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terça-feira, 12 de abril de 2016

Filmes: "O Regresso"

“À PROVA DE TUDO” METIDO A BESTA

Filme é bonito e bem feito, porém não consegue disfarçar que é um super espetáculo inflado e vazio feito na medida para abocanhar prêmios da indústria cultural estadunidense

- por André Lux, crítico-spam

Não gosto do cineasta Alejandro Iñárrito, mas ele é queridinho dos críticos e da academia de cinema de Hollywood, tanto é que seus filmes sempre recebem elogios rasgados e o sujeito já ganhou dois prêmios Oscar de melhor diretor seguidos (o primeiro por "Birdman" e o segundo por esse "O Regresso")! 


Não que ele não seja talentoso, pelo contrário. O problema é sua pretensão imensa e a total falta de sutiliza com que tenta enfiar goela abaixo do espectador o quanto seus filmes são geniais e diferentes. Em “O Regresso”, Iñárrito chega a copiar planos sequências inteiros do filme “Zerkalo” de Andrei Tarkovsky sem a menor vergonha (não fui eu quem descobriu isso, achei neste link). “Ninguém deve lembrar mesmo ou então vão me achar genial ao perceber minha homenagem ao brilhante e obscuro cineasta russo de outrora”, certamente pensou o mexicano. Veja as evidências abaixo:



Sinceramente, para mim isso pouco importa. O que vale é o resultado final da obra e “O Regresso” não é lá grande coisa e parece mesmo mais um exercício de estilo do cineasta em questão, cheio de pompa, mas sem muita circunstância. Apesar de se vender como baseado em uma história real, o filme é quase todo pura ficção e poderia muito bem ser chamado de “Highlander – O Regresso”, já que o protagonista feito pelo finalmente oscarizado Leonardo DiCaprio certamente é um daqueles imortais que só morrem mesmo quando tem a cabeça cortada do resto do corpo.

O tão comentado ataque do urso é realmente impressionante de tão bem feito (a gente custa a acreditar que foi todo feito em computação gráfica), mas acaba sendo por demais exagerado e alongado. Não tem como alguém sobreviver àquilo. Mas bastou uns dias preso a uma maca, umas horas enterrado vivo e um tempo se arrastando pela neve, que o nobre Hugh Glass já sai andando praticamente numa boa, cavalga em disparada e até cai de um desfiladeiro sem sofrer mais nenhum arranhão!

Digo nobre porque o protagonista é um daqueles sujeitos que são bons em tudo: protetor dos nativos americanos (foi casado com uma e teve filho com ela, que protege do racismo onipresente), fala a língua deles, conhece todas as rotas, sabe sobreviver nas condições mais adversas - chega até a cauterizar uma ferida igual ao Rambo, come carne crua, abre um cavalo morto e dorme dentro dele para não congelar, etc. Ou seja, é a versão do século 19 do Bears Grylls, aquele sujeito que faz o programa “À Prova de Tudo”.

Eu gosto do Leonardo DiCaprio, sempre achei ele um bom ator (sua melhor atuação foi em “Os Infiltrados”), mas aqui se limita a grunhir e fazer cara de enfezado, enquanto passa pelas mais terríveis peripécias. O papel exige mais dele fisicamente do que outra coisa, portanto não impressiona no quesito interpretação, até porque ele REALMENTE sofreu tudo aquilo que vemos nas telas durante as filmagens realizadas em locações sob temperaturas congelantes! 

A incrível variedade de expressões de Leonardo durante o filme
Fosse apenas um filme realista sobre a luta de um montanhês para sobreviver, até seria uma boa aventura. Mas Iñárrito não se aguenta e enfia um monte de cenas de delírios do protagonista com sua esposa, morta pelo exército, e outras imagens oníricas que só servem para deixar o filme mais arrastado do que já é. Não bastasse isso, tentam transformar “O Regresso” em mais um filme de vingança e retaliação do herói contra o vilão óbvio que causou muitas das desgraças a ele – feito aqui por Tom Hardy, o “Mad Max” novo, que, como sempre, grunhe suas falas de maneira praticamente ininteligível. Mas nem isso chega a registrar, pois em momento algum fica claro que é isso que motiva o protagonista em sua luta para sobreviver.

Tecnicamente o filme é realmente impressionante, especialmente a sequência do ataque dos nativos ao grupo do protagonista, feita toda praticamente sem cortes e filmada com câmera na mão que se movimenta sem parar. Mas chega uma hora que esse recurso cansa, já que é usado excessivamente até mesmo em simples cenas de diálogos. É novamente aquela história do diretor querendo chamar a atenção para ele e não para a história que está tentando contar. A musica composta por 
 Ryuichi Sakamoto também não ajuda em nada a mudar essa impressão, de tão fria e distanciada (às vezes soa como alguém arranhando um quadro negro).

“O Regresso” é bonito, bem feito e contém algumas sequências realmente incríveis, porém não consegue disfarçar que é um super espetáculo inflado, arrastado e, em última instância, vazio - feito na medida certa para agradar profissionais da opinião e abocanhar prêmios da indústria cultural estadunidense.

Cotação: **1/2