Ennio Morricone rege ao vivo o tema principal de "Quando Explode a Vingança" ("Duck You Sucker!" ou "A Fistfull of Dinamite"). Simplesmente de arrepiar todos os fios de cabelo do corpo...
Postagem em destaque
SEJA UM PADRINHO DO TUDO EM CIMA!
Contribua com o Tudo Em Cima! Para isso, basta você clicar no botão abaixo e ir para o site Padrim, onde poderá escolher a melhor forma d...
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Luto: Morre o ator Leslie Nielsen
O ator Leslie Nielsen morreu neste domingo (28) aos 84 anos em um hospital de Ft. Lauderdale, no estado americano da Flórida. O canadense teria morrido de complicações devido a uma pneumonia.
A notícia foi divulgada pela rádio canadense CJOB, com informações de um sobrinho de Nielsen. Nielsen foi um dos protagonistas do clássico "O Planeta Proibido", de 1956, no qual interpretou o capitão da nave espacial. Depois, estrelou "O Destino do Poseidon", de 1972.
Mas ator é lembrado especialmente por seus papéis cômicos em filmes como Apertem os cintos, o piloto sumiu!" (1980), "Corra que a polícia vem aí" (1988) – e as sequências "Corra que a Polícia Vem Aí 2½" (1991)" e "Corra que a Polícia Vem Aí 33⅓" (1994) –, "Drácula - morto, mas feliz" (1995), "Duro de espiar" (1996), "Mr. Magoo" (1997), além de ter participado da série "Todo mundo em pânico".
A notícia foi divulgada pela rádio canadense CJOB, com informações de um sobrinho de Nielsen. Nielsen foi um dos protagonistas do clássico "O Planeta Proibido", de 1956, no qual interpretou o capitão da nave espacial. Depois, estrelou "O Destino do Poseidon", de 1972.
Mas ator é lembrado especialmente por seus papéis cômicos em filmes como Apertem os cintos, o piloto sumiu!" (1980), "Corra que a polícia vem aí" (1988) – e as sequências "Corra que a Polícia Vem Aí 2½" (1991)" e "Corra que a Polícia Vem Aí 33⅓" (1994) –, "Drácula - morto, mas feliz" (1995), "Duro de espiar" (1996), "Mr. Magoo" (1997), além de ter participado da série "Todo mundo em pânico".
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
Filmes: "Fúria de Titãs" (2010)
LIXO DESPREZÍVEL
Refilmagem de clássico juvenil vira mais um filme para machos em delírio movido pelo ignóbil tema “vingança e retaliação”
- por André Lux, crítico-spam
Eu vi o “Fúria de Titãs” original quando tinha uns 11 anos de idade. Fiquei várias noites sem dormir por causa da Medusa. Para a minha geração aquele filminho despretensioso, cujos efeitos visuais baseiam-se inteiramente na técnica do stop-motion criada pelo genial Ray Harryhausen, marcou época.
E eis que os “jênios” de Roliudi resolveram refilmá-lo, agora com efeitos especiais de última geração! Mas não se engane: esse novo “Fúria de Titãs” não tem nada a ver com clima romântico da aventura original, sendo apenas mais um desses filmes para machos em delírio movidos pelo ignóbil tema “vingança e retaliação” que faz a cabeça de brucutus descerebrados mundo afora.
Assim, o roteiro sem pé nem cabeça segue os passos do igualmente desprezível “Gladiador”, trazendo um Perseu de cabelo raspado (Sam Worthington, de “Avatar”, expressivo como uma escultura de pedra) cuja missão é vingar a morte dos pais pelas mãos do deus Hades (um Ralph Fienes atacado por algum problema que o deixou afônico). Mas o que ninguém sabe é que Hades está tramando a derrubado do chefão Zeus (Liam Neeson, com visual “Jesus Cristo em armadura brilhante”) que está perdendo os poderes porque os humanos não rezam mais como antes.
Furioso, Zeus manda o Kraken, que aqui tem a altura de um prédio de 30 andares e tentáculos infinitos, destruir a cidade de Argos a não ser que o rei mate em sacrifício sua filha Andrômeda (pelo jeito isso vai fazer todo mundo voltar a rezar). No original, Perseu, que é filho de Zeus com uma humana, e Andrômeda se apaixonam e ele sai em missão a fim descobrir como deter o Kraken para salvar sua amada. Nesse novo, ele não está nem aí para a bela mocinha e só pensa em se vingar do malvado Hades, ao lado de um monte de guerreiros fortões mal humorados.
Por sinal, Perseu aprende a lutar magistralmente com uma espada depois de uma aula que dura exatos 30 segundos (tudo bem gente, ele é um semideus!). O mais estranho é que Zeus fica toda hora dando uma mão para o seu filho Perseu. Ué, mas não foi ele mesmo quem mandou o Kraken destruir Argos para dar uma lição nos humanos? Um caso clássico de esquizofrenia divina, na certa...
E aí Perseu e sua trupe passam por mil perigos, enfrentam monstros digitais genéricos, encontram os incríveis homens-carvão (é sério!), lutam com a Medusa (que desliza mais rápida que uma Ferrari), tudo ao som de uma “música” ridícula de um Zé Ruela de nome impronunciável que não passa de mais um dos clones do abominável Hans Zimmer (e lembrar que o original tinha uma trilha maravilhosa composta por Laurence Rosenthal!).
É tanta besteira e ruindade juntas que não dá nem para dar risada, pois além de tudo o filme é “super sério”, cheio de frases de efeitos e tomadas posadas. Isso quando você consegue ver alguma coisa, pois a edição frenética é daquelas que deixam qualquer um com dor de cabeça.
Perto desse lixo desprezível, o filme original vira um verdadeiro clássico! Sem brincadeira...
Cotação: *
Refilmagem de clássico juvenil vira mais um filme para machos em delírio movido pelo ignóbil tema “vingança e retaliação”
- por André Lux, crítico-spam
Eu vi o “Fúria de Titãs” original quando tinha uns 11 anos de idade. Fiquei várias noites sem dormir por causa da Medusa. Para a minha geração aquele filminho despretensioso, cujos efeitos visuais baseiam-se inteiramente na técnica do stop-motion criada pelo genial Ray Harryhausen, marcou época.
E eis que os “jênios” de Roliudi resolveram refilmá-lo, agora com efeitos especiais de última geração! Mas não se engane: esse novo “Fúria de Titãs” não tem nada a ver com clima romântico da aventura original, sendo apenas mais um desses filmes para machos em delírio movidos pelo ignóbil tema “vingança e retaliação” que faz a cabeça de brucutus descerebrados mundo afora.
Assim, o roteiro sem pé nem cabeça segue os passos do igualmente desprezível “Gladiador”, trazendo um Perseu de cabelo raspado (Sam Worthington, de “Avatar”, expressivo como uma escultura de pedra) cuja missão é vingar a morte dos pais pelas mãos do deus Hades (um Ralph Fienes atacado por algum problema que o deixou afônico). Mas o que ninguém sabe é que Hades está tramando a derrubado do chefão Zeus (Liam Neeson, com visual “Jesus Cristo em armadura brilhante”) que está perdendo os poderes porque os humanos não rezam mais como antes.
Furioso, Zeus manda o Kraken, que aqui tem a altura de um prédio de 30 andares e tentáculos infinitos, destruir a cidade de Argos a não ser que o rei mate em sacrifício sua filha Andrômeda (pelo jeito isso vai fazer todo mundo voltar a rezar). No original, Perseu, que é filho de Zeus com uma humana, e Andrômeda se apaixonam e ele sai em missão a fim descobrir como deter o Kraken para salvar sua amada. Nesse novo, ele não está nem aí para a bela mocinha e só pensa em se vingar do malvado Hades, ao lado de um monte de guerreiros fortões mal humorados.
Por sinal, Perseu aprende a lutar magistralmente com uma espada depois de uma aula que dura exatos 30 segundos (tudo bem gente, ele é um semideus!). O mais estranho é que Zeus fica toda hora dando uma mão para o seu filho Perseu. Ué, mas não foi ele mesmo quem mandou o Kraken destruir Argos para dar uma lição nos humanos? Um caso clássico de esquizofrenia divina, na certa...
E aí Perseu e sua trupe passam por mil perigos, enfrentam monstros digitais genéricos, encontram os incríveis homens-carvão (é sério!), lutam com a Medusa (que desliza mais rápida que uma Ferrari), tudo ao som de uma “música” ridícula de um Zé Ruela de nome impronunciável que não passa de mais um dos clones do abominável Hans Zimmer (e lembrar que o original tinha uma trilha maravilhosa composta por Laurence Rosenthal!).
É tanta besteira e ruindade juntas que não dá nem para dar risada, pois além de tudo o filme é “super sério”, cheio de frases de efeitos e tomadas posadas. Isso quando você consegue ver alguma coisa, pois a edição frenética é daquelas que deixam qualquer um com dor de cabeça.
Perto desse lixo desprezível, o filme original vira um verdadeiro clássico! Sem brincadeira...
Cotação: *
sábado, 7 de agosto de 2010
Filmes: "A Origem"
“MATRIX” COM MANUAL
Falta de maiores pretensões impede o filme de alcançar patamares mais elevados e tornar-se memorável.
- por André Lux, crítico-spam
A comparação entre “A Origem” e “Matrix” é inevitável, afinal ambos retratam pessoas realizando atos impossíveis em mundos virtuais. Mas o filme de Christopher Nolan (o mesmo de “Amnésia” e os dois novos “Batman”), mesmo tendo incríveis efeitos visuais e cenas de ação de tirar o fôlego, não chega ao mesmo nível da obra dos irmãos Wachawsky.
