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quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
Séries: THE BIG BANG THEORY
Se você é, como eu, um nerd assumido, não pode perder a série "The Big Bang Theory", que passa no canal da Warner e está atualmente na segunda temporada.
Fanáticos por "Star Trek", "Star Wars", "Planeta dos Macacos" e cinema em geral, quadrinhos, video-games, computadores, internet, física, química e tudo que diz respeito ao universo dos outrora conhecidos como CDFs vão encontrar muitos motivos para se divertirem com as confusões armadas pelos quatro amigos que têm em comum a paixão por tudo aquilo que as pessoas ditas "normais" abominam ou simplesmente ignoram (como o prazer de assistir à segunda temporada de "Batlestar Galactica" com comentários do diretor!).
Os astros da série são Sheldon Cooper e Leonard Hofstadter, dois Doutores em Física de vinte e poucos anos que dividem um apartamento e, segundo minha esposa, são meus alter-egos. Eles interagem com o engenheiro (mas não Doutor!) Howard Wolowitz, um nerd metido a conquistador, o indiano Rajesh Koothrappali, Ph.D. que só consegue falar com mulheres se estiver sob efeito do alcool, e Penny a vizinha gostosa pela qual Leonard é apaixonado e que não entende absolutamente nada da nerdisse implacável dos quatro amigos.
Alguns episódios trazem momentos antológicos, como todos vestidos a caráter para uma maratona dos seis filmes da série "Planeta dos Macacos", Sheldon virando Spock para aturar uma feira de antiguidades cheia de erros históricos ou quando respondem "William Shatner" para a pergunta "Qual é o homem mais sexy do mundo?".
O bacana é que o universo nerd é tratado com o devido respeito, mas sem esquecer de brincar com as esquizitices e manias dos protagonistas e, principalmente, a falta de habilidades para se relacionarem com as mulheres bonitas - maldição que aflige 9 entre 10 nerds (eu sou a excessão, é claro).
Enfim, se frases como "Ajoelhe-se perante Zod!" ou "Tire suas patas de mim, seu maldito macaco sujo!" fazem sentido para você, então "The Big Bang Theory" é a sua praia.
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Filmes: "Ensaio sobre a Cegueira"
OS CEGOS DE DOGVILLE
Segundo ato intragável e pretensioso estraga o filme ao tentar nos ensinar que a raça humana não presta e que qualquer pessoa pode se transformar no mais cruel dos assassinos.
- por André Lux, crítico-spam
Achei bem decepcionante essa adaptação do badalado livro de José Saramago, “Ensaio Sobre a Cegueira”. Não li a obra original e procurei não saber nada sobre o enredo, exceto o básico. Pode ser que o livro seja realmente uma obra-prima como muitos dizem, mas o filme fica muito aquém das expectativas.
O que mais me incomodou foi todo o segundo ato, que se passa dentro de uma espécie de “campo de concentração” onde os afetados pela misteriosa doença são confinados. Primeiro porque a forma como isso é mostrado é ridícula.
Nenhum governo democrático faria algo parecido, simplesmente jogando dezenas de pessoas das mais diferentes classes sociais e deixando-as à própria sorte no que se torna uma verdadeira pocilga. E, pior, colocando guardas armados com ordens para matar qualquer um que sair da fila!
Isso até faria sentido numa situação extrema, quando quase todos já estivessem infectados e o próprio governo ficasse à beira do colapso, deixando os guardas sem direção. O problema é que o roteiro é muito apressado e não dá chance para que a gente se envolva realmente com a situação, muito menos com as pessoas que lá estão confinadas.
Tudo fica ainda mais grotesco quando a turma da ala 3, liderada pelo mexicano Gael Garcia Bernal em um inconvincente papel de “baixinho invocado”, começa a chantagear os outros, obrigando-os a pagar pela comida – a princípio com jóias e outros bens e depois com sexo.
Tudo é encenado de forma caricata e superficial, transformando o filme em uma patética e irritante disputa entre os bonzinhos e os vilões malvados. Em alguns momentos mais escabrosos achei que todos os personagens iam virar zumbis devoradores de cérebros, transformando o filme em um “A Volta dos Mortos Vivos" metido a besta!
Assim, o segundo ato de “Ensaio Sobre a Cegueira” vira uma espécie de os cegos de "Dogville", outro filme intragável e pretensioso que tinha a missão de nos ensinar que a raça humana não presta e que qualquer pessoa, dentro de uma situação específica, pode se transformar no mais cruel dos assassinos. Por sinal, esse é um tema extremamente batido e óbvio, que remonta a “O Senhor das Moscas” e afins.
Quem leu o livro disse que é assim mesmo no original, porém demora muito mais tempo para chegar ao ponto da loucura total. Imagino que Saramago não tenha cometido esse erro gritante e certamente deve ter dedicado páginas e páginas para humanizar os personagens, o que seria essencial para o clímax tornar-se verossímil.
Outro ponto baixo do filme é a insistência dos realizadores em desfocar a imagem e jogar luzes brancas na tela, para tentar imitar a sensação de cegueira dos personagens. No começa é um recurso até interessante, porém depois da enésima vez que usam torna-se redundante e cansativo.
Além disso, o elenco não tem maiores chances de brilhar e o ator que faz o oftalmologista, Mark Rufallo, é muito fraco. Sobra para a coitada da Juliane Moore tentar carregar o filme nas costas, sem sucesso. A trilha musical de Marco Guimarães também é muito ruim, intrusiva e fora de tom.
Mas nem tudo são pedras. Felizmente, o terceiro ato (quase) redime o segundo, embora seja mais curto. O final tocante consegue provocar alguma emoção genuína mesmo sendo abrupto e insatisfatório. Parece que o diretor Fernando Meireles, de “Cidade de Deus”, ficou melindrado com as críticas negativas que recebeu em Cannes e resolveu mexer na montagem, encurtando a narração em “off” feita pelo personagem de Danny Glover.
Só comparando as duas versões para julgar qual é a melhor, mas fiquei com a nítida impressão de que algo se perdeu nesse processo. Talvez a humanidade e o aprofundamento que o resto do filme tanto precisava.
Cotação: * *
Segundo ato intragável e pretensioso estraga o filme ao tentar nos ensinar que a raça humana não presta e que qualquer pessoa pode se transformar no mais cruel dos assassinos.
- por André Lux, crítico-spam
Achei bem decepcionante essa adaptação do badalado livro de José Saramago, “Ensaio Sobre a Cegueira”. Não li a obra original e procurei não saber nada sobre o enredo, exceto o básico. Pode ser que o livro seja realmente uma obra-prima como muitos dizem, mas o filme fica muito aquém das expectativas.
O que mais me incomodou foi todo o segundo ato, que se passa dentro de uma espécie de “campo de concentração” onde os afetados pela misteriosa doença são confinados. Primeiro porque a forma como isso é mostrado é ridícula.
Nenhum governo democrático faria algo parecido, simplesmente jogando dezenas de pessoas das mais diferentes classes sociais e deixando-as à própria sorte no que se torna uma verdadeira pocilga. E, pior, colocando guardas armados com ordens para matar qualquer um que sair da fila!
Isso até faria sentido numa situação extrema, quando quase todos já estivessem infectados e o próprio governo ficasse à beira do colapso, deixando os guardas sem direção. O problema é que o roteiro é muito apressado e não dá chance para que a gente se envolva realmente com a situação, muito menos com as pessoas que lá estão confinadas.
Tudo fica ainda mais grotesco quando a turma da ala 3, liderada pelo mexicano Gael Garcia Bernal em um inconvincente papel de “baixinho invocado”, começa a chantagear os outros, obrigando-os a pagar pela comida – a princípio com jóias e outros bens e depois com sexo.
Tudo é encenado de forma caricata e superficial, transformando o filme em uma patética e irritante disputa entre os bonzinhos e os vilões malvados. Em alguns momentos mais escabrosos achei que todos os personagens iam virar zumbis devoradores de cérebros, transformando o filme em um “A Volta dos Mortos Vivos" metido a besta!
Assim, o segundo ato de “Ensaio Sobre a Cegueira” vira uma espécie de os cegos de "Dogville", outro filme intragável e pretensioso que tinha a missão de nos ensinar que a raça humana não presta e que qualquer pessoa, dentro de uma situação específica, pode se transformar no mais cruel dos assassinos. Por sinal, esse é um tema extremamente batido e óbvio, que remonta a “O Senhor das Moscas” e afins.
Quem leu o livro disse que é assim mesmo no original, porém demora muito mais tempo para chegar ao ponto da loucura total. Imagino que Saramago não tenha cometido esse erro gritante e certamente deve ter dedicado páginas e páginas para humanizar os personagens, o que seria essencial para o clímax tornar-se verossímil.
Outro ponto baixo do filme é a insistência dos realizadores em desfocar a imagem e jogar luzes brancas na tela, para tentar imitar a sensação de cegueira dos personagens. No começa é um recurso até interessante, porém depois da enésima vez que usam torna-se redundante e cansativo.
Além disso, o elenco não tem maiores chances de brilhar e o ator que faz o oftalmologista, Mark Rufallo, é muito fraco. Sobra para a coitada da Juliane Moore tentar carregar o filme nas costas, sem sucesso. A trilha musical de Marco Guimarães também é muito ruim, intrusiva e fora de tom.
Mas nem tudo são pedras. Felizmente, o terceiro ato (quase) redime o segundo, embora seja mais curto. O final tocante consegue provocar alguma emoção genuína mesmo sendo abrupto e insatisfatório. Parece que o diretor Fernando Meireles, de “Cidade de Deus”, ficou melindrado com as críticas negativas que recebeu em Cannes e resolveu mexer na montagem, encurtando a narração em “off” feita pelo personagem de Danny Glover.
Só comparando as duas versões para julgar qual é a melhor, mas fiquei com a nítida impressão de que algo se perdeu nesse processo. Talvez a humanidade e o aprofundamento que o resto do filme tanto precisava.
Cotação: * *
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
Filmes: "Eles Vivem", de John Carpenter
SERÃO OS NEOLIBERAIS ALIENS?
Vai agradar quem gosta de ficção científica e de filmes engajados politicamente.
- por André Lux, crítico-spam
"Eles Vivem" é um dos melhores filmes que o diretor John Carpenter produziu até hoje. O roteiro, escrito pelo próprio Carpenter (sob pseudônimo) baseado num conto de Ray Nelson, é bastante engenhoso e tira máximo proveito de todas as situações inusitadas providas pela trama sempre interessante e pertinente.
Operário desempregado (o lutador Roddy Piper, canastrão perfeito para o papel) descobre uma conspiração alienígena para dominar a mente de todos os humanos por meio de mensagens subliminares escondidas em sinais de TV.
Tudo para transformar a Terra num planeta quente e poluído, habitat perfeito para eles. E ainda contam com a ajuda de vários humanos, que trocam a sobrevivência da espécie por dinheiro...
O que torna o filme ainda mais saboroso é a maneira pela qual ele toma conhecimento desse terrível fato: óculos escuros que, ao serem usados, deixam tudo preto-e-branco e o fazem "ver" o que realmente está acontecendo no mundo. Suas primeiras surpresas vêm quando olha para os outdoors só para ver, ao invés dos anúncios normais, palavras como "consuma", "assista TV" "não pense" ou "obedeça". Em seguida olha para uma nota de um dólar a qual, vista pelos óculos, diz "esse é o seu deus".
E não é só isso: ao olhar para algumas pessoas enquanto está sob efeito dos óculos, o protagonista vê a verdadeira natureza dos alienígenas que se escondem sob uma fachada humana também graças ao mesmo sinal subliminar. Garanto que depois de ver "Eles Vivem", você nunca mais vai se achar louco ao perguntar se tipos como Donald Trump, Daniel Dantas, a dona da Daslu ou outra figura bisonha da nossa dita "elite" não seriam de outro planeta, tamanho o grau de insensibilidade e desumanização que demonstram...
Carpenter imprime à sua obra um alto teor de ironia e também uma crítica escancarada ao modelo neoliberal e à mídia que o sustenta que continua bastante atual e relevante - mesmo o filme sendo de 1988, época em que o "consenso de Washington" era enfiado goela abaixo dos governos do mundo inteiro e cujos resultados catastróficos já conhecemos bem.
Vai agradar quem gosta de ficção científica e de filmes engajados politicamente.
- por André Lux, crítico-spam
"Eles Vivem" é um dos melhores filmes que o diretor John Carpenter produziu até hoje. O roteiro, escrito pelo próprio Carpenter (sob pseudônimo) baseado num conto de Ray Nelson, é bastante engenhoso e tira máximo proveito de todas as situações inusitadas providas pela trama sempre interessante e pertinente.
Operário desempregado (o lutador Roddy Piper, canastrão perfeito para o papel) descobre uma conspiração alienígena para dominar a mente de todos os humanos por meio de mensagens subliminares escondidas em sinais de TV.
Tudo para transformar a Terra num planeta quente e poluído, habitat perfeito para eles. E ainda contam com a ajuda de vários humanos, que trocam a sobrevivência da espécie por dinheiro...
O que torna o filme ainda mais saboroso é a maneira pela qual ele toma conhecimento desse terrível fato: óculos escuros que, ao serem usados, deixam tudo preto-e-branco e o fazem "ver" o que realmente está acontecendo no mundo. Suas primeiras surpresas vêm quando olha para os outdoors só para ver, ao invés dos anúncios normais, palavras como "consuma", "assista TV" "não pense" ou "obedeça". Em seguida olha para uma nota de um dólar a qual, vista pelos óculos, diz "esse é o seu deus".
E não é só isso: ao olhar para algumas pessoas enquanto está sob efeito dos óculos, o protagonista vê a verdadeira natureza dos alienígenas que se escondem sob uma fachada humana também graças ao mesmo sinal subliminar. Garanto que depois de ver "Eles Vivem", você nunca mais vai se achar louco ao perguntar se tipos como Donald Trump, Daniel Dantas, a dona da Daslu ou outra figura bisonha da nossa dita "elite" não seriam de outro planeta, tamanho o grau de insensibilidade e desumanização que demonstram...
