Postagem em destaque

SEJA UM PADRINHO DO TUDO EM CIMA!

Contribua com o Tudo Em Cima!   Para isso, basta você clicar no botão abaixo e ir para o site Padrim, onde poderá escolher a melhor forma d...

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Filmes: "007 Contra Spectre"

AOS TRANCOS E BARRANCOS

Daniel Craig nem disfarça o tédio com o novo filme e desfila com a mesma cara aborrecida até o final, que chega a ser patético

- por André Lux, crítico-spam

Eu não achei nada inteligente terem colocado o feioso Daniel Craig no papel do agente secreto James Bond, mas até que gostei do primeiro filme com ele, “Cassino Royale”, e o sujeito é bom ator e consegue convencer, mesmo não tendo pinta de galã (chega a lembrar o Didi Mocó, dos “Trapalhões”).

Mas a fórmula que usaram para impulsionar os novos filmes do 007, tentando humanizar o personagem e deixá-lo mais realista e emotivo, já começou a dar água no segundo capítulo, “Quantum of Solace”, e chegou ao fim com o superestimado “Skyfall”. Até porque não tinha nada de novo nessa aproximação, já que apenas imitaram o que foi usado com sucesso na saga “Jason Bourne”, com Matt Damon.

Nesse quarto filme, “Spectre”, tentam amarrar as pontas soltas deixadas pelos três filmes anteriores inventando que todos os vilões previamente derrotados por Bond faziam parte de uma única organização, cujo chefão tem algum laço afetivo como o agente britânico – invenções do roteiro que, sinceramente, não fazem o menor sentido e beiram o ridículo.

Assim, o novo filme funciona aos trancos e barrancos enquanto Bond procura pistas vagas e sem muito nexo para descobrir quem está por trás da tal organização, novamente suspenso do serviço por um Ralph Fiennes, como M, que passa o filme todo com cara de quem sofre de prisão de ventre. Todavia, as conexões com os filmes anteriores soam forçadas e qualquer um já percebe de cara que o novo chefe do serviço secreto da Inglaterra está mal intencionado, até porque o ator que escalaram, um tal de Andrew Scott (que também ajudou a estragar “Victor Frankenstein”) é péssimo e só sabe fazer caras e bocas.

No final, o vilão máximo não passa de um total idiota, que perde seu tempo enfiando umas agulhas na cabeça de Bond ao invés de simplesmente matá-lo. Claro que ele foge e o vilão ainda tem mais uma chance de acabar com a vida dele, mas prefere brincar de esconde-esconde enquanto uma bomba está para explodir. Nos filmes antigos do 007 esse tipo de besteira era plenamente justificável, pois o tom era de deboche e fantasia, oposto do que se tenta aqui. O filme se dá ao luxo de desperdiçar Christoph Waltz num papel tolo e sem qualquer expressão.

Assim como em “Skyfall”, Bond demonstra ser um total incompetente já na primeira cena, quando deixa os vilões vê-lo pela janela, provoca um desmoronamento e quase mata o povo que estava celebrando o Dia dos Mortos no México enquanto luta dentro de um helicóptero. Depois faz outras bobagens imperdoáveis, como deixar o capanga do vilão vivo depois de um acidente, e no final, a mocinha sair andando sozinha pela rua.

Daniel Craig nem disfarça o tédio com o novo filme e desfila com a mesma cara aborrecida até o final, que chega a ser patético. Vai me dizer que James Bond iria abandonar tudo por uma mulher sem graça e chata como aquela que ele acabou de conhecer, feita pela sempre inexpressiva Léa Seydoux? Se ainda fosse pela bela Monica Bellucci, que ele transa no meio do filme com direito a cinta-liga e tudo, até daria para engolir!


Ciò è un bel pezzo di donna, mio caro James Bond!
Pra mim o maior erro foi terem chamado para dirigir os dois últimos filmes o pretensioso Sam Mendes (de “Beleza Americana”), um cineasta sempre encantado com o próprio umbigo que valoriza forma sobre substância e não sabe filmar cenas de ação, deixando tudo bonito e luxuoso, mas sem qualquer emoção. Se não bastasse isso, fotografaram tudo num tom amarelo-pastel horrível, deixando “Spectre” com jeito daqueles pseudo-filmes de arte bem modorrentos.

