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sábado, 28 de julho de 2012

Filmes: "Hulk", de Ang Lee

MONSTRUOSAMENTE RIDÍCULO

Gorila verde com cara de bebê-Johnson é a estrela do primeiro (e, torçamos, último) pretenso filme-de-arte baseado em quadrinhos

- por André Lux, crítico-spam

Tudo o que tem sido dito sobre HULK é, infelizmente, verdade. O filme é realmente um horror. Chega a ser monstruosamente ridículo em praticamente todos os seus intermináveis 138 minutos de duração! É inacreditável que a Universal tenha gasto 120 milhões de dólares para produzir essa que é, de longe, a pior adaptação de um personagem de quadrinhos, indefensável em todos os aspectos, mesmo para os admiradores mais fanáticos (perto disso até mesmo o fraquinho HOMEM-ARANHA vira uma obra-prima). Uma total abominação que, tudo indica, pretendia ser o primeiro "filme de arte" baseado num comic book. Tomara que seja o último...

Essa pretensão "artística" fica evidente na tentativa de aprofundar os personagens inserindo alguns subtextos psicológicos e nuances pseudo-filosóficos que poderiam até ser louváveis, caso tudo não fosse destruído pela direção totalmente inadequada e, pior, pretensiosa-até-a-última-gota do chinês Ang Lee (o mesmo dos superestimados RAZÃO E SENSIBILIDADE e O TIGRE E O DRAGÃO). E é exatamente aí que reside o maior erro do filme: ele se leva a sério do começo ao fim, parece até novela mexicana. Não há um momento de humor, exceto aqueles involuntários que fazem a gente rir a toda hora e sempre nos momentos errados. Mesmo defeito, diga-se de passagem, do filme anterior de Lee no qual guerreiros "ninja" trocavam diálogos risíveis sobre o sentido da vida antes de sairem voando e andando em paredes.

Falando nisso, existem três seqüências em HULK que já merecem entrar de cara para a antologia das cenas mais ridículas da história do cinema: a luta do gigante verde contra três cães-monstros (incluindo aí um hilariante "poodle do inferno"), o vilão loiro (Josh Lucas) todo engessado dando choques no pobre Bruce Banner e, obviamente, toda a seqüência na qual o pai do monstro (Nick Nolte, que parece atuar sob o efeito de drogas alucinógenas) grita e baba, culminando com ele mordendo alucinadamente um fio de alta tensão!

E, por falar no papai Banner, toda a trama envolvendo a história do cientista louco que injeta em si mesmo suas experiências, passando os resultados para o seu filho, é inútil e redundante. Poderia ter sido eliminada sem maiores prejuízos. Ao menos deixaria o filme mais curto e menos tedioso, livrando-nos da penosa experiência de ser obrigados a ouvir diálogos pretensamente profundos que soam incrivelmente rasos e fora de lugar, já que são calcados em psicologia de almanaque. Que besteira é aquela sobre "memórias reprimidas"? Trata-se de um filme sobre um homem que fica nervoso e vira um monstro verde, pelo amor de deus!

Mas nada pode salvar um filme que traz como principal chamariz uma criatura tão lamentavelmente criada como o HULK em questão. Os efeitos não são ruins, pelo contrário. O problema é mesmo o design do monstro, que ficou parecendo um gorila verde com cara de bebê-Jonhson. Pior, Hulk é oco, sem vida. Seus ataques não têm peso (tudo é filmado em velocidade acelerada, o que impede que se criem relações de escala), suas motivações não existem, seus gritos histéricos são patéticos. Com um material como esse em mãos, nem mesmo os melhores técnicos em computação gráfica podem salvá-lo do desastre. O fracasso da figura do monstro é tão evidente que nem mesmo os brinquedos derivados do filme seguem o design do Hulk visto nas telas!

E se não bastasse tudo isso, escolheram para fazer o papel de Bruce Banner um sujeito com talento limitado e carisma zero (Eric Bana). Nem mesmo sua relação com Betty Ross provoca qualquer tipo de emoção, primeiro porque o casal já inicia o filme em fase de separação (não trocam nem mesmo um carinho que seja durante toda a projeção!) e, segundo, por causa da magreza excessiva de Jenniffer Connelly que parece ter optado definitivamente pelo visual "mulher-palito", típico de modelos de passarelas. Continua bonita e talentosa (embora aqui atue no piloto automático), mas não tem mais o mesmo charme e exuberância que mostrou em filmes como O PREÇO DA TRAIÇÃO ou mesmo ROCKETEER. Ou seja: a química entre o casal é inexistente, não há qualquer erotismo ou mesmo romance e, por causa disso, não convence nem um pouco quando usam a moça para tentar acalmar o Hulk e todo o pretenso "drama" que decorre disso.

Como era de se esperar a trilha musical do amador Danny Elfman (que ao menos tem a desculpa de ter substituído na última hora o compositor Mychael Danna, cuja partitura original foi rejeitada) também atrapalha, principalmente quando insere solos de instrumentos étnicos (como um duduk e percussão africana) ou vocalizações de estilo oriental, os quais destoam completamente tanto da proposta do projeto quanto do que se vê na tela.