Será Roberto Justus um alien malvado também?
"Grana é seu deus". Parece título de editorial da Folha
Depois da Daslu, nada como comprar uns comes e bebes...
Carpenter imprime à sua obra um alto teor de ironia e também uma crítica escancarada ao modelo neoliberal e à mídia que o sustenta que continua bastante atual e relevante - mesmo o filme sendo de 1988, época em que o "consenso de Washington" era enfiado goela abaixo dos governos do mundo inteiro e cujos resultados catastróficos já conhecemos bem.
Brincando com o famoso livro "Eram os Deuses Astronautas?", o filme poderia muito bem se chamar "Serão os Neoliberais Aliens?". Essa abordagem político-social aproxima "Eles Vivem" de outra interessante obra de ficção científica que também deveria provocar o mesmo tipo de reflexão nas pessoas: "Matrix", dos irmãos Wachowsky.
A famosa criatividade do diretor atinge neste filme seu ponto máximo. Suas idéias para cortar os custos da produção são brilhantes e só atuam em favor da trama, sem nunca deixar o filme muito falso ou mesmo excessivamente tosco. O fato de as cenas com efeitos especiais serem filmadas em preto e branco, um evidente recurso para gerar economia, apenas aumenta a sensação de estranheza, garante boas risadas e também algum suspense, principalmente no segundo ato durante o qual o protagonista vai ter que tentar convencer outras pessoas sobre a "verdade" que os cerca.
Temos aí uma das mais divertidas e inacreditáveis cenas do filme, exatamente quando ele tenta fazer outro operário (o ótimo Keith David, que já havia trabalhado com Carpenter em "O Enigma de Outro Mundo") a usar seus óculos. Como ele recusa, só resta aos dois saírem na porrada em uma seqüência de troca de "gentilezas" que dura vários minutos e termina de forma extremamente cômica!
Dentro de sua carreira repleta de altos e baixos, "Eles Vivem" certamente figura entre os trabalhos mais inspirados do diretor John Carpenter, que sabe como poucos tirar proveito máximo do formato widescreen, e vai agradar qualquer um que goste de ficção científica e de filmes engajados politicamente. Veja, reflita e divirta-se!
Cotação: * * * *
A famosa criatividade do diretor atinge neste filme seu ponto máximo. Suas idéias para cortar os custos da produção são brilhantes e só atuam em favor da trama, sem nunca deixar o filme muito falso ou mesmo excessivamente tosco. O fato de as cenas com efeitos especiais serem filmadas em preto e branco, um evidente recurso para gerar economia, apenas aumenta a sensação de estranheza, garante boas risadas e também algum suspense, principalmente no segundo ato durante o qual o protagonista vai ter que tentar convencer outras pessoas sobre a "verdade" que os cerca.
Temos aí uma das mais divertidas e inacreditáveis cenas do filme, exatamente quando ele tenta fazer outro operário (o ótimo Keith David, que já havia trabalhado com Carpenter em "O Enigma de Outro Mundo") a usar seus óculos. Como ele recusa, só resta aos dois saírem na porrada em uma seqüência de troca de "gentilezas" que dura vários minutos e termina de forma extremamente cômica!
Dentro de sua carreira repleta de altos e baixos, "Eles Vivem" certamente figura entre os trabalhos mais inspirados do diretor John Carpenter, que sabe como poucos tirar proveito máximo do formato widescreen, e vai agradar qualquer um que goste de ficção científica e de filmes engajados politicamente. Veja, reflita e divirta-se!
Cotação: * * * *
terça-feira, 12 de agosto de 2008
Filmes: Batman Begins versus O Cavaleiro das Trevas
Ontem eu revi o "Batman Begins" e achei melhor do que quando vi no cinema. Acho que, podendo controlar o volume do som (que em algumas cenas é ensurdecedor) e da música (idem) a experiência ficou mais agradável.
Notei três coisas:
1) O primeiro filme acaba sendo mesmo melhor que o segundo. Tem mais história, mais profundidade, drama humano e humor. É espantoso como o excesso de barulho nos cinemas me deixou atordoado ao ponto de impossibilitar que eu entrasse no clima do filme. O segundo, embora solucione alguns problemas do primeiro, fica muito centrado na figura do Coringa que, mesmo sendo perturbadora, é unidimensional e raso - é apenas um vilão que quer fazer maldades.
2) A voz fodona do Batman é totalmente feita eletronicamente, a partir da fala original do Christian Bale. O que deixa tudo ainda mais ridículo, já que não é mesmo possível alguém falar naquela tom de voz gutural, porém alto e forte. Não seria mais lógico mostrar então o Bruce Wayne usando um tipo de aparelho que distorce sua voz no uniforme para não ser reconhecido? E no primeiro filme esse recurso não chega a incomodar, pois é usado mais contidamente, ao contrário do segundo, onde exageram ao ponto do grotesco.
3) Existem dois tipos de música no filme. Uma, óbvia, monocórdica e barulhenta composta pelo abominável Hans Zimmer para as cenas de ação e suspense que é puro delírio de testosterona, barulho mesmo. Até funciona junto com as imagens, porém é quase insuportável fora do filme (como 99% do que mr. Zimmer compõe, por sinal). Outra, mais contida e melódica, composta pelo James Newton Howard para as cenas mais intimistas ou dramáticas. Os dois estilos de composição são gritantemente opostos e não combinam. Uma salada de péssimo gosto. Imaginem só que o um bom compositor faria para esses filmes? Bola fora do diretor...
Notei três coisas:
1) O primeiro filme acaba sendo mesmo melhor que o segundo. Tem mais história, mais profundidade, drama humano e humor. É espantoso como o excesso de barulho nos cinemas me deixou atordoado ao ponto de impossibilitar que eu entrasse no clima do filme. O segundo, embora solucione alguns problemas do primeiro, fica muito centrado na figura do Coringa que, mesmo sendo perturbadora, é unidimensional e raso - é apenas um vilão que quer fazer maldades.
2) A voz fodona do Batman é totalmente feita eletronicamente, a partir da fala original do Christian Bale. O que deixa tudo ainda mais ridículo, já que não é mesmo possível alguém falar naquela tom de voz gutural, porém alto e forte. Não seria mais lógico mostrar então o Bruce Wayne usando um tipo de aparelho que distorce sua voz no uniforme para não ser reconhecido? E no primeiro filme esse recurso não chega a incomodar, pois é usado mais contidamente, ao contrário do segundo, onde exageram ao ponto do grotesco.
3) Existem dois tipos de música no filme. Uma, óbvia, monocórdica e barulhenta composta pelo abominável Hans Zimmer para as cenas de ação e suspense que é puro delírio de testosterona, barulho mesmo. Até funciona junto com as imagens, porém é quase insuportável fora do filme (como 99% do que mr. Zimmer compõe, por sinal). Outra, mais contida e melódica, composta pelo James Newton Howard para as cenas mais intimistas ou dramáticas. Os dois estilos de composição são gritantemente opostos e não combinam. Uma salada de péssimo gosto. Imaginem só que o um bom compositor faria para esses filmes? Bola fora do diretor...
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Filme: "Batman - O Cavaleiro das Trevas"
MELHOR, MAS NEM TANTO
Filme não chega a ser essa obra-prima toda que estão dizendo. Não que seja ruim. Mas está distante do quadrinho de Frank Miller, no qual é supostamente inspirado.
- por André Lux, crítico-spam
Eu fui um dos que não ficaram muito entusiasmados com a nova leitura do personagem proposta pelo diretor Christopher Nolan em “Batman Begins” (leia aqui minha análise). Ok, o filme tinha muitas qualidades e era realmente superior aos de Tim Burton e Joel Schumacher (que variavam do medíocre ao puramente grotesco). Só que esbarrei também em vários problemas que depunham contra ele.
Parte desses defeitos foi solucionada em “O Cavaleiro das Trevas”, o que torna a continuação bem mais satisfatória. Assim, diferente do primeiro filme, o desenho de produção hiper-realista mantém-se coerente durante toda a projeção e as perseguições e lutas exageradas dão lugar a seqüências menos mirabolantes e bem mais verossímeis.
Ajuda muito também a caracterização perfeita do diabólico Coringa, que é literalmente encarnado por Heath Ledger, um ator que até então nunca convenceu. Coitado, foi morrer logo quando finalmente demonstrou talento! O tênue limite entre a loucura e a obsessão sugerido no relacionamento entre ele e o Batman é bem orquestrado e chega a perturbar. Assim como a ascensão e queda do promotor Harvey Dent (o carismático Aaron Eckhart), embora sua caracterização como o “Duas Caras” tenha ficado um pouco exagerada e sua mudança de comportamento não seja plenamente justificada no roteiro.
Mas, infelizmente, nem tudo são flores. Vários dos problemas do filme original não foram solucionados e outros foram adicionados. Chrstian Bale continua neutro como Bruce Wayne e, ao vestir a fantasia do homem-morcego, insiste em usar aquela voz de “machão nervoso sussurante” totalmente inconvincente e por vezes ridícula - principalmente quando ele está conversando com alguém que já conhece a sua identidade secreta! E, ainda que tenham tentado criar uma roupa mais leve e flexível, o Batman continua duro e pesado, forçando suas cenas de luta a serem truncadas na edição para esconder esse fato.
A trilha musical de Hans Zimmer e James Newton Howard (cujos "estilos" de composição não casam) até funciona com as imagens, mas é óbvia, pesada demais, sem nuances e não acrescenta nada ao drama dos personagens. Pelo contrário.
Não entendi também porque trocaram a sem graça Katie Holmes do original pela esquisita e igualmente sem graça Maggie Gillenhall. Isso é uma burrice que nunca funcionou em qualquer outro filme. Deveriam ter mantido a mesma atriz, inventado outra personagem para servir de interesse romântico ou, já que iam trocar mesmo, escolher uma atriz mais bonita e carismática para compensar. Do jeito que ficou não faz sentido e ainda atrapalha o resultado final.
Também não gostei nem um pouco da bat-moto, que em várias cenas balança perigosamente e parecia ser bem lenta e difícil de manobrar (o que não conseguem esconder nem apelando para uma montagem rápida das tomadas!). Até ele usá-la em uma emergência, vá lá. Mas depois, quando tem que correr contra o relógio de um lado para o outro para salvar vidas, não cola.
Sei que vão me chamar de mal-humorado, mas tudo bem. Não tenho como mudar minha opinião sobre o filme por causa do que outros pensam dela. Eu queria muito gostar de “O Cavaleiro das Trevas”, mas no final das contas, o filme não chega a ser essa obra-prima toda que os profissionais da opinião estão dizendo. Não que seja ruim, longe disso. Mas ainda está distante do quadrinho de Frank Miller, no qual é supostamente inspirado.
Cotação: * * * 1/2
Filme não chega a ser essa obra-prima toda que estão dizendo. Não que seja ruim. Mas está distante do quadrinho de Frank Miller, no qual é supostamente inspirado.
- por André Lux, crítico-spam
Eu fui um dos que não ficaram muito entusiasmados com a nova leitura do personagem proposta pelo diretor Christopher Nolan em “Batman Begins” (leia aqui minha análise). Ok, o filme tinha muitas qualidades e era realmente superior aos de Tim Burton e Joel Schumacher (que variavam do medíocre ao puramente grotesco). Só que esbarrei também em vários problemas que depunham contra ele.
Parte desses defeitos foi solucionada em “O Cavaleiro das Trevas”, o que torna a continuação bem mais satisfatória. Assim, diferente do primeiro filme, o desenho de produção hiper-realista mantém-se coerente durante toda a projeção e as perseguições e lutas exageradas dão lugar a seqüências menos mirabolantes e bem mais verossímeis.
Ajuda muito também a caracterização perfeita do diabólico Coringa, que é literalmente encarnado por Heath Ledger, um ator que até então nunca convenceu. Coitado, foi morrer logo quando finalmente demonstrou talento! O tênue limite entre a loucura e a obsessão sugerido no relacionamento entre ele e o Batman é bem orquestrado e chega a perturbar. Assim como a ascensão e queda do promotor Harvey Dent (o carismático Aaron Eckhart), embora sua caracterização como o “Duas Caras” tenha ficado um pouco exagerada e sua mudança de comportamento não seja plenamente justificada no roteiro.
Mas, infelizmente, nem tudo são flores. Vários dos problemas do filme original não foram solucionados e outros foram adicionados. Chrstian Bale continua neutro como Bruce Wayne e, ao vestir a fantasia do homem-morcego, insiste em usar aquela voz de “machão nervoso sussurante” totalmente inconvincente e por vezes ridícula - principalmente quando ele está conversando com alguém que já conhece a sua identidade secreta! E, ainda que tenham tentado criar uma roupa mais leve e flexível, o Batman continua duro e pesado, forçando suas cenas de luta a serem truncadas na edição para esconder esse fato.
A trilha musical de Hans Zimmer e James Newton Howard (cujos "estilos" de composição não casam) até funciona com as imagens, mas é óbvia, pesada demais, sem nuances e não acrescenta nada ao drama dos personagens. Pelo contrário.
Não entendi também porque trocaram a sem graça Katie Holmes do original pela esquisita e igualmente sem graça Maggie Gillenhall. Isso é uma burrice que nunca funcionou em qualquer outro filme. Deveriam ter mantido a mesma atriz, inventado outra personagem para servir de interesse romântico ou, já que iam trocar mesmo, escolher uma atriz mais bonita e carismática para compensar. Do jeito que ficou não faz sentido e ainda atrapalha o resultado final.
Também não gostei nem um pouco da bat-moto, que em várias cenas balança perigosamente e parecia ser bem lenta e difícil de manobrar (o que não conseguem esconder nem apelando para uma montagem rápida das tomadas!). Até ele usá-la em uma emergência, vá lá. Mas depois, quando tem que correr contra o relógio de um lado para o outro para salvar vidas, não cola.
