AULA DE COMO NÃO FAZER CINEMA
Edição especial traz 30 minutos de interessantes cenas inéditas e documentários que desvendam sua caótica produção
- Por André Lux, crítico-spam
A edição especial de "Alien 3", que traz dois discos e pode ser adquirida junto ao Box "Quadrilogia Alien" com 9 DVDs ou separadamente, é uma verdadeira aula sobre como se faz cinema em Hollywood. Se bem que neste caso está mais para "como não se deve fazer" cinema.
O terceiro capítulo da série (e supostamente o último antes do péssimo "Alien: A Ressurreição") foi um grande fracasso de bilheterias e de crítica na época do seu lançamento. Embora tenha seus defensores, principalmente por causa do clima claustrofóbico, da perturbadora música de Elliot Goldenthal e do bom desenho de produção, é difícil negar que o filme não chega nem aos pés quando comparado ao suspense e ao horror do primeiro "Alien: O Oitavo Passageiro" ou ao ritmo frenético da continuação "Aliens - O Resgate".
E o que antes era mera conjectura acerca dos motivos que levaram o projeto ao naufrágio agora se transforma em fato, graças aos excelentes documentários que desvendam a produção de "Alien 3" desde a sua concepção até o lançamento nos cinemas: simplesmente não havia um roteiro pronto, nem mesmo durante as filmagens!
Não adianta, portanto, culpar o diretor David Fincher (que depois se consagraria em filmes como "Seven - Os Sete Crimes Capitais" e "Clube da Luta", aqui em sua estréia num longa-metragem), pois ele literalmente "pegou o bonde andando" herdando um projeto que vinha sendo desenvolvido há vários anos sem sucesso e já havia passado pelas mãos de Renny Harlin (de "Duro de Matar 2" e de Vincent Ward (de "Amor Além da Vida").
Sem ter um roteiro consistente para seguir e sofrendo constante pressão dos executivos da Fox, sobrou para Fincher a impossível missão de tentar salvar o projeto dando forma e conteúdo a toda aquela bagunça. O designer original do Alien, H.R. Giger, foi contratado para criar um novo modelo da criatura, supostamente mais ágil e veloz (na época diziam que seria um cruzamento entre "um jaguar e um trem de carga"), porém a maioria de suas contribuições foram descartadas (Giger acabou processando a Fox quando não recebeu créditos na continuação "Alien - A Ressurreição")
Confesso que ver "Alien 3" nos cinemas foi uma grande decepção. E o filme nunca melhorou numa revisão. Pelo contrário, ficou ainda pior principalmente por causa dos efeitos visuais lamentáveis que usaram para tentar movimentar a criatura - basicamente uma marionete fotografada contra um fundo azul. A coisa só melhorava um pouco quando filmavam um ator vestindo a roupa de Alien. Mas, fora isso, o resto do enredo era uma salada indigesta de todos os clichês de "filme de prisão", trazendo uma série de carecas fanáticos religiosos e irritantes cuja única função na tela era servir de jantar para o monstro-babão, que aqui não tem nada a fazer exceto ficar correndo de um lado para o outro. Sinceramente, nunca pensei que fosse torcer pelo Alien até ver este terceiro capítulo da série!
Mas o interessante é perceber que fica fácil ser mais condescendente com o filme depois que se assiste aos making-of, pois se levarmos em conta o caos que foi a produção de "Alien 3" é um milagre que tenham conseguido terminar as filmagens. E essa tolerância aumenta ainda mais na Versão Estendida a qual tem 30 minutos de imagens inéditas e apresenta algumas mudanças que, embora não sejam suficientes para salvá-lo, dão ao filme mais profundidade e riqueza.
Duas adições merecem destaque, já que mudam bastante o resultado. A primeira acontece no início do filme, quando o EEV cai no planeta Fiorina "Fury" 161. Diferente da versão cinematográfica, a tenente Ripley (Sigourney Weaver) é encontrada semimorta na praia pelo médico da prisão (Charles Dance), que a leva para dentro do complexo. Enquanto tentam reanimá-la, somos apresentados à concepção original do Alien no roteiro. Aqui ele sai de dentro de um boi, não de um cachorro. Há uma cena no matadouro que mostra os homens trazendo o bovino morto para dentro. No final da tomada, um deles mostra um facehugger (abraçador de rostos) diferente, maior e mais escuro, dando a entender que seria um modelo especial para depositar a futura Rainha-Alien no hospedeiro.
Várias dessas seqüências até então inéditas no começo do filme restauram imagens captadas pelo fotógrafo original de "Alien 3", o brilhante Jordan Cronweth (de "Blade Runner"), que estava sofrendo de Mal de Parkinson e teve que ser substituído por Alex Thomson após rodar tais cenas.
Outra mudança drástica em relação ao original diz respeito à seqüência na qual Ripley e os prisioneiros tentam prender o Alien. Na versão dos cinemas eles apenas conseguem explodir os túneis e matar um monte de gente, mas aqui a ação continua e eles realmente aprisionam a criatura! O personagem Golic, que estava preso numa camisa de força na enfermaria e não era mais visto na versão dos cinemas, acaba se soltando e, num arroubo de fervor religioso psicótico, liberta o Alien - que ele passou a considerar um "mensageiro de deus" depois de vê-lo matando o médico da prisão.
Outras adições servem para reforçar o aprofundamento psicológico de alguns prisioneiros (especialmente o líder Dillon, feito por Charles S. Dutton) e corrigem muitos furos que existiam na montagem que foi para os cinemas (o mais grave deles relativo ao desaparecimento de Golic).
Tudo isso não é suficiente, porém, para transformar "Alien 3" num grande filme. Existem ainda muitos pontos frouxos no roteiro - o mais gritante deles foi terem eliminado logo de cara o médico, que era o único personagem interessante da prisão - e os efeitos visuais de movimentação da criatura deixam muito a desejar...
Todavia, a nova edição do filme tem sim o mérito de trazer "Alien 3" mais próximo da visão do diretor Fincher e isso tende a deixá-lo um pouco melhor e mais interessante do que bagunça sem nexo que estávamos acostumados a ver até agora.
Cotação:
Versão dos cinemas: * *
Versão estendida: * * 1/2
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