Primeiro porque o roteiro, escrito pelo próprio Nolan, não tem a mesma complexidade e profundidade de “Matrix”, que durante toda a trilogia joga peças de um quebra-cabeça que só pode ser montado pelo próprio espectador na última cena do capítulo final. E segundo – e principal – por não trazer nenhum comentário sócio-político-cultural. No fundo, trata-se apenas de um filme de entretenimento com uma trama um pouco acima do mundano, do tipo que exige o máximo de atenção do espectador e um pouco de raciocínio crítico para ligar os pontos complicados (e isso pareceu ser demais para alguns, pois vi uma dezena de pessoas simplesmente saindo do cinema no meio da projeção!). E olha que Nolan criou pelo menos dois personagens que tem a função de explicar o filme para a platéia de vez em quando! Ou seja, é “Matrix” com manual de instruções.
Não há nada de errado numa obra querer apenas divertir, é claro. Porém, essa falta de maiores pretensões impede “A Origem” de alcançar patamares mais elevados e torná-lo memorável. É o tipo de filme que prende a atenção durante a exibição, mas não fica na mente depois do seu término. No final das contas, é apenas uma fita sobre espionagem industrial, só que aqui tudo se passa no mundo dos sonhos, já que os protagonistas, liderados por um eficiente Leonardo Di Caprio, são especialistas em “roubar” informações empresariais dos subconscientes de suas vítimas enquanto elas dormem. Ou seja, não passam de criminosos comuns, o que torna a catarse final pouco emocionante - embora a conclusão seja esperta.
O filme tem alguns defeitos graves. O diretor Nolan falha ao situar a ação no tempo e no espaço, não conseguindo criar uma sociedade (futurista?) verossímil, na qual entrar nos sonhos alheios seja algo comum. Fica tudo jogado no ar, meio sem nexo. Outro problema grave é sua trilha musical, composta pelo abominável Hans Zimmer (indicado ao Oscar por imitar Ennio Morricone e Wagner em “Gladiador”), que polui o filme com uma massa musical amorfa, opressiva e sem qualquer sensibilidade temática. É difícil entender como um “músico” tão pavoroso consegue tantos bons trabalhos e, sinceramente, qualquer diretor que contrate esse sujeito já não merece muita consideração para começar.
Enfim, “A Origem” é um bom filme de entretenimento. Não espera nada mais do que isso e você com certeza vai se divertir e até exercitar o cérebro um pouco – caso dê-se ao trabalho.
Cotação: * * *
Falta de maiores pretensões impede o filme de alcançar patamares mais elevados e tornar-se memorável.
- por André Lux, crítico-spam
A comparação entre “A Origem” e “Matrix” é inevitável, afinal ambos retratam pessoas realizando atos impossíveis em mundos virtuais. Mas o filme de Christopher Nolan (o mesmo de “Amnésia” e os dois novos “Batman”), mesmo tendo incríveis efeitos visuais e cenas de ação de tirar o fôlego, não chega ao mesmo nível da obra dos irmãos Wachawsky.
Primeiro porque o roteiro, escrito pelo próprio Nolan, não tem a mesma complexidade e profundidade de “Matrix”, que durante toda a trilogia joga peças de um quebra-cabeça que só pode ser montado pelo próprio espectador na última cena do capítulo final. E segundo – e principal – por não trazer nenhum comentário sócio-político-cultural. No fundo, trata-se apenas de um filme de entretenimento com uma trama um pouco acima do mundano, do tipo que exige o máximo de atenção do espectador e um pouco de raciocínio crítico para ligar os pontos complicados (e isso pareceu ser demais para alguns, pois vi uma dezena de pessoas simplesmente saindo do cinema no meio da projeção!). E olha que Nolan criou pelo menos dois personagens que tem a função de explicar o filme para a platéia de vez em quando! Ou seja, é “Matrix” com manual de instruções.
Não há nada de errado numa obra querer apenas divertir, é claro. Porém, essa falta de maiores pretensões impede “A Origem” de alcançar patamares mais elevados e torná-lo memorável. É o tipo de filme que prende a atenção durante a exibição, mas não fica na mente depois do seu término. No final das contas, é apenas uma fita sobre espionagem industrial, só que aqui tudo se passa no mundo dos sonhos, já que os protagonistas, liderados por um eficiente Leonardo Di Caprio, são especialistas em “roubar” informações empresariais dos subconscientes de suas vítimas enquanto elas dormem. Ou seja, não passam de criminosos comuns, o que torna a catarse final pouco emocionante - embora a conclusão seja esperta.
O filme tem alguns defeitos graves. O diretor Nolan falha ao situar a ação no tempo e no espaço, não conseguindo criar uma sociedade (futurista?) verossímil, na qual entrar nos sonhos alheios seja algo comum. Fica tudo jogado no ar, meio sem nexo. Outro problema grave é sua trilha musical, composta pelo abominável Hans Zimmer (indicado ao Oscar por imitar Ennio Morricone e Wagner em “Gladiador”), que polui o filme com uma massa musical amorfa, opressiva e sem qualquer sensibilidade temática. É difícil entender como um “músico” tão pavoroso consegue tantos bons trabalhos e, sinceramente, qualquer diretor que contrate esse sujeito já não merece muita consideração para começar.
Enfim, “A Origem” é um bom filme de entretenimento. Não espera nada mais do que isso e você com certeza vai se divertir e até exercitar o cérebro um pouco – caso dê-se ao trabalho.
Cotação: * * *
quinta-feira, 29 de julho de 2010
Filmes: "Predadores"
RECOMEÇO OU REFILMAGEM?
Sem suspense, sem sustos e sem emoção, "Predadores" falha em todas as suas premissas e pretensões. Melhor rever o original e esquecer essa besteira.
- por André Lux, crítico-spam
Eu tenho uma queda por filmes de monstro. Mas são poucos que realmente valem a pena serem vistos. Esse "Predadores" não é um deles. Consegue ser pior do que os dois "Aliens vs. Predador", que pelo menos eram rápidos e despretensiosos.
O roteiro tenta ser uma espécie de continuação do filme original com Arnold Schwarzenegger, que fez sucesso em 1987 e realmente tinha méritos - como a direção segura de John McTiernam, um elenco carismático e uma música vibrante de Alan Silvestri. Mas o novo, no fundo, não passa de uma refilmagem tola e desnecessária daquele, ao ponto da trilha composta por John Debney ser quase toda baseada na de Silvestri.
Só quem nunca viu algum dos filmes originais (e suas muitas imitações) vai se impressionar com essa tolice, que segue passo a passo a construção do suspense do filme de 1987, mas sem qualquer sucesso. Verdade seja dita: filmes de monstros só funcionam quando o elemento humano é forte e bem construído. É preciso que exista um senso de camaradagem entre os personagens e que eles tenham o mínimo de ressonância, profundidade e carisma. Foi isso que garantiu o interesse até o fim em filmes como "Alien" e o "Predador" original.
Mas em "Predadores" os personagens são rasos e não tem qualquer química entre si, pois são jogados do espaço num planeta de caça dos Predadores e se conhecem ali na selva, já no calor da caçada. E é tudo gente mal caráter (para se ter uma idéia, o mais "bonzinho" ali é soldado do exército de Israel, aquele que ataca flotilhas pacíficas e mata ativistas desarmados com tiros na cabeça!). Ou seja, vão fazer você querer torcer pelos monstros! Os diálogos também não ajudam em nada e são meros clichês desse gênero. Tipo: "Onde estamos?", pergunta um deles, só para o outro responder com voz rouca: "No inferno!". Quanta originalidade...
Tecnicamente o filme também é fraco, com desenho de produção feio e direção medíocre. Nem mesmo os efeitos visuais ou de maquiagem impressionam e a edição frenética não ajuda em nada. A história também não faz sentido, principalmente quando quer inovar e inventa um outro tipo de Predador, ainda mais poderoso, que caça também seus "irmãos" menores!
Um gordo e envelhecido Laurence Fishburn, o Morpheus de "Matrix", faz uma ponta ridícula e inútil numa sequência que só traz tédio e o resto do elenco se limita a morrer violentamente até sobrarem apenas aqueles que você já sabia que iam sobreviver desde o começo, restando para o coitado do Adrian Brody (que já ganhou até Oscar!) ser o "Rambo" da vez.
Sem suspense, sem sustos e, acima de tudo, sem emoção, "Predadores" falha em todas as suas premissas e pretensões de ser um reinício da franquia. Melhor rever o original e esquecer essa besteira.
Cotação: *
Sem suspense, sem sustos e sem emoção, "Predadores" falha em todas as suas premissas e pretensões. Melhor rever o original e esquecer essa besteira.
- por André Lux, crítico-spam
Eu tenho uma queda por filmes de monstro. Mas são poucos que realmente valem a pena serem vistos. Esse "Predadores" não é um deles. Consegue ser pior do que os dois "Aliens vs. Predador", que pelo menos eram rápidos e despretensiosos.
O roteiro tenta ser uma espécie de continuação do filme original com Arnold Schwarzenegger, que fez sucesso em 1987 e realmente tinha méritos - como a direção segura de John McTiernam, um elenco carismático e uma música vibrante de Alan Silvestri. Mas o novo, no fundo, não passa de uma refilmagem tola e desnecessária daquele, ao ponto da trilha composta por John Debney ser quase toda baseada na de Silvestri.