Sei que vão me chamar de mal-humorado, mas tudo bem. Não tenho como mudar minha opinião sobre o filme por causa do que outros pensam dela. Eu queria muito gostar de “O Cavaleiro das Trevas”, mas no final das contas, o filme não chega a ser essa obra-prima toda que os profissionais da opinião estão dizendo. Não que seja ruim, longe disso. Mas ainda está distante do quadrinho de Frank Miller, no qual é supostamente inspirado.
Cotação: * * * 1/2
segunda-feira, 30 de junho de 2008
Filme: "WALL-E"
INGENUIDADE E HIPOCRISIA
Disney e Pixar transformam a luta pelo meio-ambiente em mais um produto que gere lucro aos seus acionistas e investidores
- por André Lux, crítico-spam
“Wall-E” é um filme-mensagem, daqueles em o que deve prevalecer na cabeça do espectador é o conteúdo que os realizadores acreditam ser importante para conscientizá-lo.
Raros são os filmes desse tipo que têm sucesso com intenções tão pretensiosas. “Wall-E”, infelizmente, não é um deles.
Navegando na atual onda politicamente correta de “salvem o meio-ambiente”, a nova animação digital da Pixar começa de forma exemplar. Mostra a Terra já arrasada pela poluição e pelo lixo, onde os únicos habitantes são um robô de reciclagem e uma barata.
Depois de mais de 700 anos trabalhando, o robô já produziu pilhas de material reciclado da altura de prédios. O visual hiper-realista dessas seqüências é realmente impressionante e estarrecedor.
E, como acontece com todas as máquinas em filmes de ficção científica, Wall-E começa a desenvolver emoções humanas vendo filmes antigos e coletando tranqueiras. Ao ponto dele querer “namorar” uma robô-fêmea que aterrissa no planeta em missão secreta. Quando ela volta para o espaço, Wall-E consegue segui-la agarrando-se à nave e viaja pela imensidão do cosmos em seqüências cuja beleza é de levar lágrimas aos olhos.
Se terminasse por aí, a animação seria memorável pela coragem e competência dos realizadores em mostrar um futuro terrível (e plausível) para a Terra num filme infantil e por conseguirem manter o interesse e o ritmo sem qualquer diálogo. Pena que o filme tem que prosseguir e, a partir daí, exponha um roteiro sem saída e as intragáveis lições de moral made in róliudi, que balançam entre o ingênuo e o simplesmente hipócrita.
Tudo descamba quando os robôs chegam ao destino, que nada mais é do que a gigantesca nave em que se refugiou a população da Terra (leia-se: os estadunidenses), reduzida agora a milhares de pessoas obesas e idiotizadas que passam o dia deslizando em cadeiras flutuantes enquanto assistem anúncios em uma TV virtual que fica grudada em suas caras, sem ter qualquer contato humano (o que faz a gente se perguntar de onde vêem os bebês que aparecem no filme). Além de ser ofensiva aos mais gordinhos, a “lição” contida no filme também expõe a esquizofrenia desses produtos típicos do sistema da indústria cultural estadunidense.
Ao mesmo tempo em que deixa claro que a Terra foi destruída pela ganância sem freios do sistema capitalista e mostra o quanto é horrível a situação na qual se encontra a população da Terra (que nada mais é do que o sonho neoliberal da sociedade dos “idiotas consumidores” elevado à décima potência), “Wall-E” não passa de um produto destinado a gerar imenso lucro com a venda infinita de camisetas, copos, joguinhos e sabe-se quantas outras tranqueiras que, usando a mesma lógica do filme, só vão ajudar a deixar o planeta ainda mais poluído e as pessoas mais imbecilizadas.
Lembre-se que “Wall-E” é um produto da Disney, mega-corporação que construiu seu patrimônio fabricando e vendendo ilusões aos jovens. E o que é a nave dos gordinhos senão uma Disneylândia levada aos extremos?
Essa esquizofrenia conceitual simplesmente implode “Wall-E”. E mostra de maneira clara o quanto a indústria cultural dos EUA é mestre em utilizar a velha máxima do “se não pode com ele, junte-se a ele”, por meio da qual conseguem até vender biquínis de grife estampados com a foto do Che Guevara.
No caso do filme em questão, simplesmente pegaram a luta justa e necessária em favor da salvação do meio-ambiente e a transformaram em mais um produto que gere lucro aos seus acionistas e investidores, sempre ávidos para ampliar suas já bilionárias contas bancárias.
Mas não sejamos injustos. Temos que entender o motivo de precisarem acumular tanta riqueza: eles precisam garantir desde já seus lugares na nave que vai fugir da Terra quando o planeta estiver à beira da destruição. Azar de quem ficar para trás...
Cotação: * *
Disney e Pixar transformam a luta pelo meio-ambiente em mais um produto que gere lucro aos seus acionistas e investidores
- por André Lux, crítico-spam
“Wall-E” é um filme-mensagem, daqueles em o que deve prevalecer na cabeça do espectador é o conteúdo que os realizadores acreditam ser importante para conscientizá-lo.
Raros são os filmes desse tipo que têm sucesso com intenções tão pretensiosas. “Wall-E”, infelizmente, não é um deles.
Navegando na atual onda politicamente correta de “salvem o meio-ambiente”, a nova animação digital da Pixar começa de forma exemplar. Mostra a Terra já arrasada pela poluição e pelo lixo, onde os únicos habitantes são um robô de reciclagem e uma barata.
Depois de mais de 700 anos trabalhando, o robô já produziu pilhas de material reciclado da altura de prédios. O visual hiper-realista dessas seqüências é realmente impressionante e estarrecedor.
E, como acontece com todas as máquinas em filmes de ficção científica, Wall-E começa a desenvolver emoções humanas vendo filmes antigos e coletando tranqueiras. Ao ponto dele querer “namorar” uma robô-fêmea que aterrissa no planeta em missão secreta. Quando ela volta para o espaço, Wall-E consegue segui-la agarrando-se à nave e viaja pela imensidão do cosmos em seqüências cuja beleza é de levar lágrimas aos olhos.
Se terminasse por aí, a animação seria memorável pela coragem e competência dos realizadores em mostrar um futuro terrível (e plausível) para a Terra num filme infantil e por conseguirem manter o interesse e o ritmo sem qualquer diálogo. Pena que o filme tem que prosseguir e, a partir daí, exponha um roteiro sem saída e as intragáveis lições de moral made in róliudi, que balançam entre o ingênuo e o simplesmente hipócrita.
Tudo descamba quando os robôs chegam ao destino, que nada mais é do que a gigantesca nave em que se refugiou a população da Terra (leia-se: os estadunidenses), reduzida agora a milhares de pessoas obesas e idiotizadas que passam o dia deslizando em cadeiras flutuantes enquanto assistem anúncios em uma TV virtual que fica grudada em suas caras, sem ter qualquer contato humano (o que faz a gente se perguntar de onde vêem os bebês que aparecem no filme). Além de ser ofensiva aos mais gordinhos, a “lição” contida no filme também expõe a esquizofrenia desses produtos típicos do sistema da indústria cultural estadunidense.
Ao mesmo tempo em que deixa claro que a Terra foi destruída pela ganância sem freios do sistema capitalista e mostra o quanto é horrível a situação na qual se encontra a população da Terra (que nada mais é do que o sonho neoliberal da sociedade dos “idiotas consumidores” elevado à décima potência), “Wall-E” não passa de um produto destinado a gerar imenso lucro com a venda infinita de camisetas, copos, joguinhos e sabe-se quantas outras tranqueiras que, usando a mesma lógica do filme, só vão ajudar a deixar o planeta ainda mais poluído e as pessoas mais imbecilizadas.
Lembre-se que “Wall-E” é um produto da Disney, mega-corporação que construiu seu patrimônio fabricando e vendendo ilusões aos jovens. E o que é a nave dos gordinhos senão uma Disneylândia levada aos extremos?
Essa esquizofrenia conceitual simplesmente implode “Wall-E”. E mostra de maneira clara o quanto a indústria cultural dos EUA é mestre em utilizar a velha máxima do “se não pode com ele, junte-se a ele”, por meio da qual conseguem até vender biquínis de grife estampados com a foto do Che Guevara.
No caso do filme em questão, simplesmente pegaram a luta justa e necessária em favor da salvação do meio-ambiente e a transformaram em mais um produto que gere lucro aos seus acionistas e investidores, sempre ávidos para ampliar suas já bilionárias contas bancárias.
Mas não sejamos injustos. Temos que entender o motivo de precisarem acumular tanta riqueza: eles precisam garantir desde já seus lugares na nave que vai fugir da Terra quando o planeta estiver à beira da destruição. Azar de quem ficar para trás...
Cotação: * *
sexta-feira, 30 de maio de 2008
Alexander Courage: Morre o compositor do tema clássico de "Star Trek"
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Morreu aos 88 anos, no dia 15 de maio, o compositor, orquestrador e maestro estadunidense Alexander Courage que, entre muitas outras obras, ficou famoso pela criação do tema da séria clássica de "Star Trek", em 1965.
Além de compositor, Courage atuou também como orquestrador de vários compositores de trilhas sonoras famosos, como John Williams e Alex North. Ele também estabeleceu parceria regular com o mestre Jerry Goldsmith a partir dos anos 90, depois que seu orquestrador habitual, Arthur Morton, começou a ter problemas de saúde.
Entre algumas das trilhas que orquestrou para Goldsmith estão "Basic Instinct", "First Knight", "The Mummy", "Air Force One", "Mulan", "Star Trek: First Contact" e "Star Trek: Insurrection".
Mais uma triste notícia para os amantes do cinema. Mais um grande artista que se vai, embora sua obra ficará para sempre em nossas memórias...
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Morreu aos 88 anos, no dia 15 de maio, o compositor, orquestrador e maestro estadunidense Alexander Courage que, entre muitas outras obras, ficou famoso pela criação do tema da séria clássica de "Star Trek", em 1965.
Além de compositor, Courage atuou também como orquestrador de vários compositores de trilhas sonoras famosos, como John Williams e Alex North. Ele também estabeleceu parceria regular com o mestre Jerry Goldsmith a partir dos anos 90, depois que seu orquestrador habitual, Arthur Morton, começou a ter problemas de saúde.
Entre algumas das trilhas que orquestrou para Goldsmith estão "Basic Instinct", "First Knight", "The Mummy", "Air Force One", "Mulan", "Star Trek: First Contact" e "Star Trek: Insurrection".
Mais uma triste notícia para os amantes do cinema. Mais um grande artista que se vai, embora sua obra ficará para sempre em nossas memórias...
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segunda-feira, 26 de maio de 2008
FILMES: "Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal"
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DESLIGUE O CÉREBRO E DIVIRTA-SE!
Não se deixe levar por profissionais da opinião pretensiosos ou mal-humorados. Essa quarta aventura do quase “vovô” Indiana Jones é programa para nerd nenhum botar (muito) defeito!
- por André Lux, crítico-spam e nerd assumido
Confesso que estava esperando o pior. Tanto Steven Spielberg quanto George Lucas não conseguem acertar uma faz tempo e Harrison Ford, aos 65 anos, dava a impressão que faria papel de ridículo saindo por aí dando socos e voando por pára-brisas.
Mas, que nada! Ford está muito bem conservado para a idade (sem plásticas ou botox, ao contrário do que maldosamente sugeriu um profissional da opinião que escreve para a Folha de S. Paulo, jornal que apoiou o golpe militar de 1964) e a troupe conseguiu pescar os melhores momentos dos três filmes anteriores e amarrar tudo com muita leveza e auto-gozação.
Em momento algum “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal” se leva a sério, principalmente quando entra em cena o personagem de Shia LaBeouf, com visual a lá Marlon Brando, que nos diverte brincando com a idade avançada de Ford. Isso garante momentos de pura magia cinematográfica despretensiosa, bem no clima ingênuo dos filmes da década de 30 e 40 que a série homenageia.
Por isso, o conteúdo político da série “Indiana Jones” continua não ofendendo ninguém, até porque tanto Lucas quanto Spielberg são liberais à moda antiga e, portanto, preferem criticar o clima de paranóia e perseguição que imperava nos EUA durante a guerra fria (bem parecido com o que existe hoje em tempos de Bush Jr.) a proferir discursos vazios contra os soviéticos, que fazem a vez dos vilões caricatos na impossibilidade de colocarem os nazistas de novo. Reparem que Indiana fica muito mais chateado ao ser chamado de traidor por agentes do FBI e perder o emprego de professor do que ao ser socado pelos comandados da “preferida de Stalin” (Cate Blanchet, ótima como sempre).
Pena que na segunda metade, quando se concentram mais em desvendar os segredos da tal caveira, o filme apele para perseguições e exageros dispensáveis (as quedas nas cataratas) talvez para tentar fisgar os mais jovens, acostumados com o frenesi e o excesso de efeitos visuais de aventuras atuais como “Transformers” ou “Piratas do Caribe”.
A resolução do mistério (cujo segredo no estilo "Eram os Deuses Astronautas" é revelado cedo demais) também é fraca e deixa evidente que não sabiam como fechar a trama principal, que é o único ponto realmente fraco do filme: cheia de idas e vindas, personagens bobos (como Oxley, que serviu para tapar o buraco causado pela recusa de Sean Connery em retornar como o pai de Indy) e, no final das contas, não faz muito sentido.
Tanto é que sobra para Ford a ingrata missão de ficar o tempo todo tentando explicar o que está acontecendo ao jovem Mutt (que, no caso, encarna a platéia perdida). Essa confusão certamente se deve ao fato do roteiro ter sido escrito, rejeitado e reescrito um monte de vezes. A certa altura, o nonsense era tanto que eu simplesmente parei de tentar entender e deixei a pura diversão me levar.
Mas, a falta de talento dramático dos protagonistas é compensada pelo carisma deles e as besteiras do roteiro (do notoriamente inépto David Koepp) são salvas pela criatividade de algumas seqüências (como a explosão da bomba atômica e a perseguição de moto), pela ótima edição e, claro, pela trilha musical precisa do mestre John Williams, que continua em plena forma aos 76 anos!
