BATMAN FASCISTA
O que mais incomoda é terem usado o Batman para tentar denegrir o "Occupy Wall Street", fazendo de Bane e seus discursos contra o sistema uma metáfora dele
- por André Lux, crítico-spam
“O Cavaleiro das Trevas Ressurge” é o mais fraco da trilogia
do Batman dirigida por Christopher Nolan. O filme tem sérios problemas, a
começar pelo vilão principal Bane, que usa uma máscara que lhe cobre a boca e
parte do rosto, o que impede o ator Tom Hardy de se expressar adequadamente
(ele também é excessivamente confiante e
posado ao ponto de irritar).
A motivação dos vilões também é uma mera repetição da do
primeiro filme, ou seja, eles querem destruir Gotham City para honrar o plano
do líder da Liga das Sombras Ras Al Ghoul (Liam Neeson, que aparece numa ponta
e em flashbacks). O problema é que para isso dar certo eles inventam um
daqueles planos mirabolantes que levam um tempão para serem efetivados e
precisam de um monte de coincidências e acidentes para darem certo, a lá “Star
Wars – A Ameaça Fantasma”. Por exemplo, fazia parte do plano aprisionar TODOS
os policiais de Gotham em túneis subterrâneos depois que Bane detonasse várias
bombas espalhadas pela cidade. Só que os policiais só estavam naquele instante
nos túneis porque um detetive (Joseph Gordon-Levitt) descobriu, por mero acaso,
que estavam sendo colocados explosivos nos subterrâneos.
Também não faz o menor sentido Bruce Wayne (Christian Bale,
apático como de costume nessa trilogia) ter suas impressões digitais roubadas e
não tomar qualquer atitude em relação a isso, deixando os vilões livres para
usá-las como bem entendessem. Existem outras coisas que incomodam, como a
sequência onde a mulher-gato usa o celular de um bandido procurado e cinco
segundos depois toda a força policial da cidade, inclusive a SWAT, chegam ao
local onde ela estava (mais uma barra forçada para que o plano dela desse
certo). Outra coisa ridícula é a carta que o comissário Gordon escreve contando
todos os podres de Harvey Dent e livrando a cara do Batman, carta essa que vai
parar convenientemente nas mãos do vilão.
O filme tem também um sério problema com seu segundo ato,
quando o Batman é derrotado por Bane e jogado numa prisão que é um buraco no
meio do nada. Enquanto isso, Gotham vira uma espécie de cripto-anarquia, onde
os bandidos mandam e provocam o caos. Isso deixa o filme arrastado e tolo,
porque jamais o vilão ia deixar o Batman vivo só para ele ficar sofrendo de
dores nas costas na prisão-buraco. Sobra então para o espectador contar o tempo
em que ele vai se recuperar dos machucados e, obviamente, fugir do buraco e
milagrosamente voltar a Gotham City em poucas horas (nada mau para quem estava
preso no meio do nada em um país distante e sem um tostão no bolso).
As coisas só voltam a esquentar no final, quando a
pancadaria toma conta e a gente esquece os furos no roteiro e se concentra nas
cenas de ação muito bem encenadas. Mas infelizmente é pouco para salvar o
filme, que padece também da total falta de humor, da mão pesada de Nolan na
direção e da trilha musical barulhenta e óbvia do abominável Hans Zimmer.
Todavia, o que mais incomoda no filme é terem usado o Batman para tentar denegrir o movimento "Occupy Wall Street", fazendo de Bane e seus discursos contra o sistema uma metáfora dele. Dessa forma, Batman assume um viés francamente fascista ao se aliar às forças policiais para acabar com o movimento criado pelo vilão que começa com um ataque justamente à Bolsa de Valores de Gotham. Ou seja, Hollywood novamente promove uma completa inversão de valores, alinhando o "Occupy Wall Street" aos bandidos que devem ser combatidos pelas "forças do bem".
No final, as portas são deixadas abertas para uma
continuação que certamente virá. Agora é esperar para ver o que vão fazer com a
franquia.
Cotação: * *