Só quem nunca viu algum dos filmes originais (e suas muitas imitações) vai se impressionar com essa tolice, que segue passo a passo a construção do suspense do filme de 1987, mas sem qualquer sucesso. Verdade seja dita: filmes de monstros só funcionam quando o elemento humano é forte e bem construído. É preciso que exista um senso de camaradagem entre os personagens e que eles tenham o mínimo de ressonância, profundidade e carisma. Foi isso que garantiu o interesse até o fim em filmes como "Alien" e o "Predador" original.
Mas em "Predadores" os personagens são rasos e não tem qualquer química entre si, pois são jogados do espaço num planeta de caça dos Predadores e se conhecem ali na selva, já no calor da caçada. E é tudo gente mal caráter (para se ter uma idéia, o mais "bonzinho" ali é soldado do exército de Israel, aquele que ataca flotilhas pacíficas e mata ativistas desarmados com tiros na cabeça!). Ou seja, vão fazer você querer torcer pelos monstros! Os diálogos também não ajudam em nada e são meros clichês desse gênero. Tipo: "Onde estamos?", pergunta um deles, só para o outro responder com voz rouca: "No inferno!". Quanta originalidade...
Tecnicamente o filme também é fraco, com desenho de produção feio e direção medíocre. Nem mesmo os efeitos visuais ou de maquiagem impressionam e a edição frenética não ajuda em nada. A história também não faz sentido, principalmente quando quer inovar e inventa um outro tipo de Predador, ainda mais poderoso, que caça também seus "irmãos" menores!
Um gordo e envelhecido Laurence Fishburn, o Morpheus de "Matrix", faz uma ponta ridícula e inútil numa sequência que só traz tédio e o resto do elenco se limita a morrer violentamente até sobrarem apenas aqueles que você já sabia que iam sobreviver desde o começo, restando para o coitado do Adrian Brody (que já ganhou até Oscar!) ser o "Rambo" da vez.
Sem suspense, sem sustos e, acima de tudo, sem emoção, "Predadores" falha em todas as suas premissas e pretensões de ser um reinício da franquia. Melhor rever o original e esquecer essa besteira.
Cotação: *
quarta-feira, 14 de julho de 2010
Do fundo do baú: "Fuga de Nova York"
SNAKE VIVE!
Filme de 1981 resiste muito bem a uma revisão e continua a ser um das mais bem sucedidas produções classe B da história do cinema
- por André Lux, crítico-spam
“Fuga de Nova York” é uma mistura inteligente e eficaz de vários elementos de ficção científica, faroeste e terror, todos muito bem orquestrados pelo diretor John Carpenter (de “Halloween” e “Starman”), que usa toda sua criatividade para disfarçar o baixo orçamento do filme (apenas US$ 6 milhões).
Calcando seu roteiro em cima da figura carismática do anti-herói rabugento e arredio Snake Plissken (Kurt Russel, em ótima interpretação), Carpenter consegue o milagre de nos fazer acreditar numa trama completamente absurda cujo ponto de partida é a transformação, no futuro (1997!), da cidade de Nova York numa prisão de segurança máxima, dentro da qual são jogados (para nunca mais voltar) todos os tipo de criminosos.
Essa premissa maluca ganha contornos ainda mais surreais quando o avião do presidente dos EUA, o Força Aérea Um, é seqüestrado por um grupo contrário ao governo fascista e jogado dentro da prisão. Mas o presidente escapa, só para ser capturado pela gangue liderada pelo temível Duque (o cantor negro Isaac Hayes).
O problema é que o mundo está em guerra e o presidente estava indo justamente para uma conferência de paz, durante a qual iria apresentar uma fita cassete (que coisa datada!) que poderia mudar os rumos do conflito (não era mais fácil pegar o cara que falava na fita e leva-lo até a tal reunião?).
Como não podem invadir o presídio, resta ao chefe de polícia (Lee Van Cleef, o “Mau” de “Três Homens em Conflito”) coagir Snake, ex-soldado e recém-condenado a ser jogado na prisão de NY, a ajudar no resgate. Obviamente que ele aceita com relutância sem saber que só tem 22 horas para entrar e sair com o presidente, caso contrário será o fim da conferência e também do próprio Snake, que teve injetado em seu corpo duas cápsulas explosivas que só podem ser desativadas pela equipe da polícia!
Mesmo com tantos absurdos na trama, Carpenter segura com mão firme seu roteiro e para isso conta com um desenho de produção que sabe explorar muito bem as locações e com a ótima fotografia de Dean Cundey (ele depois iria trabalhar com Spielberg em vários filmes). Os efeitos especiais também são muito eficientes e nunca parecem ter sido feitos com parcos recursos. James Cameron, futuro diretor de “Titanic”, foi um dos que ajudaram na confecção dos efeitos, muito antes de sonhar em ficar famoso! A trilha musical, feita pelo próprio Carpenter em parceria com Alan Howart, também é um dos ponto altos e garante ao filme um clima de opressão e suspense constantes.
Graças a tudo isso “Fuga de Nova York” virou cult e conquistou uma grande quantidade de apreciados, gerando inclusive várias imitações. Mas, mesmo tendo sido produzido em 1981, resiste muito bem a uma revisão e continua a ser um das mais bem sucedidas produções classe B da história do cinema e, na minha opinião, é o melhor filme do diretor John Carpenter até hoje.
15 anos depois, a mesma equipe produziu uma espécie de continuação, chamada “Fuga de Los Angeles”, mas infelizmente não conseguiram chegar nem perto das qualidades do original.
Cotação: * * * *
Filme de 1981 resiste muito bem a uma revisão e continua a ser um das mais bem sucedidas produções classe B da história do cinema
- por André Lux, crítico-spam
“Fuga de Nova York” é uma mistura inteligente e eficaz de vários elementos de ficção científica, faroeste e terror, todos muito bem orquestrados pelo diretor John Carpenter (de “Halloween” e “Starman”), que usa toda sua criatividade para disfarçar o baixo orçamento do filme (apenas US$ 6 milhões).
Calcando seu roteiro em cima da figura carismática do anti-herói rabugento e arredio Snake Plissken (Kurt Russel, em ótima interpretação), Carpenter consegue o milagre de nos fazer acreditar numa trama completamente absurda cujo ponto de partida é a transformação, no futuro (1997!), da cidade de Nova York numa prisão de segurança máxima, dentro da qual são jogados (para nunca mais voltar) todos os tipo de criminosos.
Essa premissa maluca ganha contornos ainda mais surreais quando o avião do presidente dos EUA, o Força Aérea Um, é seqüestrado por um grupo contrário ao governo fascista e jogado dentro da prisão. Mas o presidente escapa, só para ser capturado pela gangue liderada pelo temível Duque (o cantor negro Isaac Hayes).
O problema é que o mundo está em guerra e o presidente estava indo justamente para uma conferência de paz, durante a qual iria apresentar uma fita cassete (que coisa datada!) que poderia mudar os rumos do conflito (não era mais fácil pegar o cara que falava na fita e leva-lo até a tal reunião?).
Como não podem invadir o presídio, resta ao chefe de polícia (Lee Van Cleef, o “Mau” de “Três Homens em Conflito”) coagir Snake, ex-soldado e recém-condenado a ser jogado na prisão de NY, a ajudar no resgate. Obviamente que ele aceita com relutância sem saber que só tem 22 horas para entrar e sair com o presidente, caso contrário será o fim da conferência e também do próprio Snake, que teve injetado em seu corpo duas cápsulas explosivas que só podem ser desativadas pela equipe da polícia!
Mesmo com tantos absurdos na trama, Carpenter segura com mão firme seu roteiro e para isso conta com um desenho de produção que sabe explorar muito bem as locações e com a ótima fotografia de Dean Cundey (ele depois iria trabalhar com Spielberg em vários filmes). Os efeitos especiais também são muito eficientes e nunca parecem ter sido feitos com parcos recursos. James Cameron, futuro diretor de “Titanic”, foi um dos que ajudaram na confecção dos efeitos, muito antes de sonhar em ficar famoso! A trilha musical, feita pelo próprio Carpenter em parceria com Alan Howart, também é um dos ponto altos e garante ao filme um clima de opressão e suspense constantes.
Graças a tudo isso “Fuga de Nova York” virou cult e conquistou uma grande quantidade de apreciados, gerando inclusive várias imitações. Mas, mesmo tendo sido produzido em 1981, resiste muito bem a uma revisão e continua a ser um das mais bem sucedidas produções classe B da história do cinema e, na minha opinião, é o melhor filme do diretor John Carpenter até hoje.
15 anos depois, a mesma equipe produziu uma espécie de continuação, chamada “Fuga de Los Angeles”, mas infelizmente não conseguiram chegar nem perto das qualidades do original.
Cotação: * * * *
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Filmes: "Alice no País das Maravilhas"
TIM BURTON E SUAS HISTERIAS
Todos os defeitos do diretor estão aqui também, com a novidade de, como foi rodado em 3D, a cada cinco minutos alguém jogar um objeto em direção à câmera.
- por André Lux, crítico-spam
Esse “Alice no País das Maravilhas” do Tim Burton é muito ruim. Todos os defeitos do diretor presentes em sua obra, exceto "Ed Wood" e "Peixe Grande e Suas Histórias", estão aqui também: histeria, péssima direção de atores, roteiro pífio, trilha musical amadorística de Danny Elfman, com a novidade de, como foi rodado em tecnologia 3D, a cada cinco minutos alguém jogar um objeto em direção à câmera.