Não se deixe levar por profissionais da opinião pretensiosos ou mal-humorados. Essa quarta aventura do quase “vovô” Indiana Jones é programa para nerd nenhum botar (muito) defeito. Desligue o cérebro e divirta-se! Sua criança interior vai gostar...
Cotação: * * * 1/2
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DESLIGUE O CÉREBRO E DIVIRTA-SE!
Não se deixe levar por profissionais da opinião pretensiosos ou mal-humorados. Essa quarta aventura do quase “vovô” Indiana Jones é programa para nerd nenhum botar (muito) defeito!
- por André Lux, crítico-spam e nerd assumido
Confesso que estava esperando o pior. Tanto Steven Spielberg quanto George Lucas não conseguem acertar uma faz tempo e Harrison Ford, aos 65 anos, dava a impressão que faria papel de ridículo saindo por aí dando socos e voando por pára-brisas.
Mas, que nada! Ford está muito bem conservado para a idade (sem plásticas ou botox, ao contrário do que maldosamente sugeriu um profissional da opinião que escreve para a Folha de S. Paulo, jornal que apoiou o golpe militar de 1964) e a troupe conseguiu pescar os melhores momentos dos três filmes anteriores e amarrar tudo com muita leveza e auto-gozação.
Em momento algum “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal” se leva a sério, principalmente quando entra em cena o personagem de Shia LaBeouf, com visual a lá Marlon Brando, que nos diverte brincando com a idade avançada de Ford. Isso garante momentos de pura magia cinematográfica despretensiosa, bem no clima ingênuo dos filmes da década de 30 e 40 que a série homenageia.
Por isso, o conteúdo político da série “Indiana Jones” continua não ofendendo ninguém, até porque tanto Lucas quanto Spielberg são liberais à moda antiga e, portanto, preferem criticar o clima de paranóia e perseguição que imperava nos EUA durante a guerra fria (bem parecido com o que existe hoje em tempos de Bush Jr.) a proferir discursos vazios contra os soviéticos, que fazem a vez dos vilões caricatos na impossibilidade de colocarem os nazistas de novo. Reparem que Indiana fica muito mais chateado ao ser chamado de traidor por agentes do FBI e perder o emprego de professor do que ao ser socado pelos comandados da “preferida de Stalin” (Cate Blanchet, ótima como sempre).
Pena que na segunda metade, quando se concentram mais em desvendar os segredos da tal caveira, o filme apele para perseguições e exageros dispensáveis (as quedas nas cataratas) talvez para tentar fisgar os mais jovens, acostumados com o frenesi e o excesso de efeitos visuais de aventuras atuais como “Transformers” ou “Piratas do Caribe”.
A resolução do mistério (cujo segredo no estilo "Eram os Deuses Astronautas" é revelado cedo demais) também é fraca e deixa evidente que não sabiam como fechar a trama principal, que é o único ponto realmente fraco do filme: cheia de idas e vindas, personagens bobos (como Oxley, que serviu para tapar o buraco causado pela recusa de Sean Connery em retornar como o pai de Indy) e, no final das contas, não faz muito sentido.
Tanto é que sobra para Ford a ingrata missão de ficar o tempo todo tentando explicar o que está acontecendo ao jovem Mutt (que, no caso, encarna a platéia perdida). Essa confusão certamente se deve ao fato do roteiro ter sido escrito, rejeitado e reescrito um monte de vezes. A certa altura, o nonsense era tanto que eu simplesmente parei de tentar entender e deixei a pura diversão me levar.
Mas, a falta de talento dramático dos protagonistas é compensada pelo carisma deles e as besteiras do roteiro (do notoriamente inépto David Koepp) são salvas pela criatividade de algumas seqüências (como a explosão da bomba atômica e a perseguição de moto), pela ótima edição e, claro, pela trilha musical precisa do mestre John Williams, que continua em plena forma aos 76 anos!
Não se deixe levar por profissionais da opinião pretensiosos ou mal-humorados. Essa quarta aventura do quase “vovô” Indiana Jones é programa para nerd nenhum botar (muito) defeito. Desligue o cérebro e divirta-se! Sua criança interior vai gostar...
Cotação: * * * 1/2
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segunda-feira, 19 de maio de 2008
Filmes: "Speed Racer"
BORRÃO, O FILME
Se quiser ver um compêndio do que existe de mais insuportável no cinema industrial feito em Roliúdi, arrisque. Só não esqueça de levar uma caixa de Neosaldina.
- por André Lux, crítico-spam
Se você é, como eu, fã do desenho original ou então tem esperança de encontrar algum vestígio do talento demonstrado pelos irmãos Wachowsky na trilogia “Matrix”, então não passe nem perto desse “Speed Racer”, suposta adaptação com atores de carne e osso da nostálgica animação japonesa.
Mas, tirando os desenhos dos carros e dos vestuários e o uso esporádico do tema musical original na trilha sonora, o resto do filme não passa de um compêndio do que existe de mais canhestro e insuportável no cinema industrial feito em Roliúdi atualmente: barulho infernal, histeria desmedida (a cada cinco minutos algum personagem olha para a câmera e começa a berrar) e uma overdose de efeitos digitais e cenas de ação editadas de forma tão alucinante que fica impossível identificar o que se passa.
É difícil crer que alguém em sã consciência tenha gasto tanto dinheiro produzindo sequências intermináveis e absolutamente inverossímeis de corridas que, nos melhores momentos, não passam de um borrão na tela!
E, entre uma corrida e outra - desculpem - entre um borrão e outro, sobra para atores consagrados como John Goodman, Cristina Ricci e Susan Sarandon a constrangedora tarefa de tentar dar vida a personagens rasos como poças d'água, que se limitam a repetir jargões politicamente corretos sobre a importância dos “valores familiares” e coisas soporíferas do gênero.
O rapaz que arrumaram para ser o Speed Racer, um tal de Emile Hirsch, não podia ser mais inexpressivo e sem graça. O único que salva a cara é o galãzinho da série “Lost”, Mathew Fox, como o Corredor X. Mas para você ver a que nível chega o negócio, o melhor ator do filme é, de longe, o macaco Zequinha – que nem mesmo é bem aproveitado!
Sinceramente, um filme como esse não merece mais comentários. Perto disso até bombas como “Van Helsing” ou “As Panteras Detonando” parecem obras-primas da sétima arte. Mas se quiser ver para crer, vá por sua conta e risco. Só não esqueça de levar um par de protetores auriculares e uma caixa de Neosaldina, pois você vai precisar. Acredite! Depois não diga que não foi avisado...
Cotação: Zero
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Se quiser ver um compêndio do que existe de mais insuportável no cinema industrial feito em Roliúdi, arrisque. Só não esqueça de levar uma caixa de Neosaldina.
- por André Lux, crítico-spam
Se você é, como eu, fã do desenho original ou então tem esperança de encontrar algum vestígio do talento demonstrado pelos irmãos Wachowsky na trilogia “Matrix”, então não passe nem perto desse “Speed Racer”, suposta adaptação com atores de carne e osso da nostálgica animação japonesa.
Mas, tirando os desenhos dos carros e dos vestuários e o uso esporádico do tema musical original na trilha sonora, o resto do filme não passa de um compêndio do que existe de mais canhestro e insuportável no cinema industrial feito em Roliúdi atualmente: barulho infernal, histeria desmedida (a cada cinco minutos algum personagem olha para a câmera e começa a berrar) e uma overdose de efeitos digitais e cenas de ação editadas de forma tão alucinante que fica impossível identificar o que se passa.
É difícil crer que alguém em sã consciência tenha gasto tanto dinheiro produzindo sequências intermináveis e absolutamente inverossímeis de corridas que, nos melhores momentos, não passam de um borrão na tela!
E, entre uma corrida e outra - desculpem - entre um borrão e outro, sobra para atores consagrados como John Goodman, Cristina Ricci e Susan Sarandon a constrangedora tarefa de tentar dar vida a personagens rasos como poças d'água, que se limitam a repetir jargões politicamente corretos sobre a importância dos “valores familiares” e coisas soporíferas do gênero.
O rapaz que arrumaram para ser o Speed Racer, um tal de Emile Hirsch, não podia ser mais inexpressivo e sem graça. O único que salva a cara é o galãzinho da série “Lost”, Mathew Fox, como o Corredor X. Mas para você ver a que nível chega o negócio, o melhor ator do filme é, de longe, o macaco Zequinha – que nem mesmo é bem aproveitado!
Sinceramente, um filme como esse não merece mais comentários. Perto disso até bombas como “Van Helsing” ou “As Panteras Detonando” parecem obras-primas da sétima arte. Mas se quiser ver para crer, vá por sua conta e risco. Só não esqueça de levar um par de protetores auriculares e uma caixa de Neosaldina, pois você vai precisar. Acredite! Depois não diga que não foi avisado...
Cotação: Zero
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quarta-feira, 14 de maio de 2008
DVD: "Jornada pela Liberdade"
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A LIÇÃO DA HISTÓRIA
São em momentos como esse que percebemos o quanto é triste ser “apolítico” ou se alinhar com o que existe de mais reacionário e desumano no mundo, seja por convicção de fazer parte da “raça superior” ou por mera alienação
- por André Lux, o crítico-spam
Vale a pena conhecer esse drama histórico dirigido com segurança por Michael Apted, que já fez outros filmes politicamente engajados como “Na Montanha dos Gorilas” e “Coração de Trovão”. Em “Jornada pela Liberdade” ele aponta sua câmera para o difícil processo de aprovação da lei que finalmente acabou com a escravidão na Inglaterra, no século 18, graças ao empenho que durou mais de 20 anos de William Wilberforce e seus apoiadores no parlamento inglês.
A boa notícia é que o roteiro de Steven Knight faz o possível para não resvalar no maniqueísmo típico desse tipo de produção, procurando ao máximo mostrar sempre os dois lados da moeda (afinal, até mesmo os conservadores tinham lá suas convicções na defesa da escravatura), bem como as fraquezas e os defeitos dos personagens. Além disso, tem o cuidado de destacar também a participação das várias castas da sociedade na luta pela abolição, inclusive as mulheres e, claro, os próprios negros (representados aqui na figura do ex-escravo Olaudah Equiano), contrariando assim a lógica róliudiana de sempre tentar reduzir conquistas sociais como essa à luta individualista de um único sujeito.
O filme ganha credibilidade graças à boa atuação de Ioan Gruffudd (de, acredite se quiser, “Quarteto Fantástico”!) no papel central, sempre cercado por ótimos coadjuvantes, com destaque para Michael Gambom, como o político que muda de lado na última hora, e o lendário Albert Finney, encarnando John Newton, o ex-comandante de navio negreiro que, arrependido, passa o resto dos dias lutando contra a escravidão – é dele a emocionante canção “Amazing Grace” que dá o título original do filme e já foi usada em várias outras produções do cinema, como “Jornada nas Estrelas 2” (na cena do funeral de Spock) e “Invasores de Corpos”.
Apesar do ritmo lento e do caráter didático da narrativa, “Jornada pela Liberdade” é um ótimo exemplo de como a política é vital e pode ser usada para efetivamente melhorar a vida das pessoas, mesmo que seja por linhas tortas. Assusta também pensar que a indefensável escravidão de seres humanos começou a ser abolida há tão pouco tempo - no Brasil, há míseros 120 anos! Não é de se estranhar que muitos desejam a sua volta até hoje...
São em momentos como o retratado pelo filme que percebemos o quanto é triste ser “apolítico” ou se alinhar com o que existe de mais reacionário e desumano no mundo, seja por convicção de fazer parte da “raça superior” ou por mera alienação. A história, por mais que tentem deturpá-la, é (e sempre será) cruel com essas pessoas.
Cotação: * * * 1/2
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A LIÇÃO DA HISTÓRIA
São em momentos como esse que percebemos o quanto é triste ser “apolítico” ou se alinhar com o que existe de mais reacionário e desumano no mundo, seja por convicção de fazer parte da “raça superior” ou por mera alienação
- por André Lux, o crítico-spam
Vale a pena conhecer esse drama histórico dirigido com segurança por Michael Apted, que já fez outros filmes politicamente engajados como “Na Montanha dos Gorilas” e “Coração de Trovão”. Em “Jornada pela Liberdade” ele aponta sua câmera para o difícil processo de aprovação da lei que finalmente acabou com a escravidão na Inglaterra, no século 18, graças ao empenho que durou mais de 20 anos de William Wilberforce e seus apoiadores no parlamento inglês.
A boa notícia é que o roteiro de Steven Knight faz o possível para não resvalar no maniqueísmo típico desse tipo de produção, procurando ao máximo mostrar sempre os dois lados da moeda (afinal, até mesmo os conservadores tinham lá suas convicções na defesa da escravatura), bem como as fraquezas e os defeitos dos personagens. Além disso, tem o cuidado de destacar também a participação das várias castas da sociedade na luta pela abolição, inclusive as mulheres e, claro, os próprios negros (representados aqui na figura do ex-escravo Olaudah Equiano), contrariando assim a lógica róliudiana de sempre tentar reduzir conquistas sociais como essa à luta individualista de um único sujeito.
O filme ganha credibilidade graças à boa atuação de Ioan Gruffudd (de, acredite se quiser, “Quarteto Fantástico”!) no papel central, sempre cercado por ótimos coadjuvantes, com destaque para Michael Gambom, como o político que muda de lado na última hora, e o lendário Albert Finney, encarnando John Newton, o ex-comandante de navio negreiro que, arrependido, passa o resto dos dias lutando contra a escravidão – é dele a emocionante canção “Amazing Grace” que dá o título original do filme e já foi usada em várias outras produções do cinema, como “Jornada nas Estrelas 2” (na cena do funeral de Spock) e “Invasores de Corpos”.