Se não bastasse tudo isso, o filme não tem qualquer humor, o que é fatal para um filme de James Bond, e os personagens secundários, como Q e Moneypenny, não tem o que fazer a não ser ficar andando de um lado para o outro com cara de assustados. A única coisa boa, além da produção requintada e das locações bonitas, é a defesa que fazem da democracia e a condenação do uso indiscriminado de vigilância que acaba com a privacidade das pessoas e só serve para deixar o mundo ainda mais refém do medo e do terrorismo. Isso deixa o filme com ar "de esquerda", assim como também aconteceu com "Quantum of Solace" e por causa disso ganha uma estrelinha a mais na minha cotação!

Tomara mesmo que esse seja o último dessa saga com Daniel Craig. Já estão dizendo que o próximo James Bond pode ser interpretado por um negro. Sinceramente, qualquer coisa é melhor do que essas besteiras que obrigaram o personagem a viver.

Cotação: **

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Filmes: "Creed"

CONTINUAÇÃ-DERIVAÇÃO

Não tem a mesma emoção catártica dos primeiros “Rocky”, mas mostra o boxe com tintas mais realistas e é muito bem dirigido, roteirizado e fotografado

- por André Lux, crítico-spam

"Creed" é uma espécie de continuação-derivação da franquia "Rocky", que começou em 1976 e levou ao estrelato o simpático canastrão Sylvester Stallone, que aqui retorna como coadjuvante, já que o protagonista é o rapaz que dá título ao filme, Adonis, filho bastardo do ex-campeão Apollo Creed, o adversário de Rocky nos dois primeiros filmes que vira seu treinador no terceiro e morre no quarto.

O grande mérito do primeiro "Rocky" foi ressuscitar o velho "sonho americano", que estava em franca decadência naquela época e prega que qualquer um pode chegar lá no topo, bastando se esforçar muito para isso. Hoje em dia chamam a essa ladainha de "meritocracia" e coisas do gênero, mas o princípio é sempre o mesmo. Assim, o "Garanhão Italiano" realizava o sonho da maioria dos espectadores ao vencer na vida e ser reconhecido, algo que acontece apenas esporadicamente no mundo real e serve só para confirmar o quanto essa filosofia de vida é puro papo-furado.

Depois de seis continuações progressivamente piores (no quarto episódio Rocky transforma-se no Rambo dos ringues e derrota os malvados comunistas na base do soco), Stallone resolveu dar adeus ao personagem em "Rocky Balboa", que deveria ser um retorno às origens, mas acabou sendo um espetáculo um pouco deprimente (leia aqui minha crítica).

Surge então esse "Creed", que para surpresa geral acaba sendo um bom filme, principalmente devido aos aspectos técnicos da produção, que se esmera em filmar as lutas com um grau de realismo bem diferente do que os outros filmes da saga mostravam. A primeira luta mais importante, por exemplo, é filmada toda em um único plano-sequência sem cortes com excelente resultado, certamente algo muito difícil de ser feito.

O roteiro busca distanciar o protagonista, feito pelo competente Michael B. Jordan, do clichê do "pobre menino que quer vencer na vida", já que ele foi resgatado do reformatório bem jovem pela ex-mulher de Apollo e teve uma vida cheia de conforto, ao ponto de se dar ao luxo de largar um emprego bem remunerado em um grande escritório para correr atrás do seu sonho de virar lutador, como o pai.

Essa aproximação acaba funcionando com uma faca de dois gumes, pois deixa o filme mais realista e bem menos açucarado, mas acaba impedindo momentos de maior catarse quando chega ao clímax, que é justamente o que busca quem curte esse tipo de filme. Fica tudo num meio termo que se não chega a ofender a inteligência, também não empolga como os outros capítulos, afinal o protagonista se comporta muito mais como um menino mimado enfezado do que alguém que tem o “olho do tigre”, como o Rocky original.

Claro que a luta final entre o rapaz e o campeão mundial é totalmente fantasiosa, já que um estreante como ele não aguentaria mais do que dois rounds contra um oponente experiente como aquele e seria derrotado psicologicamente de cara pelo próprio peso do evento. Poderiam ter tentando ao menos deixar tudo mais verossímil, mostrando Adonis disputando mais lutas até chegar ao confronto com o campeão, como fizeram corretamente no primeiro “Rocky”.