Novamente Jonnhy Depp, agora caracterizado de Elijah Wood, se presta ao papel ridículo de ficar fazendo micagens neste filme que, na verdade, é uma espécie de continuação da história original e traz uma Alice adolescente (interpretada por uma atriz péssima que fica o filme todo com a mesma cara de emburrada) que volta ao país das maravilhas sem lembrar que esteve lá. Não há história e o roteiro resume-se a uma série de encontros da garota com os personagens clássicos, tudo intercalado com os ataques histéricos da ridícula Rainha de Copas (a horrível Helena Bonham Carter, atual “musa” do Tim Burton) e mais micagens da Rainha Branca (a coitada da Anne Hathaway, maquiada para ficar parecendo uma múmia).
No final, o filme descamba para o besteirol puro, com a franzina Alice enfrentando o terrível monstro Jabberwoky e matando-o com a maior facilidade (não estou revelando nenhuma surpresa, pois um “oráculo” conta o desfecho logo de cara). Mas nada é mais ridículo do que a heroína voltando para casa e transformando-se, do nada, em uma excepcional “mulher de negócios”, abrindo rotas de comércio até a China.
Não vale a pena escrever mais sobre essa porcaria. Nem como trash pode ser considerado, pois não chega a provocar riso involuntário, apenas constrangimento e tédio.
Cotação: *
Todos os defeitos do diretor estão aqui também, com a novidade de, como foi rodado em 3D, a cada cinco minutos alguém jogar um objeto em direção à câmera.
- por André Lux, crítico-spam
Esse “Alice no País das Maravilhas” do Tim Burton é muito ruim. Todos os defeitos do diretor presentes em sua obra, exceto "Ed Wood" e "Peixe Grande e Suas Histórias", estão aqui também: histeria, péssima direção de atores, roteiro pífio, trilha musical amadorística de Danny Elfman, com a novidade de, como foi rodado em tecnologia 3D, a cada cinco minutos alguém jogar um objeto em direção à câmera.
Novamente Jonnhy Depp, agora caracterizado de Elijah Wood, se presta ao papel ridículo de ficar fazendo micagens neste filme que, na verdade, é uma espécie de continuação da história original e traz uma Alice adolescente (interpretada por uma atriz péssima que fica o filme todo com a mesma cara de emburrada) que volta ao país das maravilhas sem lembrar que esteve lá. Não há história e o roteiro resume-se a uma série de encontros da garota com os personagens clássicos, tudo intercalado com os ataques histéricos da ridícula Rainha de Copas (a horrível Helena Bonham Carter, atual “musa” do Tim Burton) e mais micagens da Rainha Branca (a coitada da Anne Hathaway, maquiada para ficar parecendo uma múmia).
No final, o filme descamba para o besteirol puro, com a franzina Alice enfrentando o terrível monstro Jabberwoky e matando-o com a maior facilidade (não estou revelando nenhuma surpresa, pois um “oráculo” conta o desfecho logo de cara). Mas nada é mais ridículo do que a heroína voltando para casa e transformando-se, do nada, em uma excepcional “mulher de negócios”, abrindo rotas de comércio até a China.
Não vale a pena escrever mais sobre essa porcaria. Nem como trash pode ser considerado, pois não chega a provocar riso involuntário, apenas constrangimento e tédio.
Cotação: *
terça-feira, 25 de maio de 2010
Meus 20 filmes favoritos de todos os tempos
Em ordem alfabética:
2001 – UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO (2001 – A Space Odyssey), de Stanley Kubrick
2001 – UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO (2001 – A Space Odyssey), de Stanley Kubrick
A VIDA DE BRIAN (Monty Phyton's Life of Brian), do Monty Phyton
ÁGORA (Agora), de Alejandro Amenábar
ALIEN – O OITAVO PASSAGEIRO (Alien), de Ridley Scott
APOCALIPSE NOW REDUX (Apocalipse Now Redux), de Francis Ford Coppola
BLADE RUNNER (Blade Runner), de Ridley Scott
BRAZIL - O FILME (Brazil), de Terry Gilliam
CAÇADORES DA ARCA PERDIDA (Raiders of the Lost Ark), de Steven Spielberg
CIDADÃO KANE (Citizen Kane), de Orson Welles
CINEMA PARADISO (Nuovo Cinema Paradiso), de Giuseppe Tornattore
ERA UMA VEZ NA AMÉRICA (Once Upon A Time In America), de Sergio Leone
MAD MAX 2 (The Road Warrior), de George Miller
MATRIX (The Matrix), dos irmãos Wachowski
MEU TIO (Mon Oncle), de Jacques Tati
O IMPÉRIO CONTRA-ATACA (The Empire Strikes Back), de Irvin Kershner
O SENHOR DOS ANÉIS – A SOCIEDADE DO ANEL (The Lord of the Rings – The Fellowship of the Rings), de Peter Jackson
PULP FICTION (Pulp Fiction), de Quentin Tarantino
RAN (Ran), de Akira Kurosawa
SYRIANA (Syriana), de Stephen Gaghan
TEMPOS MODERNOS (Modern Times), de Charles Chaplin
segunda-feira, 24 de maio de 2010
DVD: "O Solista"
COLUNISTA TAMBÉM É GENTE
Não era um mendigo negro qualquer, não senhor! Ele havia estudado na Unicamp e sabia tocar violoncelo!
- por André Lux, crítico-spam
Era um belo dia ensolarado em São Paulo. Colunista da Folha de São Paulo (Robert Downey Jr.) dirigia-se para a sede do jornal para começar mais um dia de trabalho quando foi surpreendido por uma cena no mínimo exótica: um mendigo negro (Jamie Foxx) tocando violoncelo no meio da praça da República.
Num ímpeto instintivo, o Colunista parou o carro e foi até o artista insólito. Tentou conversar com ele, saber mais sobre sua vida, mas ouviu apenas um monte de frases desconexas. No meio daquilo tudo conseguiu descobrir o nome do sujeito e que ele havia estudado música na Unicamp.
Perplexo, o Colunista da Folha voltou para seu carro e, chegando ao jornal que publica suas opiniões, tentou descobrir mais sobre o mendigo negro que tocava violoncelo. Soube que ele tem uma irmã e que realmente estudou na Unicamp, embora tenha sido apenas dois anos antes de abandonar o curso misteriosamente.
O faro do Colunista, especialista em nutrir seus leitores pseudo-intelectuais de classe média com artigos atrativos e de fácil consumo, sentiu que tinha uma ótima oportunidade em mãos. Assim, ao invés de escrever ataques contra Lula, Evo Morales, Hugo Chávez ou qualquer outra coisa que cheirasse a esquerda progressista, o Colunista da Folha reservou seu espaço para falar do bizarro mendigo negro.
Mas não era um mendigo negro qualquer, não senhor! Ele havia estudado na Unicamp e sabia tocar violoncelo! O artigo, recheado de passagens edificantes e emocionantes, foi publicado em página nobre do jornal da “Ditabranda”.
No dia seguinte, o Colunista foi surpreendido com a reação que seu artigo provocou nos leitores. Uma enxurrada de mensagens elogiosas chegou à sua caixa de emails. O telefone não parava de tocar, todos querendo saber mais sobre o mendigo preto que tocava violoncelo.
Emocionada, Dona Lu Alckmin organizou uma vaquinha entre suas amigas frequentadoras da Daslu e conseguiu comprar um violoncelo novo para o andarilho. José Serra, então prefeito da cidade, tocado pelo texto da colunista, anunciou que liberaria mais verbas para atender à população carente.
Um outro membro do PSDB, que chorou ao ler o artigo da Folha, conseguiu um apartamento para alojar o mendigo negro que tocava violoncelo. Outro sugeriu que se agendasse um concerto dele em espaço nobre e que se convidassem várias personalidades importantes da alta roda da sociedade paulistana para o evento.
Todo feliz, o Colunista foi procurar o andarilho para contar-lhe as boas novas. Estranhamente, o mendigo não ficou nada animado com as novidades e começou a proferir frases sem sentido por vários minutos.
Novamente tocado pela loucura e pelo talento daquele mendigo negro que tocava violoncelo soberbamente, o Colunista escreveu mais uma coluna sobre o assunto, agora descrevendo sua experiência ao acompanhar o sujeito em suas andanças pelo centro da cidade, no meio daquela massa mal cheirosa que tanto apavorava os frequentadores do shopping Iguatemi. Mas valia o sacrifício para agradar seus leitores.
Os meses se passaram e o Colunista continuou acompanhando o mendigo e escrevendo sobre suas façanhas bizarras e exóticas no meio da gentalha.
O sucesso de suas colunas foi tão grande que logo um editor famoso, conhecido pelo seu prodigioso talento para descobrir obras que calariam fundo na alma da classe média apavorada e cheia de culpas, fez uma oferta milionária para publicar os artigos da colunista em forma de livro.
Quando atingiu as livrarias, foi um sucesso estrondoso. A revista Veja dedicou capa ao assunto e o livro ficou vários meses na lista dos mais vendidos. Não demorou muito para que a obra fosse comprada por um grande estúdio de cinema e transformada em um bonito e edificante drama que apresentava ao mundo a exótica história do violoncelista preto e mendigo que, por causa de sua doença mental, abandonou os estudos na prestigiosa Unicamp e virou andarilho.
Voluntarioso, o Colunista prometeu doar 1% de todos os seus lucros a uma instituição de caridade mantida por Dona Lu Alckmin. Orgulhoso de sua jornada insólita entre os membros da massa mal cheirosa, o Colunista da Folha de São Paulo percebeu que a experiência o transformou numa pessoa melhor, mais sensível e carinhosa, fator que reascendeu inclusive a chama da paixão em seu casamento com uma publicitária do PSDB.
Assim, depois de mais uma noite de sono tranquila e livre de culpas, o Colunista acordou renovado e pronto para escrever novos ataques contra Lula, Hugo Chávez, Evo Morales e qualquer outra coisa que cheirasse a esquerda progressista.
