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quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Filmes: “Batismo de Sangue”

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REGISTRO FRIO E BUROCRÁTICO

Roteiro e direção esquemáticos falham em passar emoções e profundidade, impedindo empatia com a causa dos personagens e banalizando cenas de tortura

- por André Lux, crítico-spam

É uma decepção esse filme baseado no livro homônimo escrito pelo Frei Betto, onde são abordados os horrores cometidos pela ditadura militar no Brasil pelo ponto de vista dos freis dominicanos que fizeram parte da rede de apoio à resistência armada ao regime, comandada pelo "terrorista" Carlos Marighella (reduzido aqui a uma mera caricatura sem qualquer humanidade).

O maior problema é o roteiro e a direção esquemáticos que não sabem definir se o foco narrativo fica em Frei Betto (Daniel de Oliveira, o “Cazuza”) ou no Frei Tito (um esforçado Caio Blat) e deixam o filme truncado, episódico e sem lógica. Assim, não fica clara a motivação dos dominicanos, pelo que eles lutam ou quem eles estão ajudando.

Colocar meia dúzia de frases feitas de “esquerda” na boca dos personagens e fotos do Che Guevara na parede de seus quartos não é suficiente para aprofundar as situações ou gerar empatia pela causa deles. Pelo contrário, fica tudo com aquele gosto de café requentado e pastel de vento que também enfraqueceram “Zuzu Angel”, outro filme que trata do mesmo tema.

Para piorar tudo, o diretor Helvécio Ratton optou por representar as cenas de tortura de forma literal e com riqueza de detalhes. O problema dessa abordagem, que de saída já vai fazer metade da platéia virar o rosto ou desligar o filme, não é tanto pela violência excessiva em si, mas sim pelo fato de que não houve tempo para nos identificarmos com os personagens. Às vezes não dá nem para conseguir diferenciar um do outro, já que os atores são todos parecidos e usam o mesmo tipo de roupas, penteados e óculos.

A caracterização do grotesco delegado-torturador Fleury foi muito criticada, mas a culpa nem é do ator Cássio Gabus Mendes, pois, assim como os outros, seu personagem não tem qualquer profundidade ou nuance. Por tudo isso, as seqüências de torturas acabam sendo banalizadas e causando muito mais repulsa e choque físico do que indignação - que seria o objetivo maior dos realizadores. Do jeito que está, ficou paracendo mais filme de terror, daqueles cheios de "gore" (nojeiras).

Tecnicamente “Batismo de Sangue” é eficiente, com destaque para a fotografia esmaecida e para a trilha musical discreta e adequada. Porém, o filme fica muito a dever e nem mesmo consegue passar qualquer emoção genuína, ficando restrito a um mero registro frio e burocrático de eventos históricos. O que, convenhamos, é muito pouco frente à importância e dramaticidade dos fatos abordados.

Cotação: * * 1/2
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DVD: "Saneamento Básico, O Filme"

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METRAGEM MUITO LONGA

Boa premissa é desperdiçada por roteiro sem rumo e narrativa arrastada, defeito idêntico encontrado nos outros filmes do diretor Jorge Furtado

- por André Lux, crítico-spam

O diretor Jorge Furtado ficou famoso fazendo curtas-metragens que traziam uma linguagem ágil e moderna ao formato. Infelizmente, esse talento para contar histórias rápidas parece que atua contra ele em seus longas. Tanto “O Homem que Copiava”, “Meu Tio Matou Um Cara”, quanto “Saneamento Básico” padecem do mesmo problema. Todos têm premissas interessantes que até funcionam bem no começo do filme, mas vão logo perdendo o fôlego à medida que a projeção avança.

“Saneamento Básico” mostra um grupo de cidadãos do interior gaúcho tentando convencer a prefeitura a construir uma fossa para acabar com o mau cheiro do riacho. Mas não há verba. Só que descobrem um dinheiro enviado pelo governo Federal para a realização de um curta-metragem que nunca foi utilizado. Eles têm então a idéia de pegar essa grana e usar na obra, enquanto fazem o filme de qualquer jeito.

A idéia é muito boa e funciona nos primeiros 20 minutos, com um bom número de cenas engraçadas e situações inusitadas que surgem com a incapacidade dos protagonistas de dominar a linguagem cinematográfica. Infelizmente, o roteiro não sabe que caminho tomar e logo a narrativa fica se arrastando, como que para preencher o tempo de projeção. Ou seja, Furtado acaba usando o mesmo recurso “picareta” que os próprios personagens do filme, que tentam a todo custo completar os 10 minutos de projeção necessários para que seu vídeo seja aprovado!

Personagens mal delineados que mudam de personalidade, sotaque e comportamento a cada cena e situações mal amarradas que nada acrescentam à narrativa ajudam a deixar o filme ainda mais chocho e sem graça. A suposta crítica social contida no projeto também se perde no meio de tanta enrolação.

O diretor nem mesmo consegue aproveitar todas as oportunidades cômicas geradas pela produção do filme-trash “O Monstro da Fossa”, caindo sempre para a caricatura e o exagero, o que é sempre um mau sinal em se tratando de comédias leves como essa.

Enfim, “Saneamento Básico” traz mais uma idéia que certamente daria um ótimo curta-metragem, mas que não foi suficientemente desenvolvida para agüentar a longa metragem imposta pelos realizadores. Uma pena.

Cotação: * *
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