segunda-feira, 4 de agosto de 2025

"Highlander: O Guerreiro Imortal" fracassou nos cinemas, mas virou cult



- por  André Lux, crítico-spam

Ninguém poderia prever que HIGHLANDER - O GUERREIRO IMORTAL tornaria-se um filme cultuado, gerando uma legião de apreciadores, três continuações (progressivamente piores) e uma série de TV.

A verdade é que se trata de uma produção europeia lançada discretamente nos cinemas que nunca teve a repercussão merecida na época, principalmente no mercado dos EUA (onde passou sempre em versão reduzida). Mas, devido à propaganda boca-a-boca, o filme foi logo ganhando status de cult, transformando-se em sucesso principalmente após seu lançamento em VHS.

Esse sucesso é justificado por vários motivos, entre eles o roteiro bem amarrado e original que centra a ação no personagem interpretado por Christopher Lambert (na época ainda com pretensões de ser ator sério), um sujeito estranho e solitário, que em plena Nova York do século 20 revela-se um imortal vivo há mais de 600 anos. Outros imortais começam a surgir na trama e, aos poucos e entre muitos flash-backs, ficamos sabendo que estão todos lutando entre sí para conquistar um prêmio desconhecido.

O grande mérito de HIGHLANDER, entretanto, está na direção brilhante e criativa de Russel Mulcahy (que nunca mais fez nada que prestasse, fazendo pensar que acertou aqui mais por acidente do que por competência), que transforma o filme em um espetáculo visual de primeira linha, mesmo sem contar com um grande orçamento.

HIGHLANDER tem ainda um dos vilões mais memoráveis do cinema: o cruel e sarcástico Kurgan, interpretado com impressionante vigor por Clancy Brown. De quebra ainda traz Sean Connery esbanjando carisma e vitalidade como Ramirez, um imortal "do bem", nessa que foi uma de suas primeiras participações especiais.

O filme é valorizado também pela trilha sonora de Michael Kamen (BRAZIL) e pelas canções do grupo Queen, num dos raros momentos em que a inclusão de música pop em filmes não atrapalha.

Vale a pena conhecer a versão integral do filme, que traz cerca de dez minutos de cenas adicionais, inclusive uma sequência situada na Segunda Guerra Mundial que explica a origem do slogan "It's a Kind of Magic" (é um tipo de mágica).

Cotação: ****

"Fantasmas de Marte" tem gosto de café requentado e decepciona



- por André Lux, crítico-spam

O diretor John Carpenter já foi um dos mais inventivos e inquetos cineastas de Hollywood, criando gemas como HALLOWEEN (um dos filmes independentes mais bem sucedidos da história) e o super imitado FUGA DE NOVA IORQUE, nos quais seu humor ácido e corrosivo bem como um toque sempre subversivo formavam um charme à parte.

Esses ingredientes certamente também estão presentes nesse FANTASMAS DE MARTE, mas aqui Carpenter já dá claros sinais de cansaço e falta de criatividade, justamente o esteio de sua obra. Não adianta criticar o filme por sua pobreza ou excesso de violência, já que toda a obra do diretor é permeada por produções feitas "nas coxas" com baixo orçamento, sempre flertando com o cinema B e o trash puro e simples (exceto THE THING e OS AVENTUREIROS DO BAIRRO PROIBIDO, ambos bancados por um grande estúdio mas que fracassaram nas bilheterias e impediram a carreira do diretor de deslanchar).

Mas Carpenter sempre driblou essas limitações com altas doses de exotismo e subversão dos gêneros - quem não se lembra do anti-herói ranheta Snake the FUGA DE NOVA IORQUE ou dos aliens de ELES VIVEM dominando a raça humana por meio de mensagens subliminares em cartazes e na TV? E essa veia distorcida também está presente em FANTASMAS DE MARTE, seja na sociedade matriarcal do futuro (onde homens não tem vez), seja na caracterização da heroína viciada em drogas e lésbica ou mesmo na motivação dos "vilões" que na verdade estão apenas reagindo a uma invasão de seus territórios.

O problema aqui é a total falta de criatividade do roteiro do próprio diretor, que se limita a refilmar um de seus primeiros longas, ASSALTO À 13º DP, que já não era nada mais do que uma releitura do western clássico RIO BRAVO, de Howard Howks, contando basicamente a mesma história: um grupo de policiais e civis é encurralado dentro de uma delegacia por uma gangue de bandidos que querem matá-los. A única diferença é que o filme passa-se em Marte e os vilões são humanos cujos corpos foram possuídos pelos antigos moradores do planeta.

Essa falta de novidade ou frescor deixa o filme com um gosto de café requentado, impedindo o espectador de envolver-se na trama ou interessar-se pela sorte dos heróis - mesmo porque fica claro desde o início que todos morrem, exceto a policial feita pela bela Natasha Henstridge que conta a história em flash-back. Outro erro foi a escolha do inexpressivo e obeso rapper Ice Cube para interpretar o marginal "Desolation" Williams, que acaba ajudando os heróis mesmo com relutância. Sua falta de carisma e impassividade prejudicam o desenrolar do roteiro, deixando tudo ainda mais frio e inócuo.

Os zumbis-marcianos também não convencem, limitando-se a grunhir e urrar sob efeitos de maquiagem que os deixam parecidos com um bando de metaleiros enlouquecidos - a figura central já é um sósia do grotesco Marilyn Manson. Mesmo a trilha sonora, do próprio Carpenter, é repleta de solos de grupos heavy-metal como Anthrax, Buckethead e Steve Vay, acentuando ainda mais o clima de total non-sense e loucura.

Obviamente não é o tipo de filme que deva ser levado a sério ou analisado profundamente, já que o próprio Carpenter parece ter orgulho de ter virado uma espécie de "Rei do Trash". Até ai tudo bem. Infelizmente em FANTASMAS DE MARTE nada funciona muito bem e o filme acaba sendo apenas uma aventura com toques de terror banal, sem grandes lances, sacadas ou reviravoltas que justifiquem sua produção. Uma verdadeira decepção.

Cotação: **