Cotação: *
Observação: O texto acima é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais é uma mera coincidência.
Não era um mendigo negro qualquer, não senhor! Ele havia estudado na Unicamp e sabia tocar violoncelo!
- por André Lux, crítico-spam
Era um belo dia ensolarado em São Paulo. Colunista da Folha de São Paulo (Robert Downey Jr.) dirigia-se para a sede do jornal para começar mais um dia de trabalho quando foi surpreendido por uma cena no mínimo exótica: um mendigo negro (Jamie Foxx) tocando violoncelo no meio da praça da República.
Num ímpeto instintivo, o Colunista parou o carro e foi até o artista insólito. Tentou conversar com ele, saber mais sobre sua vida, mas ouviu apenas um monte de frases desconexas. No meio daquilo tudo conseguiu descobrir o nome do sujeito e que ele havia estudado música na Unicamp.
Perplexo, o Colunista da Folha voltou para seu carro e, chegando ao jornal que publica suas opiniões, tentou descobrir mais sobre o mendigo negro que tocava violoncelo. Soube que ele tem uma irmã e que realmente estudou na Unicamp, embora tenha sido apenas dois anos antes de abandonar o curso misteriosamente.
O faro do Colunista, especialista em nutrir seus leitores pseudo-intelectuais de classe média com artigos atrativos e de fácil consumo, sentiu que tinha uma ótima oportunidade em mãos. Assim, ao invés de escrever ataques contra Lula, Evo Morales, Hugo Chávez ou qualquer outra coisa que cheirasse a esquerda progressista, o Colunista da Folha reservou seu espaço para falar do bizarro mendigo negro.
Mas não era um mendigo negro qualquer, não senhor! Ele havia estudado na Unicamp e sabia tocar violoncelo! O artigo, recheado de passagens edificantes e emocionantes, foi publicado em página nobre do jornal da “Ditabranda”.
No dia seguinte, o Colunista foi surpreendido com a reação que seu artigo provocou nos leitores. Uma enxurrada de mensagens elogiosas chegou à sua caixa de emails. O telefone não parava de tocar, todos querendo saber mais sobre o mendigo preto que tocava violoncelo.
Emocionada, Dona Lu Alckmin organizou uma vaquinha entre suas amigas frequentadoras da Daslu e conseguiu comprar um violoncelo novo para o andarilho. José Serra, então prefeito da cidade, tocado pelo texto da colunista, anunciou que liberaria mais verbas para atender à população carente.
Um outro membro do PSDB, que chorou ao ler o artigo da Folha, conseguiu um apartamento para alojar o mendigo negro que tocava violoncelo. Outro sugeriu que se agendasse um concerto dele em espaço nobre e que se convidassem várias personalidades importantes da alta roda da sociedade paulistana para o evento.
Todo feliz, o Colunista foi procurar o andarilho para contar-lhe as boas novas. Estranhamente, o mendigo não ficou nada animado com as novidades e começou a proferir frases sem sentido por vários minutos.
Novamente tocado pela loucura e pelo talento daquele mendigo negro que tocava violoncelo soberbamente, o Colunista escreveu mais uma coluna sobre o assunto, agora descrevendo sua experiência ao acompanhar o sujeito em suas andanças pelo centro da cidade, no meio daquela massa mal cheirosa que tanto apavorava os frequentadores do shopping Iguatemi. Mas valia o sacrifício para agradar seus leitores.
Os meses se passaram e o Colunista continuou acompanhando o mendigo e escrevendo sobre suas façanhas bizarras e exóticas no meio da gentalha.
O sucesso de suas colunas foi tão grande que logo um editor famoso, conhecido pelo seu prodigioso talento para descobrir obras que calariam fundo na alma da classe média apavorada e cheia de culpas, fez uma oferta milionária para publicar os artigos da colunista em forma de livro.
Quando atingiu as livrarias, foi um sucesso estrondoso. A revista Veja dedicou capa ao assunto e o livro ficou vários meses na lista dos mais vendidos. Não demorou muito para que a obra fosse comprada por um grande estúdio de cinema e transformada em um bonito e edificante drama que apresentava ao mundo a exótica história do violoncelista preto e mendigo que, por causa de sua doença mental, abandonou os estudos na prestigiosa Unicamp e virou andarilho.
Voluntarioso, o Colunista prometeu doar 1% de todos os seus lucros a uma instituição de caridade mantida por Dona Lu Alckmin. Orgulhoso de sua jornada insólita entre os membros da massa mal cheirosa, o Colunista da Folha de São Paulo percebeu que a experiência o transformou numa pessoa melhor, mais sensível e carinhosa, fator que reascendeu inclusive a chama da paixão em seu casamento com uma publicitária do PSDB.
Assim, depois de mais uma noite de sono tranquila e livre de culpas, o Colunista acordou renovado e pronto para escrever novos ataques contra Lula, Hugo Chávez, Evo Morales e qualquer outra coisa que cheirasse a esquerda progressista.
Cotação: *
Observação: O texto acima é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais é uma mera coincidência.
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Cine-Trash: "Hulk", de Ang Lee
MONSTRUOSAMENTE RIDÍCULO
Gorila verde com cara de "bebê Johnson" é a estrela do primeiro (e, torçamos, último) pretenso filme-de-arte baseado em quadrinhos
- por André Lux, crítico-spam
Tudo o que tem sido dito sobre "HULK" é, infelizmente, verdade. O filme é realmente um horror. Chega a ser monstruosamente ridículo em praticamente todos os seus intermináveis 138 minutos de duração! É inacreditável que a Universal tenha gasto 120 milhões de dólares para produzir essa que é, de longe, a pior adaptação de um personagem de quadrinhos, indefensável em todos os aspectos, mesmo para os admiradores mais fanáticos (perto disso até mesmo o fraquinho "HOMEM-ARANHA" vira uma obra-prima). Uma total abominação que, tudo indica, pretendia ser o primeiro "filme de arte" baseado num comic book. Tomara que seja o último...
Essa pretensão "artística" fica evidente na tentativa de aprofundar os personagens inserindo alguns subtextos psicológicos e nuances pseudo-filosóficos que poderiam até ser louváveis, caso tudo não fosse destruído pela direção totalmente inadequada e, pior, pretensiosa-até-a-última-gota do chinês Ang Lee (o mesmo dos superestimados "RAZÃO E SENSIBILIDADE" e "O TIGRE E O DRAGÃO" e que só acertou em "BROKEBACK MOUNTAIN"). E é exatamente aí que reside o maior erro do filme: ele se leva a sério do começo ao fim, parece até novela mexicana. Não há um momento de humor sequer, exceto aqueles involuntários que fazem a gente rir e sempre nos momentos errados. Mesmo defeito, diga-se de passagem, do filme anterior de Lee no qual guerreiros "ninja" trocavam diálogos risíveis sobre o sentido da vida antes de sairem voando e andando em paredes.
Falando nisso, existem três seqüências em "HULK" que já merecem entrar de cara para a antologia das cenas mais ridículas da história do cinema: a luta do gigante verde contra três cães-monstros (incluindo aí um hilariante "poodle do inferno"), o vilão loiro (Josh Lucas) todo engessado dando choques no pobre Bruce Banner e, obviamente, toda a seqüência na qual o pai do monstro (Nick Nolte, que só pode ter atuado em estupor alcoólico) grita e baba, culminando com ele mordendo alucinadamente um fio de alta tensão!
E, por falar no papai Banner, toda a trama envolvendo a história do cientista louco que injeta em si mesmo suas experiências, passando os resultados para o seu filho, é inútil e redundante. Poderia ter sido eliminada sem maiores prejuízos. Ao menos deixaria o filme mais curto e menos tedioso, livrando-nos da penosa experiência de sermos obrigados a ouvir diálogos pretensamente profundos que soam incrivelmente rasos e fora de lugar, já que são calcados em psicologia de almanaque. Que besteira é aquela sobre "memórias reprimidas"? Trata-se de um filme sobre um homem que fica nervoso e vira um monstro verde, pelo amor de deus!
Mas nada pode salvar um filme que traz como principal chamariz uma criatura tão lamentavelmente criada como o "HULK" em questão. Os efeitos não são ruins, pelo contrário. O problema é mesmo o design do monstro, que ficou parecendo um gorila verde com cara de bebê-Jonhson. Pior, Hulk é oco, sem vida. Seus ataques não têm peso (tudo é filmado em velocidade acelerada, o que impede que se criem relações de escala), suas motivações não existem, seus gritos histéricos são patéticos. Com um material como esse em mãos, nem mesmo os melhores técnicos em computação gráfica podem salvá-lo do desastre. O fracasso da figura do monstro é tão evidente que nem mesmo os brinquedos derivados do filme seguem o design do Hulk visto nas telas!
E se não bastasse tudo isso, escolheram para fazer o papel de Bruce Banner um sujeito com talento limitado e carisma zero (Eric Bana). Nem mesmo sua relação com Betty Ross provoca qualquer tipo de emoção, primeiro porque o casal já inicia o filme em fase de separação (não trocam nem mesmo um carinho que seja durante toda a projeção!) e, segundo, por causa da magreza excessiva de Jenniffer Connelly que parece ter optado definitivamente pelo visual "mulher-palito", típico de modelos de passarelas. Continua bonita e talentosa (embora aqui atue no piloto automático), mas não tem mais o mesmo charme e exuberância que mostrou em filmes como "O PREÇO DA TRAIÇÃO" ou mesmo "ROCKETEER". Ou seja: a química entre o casal é inexistente, não há qualquer erotismo ou mesmo romance e, por causa disso, não convence nem um pouco quando usam a moça para tentar acalmar o Hulk e todo o pretenso "drama" que decorre disso.
