muita propriedade e delicadeza, até chegar ao final extremamente singelo e tocante. Não deixem de ver, principalmente se você também for de esquerda e estiver pensando em ter filhos...
Cotação: * * * *