A melhor coisa do filme acaba sendo a presença de Stallone, que atua como treinador do rapaz e tem as melhores falas do filme, misturando aquelas velhas frases de superação do gênero com tiradas de auto-gozação impagáveis contra a personalidade de bobo-bonzinho de Rocky. O roteiro investe um bom tempo no desenvolvimento do relacionamento entre os dois e é bem eficaz em traçar um paralelo entre a luta do filho de Apollo para ser reconhecido e de Rocky contra uma doença que pode ser fatal.

Outro ponto positivo é a trilha musical composta pelo jovem sueco Ludwig Goransson que sabe ser intimista e grandiloquente na medida certa, incorporando os temas originais compostos por Bill Conti aos temas novos que criou para o novo filme.

Enfim, para quem gosta do gênero “Creed” é uma boa pedida. Não tem o mesmo nível de emoção catártica dos primeiros “Rocky”, mas mostra o boxe com tintas mais realistas e é muito bem dirigido, roteirizado e fotografado, coisa cada vez mais rara no cinema comercial estadunidense. E, curiosamente, esse é o primeiro filme da franquia que não tem qualquer participação de Stallone por trás das câmeras.

Cotação: * * * 1/2

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Ennio Morricone ganha o Globo de Ouro por "Os Oito Odiados"


Sensacional o discurso do Tarantino pelo prêmio ao mestre Ennio Morricone por sua partitura para "Os Oito Odiados"! Falou tudo que precisava ser falado!

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Minha participação no Acesso Geral falando sobre Star Wars

Filmes: "Os Oito Odiados"

TARANTINO DOS BONS

Estranhamente, não vem agradando da mesma forma que os filmes anteriores do diretor, algo que demonstra a dificuldade que muitos tem de reconhecer uma obra de arte de qualidade

- por André Lux, crítico-spam


Seis filmes depois do revolucionário “Pulp Fiction”, o diretor e roteirista Quentin Tarantino finalmente volta a acertar o alvo com “Os Oito Odiados” (a tradução correta deveria ser “Os Oito Odiosos”), uma homenagem-paródia aos lendários spaguethi-westerns italianos, cujo maior autor foi o grande Sergio Leone.

Quem acompanha minhas críticas sabe bem que não entro nessa onda de ficar babando o ovo de qualquer cineasta só porque ele fez um grande filme e aí todo mundo, especialmente muitos críticos, sentem-se obrigados a rasgar elogios para qualquer coisa que lançam depois, correndo o risco, caso não emitam uma opinião positiva, de serem chamados de burros ou outros adjetivos ainda menos cordiais.

Assim, apesar de considerar “Pulp Fiction” um dos meus 20 filmes favoritos, não entrei no vagão que louvou todos os outros filmes que Tarantino produziu depois. Por isso sinto-me bem à vontade para dizer que “Os Oito Odiados” é seu melhor filme desde “Pulp Fiction” e tão bom quanto. Tudo que o cineasta tentou imprimir em seus outros filme está presente aqui, só que de forma primorosa. Os diálogos afiados, o humor (muito) negro, a porrada no racismo e, claro, a violência exagerada que são suas marcas registradas, porém poucas vezes atingidas com o sucesso aqui alcançado.

O filme tem mais de três horas de duração, mas parece que não dura nem uma hora (e olha que já vi duas vezes e a sensação é a mesma), o que é sempre um grande elogio. Tarantino é um dos últimos diretores de cinema no sentido literal do termo, do tipo que sabe construir clima, usar pausas e lapidar os enquadramentos de forma artística. Mas com a exceção de “Pulp Ficton”, “Cães de Aluguel” e agora em “Os Oito Odiados”, desperdiçou tudo isso nos seus filmes subsequentes em favor de um egocentrismo e uma pretensão desmedida que acabaram deixando de lado a estória em favor dos maneirismos do cineasta, fatores que só servem para diluir o impacto das cenas e alongar a projeção desnecessariamente, como aconteceu em “Bastardos Inglórios” e “Django Livre”, principalmente. 