Apesar do ritmo lento e do caráter didático da narrativa, “Jornada pela Liberdade” é um ótimo exemplo de como a política é vital e pode ser usada para efetivamente melhorar a vida das pessoas, mesmo que seja por linhas tortas. Assusta também pensar que a indefensável escravidão de seres humanos começou a ser abolida há tão pouco tempo - no Brasil, há míseros 120 anos! Não é de se estranhar que muitos desejam a sua volta até hoje...
São em momentos como o retratado pelo filme que percebemos o quanto é triste ser “apolítico” ou se alinhar com o que existe de mais reacionário e desumano no mundo, seja por convicção de fazer parte da “raça superior” ou por mera alienação. A história, por mais que tentem deturpá-la, é (e sempre será) cruel com essas pessoas.
Cotação: * * * 1/2
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segunda-feira, 24 de março de 2008
DVD: "O Passado"
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ERRANDO O ALVO
Pretensioso, arrastado e dramaticamente nulo, “O Passado” é mais um daqueles filmes bonitos e bem feitos que acabam se tornando irremediavelmente intragáveis.
- por André Lux, crítico-spam
É uma decepção esse filme do diretor Hector Babenco. Mesmo trabalhando em sua terra natal, a Argentina, e tendo a disposição um ótimo elenco encabeçado pelo mexicano Gael Garcia Bernal, sua adaptação do romance “O Passado”, de Alan Pauls, resulta num filme frio e irritante.
Parece que Babenco, também autor do roteiro, não soube traduzir para a tela o que havia de interessante na história original. No final, ficamos sem saber se o cineasta quis fazer um dramalhão ou um filme de suspense, sendo que ambas as propostas não combinam e, pior, se anulam.
O protagonista interpretado por Bernal não tem qualquer vida e chega a ser apático, transformando-se num “não personagem”. O roteiro episódico e árido nem tenta apontar suas motivações ou conflitos e não ajuda em nada o ator, que passa o filme todo com a mesma expressão, beirando a catatonia. Mesmo depois de ver uma namorada ser atropelada ou ser abandonado pela segunda mulher que o proíbe inclusive de ter qualquer contato com o filho. E tudo fica ainda mais ridículo quando ele “explode” num momento sem qualquer importância – ao ser desprezado por uma coroa rica que transou na academia que dava aulas. Seu vício em cocaína e uma suposta doença que o faz perder a memória também são deixados de lado de maneira completamente inconseqüente.
Personagens entram e saem da narrativa sem deixar qualquer traço de humanidade ou interesse e o filme caminha aos trancos e barrancos até uma conclusão tola e mal amarrada.
Mas pior mesmo é o personagem da primeira ex-mulher, que é retratada pelo cineasta como uma injustiçada que persegue o sujeito o filme inteiro no pior estilo “Amélia é que era mulher de verdade”. Mas a moça não passa de uma histérica obsessiva que precisava era de uma boa terapia e cujas ações absurdas só perdem mesmo para a maluca de “Atração Fatal”.
Pretensioso, arrastado e dramaticamente nulo, “O Passado” é mais um daqueles filmes bonitos e bem feitos que erram feio o alvo e acabam se tornando irremediavelmente intragáveis.
Cotação: *
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ERRANDO O ALVO
Pretensioso, arrastado e dramaticamente nulo, “O Passado” é mais um daqueles filmes bonitos e bem feitos que acabam se tornando irremediavelmente intragáveis.
- por André Lux, crítico-spam
É uma decepção esse filme do diretor Hector Babenco. Mesmo trabalhando em sua terra natal, a Argentina, e tendo a disposição um ótimo elenco encabeçado pelo mexicano Gael Garcia Bernal, sua adaptação do romance “O Passado”, de Alan Pauls, resulta num filme frio e irritante.
Parece que Babenco, também autor do roteiro, não soube traduzir para a tela o que havia de interessante na história original. No final, ficamos sem saber se o cineasta quis fazer um dramalhão ou um filme de suspense, sendo que ambas as propostas não combinam e, pior, se anulam.
O protagonista interpretado por Bernal não tem qualquer vida e chega a ser apático, transformando-se num “não personagem”. O roteiro episódico e árido nem tenta apontar suas motivações ou conflitos e não ajuda em nada o ator, que passa o filme todo com a mesma expressão, beirando a catatonia. Mesmo depois de ver uma namorada ser atropelada ou ser abandonado pela segunda mulher que o proíbe inclusive de ter qualquer contato com o filho. E tudo fica ainda mais ridículo quando ele “explode” num momento sem qualquer importância – ao ser desprezado por uma coroa rica que transou na academia que dava aulas. Seu vício em cocaína e uma suposta doença que o faz perder a memória também são deixados de lado de maneira completamente inconseqüente.
Personagens entram e saem da narrativa sem deixar qualquer traço de humanidade ou interesse e o filme caminha aos trancos e barrancos até uma conclusão tola e mal amarrada.
Mas pior mesmo é o personagem da primeira ex-mulher, que é retratada pelo cineasta como uma injustiçada que persegue o sujeito o filme inteiro no pior estilo “Amélia é que era mulher de verdade”. Mas a moça não passa de uma histérica obsessiva que precisava era de uma boa terapia e cujas ações absurdas só perdem mesmo para a maluca de “Atração Fatal”.
Pretensioso, arrastado e dramaticamente nulo, “O Passado” é mais um daqueles filmes bonitos e bem feitos que erram feio o alvo e acabam se tornando irremediavelmente intragáveis.
Cotação: *
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terça-feira, 4 de março de 2008
DVD: "Blade Runner" (The Final Cut)
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FUTURO DO PRESENTE
Filme mostra sociedade neoliberal dominada por megacorporação que fabricam clones para serem usados como escravos. Mais atual, impossível.
- por André Lux, crítico-spam
É praticamente impossível analisar um filme como “Blade Runner” de maneira objetiva. Primeiro, porque ele tem sido objeto de escrutínio de críticos, especialistas e apreciadores há décadas. Segundo, porque existem dezenas de versões do filme, algumas radicalmente diferentes umas das outras – com e sem narração, com e sem final feliz, com e sem unicórnio, etc. E, dependendo de qual dessas versões você viu primeiro, sua compreensão e sentimentos em relação ao filme podem mudar completamente.
Agora, 26 anos após seu lançamento nos cinemas, o filme de Ridley Scott volta à cena graças ao lançamento da “Versão Final” (Final Cut) engendrada pelo próprio diretor, a qual seria a versão definitiva de “Blade Runner”. Assim, muita gente que detonou o filme na época, hoje se aproveita do status de cult que cerca o filme para se redimir, dizendo que ele só merece sua apreciação agora, depois que tiraram a narração do protagonista e coisas do gênero. Mas não é bem assim e muita gente se gaba atualmente de entender muita coisa só porque já havia assistido à versão antiga com a narração - que era realmente ruim.
Eu, por exemplo, vi “Blade Runner” pela primeira vez em um VHS pirata, por volta de 1984 quando tinha no máximo 14 anos. Nem preciso dizer que não gostei do filme. Naquela época, filme de ficção científica para mim tinha que ser sinônimo de “Star Wars”, ainda mais com Harrison Ford no elenco. Obviamente não estava preparado para entrar no clima noir existencialista da obra. E, convenhamos, o ridículo título “O Caçador de Andróides” que deram ao filme aqui no Brasil não ajudava em nada.
Mas, mesmo não tendo gostado nem entendido, ele ficou na minha cabeça desde então. Talvez pela grandiosidade dos efeitos visuais (que ainda impressionam), pela fotografia revolucionária de Jordan Cronenweth (que gera imitações até hoje), pela música inspirada de Vangelis, pela atuação impecável de todo o elenco (especialmente Rutger Hauer como o replicante Roy Batty) ou pela descrição de um futuro possível para a humanidade (do qual estamos cada vez mais próximos, infelizmente).
A verdade é que “Blade Runner” era um filme muito à frente de seu tempo – o que, na opinião do diretor Ridley Scott, é algo tão ruim quanto estar atrasado no tempo. A visão totalmente sombria de um futuro distópico, onde o planeta foi reduzido a uma terra arrasada sob constante chuva ácida e os animais já estavam extintos, não agradou a platéia daquela época, acostumada com uma leitura mais agradável do futuro da humanidade.
Além disso, Scott estava também à frente do tempo ao mostrar de forma crítica uma sociedade neoliberal ao extremo, completamente dominada por megacorporações, onde o Estado praticamente só existe na forma de polícia e a maioria da população perambula pelas ruas poluídas e congestionadas sem esperança, enquanto os ricos já foram colonizar outros planetas.
Uma sociedade na qual a cereja do bolo é a Tyrell Corporation, especializada na produção de “replicantes” para uso fora da Terra – que nada mais são do que clones humanos, fabricados para realizar trabalho escravo em operações militares, serviços domésticos ou sexuais nas colônias habitadas pelos privilegiados. Como se vê, o filme está mais atual do que nunca.
O interessante, porém, é entender que “Blade Runner” resultou de uma produção extremamente complicada e conturbada. Não havia nem mesmo consenso entre os realizadores a respeito do roteiro a ser seguido, que foi vagamente inspirado no livro “Do Androids Dream of Eletrical Sheep?”, de Phillip K. Dick. O diretor Scott trabalhou no filme como um verdadeiro artista, que muda o tom e o rumo da obra à medida que novas inspirações surgiam em sua mente, fator que deixava toda sua equipe e, principalmente, os executivos do estúdio de cabelos em pé.
A mais famosa controvérsia, que gera polêmica até hoje, é: será que Deckard é também um replicante? Nem mesmo os membros da equipe de produção e do elenco de “Blade Runner” chegam a conclusões iguais nesse tópico, embora seja fato que Scott tenha coberto o filme de dicas que levam a crer que o detetive era realmente um replicante.
Reparem que ele também possui dezenas de fotos espalhadas pelo seu piano, seus olhos brilham na cena anterior ao sexo com Rachel (Sean Young), a fala “Você fez um trabalho de homem” proferida por Gaff (Edward James Olmos) ao final e, claro, o sonho com o unicórnio cujo arco se completa na última cena com o origami deixado pelo mesmo Gaff em seu apartamento.
Muitas dessas dicas são extremamente sutis e propositalmente dúbias, sendo que algumas só fazem sentido e se encaixam na “Versão Final” que traz várias cenas restauradas e lima a narração do protagonista (que, como toda voz em off tosca, não condiz com as atitudes dele).
Particularmente, “Blade Runner” só faz sentido e eleva seu valor se Rick Deckard for mesmo um replicante. A partir do mundo do futuro visualizado por Scott, onde as pessoas são cada vez mais desumanas, miseráveis e apáticas, só mesmo um replicante com implante de memória (ou seja, que não sabe da sua verdadeira condição) pode redimir a humanidade desenvolvendo emoções e valores que já não existem mais naquela sociedade. Sob esse aspecto, o arco vivido por Deckard ao longo do filme serve como um alerta em relação ao tipo de sociedade que construímos e ao mundo que estamos deixando para as futuras gerações.
E, à medida que nos aproximamos do futuro de “Blade Runner”, percebemos o quanto tudo fica mais parecido com o que é retratado no filme. Aquecimento global, poluição, superpopulação, escassez de água e combustíveis, extinção de animais, consumismo desenfreado e o domínio de megacorporações sobre os Estados são apenas alguns dos fatores que estão deixando as pessoas cada vez mais desumanas, apáticas e sem esperança em um mundo que caminha para a autodestruição a passos largos.
A única diferença em relação ao filme é que ainda não existem colônias fora da Terra. Portanto, quando o futuro de “Blade Runner” virar presente, todos vão sofrer as conseqüências...
Cotação: * * * * *
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FUTURO DO PRESENTE
Filme mostra sociedade neoliberal dominada por megacorporação que fabricam clones para serem usados como escravos. Mais atual, impossível.
- por André Lux, crítico-spam
É praticamente impossível analisar um filme como “Blade Runner” de maneira objetiva. Primeiro, porque ele tem sido objeto de escrutínio de críticos, especialistas e apreciadores há décadas. Segundo, porque existem dezenas de versões do filme, algumas radicalmente diferentes umas das outras – com e sem narração, com e sem final feliz, com e sem unicórnio, etc. E, dependendo de qual dessas versões você viu primeiro, sua compreensão e sentimentos em relação ao filme podem mudar completamente.
Agora, 26 anos após seu lançamento nos cinemas, o filme de Ridley Scott volta à cena graças ao lançamento da “Versão Final” (Final Cut) engendrada pelo próprio diretor, a qual seria a versão definitiva de “Blade Runner”. Assim, muita gente que detonou o filme na época, hoje se aproveita do status de cult que cerca o filme para se redimir, dizendo que ele só merece sua apreciação agora, depois que tiraram a narração do protagonista e coisas do gênero. Mas não é bem assim e muita gente se gaba atualmente de entender muita coisa só porque já havia assistido à versão antiga com a narração - que era realmente ruim.
Eu, por exemplo, vi “Blade Runner” pela primeira vez em um VHS pirata, por volta de 1984 quando tinha no máximo 14 anos. Nem preciso dizer que não gostei do filme. Naquela época, filme de ficção científica para mim tinha que ser sinônimo de “Star Wars”, ainda mais com Harrison Ford no elenco. Obviamente não estava preparado para entrar no clima noir existencialista da obra. E, convenhamos, o ridículo título “O Caçador de Andróides” que deram ao filme aqui no Brasil não ajudava em nada.
Mas, mesmo não tendo gostado nem entendido, ele ficou na minha cabeça desde então. Talvez pela grandiosidade dos efeitos visuais (que ainda impressionam), pela fotografia revolucionária de Jordan Cronenweth (que gera imitações até hoje), pela música inspirada de Vangelis, pela atuação impecável de todo o elenco (especialmente Rutger Hauer como o replicante Roy Batty) ou pela descrição de um futuro possível para a humanidade (do qual estamos cada vez mais próximos, infelizmente).