Como era de se esperar a trilha musical do amador Danny Elfman (que ao menos tem a desculpa de ter substituído na última hora o compositor Mychael Danna, cuja partitura original foi rejeitada) também atrapalha, principalmente quando insere solos de instrumentos étnicos (como um duduk e percussão africana) ou vocalizações de estilo oriental que destoam completamente tanto da proposta do projeto quanto do que se vê na tela.
Sinceramente, daria pra ficar falando dos aspectos negativos do filme por horas. Por isso, para encurtar, basta dizer que ele é tão ruim, mas tão ruim, que chega a ser até engraçado. Quem quiser ver para tirar sarro do que vê na tela, "HULK" do Ang Lee é a escolha certa. Um filme que, sem dúvida, já figura entre os maiores clássicos do cinema-trash-involuntário, ao lado de preciosidades como "PLAN 9 FROM OUTER SPACE", de Ed Wood, e "CIDADE DOS SONHOS", de David Lynch. Ou seja: é um filme que como aventura dá sono e como drama só provoca o riso.
Interessante, todavia, é notar que alguns críticos tentam nos convencer que o novo filme do chinês é uma "obra-prima" da sétima arte! Duvido muito que se "HULK" tivesse sido dirigido por um Peter Jackson (de "O SENHOR DOS ANÉIS") ou mesmo pelos irmãos Wachowsky ("MATRIX") e tivesse resultado exatamente igual ao filme de Ang Lee, esses senhores o estariam louvando tanto... Mais uma prova de que certos cineastas possuem prestígio inatacável, não importando a qualidade real de seus filmes. É ver para crer.
Cotação: Abaixo de zero
Gorila verde com cara de "bebê Johnson" é a estrela do primeiro (e, torçamos, último) pretenso filme-de-arte baseado em quadrinhos
- por André Lux, crítico-spam
Tudo o que tem sido dito sobre "HULK" é, infelizmente, verdade. O filme é realmente um horror. Chega a ser monstruosamente ridículo em praticamente todos os seus intermináveis 138 minutos de duração! É inacreditável que a Universal tenha gasto 120 milhões de dólares para produzir essa que é, de longe, a pior adaptação de um personagem de quadrinhos, indefensável em todos os aspectos, mesmo para os admiradores mais fanáticos (perto disso até mesmo o fraquinho "HOMEM-ARANHA" vira uma obra-prima). Uma total abominação que, tudo indica, pretendia ser o primeiro "filme de arte" baseado num comic book. Tomara que seja o último...
Essa pretensão "artística" fica evidente na tentativa de aprofundar os personagens inserindo alguns subtextos psicológicos e nuances pseudo-filosóficos que poderiam até ser louváveis, caso tudo não fosse destruído pela direção totalmente inadequada e, pior, pretensiosa-até-a-última-gota do chinês Ang Lee (o mesmo dos superestimados "RAZÃO E SENSIBILIDADE" e "O TIGRE E O DRAGÃO" e que só acertou em "BROKEBACK MOUNTAIN"). E é exatamente aí que reside o maior erro do filme: ele se leva a sério do começo ao fim, parece até novela mexicana. Não há um momento de humor sequer, exceto aqueles involuntários que fazem a gente rir e sempre nos momentos errados. Mesmo defeito, diga-se de passagem, do filme anterior de Lee no qual guerreiros "ninja" trocavam diálogos risíveis sobre o sentido da vida antes de sairem voando e andando em paredes.
Falando nisso, existem três seqüências em "HULK" que já merecem entrar de cara para a antologia das cenas mais ridículas da história do cinema: a luta do gigante verde contra três cães-monstros (incluindo aí um hilariante "poodle do inferno"), o vilão loiro (Josh Lucas) todo engessado dando choques no pobre Bruce Banner e, obviamente, toda a seqüência na qual o pai do monstro (Nick Nolte, que só pode ter atuado em estupor alcoólico) grita e baba, culminando com ele mordendo alucinadamente um fio de alta tensão!
E, por falar no papai Banner, toda a trama envolvendo a história do cientista louco que injeta em si mesmo suas experiências, passando os resultados para o seu filho, é inútil e redundante. Poderia ter sido eliminada sem maiores prejuízos. Ao menos deixaria o filme mais curto e menos tedioso, livrando-nos da penosa experiência de sermos obrigados a ouvir diálogos pretensamente profundos que soam incrivelmente rasos e fora de lugar, já que são calcados em psicologia de almanaque. Que besteira é aquela sobre "memórias reprimidas"? Trata-se de um filme sobre um homem que fica nervoso e vira um monstro verde, pelo amor de deus!
Mas nada pode salvar um filme que traz como principal chamariz uma criatura tão lamentavelmente criada como o "HULK" em questão. Os efeitos não são ruins, pelo contrário. O problema é mesmo o design do monstro, que ficou parecendo um gorila verde com cara de bebê-Jonhson. Pior, Hulk é oco, sem vida. Seus ataques não têm peso (tudo é filmado em velocidade acelerada, o que impede que se criem relações de escala), suas motivações não existem, seus gritos histéricos são patéticos. Com um material como esse em mãos, nem mesmo os melhores técnicos em computação gráfica podem salvá-lo do desastre. O fracasso da figura do monstro é tão evidente que nem mesmo os brinquedos derivados do filme seguem o design do Hulk visto nas telas!
E se não bastasse tudo isso, escolheram para fazer o papel de Bruce Banner um sujeito com talento limitado e carisma zero (Eric Bana). Nem mesmo sua relação com Betty Ross provoca qualquer tipo de emoção, primeiro porque o casal já inicia o filme em fase de separação (não trocam nem mesmo um carinho que seja durante toda a projeção!) e, segundo, por causa da magreza excessiva de Jenniffer Connelly que parece ter optado definitivamente pelo visual "mulher-palito", típico de modelos de passarelas. Continua bonita e talentosa (embora aqui atue no piloto automático), mas não tem mais o mesmo charme e exuberância que mostrou em filmes como "O PREÇO DA TRAIÇÃO" ou mesmo "ROCKETEER". Ou seja: a química entre o casal é inexistente, não há qualquer erotismo ou mesmo romance e, por causa disso, não convence nem um pouco quando usam a moça para tentar acalmar o Hulk e todo o pretenso "drama" que decorre disso.
Como era de se esperar a trilha musical do amador Danny Elfman (que ao menos tem a desculpa de ter substituído na última hora o compositor Mychael Danna, cuja partitura original foi rejeitada) também atrapalha, principalmente quando insere solos de instrumentos étnicos (como um duduk e percussão africana) ou vocalizações de estilo oriental que destoam completamente tanto da proposta do projeto quanto do que se vê na tela.
Sinceramente, daria pra ficar falando dos aspectos negativos do filme por horas. Por isso, para encurtar, basta dizer que ele é tão ruim, mas tão ruim, que chega a ser até engraçado. Quem quiser ver para tirar sarro do que vê na tela, "HULK" do Ang Lee é a escolha certa. Um filme que, sem dúvida, já figura entre os maiores clássicos do cinema-trash-involuntário, ao lado de preciosidades como "PLAN 9 FROM OUTER SPACE", de Ed Wood, e "CIDADE DOS SONHOS", de David Lynch. Ou seja: é um filme que como aventura dá sono e como drama só provoca o riso.
Interessante, todavia, é notar que alguns críticos tentam nos convencer que o novo filme do chinês é uma "obra-prima" da sétima arte! Duvido muito que se "HULK" tivesse sido dirigido por um Peter Jackson (de "O SENHOR DOS ANÉIS") ou mesmo pelos irmãos Wachowsky ("MATRIX") e tivesse resultado exatamente igual ao filme de Ang Lee, esses senhores o estariam louvando tanto... Mais uma prova de que certos cineastas possuem prestígio inatacável, não importando a qualidade real de seus filmes. É ver para crer.
Cotação: Abaixo de zero
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Cine Trash: A melhor análise de "Yor, O Caçador do Futuro"!
Veja abaixo a melhor e mais completa análise do melhor filme de ficção científica de todos os tempos: "Yor, O Caçador do Futuro". Está toda em inglês, sem legendas, mas vale a pena ser vista mesmo por quem não domina o idioma!
quarta-feira, 7 de abril de 2010
Filmes: "Capitalismo: Uma História de Amor"
A VITÓRIA DO BOM SENSO
Michael Moore mostra a realidade das pessoas comuns que foram expulsas de suas casas como bandidos e passaram a sentir na pele a crueldade do sistema capitalista também nos EUA.
- por André Lux, crítico-spam
Michael Moore é um sujeito admirável. Não tem medo de colocar a cara para bater e de denunciar as mazelas que assolam seu país, virando alvo do ódio de fundamentalistas da extrema direita estadunidense e de seus capachos mundo afora.
Seu novo documentário, “Capitalismo: Uma História de Amor”, é uma porrada em quem ainda defende esse sistema econômico injusto e desumano que tem levado a humanidade cada vez mais perto do abismo. Sempre de maneira bem humorada, Moore mostra como o capitalismo criou uma bolha de ilusão nos Estados Unidos a partir do fim da II Guerra Mundial, gerando uma classe média próspera e feliz sobre os escombros de outras grandes potências como Japão, Alemanha e Inglaterra cujo parque industrial encontrava-se totalmente destruído. E foi exatamente esse modelo de “capitalismo dos sonhos” que os EUA exportaram durante décadas para o resto do mundo como se fosse o ideal de sociedade passível de ser atingida por todos.
