PRETENSÃO DEMAIS
Embora técnicamente brilhante, filme peca pelo excesso de maneirismos e pela falta de um final realmente forte e impactante
- por André Lux, crítico-spam
Depois do impressionante (e merecido) sucesso de CENTRAL DO
BRASIL no mundo inteiro, o diretor Walter Salles resolveu adaptar para o sertão
nordestino um livro de Ismail Kadaré que se passa nos Balcãs e narra a história
de duas famílias rivais que se matam em nome da honra e do "olho por
olho".
O roteiro narra o momento em que o filho mais velho dos
miseráveis Breves (Rodrigo Santoro, que tem cara de tudo menos de nordestino
miserável) tem que matar o assassino de seu irmão, perpetuando assim o ciclo de
bestialidade e vingança que rege a vida deles. O único que se revolta contra
isso tudo é o caçula (Ravi Ramos Lacerda) que é resposável por uma das melhores
falas do filme: "Em terra de cego, quem tem olho o pessoal acha que é
doido!".
Apesar da trama forte e pertinente (que poderia ter rendido
um excelente paralelo com a vida moderna), os realizadores de ABRIL DESPEDAÇADO
optaram por uma aproximação calculadamente fria, construída sobre emoções
contidas e cenografia altamente estilizada. Tudo isso com um único motivo:
preparar o caminho para o final que deveria trazer uma explosão de emoções,
causando assim a redenção dos personagens e, de quebra, do espectador.
Infelizmente, Salles falhou na conclusão e com ele foi a
pretensão de transformar ABRIL DESPEDAÇADO em um novo CENTRAL DO BRASIL, que
era emocionante justamente por ser singelo e honesto. Aqui tudo é friamente
calculado para parecer distante e árido, inclusive o sofrimento e a dor dos
personagens. Se José Dumont dá um banho de interpretação no papel do patriarca
dos Breves, homem duro e ignorante, o mesmo não se pode dizer do resto do
elenco, onde o maior problema é justamente o impassível Santoro que falha em
sua cena chave e compromete o filme deixando claro que ainda não tem condições
de levar um roteiro desses nas costas.
Embora técnicamente brilhante, onde os destaques são a
fotografia do mestre Walter Carvalho e a música de Antônio Pinto, ABRIL
DESPEDAÇADO peca justamente pelo excesso de maneirismos e pela falta de um
final realmente forte e impactante que justifique tamanha pretensão. Uma pena.
Cotação: **1/2