Esse oitavo longa de Tarantino traz pela primeira vez uma trilha musical original composta por ninguém menos do que o grande Ennio Morricone, um dos maiores gênios da música para o cinema de todos os tempos, de quem o cineasta é admirador confesso e sempre usou faixas de suas trilhas antigas em seus filmes, algo que nem sempre funciona e muitas vezes tem efeito contrário ao desejado. Morricone escreveu sua nova partitura diretamente para o roteiro, muito tempo antes do filme ficar pronto (como era comum nas obras de Leone) e Tarantino editou o filme sobre a música (normalmente o processo é o oposto desse). Isso dá a “Os Oito Odiados” uma outra dimensão, pois a música tem papel fundamental no desenrolar da trama e o filme respira em cima dos tempos compostos por Morricone. 


Morricone e Tarantino, juntos afinal
Uma curiosidade sobre a música é que, além de algumas canções anacrônicas usadas no filme como é comum na obra de Tarantino, algumas faixas rejeitadas da trilha sonora de “O Enigma de Outro Mundo”, do próprio Morricone, foram usadas em “Os Oito Odiados” de forma extremamente marcante. O que não deixa de ser muito interessante, pois o longa de John Carpenter tem muita relação com o novo filme do Tarantino, já que ambos se passam dentro de um local isolado no meio da neve onde o clima de paranoia e falsas identidades é a mola que impulsiona as tramas. Além, é claro, de serem ambos estrelados por Kurt Russel, sempre carismático.

Falar do elenco de “Os Oitos Odiados” é chover no molhado. Tarantino é sem dúvida um excelente diretor de atores e aqui isso fica mais do que evidente, onde todos estão ótimos em seus papeis, especialmente Samuel L. Jackson, que rouba o filme como sempre, sem nunca se repetir. Até o pouco conhecido Walton Goggins, como o suposto xerife de Red Rock, convence plenamente e a sempre excêntrica Jennifer Jason Leigh vira o diabo em pessoa quando o roteiro assim pede.


É impressionante também como Tarantino muda o tom do filme de uma sequência para outra sem perder o fio da meada. Durante todas as cenas entre os odiosos do título, o clima é de humor negro, com a violência explodindo de tempos em tempos e o sangue jorrando em profusão como efeitos sempre cômicos (a cena em que vomitam sangue me fez rir muito, parecia coisa do Monty Phyton!). Mas, quando os atos de violência atingem pessoas “inocentes”, o clima é de puro horror e cada bala que fura o corpo de um dos personagens parece atingir a plateia de forma brutal.

O tema “ódio racial” é muito bem usado no filme, bem diferente do que aconteceu em “Django Livre”, onde o excesso de verborragia e auto-indulgência acabavam provocando o efeito contrário. A cena em que o caçador de recompensas vivido por Jackson conta como matou um de seus perseguidores e sua conclusão é antológica.

Algo que me chamou a atenção no roteiro foi a forma como Tarantino usou para pedir desculpas pelo excesso de seus filmes anteriores, onde defendeu a tese de que qualquer pessoa que apoiou ou usufruiu da escravidão ou de outro regime deplorável desse tipo pode e deve ser sumariamente executada por um "anjo vingador", algo moralmente intolerável, pois é fácil hoje condenar quem se apropriou do trabalho escravo, porém é preciso lembrar que naquela época a escravidão era algo permitido por Lei.

Assim, Tarantino coloca na boca do personagem de Tim Roth uma belíssima defesa do Estado Democrático de Direito que vai na contramão do que ele endossou em “Bastardos Inglórios” e “Django Livre”. Será que ele leu minha crítica? Óbvio que não, mas certamente muita gente reclamou disso mundo afora e ele provavelmente tomou ciência.

Se não bastasse tudo isso, o filme ainda tem uma fotografia espetacular e foi todo rodado em Panavision 70mm. Estranhamente, “Os Oito Odiados” não vem agradando da mesma forma que os filmes anteriores do diretor, algo sempre estranho de se ver e que apenas demonstra a dificuldade imensa que algumas pessoas tem de reconhecer uma obra de arte de qualidade atualmente. Uma pena.

Cotação: * * * * *