Mas o que o bom senso já dizia ser mentira, a história confirmou. A nova crise do sistema, iniciada pelo estouro da bolha imobiliária nos EUA que gerou a quebra de vários bancos e financiadoras, jogou a classe média daquele país numa situação de penúria, digna dos chamados países do “terceiro mundo”. Famílias inteiras, convencidas por peças de marketing mentirosas a investir suas casas no cassino da bolsa de valores, perderam tudo e viram suas vidas serem destruídas em questão de dias.
Michael Moore mostra no filme um pouco da realidade dessas pessoas comuns, que foram expulsas de suas casas como bandidos e passaram a sentir na pele a crueldade do sistema capitalista, enquanto os bancos e empresas que quebraram receberam ajudas bilionárias do governo, as quais foram usadas na maioria dos casos para pagar polpudos bônus a seus executivos.
Enfim, tudo aquilo que os que lutam contra esse sistema brutal vem denunciando há tempos, agora exposto da maneira didática e corrosiva de Michal Moore. É o tipo de filme que todo mundo deve assistir, inclusive aqueles que precisam rever seus conceitos com urgência.
Cotação: * * * *
Michael Moore mostra a realidade das pessoas comuns que foram expulsas de suas casas como bandidos e passaram a sentir na pele a crueldade do sistema capitalista também nos EUA.
- por André Lux, crítico-spam
Michael Moore é um sujeito admirável. Não tem medo de colocar a cara para bater e de denunciar as mazelas que assolam seu país, virando alvo do ódio de fundamentalistas da extrema direita estadunidense e de seus capachos mundo afora.
Seu novo documentário, “Capitalismo: Uma História de Amor”, é uma porrada em quem ainda defende esse sistema econômico injusto e desumano que tem levado a humanidade cada vez mais perto do abismo. Sempre de maneira bem humorada, Moore mostra como o capitalismo criou uma bolha de ilusão nos Estados Unidos a partir do fim da II Guerra Mundial, gerando uma classe média próspera e feliz sobre os escombros de outras grandes potências como Japão, Alemanha e Inglaterra cujo parque industrial encontrava-se totalmente destruído. E foi exatamente esse modelo de “capitalismo dos sonhos” que os EUA exportaram durante décadas para o resto do mundo como se fosse o ideal de sociedade passível de ser atingida por todos.
Mas o que o bom senso já dizia ser mentira, a história confirmou. A nova crise do sistema, iniciada pelo estouro da bolha imobiliária nos EUA que gerou a quebra de vários bancos e financiadoras, jogou a classe média daquele país numa situação de penúria, digna dos chamados países do “terceiro mundo”. Famílias inteiras, convencidas por peças de marketing mentirosas a investir suas casas no cassino da bolsa de valores, perderam tudo e viram suas vidas serem destruídas em questão de dias.
Michael Moore mostra no filme um pouco da realidade dessas pessoas comuns, que foram expulsas de suas casas como bandidos e passaram a sentir na pele a crueldade do sistema capitalista, enquanto os bancos e empresas que quebraram receberam ajudas bilionárias do governo, as quais foram usadas na maioria dos casos para pagar polpudos bônus a seus executivos.
Enfim, tudo aquilo que os que lutam contra esse sistema brutal vem denunciando há tempos, agora exposto da maneira didática e corrosiva de Michal Moore. É o tipo de filme que todo mundo deve assistir, inclusive aqueles que precisam rever seus conceitos com urgência.
Cotação: * * * *
sábado, 27 de março de 2010
Filmes: "A Ilha do Medo"
BESTEIRA DAS GRANDES
Se tivesse sido feito por qualquer outro diretor que não o ilustre Martin Scorsese, teria sido massacrado ou no mínimo ignorado, que é o que o filme merece
- por André Lux, crítico-spam
É incrível que um diretor do prestígio de Martin Scorsese tenha aceitado fazer um filme tão tolo e dispensável como esse “A Ilha do Medo”, que não se assume como terror e não se sustenta nem mesmo como filme de suspense policial. O mais estranho é que se tornou um sucesso de bilheteria, o maior na carreira do cineasta! Mas é muito barulho por nada.
A história começa com a chegada de dois agentes federais a um sanatório do governo localizado numa ilha isolada, onde são mantidos criminosos perigosos. Aparentemente, eles vem investigar a fuga de uma das internas, mas aos poucos a trama vai enveredando por caminhos tortuosos que vão ficando cada vez mais inconvincentes e delirantes. O filme também dá um monte de pistas falsas que desembocam num daqueles famigerados finais surpresas onde a revelação final, além de forçada, implode totalmente tudo que havíamos visto até então. É só você parar para pensar um minuto e vai perceber que não havia como tudo que foi mostrado antes ter acontecido da forma como aconteceu. É totalmente inviável, ridículo até.
Scorsese tenta compensar esse buraco negro com estilosos movimentos de câmera (sua marca registrada) e uma trilha sonora intrusiva e irritante composta apenas por músicas eruditas atonais de gente como Penderecki e Ligeti. Mas erra também ao deixar o elenco descontrolado, principalmente Leonardo DiCaprio e Ben Kingsley (como o psiquiatra chefe) que passam o filme todo à beira da caricatura. A edição também é ruim e deixa cenas se alongarem sem necessidade (como a do final, no lago).
Enfim, uma besteira das grandes que só recebe louvores dos profissionais da opinião por ter sido dirigido pelo ilustre Scorsese. Se tivesse sido feito por qualquer outro diretor, teria sido massacrado ou no mínimo ignorado, que é o que o filme merece.
Cotação: * 1/2
Se tivesse sido feito por qualquer outro diretor que não o ilustre Martin Scorsese, teria sido massacrado ou no mínimo ignorado, que é o que o filme merece
- por André Lux, crítico-spam
É incrível que um diretor do prestígio de Martin Scorsese tenha aceitado fazer um filme tão tolo e dispensável como esse “A Ilha do Medo”, que não se assume como terror e não se sustenta nem mesmo como filme de suspense policial. O mais estranho é que se tornou um sucesso de bilheteria, o maior na carreira do cineasta! Mas é muito barulho por nada.
A história começa com a chegada de dois agentes federais a um sanatório do governo localizado numa ilha isolada, onde são mantidos criminosos perigosos. Aparentemente, eles vem investigar a fuga de uma das internas, mas aos poucos a trama vai enveredando por caminhos tortuosos que vão ficando cada vez mais inconvincentes e delirantes. O filme também dá um monte de pistas falsas que desembocam num daqueles famigerados finais surpresas onde a revelação final, além de forçada, implode totalmente tudo que havíamos visto até então. É só você parar para pensar um minuto e vai perceber que não havia como tudo que foi mostrado antes ter acontecido da forma como aconteceu. É totalmente inviável, ridículo até.
Scorsese tenta compensar esse buraco negro com estilosos movimentos de câmera (sua marca registrada) e uma trilha sonora intrusiva e irritante composta apenas por músicas eruditas atonais de gente como Penderecki e Ligeti. Mas erra também ao deixar o elenco descontrolado, principalmente Leonardo DiCaprio e Ben Kingsley (como o psiquiatra chefe) que passam o filme todo à beira da caricatura. A edição também é ruim e deixa cenas se alongarem sem necessidade (como a do final, no lago).
Enfim, uma besteira das grandes que só recebe louvores dos profissionais da opinião por ter sido dirigido pelo ilustre Scorsese. Se tivesse sido feito por qualquer outro diretor, teria sido massacrado ou no mínimo ignorado, que é o que o filme merece.
Cotação: * 1/2
sexta-feira, 26 de março de 2010
Filmes: "A Estrada"
ASSUSTADOR
Filme mostra um futuro plausível que pode nem estar tão distante caso a humanidade continue em sua rota suicida
- por André Lux, crítico-spam
De todos os filmes sobre o fim do mundo que tem pipocado nos cinemas atualmente, esse “A Estrada” é o melhor, embora não seja um filme de ação no estilo “Mad Max 2”. Está mais para drama e suspense, questionando quais são os limites da humanidade quando se encontra numa situação desesperadora depois que a civilização como a conhecemos foi destruída (talvez por uma guerra nuclear, mas o filme faz questão de não deixar claro qual foi o cataclismo que acabou com o mundo).
Baseado na obra do escritor Cormac McCarthy (o mesmo de “Onde os Fracos Não Tem Vez”), “A Estrada” centra-se em dois personagens sem nome, um pai e seu filho, que a exemplo de outros filmes com temática parecida (“O Livro de Eli” e “Zombielândia”) rumam para o oeste passando por um sem número de perigos enquanto viajam pela terra devastada.
Aqui, o maior terror é representado por humanos canibais, que patrulham as estradas e campos em busca de novas vítimas para saciar sua fome. Só que isso é mostrado com tintas extremamente realistas, sem exagero ou fantasia. Os canibais são pessoas normais e não zumbis mutantes, o que deixa tudo ainda mais assustador – principalmente na sequência em que os protagonistas entram inadvertidamente na casa onde reside um grupo deles. A cena no porão é de arrepiar!
Os pontos altos do filme são as interpretações da dupla principal. No papel do pai temos Viggo Mortensem que depois de brilhar em “O Senhor dos Anéis” está se tornando um ator cada vez melhor e mais sincero. E o jovem Kodi Smit-McPhee dá um show de verossimilhança como o filho, principalmente nas cenas mais dramáticas. A bela Charlize Theron aparece em alguns flashbacks como a esposa do protagonista cujo destino é bastante trágico.
