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quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Filmes: "Eles Vivem", de John Carpenter

SERÃO OS NEOLIBERAIS ALIENS?

Vai agradar quem gosta de ficção científica e de filmes engajados politicamente.

- por André Lux, crítico-spam

"Eles Vivem" é um dos melhores filmes que o diretor John Carpenter produziu até hoje. O roteiro, escrito pelo próprio Carpenter (sob pseudônimo) baseado num conto de Ray Nelson, é bastante engenhoso e tira máximo proveito de todas as situações inusitadas providas pela trama sempre interessante e pertinente.

Operário desempregado (o lutador Roddy Piper, canastrão perfeito para o papel) descobre uma conspiração alienígena para dominar a mente de todos os humanos por meio de mensagens subliminares escondidas em sinais de TV. 

Tudo para transformar a Terra num planeta quente e poluído, habitat perfeito para eles. E ainda contam com a ajuda de vários humanos, que trocam a sobrevivência da espécie por dinheiro...

O que torna o filme ainda mais saboroso é a maneira pela qual ele toma conhecimento desse terrível fato: óculos escuros que, ao serem usados, deixam tudo preto-e-branco e o fazem "ver" o que realmente está acontecendo no mundo. Suas primeiras surpresas vêm quando olha para os outdoors só para ver, ao invés dos anúncios normais, palavras como "consuma", "assista TV" "não pense" ou "obedeça". Em seguida olha para uma nota de um dólar a qual, vista pelos óculos, diz "esse é o seu deus".

E não é só isso: ao olhar para algumas pessoas enquanto está sob efeito dos óculos, o protagonista vê a verdadeira natureza dos alienígenas que se escondem sob uma fachada humana também graças ao mesmo sinal subliminar. Garanto que depois de ver "Eles Vivem", você nunca mais vai se achar louco ao perguntar se tipos como Donald Trump, Daniel Dantas, a dona da Daslu ou outra figura bisonha da nossa dita "elite" não seriam de outro planeta, tamanho o grau de insensibilidade e desumanização que demonstram...



Não é a Veja?


Será Roberto Justus um alien malvado também?

"Grana é seu deus". Parece título de editorial da Folha

Depois da Daslu, nada como comprar uns comes e bebes...

Carpenter imprime à sua obra um alto teor de ironia e também uma crítica escancarada ao modelo neoliberal e à mídia que o sustenta que continua bastante atual e relevante - mesmo o filme sendo de 1988, época em que o "consenso de Washington" era enfiado goela abaixo dos governos do mundo inteiro e cujos resultados catastróficos já conhecemos bem.

Brincando com o famoso livro "Eram os Deuses Astronautas?", o filme poderia muito bem se chamar "Serão os Neoliberais Aliens?". Essa abordagem político-social aproxima "Eles Vivem" de outra interessante obra de ficção científica que também deveria provocar o mesmo tipo de reflexão nas pessoas: "Matrix", dos irmãos Wachowsky.

A famosa criatividade do diretor atinge neste filme seu ponto máximo. Suas idéias para cortar os custos da produção são brilhantes e só atuam em favor da trama, sem nunca deixar o filme muito falso ou mesmo excessivamente tosco. O fato de as cenas com efeitos especiais serem filmadas em preto e branco, um evidente recurso para gerar economia, apenas aumenta a sensação de estranheza, garante boas risadas e também algum suspense, principalmente no segundo ato durante o qual o protagonista vai ter que tentar convencer outras pessoas sobre a "verdade" que os cerca.

Temos aí uma das mais divertidas e inacreditáveis cenas do filme, exatamente quando ele tenta fazer outro operário (o ótimo Keith David, que já havia trabalhado com Carpenter em "O Enigma de Outro Mundo") a usar seus óculos. Como ele recusa, só resta aos dois saírem na porrada em uma seqüência de troca de "gentilezas" que dura vários minutos e termina de forma extremamente cômica!

Dentro de sua carreira repleta de altos e baixos, "Eles Vivem" certamente figura entre os trabalhos mais inspirados do diretor John Carpenter, que sabe como poucos tirar proveito máximo do formato widescreen, e vai agradar qualquer um que goste de ficção científica e de filmes engajados politicamente. Veja, reflita e divirta-se!

Cotação: * * * *

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Filmes: Batman Begins versus O Cavaleiro das Trevas

Ontem eu revi o "Batman Begins" e achei melhor do que quando vi no cinema. Acho que, podendo controlar o volume do som (que em algumas cenas é ensurdecedor) e da música (idem) a experiência ficou mais agradável.

Notei três coisas:

1) O primeiro filme acaba sendo mesmo melhor que o segundo. Tem mais história, mais profundidade, drama humano e humor. É espantoso como o excesso de barulho nos cinemas me deixou atordoado ao ponto de impossibilitar que eu entrasse no clima do filme. O segundo, embora solucione alguns problemas do primeiro, fica muito centrado na figura do Coringa que, mesmo sendo perturbadora, é unidimensional e raso - é apenas um vilão que quer fazer maldades.