A verdade é que “Blade Runner” era um filme muito à frente de seu tempo – o que, na opinião do diretor Ridley Scott, é algo tão ruim quanto estar atrasado no tempo. A visão totalmente sombria de um futuro distópico, onde o planeta foi reduzido a uma terra arrasada sob constante chuva ácida e os animais já estavam extintos, não agradou a platéia daquela época, acostumada com uma leitura mais agradável do futuro da humanidade.
Além disso, Scott estava também à frente do tempo ao mostrar de forma crítica uma sociedade neoliberal ao extremo, completamente dominada por megacorporações, onde o Estado praticamente só existe na forma de polícia e a maioria da população perambula pelas ruas poluídas e congestionadas sem esperança, enquanto os ricos já foram colonizar outros planetas.
Uma sociedade na qual a cereja do bolo é a Tyrell Corporation, especializada na produção de “replicantes” para uso fora da Terra – que nada mais são do que clones humanos, fabricados para realizar trabalho escravo em operações militares, serviços domésticos ou sexuais nas colônias habitadas pelos privilegiados. Como se vê, o filme está mais atual do que nunca.
O interessante, porém, é entender que “Blade Runner” resultou de uma produção extremamente complicada e conturbada. Não havia nem mesmo consenso entre os realizadores a respeito do roteiro a ser seguido, que foi vagamente inspirado no livro “Do Androids Dream of Eletrical Sheep?”, de Phillip K. Dick. O diretor Scott trabalhou no filme como um verdadeiro artista, que muda o tom e o rumo da obra à medida que novas inspirações surgiam em sua mente, fator que deixava toda sua equipe e, principalmente, os executivos do estúdio de cabelos em pé.
A mais famosa controvérsia, que gera polêmica até hoje, é: será que Deckard é também um replicante? Nem mesmo os membros da equipe de produção e do elenco de “Blade Runner” chegam a conclusões iguais nesse tópico, embora seja fato que Scott tenha coberto o filme de dicas que levam a crer que o detetive era realmente um replicante.
Reparem que ele também possui dezenas de fotos espalhadas pelo seu piano, seus olhos brilham na cena anterior ao sexo com Rachel (Sean Young), a fala “Você fez um trabalho de homem” proferida por Gaff (Edward James Olmos) ao final e, claro, o sonho com o unicórnio cujo arco se completa na última cena com o origami deixado pelo mesmo Gaff em seu apartamento.
Muitas dessas dicas são extremamente sutis e propositalmente dúbias, sendo que algumas só fazem sentido e se encaixam na “Versão Final” que traz várias cenas restauradas e lima a narração do protagonista (que, como toda voz em off tosca, não condiz com as atitudes dele).
Particularmente, “Blade Runner” só faz sentido e eleva seu valor se Rick Deckard for mesmo um replicante. A partir do mundo do futuro visualizado por Scott, onde as pessoas são cada vez mais desumanas, miseráveis e apáticas, só mesmo um replicante com implante de memória (ou seja, que não sabe da sua verdadeira condição) pode redimir a humanidade desenvolvendo emoções e valores que já não existem mais naquela sociedade. Sob esse aspecto, o arco vivido por Deckard ao longo do filme serve como um alerta em relação ao tipo de sociedade que construímos e ao mundo que estamos deixando para as futuras gerações.
E, à medida que nos aproximamos do futuro de “Blade Runner”, percebemos o quanto tudo fica mais parecido com o que é retratado no filme. Aquecimento global, poluição, superpopulação, escassez de água e combustíveis, extinção de animais, consumismo desenfreado e o domínio de megacorporações sobre os Estados são apenas alguns dos fatores que estão deixando as pessoas cada vez mais desumanas, apáticas e sem esperança em um mundo que caminha para a autodestruição a passos largos.
A única diferença em relação ao filme é que ainda não existem colônias fora da Terra. Portanto, quando o futuro de “Blade Runner” virar presente, todos vão sofrer as conseqüências...
Cotação: * * * * *
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sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
A polêmica continua... Por que eu considero "Tropa de Elite" um filme fascista?
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O meu amigo blogueiro Miguel do Rosário tem feito uma defesa ferrenha do filme “Tropa de Elite”, o qual ele não considera fascista, em seu blog Óleo do Diabo. Não quero aqui ficar pinçando trechos do texto dele e os contrapondo, pois acho isso enfadonho e meio injusto com o autor, pois tira suas idéias de contexto.
Vou, de maneira pontual e final, dizer porque eu acho o filme fascista. Até porque não quero mais falar desse filme canhestro que nem merece tantos holofotes assim.
1) A intenção do diretor era fazer um filme fascista? Pra mim ficou claro que não. O Padilha tentou sim fazer um filme que “mostra a realidade” da violência urbana no Brasil – especificamente nas favelas cariocas, e provocar polêmica no bom sentido.
2) Ele teve sucesso nisso? Em parte. Do ponto de vista de “mostrar a realidade”, ele consegue mostrar apenas uma parte dela. E é aí que os problemas começam.
3) Onde ele acertou? Primeiro, ao mostrar a corrupção e a desordem na polícia militar, bem como a parceria de seus membros com o tráfico e com esquemas ilícitos. Segundo, ao mostrar o envolvimento de políticos nos esquemas. Ponto para Padilha e sua equipe.
4) Os erros. Agora é que são elas. De boas intenções o inferno está cheio:
- “Tropa de Elite” escorrega feio em sua pretensão de “mostrar a realidade” ao pintar o BOPE como incorruptível e super-eficiente. Não é. Existem provas contundentes disso. Uma dessas provas está no próprio filme: os oficiais do BOPE são coniventes com a corrupção da PM, então no mínimo são omissos e corruptos por tabela. Mas o roteiro não chega nem perto de tocar nesse ponto e insiste em dar voz apenas aos discursos moralistas e incoerentes dos policiais, sem nunca questioná-los.
- O BOPE é mostrado torturando e executando pessoas de maneira criminosa. Igualzinho acontece na realidade. O problema é que todas as pessoas torturadas e mortas no filme são bandidos ou amigos e familiares dos bandidos. Só que na vida real, pessoas inocentes são mortas e torturadas pelo BOPE. Onde está isso no filme? Em lugar algum. Em “Tropa de Elite”, o BOPE é tão eficiente e “bonzinho” como o Rambo que, entre uma crise existencial e outra, também só mata bandidos e vilões, nunca inocentes. E quem optou por mostrar as coisas dessa forma distorcida e absolutamente parcial? Os críticos? A platéia? Não, os realizadores do filme. Portanto, não há desculpas.
- Estudantes de classe média usam drogas e acabam ajudando a sustentar o tráfico. Correto. Essa é uma questão importante no debate do combate à violência que ninguém tem coragem de tocar. “Tropa de Elite” ensaia colocar o dedo nessa ferida, mas logo depois mete os pés pelas mãos.
Primeiro, porque não são todos os estudantes que usam drogas. Muito menos todo estudante é esquerdista ou liberal. Em qualquer sala de aula também existem jovens que rezam pela cartilha da direita, que são fascistas, ou que ao menos são favoráveis ao “prendo e arrebento”. Onde estão eles no filme? Em lugar nenhum. Na classe do Matias (o policial negro), todos adotam uma postura “esquerdista” ou liberal na cena do debate, o que é absolutamente ridículo.
Ou seja, assim como o BOPE só mata e tortura bandidos no filme, os estudantes de classe média são todos retratados como liberais hipócritas que usam drogas ilícitas ao mesmo tempo que protestam contra a brutalidade da polícia em passeatas idiotas. Chamar isso de maniqueísmo é pouco... Ao optar por essa aproximação simplista, o cineasta inutiliza automaticamente sua proposta de “mostrar a realidade” do ponto de vista da classe média como parte do problema.
- Muitos dizem que o capitão Nascimento é “humanizado” no filme, pelo fato de narrar a trama e por sofrer de ataques de pânico, portanto não pode ser considerado fascista. Esse argumento é o mais fraco.
Primeiro, porque o Nascimento que narra é um e o que atua é outro. Enquanto ouvimos o personagem descrevendo as situações com ar de deboche, arrogância e onisciência (revelando inclusive fatos que não tinha como saber), o vemos agindo como um descontrolado inseguro, à beira de um ataque de nervos.
Ou seja, enquanto age como o protagonista de, na falta de um exemplo melhor, “Um Corpo Que Cai” (que tinha fobia de altura e cometia erros), ele narra o filme como se fosse o Rambo, fodão e infalível, porém injustiçado e incompreendido. No final das contas, o que prevalece é a narração, até porque é ela que se destaca mais no nível da consciência por ser dirigida diretamente ao espectador. Não há, portanto, humanização nenhuma do personagem. Pelo contrário. A narração tosca anula a suposta “humanidade” das ações e, mais grave, induz o espectador a "torcer" por ele.
- Matias, o policial que no final substitui Nascimento, é o verdadeiro protagonista do filme. É nele que está contido o arco moral do roteiro. É só perceber: Matias começa o filme de uma maneira e termina de outra, que é totalmente contrária à inicial. Seria dele também a narração do filme. É bem provável que assim ficaríamos sabendo mais sobre esse personagem e sobre a confusão mental que o levou a uma mudança tão radical de comportamento e filosofia de vida.
Mas, como o diretor resolveu mudar, na última hora, a narração para o Nascimento (certamente por questões mercadológicas), Matias virou um mero coadjuvante, sem qualquer profundidade ou nuance.
Sua transformação de idealista em torturador acontece de maneira brusca e forçada, apenas porque teve um amigo morto pelos bandidos. Explicação rasa e pobre, idêntica a de qualquer Rambo da vida: “Quero viver em paz, mas vou voltar para a guerra para vingar o meu amigo, que foi maltratado pelos vilões”.
Ao optar por todas essas simplificações extremas e por uma estética de filme de ação palpitante (especialmente na terceira parte), “Tropa de Elite” vai contra sua proposta inicial e, infelizmente, se iguala a qualquer filme do tipo “vingança e retaliação”, como “Gladiador” ou os já citados “Rambos”, onde os feitos questionáveis dos personagens acabam sendo justificados em nome de um “bem maior” – no caso, vingar a morte covarde do amigo policial.
E perceber isso não tem nada a ver com ser de esquerda ou de direita. Até porque não é todo direitista que é fascista ou violento, da mesma forma que nem todo esquerdista é comunista ou pacifista. Existem nuances nesse meio e é isso que torna o debate rico e profundo. E é justamente essa falta de nuances e de profundidade que transforma “Tropa de Elite” em produto fascista – no sentido de endossar, mesmo que sem querer, o uso da brutatlidade e do desrespeito às leis como única forma de combater o tráfico de drogas e suas conseqüências.
Enfim, um filme cheio de boas intenções que se perdem na falta de consciência, sensibilidade ou talento de seus realizadores.
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O meu amigo blogueiro Miguel do Rosário tem feito uma defesa ferrenha do filme “Tropa de Elite”, o qual ele não considera fascista, em seu blog Óleo do Diabo. Não quero aqui ficar pinçando trechos do texto dele e os contrapondo, pois acho isso enfadonho e meio injusto com o autor, pois tira suas idéias de contexto.
Vou, de maneira pontual e final, dizer porque eu acho o filme fascista. Até porque não quero mais falar desse filme canhestro que nem merece tantos holofotes assim.
1) A intenção do diretor era fazer um filme fascista? Pra mim ficou claro que não. O Padilha tentou sim fazer um filme que “mostra a realidade” da violência urbana no Brasil – especificamente nas favelas cariocas, e provocar polêmica no bom sentido.
2) Ele teve sucesso nisso? Em parte. Do ponto de vista de “mostrar a realidade”, ele consegue mostrar apenas uma parte dela. E é aí que os problemas começam.
3) Onde ele acertou? Primeiro, ao mostrar a corrupção e a desordem na polícia militar, bem como a parceria de seus membros com o tráfico e com esquemas ilícitos. Segundo, ao mostrar o envolvimento de políticos nos esquemas. Ponto para Padilha e sua equipe.
4) Os erros. Agora é que são elas. De boas intenções o inferno está cheio:
- “Tropa de Elite” escorrega feio em sua pretensão de “mostrar a realidade” ao pintar o BOPE como incorruptível e super-eficiente. Não é. Existem provas contundentes disso. Uma dessas provas está no próprio filme: os oficiais do BOPE são coniventes com a corrupção da PM, então no mínimo são omissos e corruptos por tabela. Mas o roteiro não chega nem perto de tocar nesse ponto e insiste em dar voz apenas aos discursos moralistas e incoerentes dos policiais, sem nunca questioná-los.
- O BOPE é mostrado torturando e executando pessoas de maneira criminosa. Igualzinho acontece na realidade. O problema é que todas as pessoas torturadas e mortas no filme são bandidos ou amigos e familiares dos bandidos. Só que na vida real, pessoas inocentes são mortas e torturadas pelo BOPE. Onde está isso no filme? Em lugar algum. Em “Tropa de Elite”, o BOPE é tão eficiente e “bonzinho” como o Rambo que, entre uma crise existencial e outra, também só mata bandidos e vilões, nunca inocentes. E quem optou por mostrar as coisas dessa forma distorcida e absolutamente parcial? Os críticos? A platéia? Não, os realizadores do filme. Portanto, não há desculpas.
- Estudantes de classe média usam drogas e acabam ajudando a sustentar o tráfico. Correto. Essa é uma questão importante no debate do combate à violência que ninguém tem coragem de tocar. “Tropa de Elite” ensaia colocar o dedo nessa ferida, mas logo depois mete os pés pelas mãos.
Primeiro, porque não são todos os estudantes que usam drogas. Muito menos todo estudante é esquerdista ou liberal. Em qualquer sala de aula também existem jovens que rezam pela cartilha da direita, que são fascistas, ou que ao menos são favoráveis ao “prendo e arrebento”. Onde estão eles no filme? Em lugar nenhum. Na classe do Matias (o policial negro), todos adotam uma postura “esquerdista” ou liberal na cena do debate, o que é absolutamente ridículo.