Sinceramente, daria pra ficar falando dos aspectos negativos do filme por horas. Por isso, para encurtar, basta dizer que ele é tão ruim, mas tão ruim, que chega a ser até engraçado. Quem quiser entrar no cinema para tirar sarro do que vê na tela, HULK do Ang Lee é a escolha certa. Um filme que, sem dúvida, já figura entre os maiores clássicos do cinema-trash-involuntário, ao lado de preciosidades como PLAN 9 FROM OUTER SPACE, de Ed Wood, e CIDADE DOS SONHOS, de David Lynch. Ou seja: é um filme que como aventura dá sono e como drama só provoca o riso.

Interessante, todavia, é notar que alguns críticos tentam nos convencer que o novo filme do chinês é uma "obra-prima" da sétima arte! Duvido muito que se HULK tivesse sido dirigido por um Peter Jackson (de O SENHOR DOS ANÉIS) ou mesmo pelos irmãos Wachowsky (MATRIX) e tivesse resultado exatamente igual ao filme de Ang Lee, esses senhores o estariam louvando tanto... Mais uma prova de que certos cineastas possuem prestígio inatacável, não importando a qualidade real de seus filmes. É ver para crer.

Cotação: Abaixo de zero

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Filmes: "Na Estrada"

REBELDES SEM CAUSA

Sair por aí se drogando, roubando, gerando filhos e vivendo na imundice para depois escrever sobre essas experiências passa longe do meu ideal de “revolução”.

- por André Lux, crítico-spam

Dizem que a chamada geração beatnik “mudou o mundo” e o comportamento das pessoas gerando uma legião de apreciadores de seu estilo de escrever. 

Pode até ser, mas para mim não eram mais do que moleques sem eira nem beira que passaram a maior parte da juventude fumando maconha, bebendo álcool e usando outras drogas pesadas enquanto viajavam de um lugar para outro sem qualquer motivo ou razão de ser e transavam entre si sem maiores consequências.

Pelo menos é isso que nos ensina essa adaptação de “Na Estrada” do papa do movimento beatnik Jack Kerouac, que morreu aos 47 anos de cirrose decorrente de seu alcoolismo. O brasileiro Walter Salles filma tudo com grande respeito à obra e quer nos convencer que aqueles garotos sem rumo e drogados seriam uma espécie de “oráculos da nova era”. Todavia tudo que produziram depois nada mais foi do que narrar suas próprias desventuras recheadas de drogas e imundice (toda vez que alguém começa a se beijar no filme vem logo uma pergunta à mente: “quando será que foi a última vez que eles escovaram os dentes?”).

Não tenho nada contra a experimentação ou mesmo a rebeldia, desde que tenha alguma causa ou sentido. Mas não é o que se vê aqui, onde todos podem ser descritos como meros rebeldes sem causa. Muita gente vai querer defendê-los dizendo que lutavam contra o sistema, mas isso é balela. Pelo menos no filme em questão não há qualquer discussão ou debate sobre isso e os personagens passam o tempo inebriados pela fumaça de seus cigarros de maconha e pelos delírios literários autoindulgentes, enquanto rumam velozmente para a autodestruição.

Ao assistir “Na Estrada” veio a mente a comparação com “Diários de Motocicleta”, o outro filme de Salles sobre uma viagem, onde acompanhamos o jovem Che Guevara conhecendo a américa latina junto com seu amigo Alberto Granado. Mas as semelhanças terminam aí. 

Enquanto em “Diários” acompanhamos o amadurecimento do protagonista decorrente das experiências e encontros que absorve durante a viagem, fato que o ajudou a se tornar um dos maiores ícones da luta contra a opressão no mundo, em “Na Estrada” observamos entediados um bando de jovens autodestrutivos perambulando de um local para o outro sem qualquer traço de amadurecimento ou mesmo aprendizado.

Numa das cenas mais repugnantes do filme, vemos Viggo Mortensen (no papel de Bull Lee, que seria o alter-ego do escritor beat William Burroughs) dormindo com o filho no colo depois de se injetar na veia com heroína ou coisa que o valha, enquanto a esposa igualmente drogada sai correndo atrás de lagartixas no mato. É por isso que essa gente se considerava “contra o sistema”? E por falar em Burroughs, seu livro mais famoso “O Almoço Nu” também virou um filme nas mãos de David Cronenberg (aqui ridiculamente chamado de “Mistérios e Paixões”) e resultou num produto igualmente intragável e inútil.

Entendo que para muita gente esse mundo repleto de junkies autodestrutivos produz uma forte atração, porém obviamente não é o meu caso. Sair por aí se drogando, roubando lojas, gerando filhos de maneira inconsequente e vivendo na imundice para depois escrever sobre essas experiências passa longe do meu ideal de “revolução”.

Cotação: *