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Diretor pretensioso tenta disfarçar filminho de terror usando narrativa lenta, citações a filmes clássicos e papo-furado metafísico
- por André Lux, crítico-spam
Não existe nada mais irritante do que comprar gato por lebre. É o caso desse “Sunshine – Alerta Solar”, filme que se vende como uma ficção científica séria e profunda, mas não passa de um suspense banal repleto de furos e clichês.
E o diretor Danny Boyle (que a cada dia comprova que só acertou em seu primeiro filme “Cova Rasa”), como todo bom pretensioso, tenta enganar os incautos injetando várias citações a filmes clássicos como “2001 – Uma Odisséia no Espaço” e “Solaris”. Mas elas não têm nada a ver com a trama e só servem mesmo para iludir aquele pessoal que acha o máximo ficar identificando referências a outros filmes. Só isso mesmo para justificar as boas críticas que vem recebendo.
Mas não vi ninguém apontando para o mais óbvio: trata-se apenas de um “Armageddon” metido a besta. A história é basicamente a mesma – só que aqui traz um grupo de especialistas que precisa detonar uma bomba atômica gigantesca no Sol para tentar fazê-lo voltar a queimar com a mesma intensidade. E dá-lhe clichês do gênero: o comandante sorumbático, o físico nerd, o piloto nervosinho e machão, o psicólogo doidão, a botânica zen e assim por diante. E os atores que os interpretam são muito jovens e sem carisma. Será mesmo que a humanidade iria depositar suas últimas esperanças de sobrevivência num grupo formado, em sua maioria, por garotões que parecem ter acabado de sair da faculdade?
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E os personagens? Em cada situação ganham ou deixam de ter importância: numa hora o físico (feito pelo inexpressivo Cillian Murphy) é mandado para um trabalho quase suicida fora da nave, enquanto em outra tem que ser salvo ao custo da vida de todos os outros. Mas, infernal mesmo é o vilão do filme, que ficou perambulando nada menos do que sete anos na nave abandonada cheio de queimaduras e pingando sangue, provavelmente se alimentando de cenouras, só esperando a chance de pular para outra nave e sair matando de novo!
E o maior furo de todos, que ao que parece ninguém se deu conta, é o fato deles ficarem falando de como vão voltar para a Terra depois de lançar a bomba (tem até um jardim interno que supostamente deve servir para reciclar o ar para a jornada de volta), sendo que a única coisa que impede a nave de ser destruída na hora pelo raios solares é justamente o escudo de espelhos que envolve a bomba! Ou seja, assim que ela fosse lançada e se afastasse, bye-bye nave e todo o resto...
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É nesse último ato que toda pretensão de seriedade e verossimilhança é destruída em favor de sustos fáceis e cenas de ação tediosas, filmadas com lentes de distorção e editadas em ritmo de vídeo-clipe.
Aí, de “2001” e “Solaris”, as referências pulam para “O Enigma do Horizonte” e “Jason X” – o que não é nem de longe um elogio. Mas, justiça seja feita: esses dois últimos filmes ao menos assumiam de cara a condição de “terror no espaço” e não tentavam enganar o espectador fingindo ser o que não eram.
Cotação: * 1/2 (mais meia estrela porque hoje eu estou de bom humor)
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