Ou seja, assim como o BOPE só mata e tortura bandidos no filme, os estudantes de classe média são todos retratados como liberais hipócritas que usam drogas ilícitas ao mesmo tempo que protestam contra a brutalidade da polícia em passeatas idiotas. Chamar isso de maniqueísmo é pouco... Ao optar por essa aproximação simplista, o cineasta inutiliza automaticamente sua proposta de “mostrar a realidade” do ponto de vista da classe média como parte do problema.
- Muitos dizem que o capitão Nascimento é “humanizado” no filme, pelo fato de narrar a trama e por sofrer de ataques de pânico, portanto não pode ser considerado fascista. Esse argumento é o mais fraco.
Primeiro, porque o Nascimento que narra é um e o que atua é outro. Enquanto ouvimos o personagem descrevendo as situações com ar de deboche, arrogância e onisciência (revelando inclusive fatos que não tinha como saber), o vemos agindo como um descontrolado inseguro, à beira de um ataque de nervos.
Ou seja, enquanto age como o protagonista de, na falta de um exemplo melhor, “Um Corpo Que Cai” (que tinha fobia de altura e cometia erros), ele narra o filme como se fosse o Rambo, fodão e infalível, porém injustiçado e incompreendido. No final das contas, o que prevalece é a narração, até porque é ela que se destaca mais no nível da consciência por ser dirigida diretamente ao espectador. Não há, portanto, humanização nenhuma do personagem. Pelo contrário. A narração tosca anula a suposta “humanidade” das ações e, mais grave, induz o espectador a "torcer" por ele.
- Matias, o policial que no final substitui Nascimento, é o verdadeiro protagonista do filme. É nele que está contido o arco moral do roteiro. É só perceber: Matias começa o filme de uma maneira e termina de outra, que é totalmente contrária à inicial. Seria dele também a narração do filme. É bem provável que assim ficaríamos sabendo mais sobre esse personagem e sobre a confusão mental que o levou a uma mudança tão radical de comportamento e filosofia de vida.
Mas, como o diretor resolveu mudar, na última hora, a narração para o Nascimento (certamente por questões mercadológicas), Matias virou um mero coadjuvante, sem qualquer profundidade ou nuance.
Sua transformação de idealista em torturador acontece de maneira brusca e forçada, apenas porque teve um amigo morto pelos bandidos. Explicação rasa e pobre, idêntica a de qualquer Rambo da vida: “Quero viver em paz, mas vou voltar para a guerra para vingar o meu amigo, que foi maltratado pelos vilões”.
Ao optar por todas essas simplificações extremas e por uma estética de filme de ação palpitante (especialmente na terceira parte), “Tropa de Elite” vai contra sua proposta inicial e, infelizmente, se iguala a qualquer filme do tipo “vingança e retaliação”, como “Gladiador” ou os já citados “Rambos”, onde os feitos questionáveis dos personagens acabam sendo justificados em nome de um “bem maior” – no caso, vingar a morte covarde do amigo policial.
E perceber isso não tem nada a ver com ser de esquerda ou de direita. Até porque não é todo direitista que é fascista ou violento, da mesma forma que nem todo esquerdista é comunista ou pacifista. Existem nuances nesse meio e é isso que torna o debate rico e profundo. E é justamente essa falta de nuances e de profundidade que transforma “Tropa de Elite” em produto fascista – no sentido de endossar, mesmo que sem querer, o uso da brutatlidade e do desrespeito às leis como única forma de combater o tráfico de drogas e suas conseqüências.
Enfim, um filme cheio de boas intenções que se perdem na falta de consciência, sensibilidade ou talento de seus realizadores.
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terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
Filmes: "Baixio das Bestas"
DEIXA DE SER BESTA, HOMEM!
O diretor parece viver pela tese “o ser humano é podre e o mundo está perdido”. E, para prová-la, faz filmes com cenas chocantes, escatologia e personagens caricatos
- por André Lux, crítico-spam
O diretor Cláudio Assis é um homem que parece viver pela seguinte tese: “o ser humano é podre e o mundo está perdido”. E, para prová-la, ele faz filmes recheados de cenas chocantes, escatologia e personagens que agem como se fossem bestas no cio, sempre drogados ou bêbados, correndo atrás de putas ou de menores de idade.
Foi assim em “Amarelo Manga” e é a mesma coisa em “Baixio das Bestas”. Só que, no primeiro filme, ele ao menos tentava construir situações e personagens com um mínimo de aprofundamento. Já no segundo, parece que não estava muito preocupado com esses detalhes e partiu logo para a nojeira pura e simples.
Assim, somos apresentados a uma gama de personagens caricatos e rasos como uma poça de água que existem unicamente para comprovar a tese original do cineasta: o velho pedófilo, incestuoso e hipócrita que explora a neta sexualmente, o estudante de classe-média vagabundo e drogado que anda fazendo maldades com amigos igualmente vagabundos e drogados, as prostitutas que reclamam da vida mas, no fundo, gostam mesmo é de apanhar, os peões ignorantes que vivem sambando e bebendo pinga e assim por diante. Chega às raias do preconceito.
Segue-se então duas horas de cenas nas quais essas “bestas em forma de gente” praticam seus atos nojentos, sempre de forma chocante e repulsiva. Não tenho nada contra o cinema ser usado para chocar as pessoas, desde que isso traga algum tipo de reflexão e análise da realidade. Mas, em o “Baixio das Bestas” assistimos ao choque pelo choque, sem qualquer conexão com um contexto minimamente ligado à realidade do povo brasileiro. E não é enfiando meia-dúzia de cenas que mostram o trabalho terrível dos cortadores de cana que vai resolver esse buraco negro no meio da narrativa.
Pior é que o filme tem uma excelente fotografia do mestre Walter Carvalho, que mesmo assim, repete tiques estéticos já usados em “Amarelo Manga” (como os travelings de câmera sobre os cenários, a imagem supersaturada e os altos contrastes). Sem falar da coragem que alguns atores consagrados, como Caio Blat, Matheus Nachtergaele e Dira Paes, tiveram de aparecerem em nu frontal em cenas carregadas de escatologia. Dá até para dar algumas risadas em algumas cenas em que os protagonistas disparam palavrões francos. Mas é só.
Em um momento de total auto-indulgência e pretensão do cineasta, um dos personagens vira para a câmera e diz, sem mais nem menos: “O bom do cinema é que você pode fazer o que quiser”. É claro que pode. Pode até “homenagear” o “Laranja Mecânica”, do Kubrick, na cena do estupro no cinema ou mostrar trecho de sexo explícito de “Oh, Rebuceteio” e seus protagonistas se masturbando.
Difícil, entretanto, vai ser Cláudio Assis convencer os espectadores de que a tese dele tem algum valor ou que ao menos é uma grande novidade. No fundo, o sujeito é um grande moralista que quer usar o cinema para ensinar uma lição à humanidade, no pior estilo do sueco Lars Von Triers e seu ridículo “Dogville”. Ou seja, a tese dele, na verdade é: “o ser humano é podre - menos eu, que sou um gênio incompreendido por esse mundo perdido”. Ah, deixa de ser besta, homem! Vai procurar um bom psicólogo...
Cotação: * 1/2
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"Tropa de Elite": FASCISMO NO CINEMA
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Ninguém nega a realidade na qual “Tropa de Elite” é baseado. Favelas como Complexo do Alemão parecem realmente zonas de guerra, onde a polícia é considerada um exército de ocupação. Mas o Brasil é também o país mais desigual do mundo e, ao ignorar as razões sociais da violência, o filme enaltece uma estratégia que por si só demonstra seu fracasso.
- Por Conor Foley – The Guardian (*)
A notícia de que “Tropa de Elite” ganhou o prestigiado prêmio “Urso de Ouro” do Festival Internacional de Berlim foi recebida com deleite no Brasil. O país deveria se envergonhar.
“Tropa de Elite” tornou-se o filme brasileiro mais popular de todos os tempos quando foi liberado ano passado. Estima-se que 11 milhões de pessoas assistiram às cópias piratas do filme antes do seu lançamento oficial, tendo quebrado recorde de bilheteria quando chegou aos cinemas.
O filme segue o sucesso de “Cidade de Deus”, que conta a árida história de como as favelas em volta do Rio de Janeiro gradualmente caíram nas mãos dos traficantes de drogas. “Tropa de Elite” se baseia no mesmo tema, tendo início, cronologicamente, de onde “Cidade de Deus” terminou. A cena de abertura mostra um baile funk no qual adolescentes narcotraficantes dançam ao mesmo tempo em que abertamente sacodem suas armas automáticas. Dois policiais à paisana tentam armar uma cilada, que não sai como esperado. Eles acabam encurralados na favela, sendo resgatados com a chegada do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro), comumente conhecido como “Tropa de Elite”.
O filme é visualmente impactante e a trilha sonora contribui para o drama, mas a trama é deplorável e os diálogos são fracos. O enredo se desenvolve em torno do destino de três homens: Capitão Nascimento, o chefe do Bope, e dois policiais que ele resgata, Neto e Matias.
Nascimento quer abandonar a polícia, pois sua esposa está grávida, mas primeiro ele deve encontrar alguém que o substitua, sendo este evidentemente o modo como o sistema de recrutamento da polícia brasileira opera. Neto e Matias decidem entrar para o Bope e se submetem ao processo de recrutamento, que envolve, principalmente, duro exercício físico, porque, como nos é dito, essa é uma boa maneira de arrancar-se a corrupção pela raiz. Matias, que é negro, freqüenta a faculdade onde seus colegas, universitários brancos, sentados em círculo, discutem Foucault e condenam a brutalidade da polícia. Poderiam os clichês serem mais banais?
Alguns dos estudantes, incluindo a namorada de Matias, estão envolvidos em um projeto social na favela, mas parece que não fazem muito além de fumarem maconha, fornecida por um traficante local. Eles são posteriormente assassinados pelos mesmos traficantes, que também mataram Neto e o desenlace sangrento do filme ocorre à medida que o Bope entra na favela atirando na busca dos assassinos.
O filme causou polêmica porque mostrou a polícia torturando mulheres e crianças para obter informações sobre o líder da quadrilha. Aparentemente, enquanto estava ocorrendo a filmagem no set, um oficial do Bope interrompeu os atores e lhes disse: “Olha, você está fazendo tudo errado. Você deve segurar o saco plástico assim, para que não fique nenhuma marca”. Nos cinemas Brasil afora, as pessoas gritaram e aplaudiram durante a cena e o capitão Nascimento fictício, que é baseado em personagem real, foi amplamente aclamado como um herói nacional”.
Ninguém nega a realidade na qual “Tropa de Elite” é baseado. Favelas como Complexo do Alemão parecem realmente zonas de guerra, onde a polícia é considerada um exército de ocupação. Mas o Brasil é também o país mais desigual do mundo e, ao ignorar as razões sociais da violência, o filme enaltece uma estratégia que por si só demonstra seu fracasso. Um governador populista do Rio uma vez ofereceu pagamento em espécie aos policiais que matassem criminosos, o famoso “bônus do oeste selvagem”, mas a taxa de crimes continuou a aumentar.
Aproximadamente meio milhão de brasileiros foram assassinados na última década, o que torna o país mais violento do que a maioria das zonas de guerra. Os brasileiros estão zangados e com medo do que está acontecendo em seu país, procurando desesperadamente por soluções.
Em um determinado ponto no filme, Matias confronta um grupo de pessoas em passeata protestando contra a morte de seus colegas universitários assassinados, acusando-os de só se importarem quando a violência atinge a classe média. Demonstrações como estas são comumente organizadas por ONGs como “Eu sou da Paz”, que também incrementa programas sociais em favelas. Uma série de estudos tem demonstrado que estes programas, que o filme extrapola ao difamá-los, têm obtido sucesso na redução dos crimes.
“Tropa de Elite” acusa a classe média brasileira de alimentar a onda de crimes através do consumo de drogas, o que é provavelmente verdade, mas sua mensagem excessivamente política é de cinismo e desespero. As cenas de tortura e violência não são apenas chocantes por causa do seu impacto, mas também porque desumanizam os moradores das favelas a quem são infligidas.
A violência no Brasil é um sintoma de um largo conjunto de problemas sociais, em relação aos quais os brasileiros devem assumir sua responsabilidade. A maioria da classe média brasileira nunca pôs o pé numa favela e fala sobre elas como se fossem outro país. Filmes como “Tropa de Elite” ajudam a mantê-la nessa alienação.
(*) Artigo publicado originalmente no jornal inglês ‘The Guardian’ em 18/02/2008, por ocasião da premiação do filme “Tropa de Elite” no Festival de Berlim. Tradução de João Paulo Gondim Cardoso, colaborador do Fazendo Media. Clique aqui para ler o original.
Ninguém nega a realidade na qual “Tropa de Elite” é baseado. Favelas como Complexo do Alemão parecem realmente zonas de guerra, onde a polícia é considerada um exército de ocupação. Mas o Brasil é também o país mais desigual do mundo e, ao ignorar as razões sociais da violência, o filme enaltece uma estratégia que por si só demonstra seu fracasso.
- Por Conor Foley – The Guardian (*)
A notícia de que “Tropa de Elite” ganhou o prestigiado prêmio “Urso de Ouro” do Festival Internacional de Berlim foi recebida com deleite no Brasil. O país deveria se envergonhar.
“Tropa de Elite” tornou-se o filme brasileiro mais popular de todos os tempos quando foi liberado ano passado. Estima-se que 11 milhões de pessoas assistiram às cópias piratas do filme antes do seu lançamento oficial, tendo quebrado recorde de bilheteria quando chegou aos cinemas.
O filme segue o sucesso de “Cidade de Deus”, que conta a árida história de como as favelas em volta do Rio de Janeiro gradualmente caíram nas mãos dos traficantes de drogas. “Tropa de Elite” se baseia no mesmo tema, tendo início, cronologicamente, de onde “Cidade de Deus” terminou. A cena de abertura mostra um baile funk no qual adolescentes narcotraficantes dançam ao mesmo tempo em que abertamente sacodem suas armas automáticas. Dois policiais à paisana tentam armar uma cilada, que não sai como esperado. Eles acabam encurralados na favela, sendo resgatados com a chegada do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro), comumente conhecido como “Tropa de Elite”.
