TIRO PELA CULATRA
Mão pesada, roteiro ridículo e elenco desastroso transformam suposta sátira em propaganda do nazi-fascismo.
- por André Lux, jornalista e crítico-spam
O holandês Paul Verhoeven é um cineasta polêmico. Chamou a atenção do mundo realizando filmes de arte em sua terra natal e entrou em Hollywood pelas portas dos fundos, dirigindo "Conquista Sangrenta" (Flesh + Blood), um dos mais perturbadores e indigestos filmes passados na Idade Média.
Logo depois, emplacou um blockbuster chamado "Robocop", que teria sido apenas mais um banal filme de ficção se não fosse pelo alto grau de acidez imputado por Verhoeven à trama. Ao mesmo tempo que atingia o espectador ávido por perseguições, explosões e sangue (que jorra em abundância), "Robocop" também tinha algo mais a dizer, principalmente na crítica feroz ao consumismo desenfreado (até a polícia é privatizada nesse mundo neoliberal do futuro) e à industrialização da violência e do sexo na sociedade estadunidense.
Em "Tropas Estelares", baseado no livro de Robert A. Heinlein, Verhoeven tentou ser ainda mais satírico, traçando uma crítica mordaz entre a futura sociedade nazi-fascista do filme com a própria sociedade estadunidense e seu amor por armas de fogo e guerra - detalhe que, diga-se de passagem, passou totalmente despercebido nos EUA.
Entretanto, ao contrário de "Robocop", Verhoeven falhou feio dessa vez e o tiro saiu pela culatra. Dirigiu tudo com mão pesada, exagerou nos efeios especiais e na violência e deixou a impressão de justamente louvar o fascismo pregado pelos protagonistas. A culpa também é do elenco desastroso que leva a sério os personagens propositalmente caricatos e superficiais. São constrangedoras as atuações de Casper Van Dien (hoje astro de filmes policiais televisivos classe Z) e de Denise Richards que deixam o filme com um ar de "Barrados no Baile nas Estrelas". O diretor tentou se explicar dizendo que foi obrigado a contratar atores do segundo escalão devido à falta de dinheiro, que acabou sendo todo usado nos efeitos especiais...
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Mas "Tropas Estelares" tem ainda uma dos roteiros mais ridículos e absurdos já filmados, que não respeita qualquer lógica ou sanidade. Se não acredita, então veja: logo no início somos informados que a raça humana está em guerra com insetos alienígenas que habitam um planeta do outro lado da galáxia. Ninguém explica o porque da peleja, muito menos como diabos as duas raças cruzaram-se. Entretanto, os insetos raivosos jogam (?) um meteoro em direção ao nosso planeta que acaba caindo em Buenos Aires (com certeza o cara que vigiava o radar dormiu nessa hora).
O estado nazi-fascista que domina a Terra, no qual quem não faz parte do exército é considerado cidadão de segunda classe, declara guerra total aos insetos e manda os soldados para destruí-los no mano a mano, com direito inclusive a granadas atômicas, das quais eles se protegem depois de jogar nos monstros escondendo-se atrás de árvores e pedras (é sério, gente, não estou inventando!). Começa então uma interminável e enfadonha série de cenas de ação regadas a muita pirotecnia, efeitos especiais de última geração e corpos mutilados em detalhes grotescos.
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É claro que tudo isso deveria ser usado a favor da sátira, mas infelizmente não dá para rir da propaganda pró-fascista que "Tropas Estelares" acaba fazendo. Sabemos que a intenção de Verhoeven não era essa, mas quem assistiu ao filme no cinema vai lembrar de ouvir os urros de apoio da platéia toda vez que um personagem citava alguma filosofia nazista ou quando os corpos mutilados começaram a pipocar.
"Tropas Estelares" é um filme asqueroso em todos os sentidos. Prova que até a melhor das intenções pode gerar resultados completamente nocivos!
Cotação: *
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