2) A voz fodona do Batman é totalmente feita eletronicamente, a partir da fala original do Christian Bale. O que deixa tudo ainda mais ridículo, já que não é mesmo possível alguém falar naquela tom de voz gutural, porém alto e forte. Não seria mais lógico mostrar então o Bruce Wayne usando um tipo de aparelho que distorce sua voz no uniforme para não ser reconhecido? E no primeiro filme esse recurso não chega a incomodar, pois é usado mais contidamente, ao contrário do segundo, onde exageram ao ponto do grotesco.

3) Existem dois tipos de música no filme. Uma, óbvia, monocórdica e barulhenta composta pelo abominável Hans Zimmer para as cenas de ação e suspense que é puro delírio de testosterona, barulho mesmo. Até funciona junto com as imagens, porém é quase insuportável fora do filme (como 99% do que mr. Zimmer compõe, por sinal). Outra, mais contida e melódica, composta pelo James Newton Howard para as cenas mais intimistas ou dramáticas. Os dois estilos de composição são gritantemente opostos e não combinam. Uma salada de péssimo gosto. Imaginem só que o um bom compositor faria para esses filmes? Bola fora do diretor...

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Filme: "Batman - O Cavaleiro das Trevas"

MELHOR, MAS NEM TANTO

Filme não chega a ser essa obra-prima toda que estão dizendo. Não que seja ruim. Mas está distante do quadrinho de Frank Miller, no qual é supostamente inspirado.

- por André Lux, crítico-spam

Eu fui um dos que não ficaram muito entusiasmados com a nova leitura do personagem proposta pelo diretor Christopher Nolan em “Batman Begins” (leia aqui minha análise). Ok, o filme tinha muitas qualidades e era realmente superior aos de Tim Burton e Joel Schumacher (que variavam do medíocre ao puramente grotesco). Só que esbarrei também em vários problemas que depunham contra ele.

Parte desses defeitos foi solucionada em “O Cavaleiro das Trevas”, o que torna a continuação bem mais satisfatória. Assim, diferente do primeiro filme, o desenho de produção hiper-realista mantém-se coerente durante toda a projeção e as perseguições e lutas exageradas dão lugar a seqüências menos mirabolantes e bem mais verossímeis.

Ajuda muito também a caracterização perfeita do diabólico Coringa, que é literalmente encarnado por Heath Ledger, um ator que até então nunca convenceu. Coitado, foi morrer logo quando finalmente demonstrou talento! O tênue limite entre a loucura e a obsessão sugerido no relacionamento entre ele e o Batman é bem orquestrado e chega a perturbar. Assim como a ascensão e queda do promotor Harvey Dent (o carismático Aaron Eckhart), embora sua caracterização como o “Duas Caras” tenha ficado um pouco exagerada e sua mudança de comportamento não seja plenamente justificada no roteiro.

Mas, infelizmente, nem tudo são flores. Vários dos problemas do filme original não foram solucionados e outros foram adicionados. Chrstian Bale continua neutro como Bruce Wayne e, ao vestir a fantasia do homem-morcego, insiste em usar aquela voz de “machão nervoso sussurante” totalmente inconvincente e por vezes ridícula - principalmente quando ele está conversando com alguém que já conhece a sua identidade secreta! E, ainda que tenham tentado criar uma roupa mais leve e flexível, o Batman continua duro e pesado, forçando suas cenas de luta a serem truncadas na edição para esconder esse fato.

A trilha musical de Hans Zimmer e James Newton Howard (cujos "estilos" de composição não casam) até funciona com as imagens, mas é óbvia, pesada demais, sem nuances e não acrescenta nada ao drama dos personagens. Pelo contrário.

Não entendi também porque trocaram a sem graça Katie Holmes do original pela esquisita e igualmente sem graça Maggie Gillenhall. Isso é uma burrice que nunca funcionou em qualquer outro filme. Deveriam ter mantido a mesma atriz, inventado outra personagem para servir de interesse romântico ou, já que iam trocar mesmo, escolher uma atriz mais bonita e carismática para compensar. Do jeito que ficou não faz sentido e ainda atrapalha o resultado final.

Também não gostei nem um pouco da bat-moto, que em várias cenas balança perigosamente e parecia ser bem lenta e difícil de manobrar (o que não conseguem esconder nem apelando para uma montagem rápida das tomadas!). Até ele usá-la em uma emergência, vá lá. Mas depois, quando tem que correr contra o relógio de um lado para o outro para salvar vidas, não cola.

Sei que vão me chamar de mal-humorado, mas tudo bem. Não tenho como mudar minha opinião sobre o filme por causa do que outros pensam dela. Eu queria muito gostar de “O Cavaleiro das Trevas”, mas no final das contas, o filme não chega a ser essa obra-prima toda que os profissionais da opinião estão dizendo. Não que seja ruim, longe disso. Mas ainda está distante do quadrinho de Frank Miller, no qual é supostamente inspirado.

Cotação: * * * 1/2