O filme é visualmente impactante e a trilha sonora contribui para o drama, mas a trama é deplorável e os diálogos são fracos. O enredo se desenvolve em torno do destino de três homens: Capitão Nascimento, o chefe do Bope, e dois policiais que ele resgata, Neto e Matias.
Nascimento quer abandonar a polícia, pois sua esposa está grávida, mas primeiro ele deve encontrar alguém que o substitua, sendo este evidentemente o modo como o sistema de recrutamento da polícia brasileira opera. Neto e Matias decidem entrar para o Bope e se submetem ao processo de recrutamento, que envolve, principalmente, duro exercício físico, porque, como nos é dito, essa é uma boa maneira de arrancar-se a corrupção pela raiz. Matias, que é negro, freqüenta a faculdade onde seus colegas, universitários brancos, sentados em círculo, discutem Foucault e condenam a brutalidade da polícia. Poderiam os clichês serem mais banais?
Alguns dos estudantes, incluindo a namorada de Matias, estão envolvidos em um projeto social na favela, mas parece que não fazem muito além de fumarem maconha, fornecida por um traficante local. Eles são posteriormente assassinados pelos mesmos traficantes, que também mataram Neto e o desenlace sangrento do filme ocorre à medida que o Bope entra na favela atirando na busca dos assassinos.
O filme causou polêmica porque mostrou a polícia torturando mulheres e crianças para obter informações sobre o líder da quadrilha. Aparentemente, enquanto estava ocorrendo a filmagem no set, um oficial do Bope interrompeu os atores e lhes disse: “Olha, você está fazendo tudo errado. Você deve segurar o saco plástico assim, para que não fique nenhuma marca”. Nos cinemas Brasil afora, as pessoas gritaram e aplaudiram durante a cena e o capitão Nascimento fictício, que é baseado em personagem real, foi amplamente aclamado como um herói nacional”.
Ninguém nega a realidade na qual “Tropa de Elite” é baseado. Favelas como Complexo do Alemão parecem realmente zonas de guerra, onde a polícia é considerada um exército de ocupação. Mas o Brasil é também o país mais desigual do mundo e, ao ignorar as razões sociais da violência, o filme enaltece uma estratégia que por si só demonstra seu fracasso. Um governador populista do Rio uma vez ofereceu pagamento em espécie aos policiais que matassem criminosos, o famoso “bônus do oeste selvagem”, mas a taxa de crimes continuou a aumentar.
Aproximadamente meio milhão de brasileiros foram assassinados na última década, o que torna o país mais violento do que a maioria das zonas de guerra. Os brasileiros estão zangados e com medo do que está acontecendo em seu país, procurando desesperadamente por soluções.
Em um determinado ponto no filme, Matias confronta um grupo de pessoas em passeata protestando contra a morte de seus colegas universitários assassinados, acusando-os de só se importarem quando a violência atinge a classe média. Demonstrações como estas são comumente organizadas por ONGs como “Eu sou da Paz”, que também incrementa programas sociais em favelas. Uma série de estudos tem demonstrado que estes programas, que o filme extrapola ao difamá-los, têm obtido sucesso na redução dos crimes.
“Tropa de Elite” acusa a classe média brasileira de alimentar a onda de crimes através do consumo de drogas, o que é provavelmente verdade, mas sua mensagem excessivamente política é de cinismo e desespero. As cenas de tortura e violência não são apenas chocantes por causa do seu impacto, mas também porque desumanizam os moradores das favelas a quem são infligidas.
A violência no Brasil é um sintoma de um largo conjunto de problemas sociais, em relação aos quais os brasileiros devem assumir sua responsabilidade. A maioria da classe média brasileira nunca pôs o pé numa favela e fala sobre elas como se fossem outro país. Filmes como “Tropa de Elite” ajudam a mantê-la nessa alienação.
(*) Artigo publicado originalmente no jornal inglês ‘The Guardian’ em 18/02/2008, por ocasião da premiação do filme “Tropa de Elite” no Festival de Berlim. Tradução de João Paulo Gondim Cardoso, colaborador do Fazendo Media. Clique aqui para ler o original.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
Filmes: "Conversas Com Meu Jardineiro"
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ENCONTRO DE MUNDOS
Filme francês aborda questões complexas e faz crítica social de modo simples e humano, sem radicalismo, conflitos ou panfletagem.
- por André Lux, crítico-spam
É incrível a capacidade que alguns filmes têm de tocar em temas complexos e profundos sem serem panfletários, melodramáticos ou didáticos. “Conversas Com Meu Jardineiro”, filme francês dirigido por Jean Becker, é um desses raros exemplares.
Construído a partir do relacionamento entre dois personagens oriundos de classes sociais bem distintas, o roteiro aborda de forma sensível e discreta o abismo social que existe entre a burguesia e os operários. O primeiro é representado pela figura de um artista em crise conjugal e criativa (o sempre ótimo Daniel Auteuil) e o segundo por um ex-ferroviário que, aposentado, atua como jardineiro (Jean-Pierre Darroussin, que lembra o ator estadunidense Billy Bob Thornton).
Como uma relação próxima entre pessoas de classes sociais tão distintas seria inverossímil, mesmo num país do dito primeiro mundo, cria-se entre eles um passado em comum. Assim, ambos estudaram juntos na mesma escola quando eram crianças e acabaram expulsos depois de aprontar com um de seus professores. O mais rico prosseguiu os estudos, enquanto o outro largou tudo para pegar no batente. “Escola é o que acontece com a gente enquanto não temos idade para trabalhar”, ironiza o jardineiro.
Para o espectador mais atento aos problemas sociais do mundo, fica evidente o teor crítico das observações feitas pelo jardineiro, especialmente ao modelo neoliberal que, a exemplo do que aconteceu na América Latina, também foi implantado na França com resultados catastróficos para os mais pobres. “Hoje em dia, não existem mais empregos para os jovens”, reclama. Situação que tende a piorar ainda mais depois da eleição do extremista de direita, Nicolay Sarkozy.
Estabelecido o vínculo que permite aos protagonistas interagirem de forma convincente, “Conversas Com Meu Jardineiro” faz jus ao título e mostra uma série de diálogos entre os dois que variam do divertido ao lacônico. Aos poucos, a realidade de cada um começa a interferir na vida do outro.
Como era de se esperar, o convívio com o jardineiro e ex-ferroviário vai causar mais impacto no artista burguês, que vem de uma classe social geralmente alienada e insensível às questões sociais, colocando-o frente a frente com os problemas e injustiças sofridos pelos mais pobres – tais como atendimento médico precário, falta de opção de lazer e limitado conhecimento cultural. Tudo isso vai torná-lo uma pessoa mais sensível, ajudando-o inclusive a recuperar laços familiares e a inspiração perdida.
E é justamente a maneira que esse encontro entre mundos tão distintos é abordada que torna o filme especial. Sem discursos, conflitos nem radicalismos. Tudo muito humano e, em última instância, tocante.
Apenas duas coisas me incomodaram um pouco durante a projeção: a ausência de trilha musical e de canções (exceto por duas peças eruditas, uma delas de Mozart que também encerra os créditos) e o excesso de bate papo entre os protagonistas em algumas cenas que acabam se tornando redundantes. Mas é só. Nada que conte muitos pontos para tornar a experiência menos agradável e rica.
Cotação: * * * *
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ENCONTRO DE MUNDOS
Filme francês aborda questões complexas e faz crítica social de modo simples e humano, sem radicalismo, conflitos ou panfletagem.
- por André Lux, crítico-spam
É incrível a capacidade que alguns filmes têm de tocar em temas complexos e profundos sem serem panfletários, melodramáticos ou didáticos. “Conversas Com Meu Jardineiro”, filme francês dirigido por Jean Becker, é um desses raros exemplares.
Construído a partir do relacionamento entre dois personagens oriundos de classes sociais bem distintas, o roteiro aborda de forma sensível e discreta o abismo social que existe entre a burguesia e os operários. O primeiro é representado pela figura de um artista em crise conjugal e criativa (o sempre ótimo Daniel Auteuil) e o segundo por um ex-ferroviário que, aposentado, atua como jardineiro (Jean-Pierre Darroussin, que lembra o ator estadunidense Billy Bob Thornton).
Como uma relação próxima entre pessoas de classes sociais tão distintas seria inverossímil, mesmo num país do dito primeiro mundo, cria-se entre eles um passado em comum. Assim, ambos estudaram juntos na mesma escola quando eram crianças e acabaram expulsos depois de aprontar com um de seus professores. O mais rico prosseguiu os estudos, enquanto o outro largou tudo para pegar no batente. “Escola é o que acontece com a gente enquanto não temos idade para trabalhar”, ironiza o jardineiro.
Para o espectador mais atento aos problemas sociais do mundo, fica evidente o teor crítico das observações feitas pelo jardineiro, especialmente ao modelo neoliberal que, a exemplo do que aconteceu na América Latina, também foi implantado na França com resultados catastróficos para os mais pobres. “Hoje em dia, não existem mais empregos para os jovens”, reclama. Situação que tende a piorar ainda mais depois da eleição do extremista de direita, Nicolay Sarkozy.
Estabelecido o vínculo que permite aos protagonistas interagirem de forma convincente, “Conversas Com Meu Jardineiro” faz jus ao título e mostra uma série de diálogos entre os dois que variam do divertido ao lacônico. Aos poucos, a realidade de cada um começa a interferir na vida do outro.
Como era de se esperar, o convívio com o jardineiro e ex-ferroviário vai causar mais impacto no artista burguês, que vem de uma classe social geralmente alienada e insensível às questões sociais, colocando-o frente a frente com os problemas e injustiças sofridos pelos mais pobres – tais como atendimento médico precário, falta de opção de lazer e limitado conhecimento cultural. Tudo isso vai torná-lo uma pessoa mais sensível, ajudando-o inclusive a recuperar laços familiares e a inspiração perdida.
E é justamente a maneira que esse encontro entre mundos tão distintos é abordada que torna o filme especial. Sem discursos, conflitos nem radicalismos. Tudo muito humano e, em última instância, tocante.
Apenas duas coisas me incomodaram um pouco durante a projeção: a ausência de trilha musical e de canções (exceto por duas peças eruditas, uma delas de Mozart que também encerra os créditos) e o excesso de bate papo entre os protagonistas em algumas cenas que acabam se tornando redundantes. Mas é só. Nada que conte muitos pontos para tornar a experiência menos agradável e rica.
Cotação: * * * *
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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
Filmes: "Desejo e Reparação"
ARREBATADOR
De vez em quando surgem filmes que fazem a gente voltar a ter esperança na sétima arte.
- por André Lux, crítico-spam
De vez em quando surgem filmes que fazem a gente voltar a ter esperança na sétima arte. “Desejo e Reparação” é um deles, onde todos os elementos que dão vida ao produto cinematográfico são de qualidade excepcional e existem somente para o benefício da história a ser contada e das emoções transmitidas. Nem mais, nem menos.
Uma cena que mostra a chegada dos soldados à desolada praia de Dunkirk, na França, durante a segunda guerra mundial, ilustra bem essa perfeição: são mais de cinco minutos de um plano-seqüência sem cortes, onde uma multidão de pessoas é movimentada com precisão, trazendo resultados arrebatadores.
Baseado no romance de Ian McEwan, o filme tem como tema central um erro irreparável que destrói a vida de quase todos os personagens principais, cometido de maneira consciente, porém ingênua, por uma criança movida por paixões que ainda não tinha maturidade para compreender ou controlar.
Assim, num momento de ciúme vingativo, a menina Brioni, a filha de 13 anos de uma família aristocrata da Inglaterra dos anos 1930, acusa o filho da empregada (o intenso James MacAvoy, revelado na mini-série “Os Filhos de Duna”) de um crime que não cometeu. Justamente no momento em que o amor que ele sentia pela irmã mais velha dela (Keira Knightley) foi revelado – e aceito.
A denuncia contra o preconceito social e a hipocrisia das ditas “elites” também se faz presente, pois a prisão injusta do jovem oriundo das camadas mais baixas acaba sendo uma espécie de “vingança” silenciosa dos aristocratas contra aquele insolente que ousou tentar melhorar de vida, fazendo planos inclusive de estudar medicina, recusando-se a aceitar “seu lugar” e, pecado dos pecados, engraçando-se com uma de suas filhas.
Gostei muito da montagem inventiva (de Paul Tothill), que surpreende ao retornar a cenas já exibidas, mas monstrando-as sob um outro ponto de vista como que para lembrar o espectador que nem tudo é o que parece ser. A bela trilha musical de Dario Marianelli, cujo talento já havia sido comprovado em filmes como “V de Vingança” e “Os Irmãos Grimm”, também é muito eficiente e torna-se marcante ao incorporar musicalmente os sons de uma antiga máquina de datilografar ao tema de Brioni.
É por tudo isso que a tragédia descrita no filme ganha contornos ainda mais tocantes, especialmente durante a conclusão, quando a excepcional Vanessa Readgrave tem uma cena solo capaz de arrancar lágrimas do mais duro espectador. Afinal, quem é que nunca cometeu (ou foi vítima de) um erro irreparável, consciente ou não, que trouxe conseqüências desagradáveis, quando não trágicas, a si mesmo ou a outras pessoas durante a vida?
Não por acaso, durante a exibição veio à mente “O Paciente Inglês”, outro filme excelente que tem temática e clima parecidos – e parece que eu não estava errado, já que o próprio diretor daquele filme, Anthony Minghella, aparece em uma ponta como o entrevistador no final.
Para quem gosta de dramas históricos com uma pitada de comentário social ou simplesmente de cinema feito com amor e requinte, “Desejo e Reparação” é uma ótima opção. Simplesmente imperdível!
Cotação: * * * * *
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