Sem contar com grandes tomadas de efeitos especiais ou lições de moral idiotas (como acontece em “O Livro de Eli”), “A Estrada” aposta mais na exploração da intimidade dos personagens, que lutam para manter alguma humanidade e dignidade frente aos terríveis acontecimentos que enfrentam.
O único ponto baixo do filme é mesmo o seu final, que não chega a convencer e destoa do resto da condução da trama. Mas fora isso, continua sendo um filme assustador que mostra um futuro bem plausível que pode nem estar assim tão distante caso a humanidade continue em sua atual rota suicida.
Cotação: * * * 1/2
Filme mostra um futuro plausível que pode nem estar tão distante caso a humanidade continue em sua rota suicida
- por André Lux, crítico-spam
De todos os filmes sobre o fim do mundo que tem pipocado nos cinemas atualmente, esse “A Estrada” é o melhor, embora não seja um filme de ação no estilo “Mad Max 2”. Está mais para drama e suspense, questionando quais são os limites da humanidade quando se encontra numa situação desesperadora depois que a civilização como a conhecemos foi destruída (talvez por uma guerra nuclear, mas o filme faz questão de não deixar claro qual foi o cataclismo que acabou com o mundo).
Baseado na obra do escritor Cormac McCarthy (o mesmo de “Onde os Fracos Não Tem Vez”), “A Estrada” centra-se em dois personagens sem nome, um pai e seu filho, que a exemplo de outros filmes com temática parecida (“O Livro de Eli” e “Zombielândia”) rumam para o oeste passando por um sem número de perigos enquanto viajam pela terra devastada.
Aqui, o maior terror é representado por humanos canibais, que patrulham as estradas e campos em busca de novas vítimas para saciar sua fome. Só que isso é mostrado com tintas extremamente realistas, sem exagero ou fantasia. Os canibais são pessoas normais e não zumbis mutantes, o que deixa tudo ainda mais assustador – principalmente na sequência em que os protagonistas entram inadvertidamente na casa onde reside um grupo deles. A cena no porão é de arrepiar!
Os pontos altos do filme são as interpretações da dupla principal. No papel do pai temos Viggo Mortensem que depois de brilhar em “O Senhor dos Anéis” está se tornando um ator cada vez melhor e mais sincero. E o jovem Kodi Smit-McPhee dá um show de verossimilhança como o filho, principalmente nas cenas mais dramáticas. A bela Charlize Theron aparece em alguns flashbacks como a esposa do protagonista cujo destino é bastante trágico.
Sem contar com grandes tomadas de efeitos especiais ou lições de moral idiotas (como acontece em “O Livro de Eli”), “A Estrada” aposta mais na exploração da intimidade dos personagens, que lutam para manter alguma humanidade e dignidade frente aos terríveis acontecimentos que enfrentam.
O único ponto baixo do filme é mesmo o seu final, que não chega a convencer e destoa do resto da condução da trama. Mas fora isso, continua sendo um filme assustador que mostra um futuro bem plausível que pode nem estar assim tão distante caso a humanidade continue em sua atual rota suicida.
Cotação: * * * 1/2
quarta-feira, 24 de março de 2010
Filmes: "O Livro de Eli"
MAD MAX CRISTÃO
Os fanáticos fundamentalistas agora inventaram um novo gênero de tele-pregação: o filme de aventura com mensagem religiosa.
- por André Lux, crítico-spam
Se você achava que os fanáticos religiosos já tinham invadido todos os tipos de mídia para propagar sua ladainha infame, pense novamente. Agora eles inventaram o filme de aventura com fundo religioso. E esse “Livro de Eli” nada mais é do que isso. Pregação fundamentalista cristã do pior tipo, embalada num filme de ação que traz um protagonista que é uma espécie de “Mad Max Cristão” com habilidades de ninja (Denzel Washington, que também é produtor e, portanto, tem culpa no cartório).
Para levar a cabo sua mensagem fundamentalista, os realizadores inventaram uma história que é das mais idiotas que já vi. Num mundo pós-apocalíptico, um homem solitário anda pelo deserto em direção ao oeste porque ouviu uma “voz” mandando ele fazer isso. O misterioso andarilho, que decepa com um facão os vilões que de tempos em tempos tentam roubá-lo, leva em sua mochila o último exemplar da “bíblia sagrada”. Por azar, ele acaba passando por um vilarejo que reúne alguns sobreviventes da guerra que destruiu a civilização, cujo poderoso chefão local (um caricato Gary Oldman) quer porque quer arranjar uma... bíblia! O motivo: usar as palavras do poderoso livro cristão para manipular os corações e mentes das pessoas e, assim, conquistar mais poder!
É claro que o ninja incorruptível Denzel, representando aí a pureza dos fundamentalistas, não vai querer entregar sua bíblia ao vilão e, pronto, o resto você já pode imaginar. É tiro pra todo lado, com o protagonista desviando de balas, matando todo mundo e sendo perseguido pelas estradas do mundo detonado enquanto dispara frases edificantes da sua bíblia. O filme tem ainda um final “surpresa” que não acrescenta nada, mas serve para enganar os incautos que gostam desse tipo de reviravolta.
Pior que eu gosto muito de filmes ambientados em cenários pós-apocalípticos desde que assisti ao segundo “Mad Max” quando era adolescente. Por isso minha indignação é ainda maior quando pegam um gênero querido como esse e enfiam um monte de pregação religiosa no meio. Enfim, uma besteira total que só vai agradar quem já é convertido aos dogmas da seita religiosa que o filme defende. Obviamente não é meu caso.
Cotação: *
Os fanáticos fundamentalistas agora inventaram um novo gênero de tele-pregação: o filme de aventura com mensagem religiosa.
- por André Lux, crítico-spam
Se você achava que os fanáticos religiosos já tinham invadido todos os tipos de mídia para propagar sua ladainha infame, pense novamente. Agora eles inventaram o filme de aventura com fundo religioso. E esse “Livro de Eli” nada mais é do que isso. Pregação fundamentalista cristã do pior tipo, embalada num filme de ação que traz um protagonista que é uma espécie de “Mad Max Cristão” com habilidades de ninja (Denzel Washington, que também é produtor e, portanto, tem culpa no cartório).
Para levar a cabo sua mensagem fundamentalista, os realizadores inventaram uma história que é das mais idiotas que já vi. Num mundo pós-apocalíptico, um homem solitário anda pelo deserto em direção ao oeste porque ouviu uma “voz” mandando ele fazer isso. O misterioso andarilho, que decepa com um facão os vilões que de tempos em tempos tentam roubá-lo, leva em sua mochila o último exemplar da “bíblia sagrada”. Por azar, ele acaba passando por um vilarejo que reúne alguns sobreviventes da guerra que destruiu a civilização, cujo poderoso chefão local (um caricato Gary Oldman) quer porque quer arranjar uma... bíblia! O motivo: usar as palavras do poderoso livro cristão para manipular os corações e mentes das pessoas e, assim, conquistar mais poder!
É claro que o ninja incorruptível Denzel, representando aí a pureza dos fundamentalistas, não vai querer entregar sua bíblia ao vilão e, pronto, o resto você já pode imaginar. É tiro pra todo lado, com o protagonista desviando de balas, matando todo mundo e sendo perseguido pelas estradas do mundo detonado enquanto dispara frases edificantes da sua bíblia. O filme tem ainda um final “surpresa” que não acrescenta nada, mas serve para enganar os incautos que gostam desse tipo de reviravolta.
Pior que eu gosto muito de filmes ambientados em cenários pós-apocalípticos desde que assisti ao segundo “Mad Max” quando era adolescente. Por isso minha indignação é ainda maior quando pegam um gênero querido como esse e enfiam um monte de pregação religiosa no meio. Enfim, uma besteira total que só vai agradar quem já é convertido aos dogmas da seita religiosa que o filme defende. Obviamente não é meu caso.
Cotação: *
Akira Kurosawa: O gênio que levou o cinema japonês ao Ocidente
- Por André Cintra*
Há uma cena, logo no começo do filme Ran (1985), de Akira Kurosawa, em que um grupo de descendentes e súditos se encontra ao redor do poderoso daimiô Hidetora, chefe do clã dos Ichimonji, durante o período feudal no Japão. Não é uma reunião convencional. Aos 70 anos — sendo 50 deles dedicados à conquista de um vasto império de castelos e terras —, Hidetora resolve “sair de cena e dar as rédeas para mãos mais jovens”.
Mas, antes que o senhor feudal anunciasse sua decisão, alguém lhe pergunta se convém assar um javali recém-caçado. A resposta: “Ele era velho. Sua pele é dura, fedida, indigerível. Como eu, o velho Hidetora. Vocês me comeriam?".
Nascido há exatamente cem anos, Kurosawa, maior representante do chamado jidai-geki (filme histórico de samurai), "saiu de cena" em 1998, aos 88 anos. Vítima de um derrame cerebral, morreu sem saber se boa parte de seus compatriotas o engoliam. A muitos orientais, pouco importavam os 55 anos de carreira do diretor, os 32 filmes, inúmeros prêmios, a projeção que deu ao cinema japonês no exterior. Na visão de seus detratores, o diretor de Os Sete Samurais e Kagemusha era definido como um "cineasta de exportação" demasiadamente "ocidentalizado", que teria cometido o crime de renegar as tradições e os costumes japoneses.
A realidade é bem diferente. Nem na sua vida, tampouco na sua vasta obra, Kurosawa deu as costas para a cultura do seu país. Descendente de um clã de samurais, filho de um férreo administrador militar, ele nasceu em Tóquio no dia 23 de março de 1910. Recebeu forte influência do irmão Heigo — um benshi (narrador de filmes japoneses na época do cinema mudo) —, que o iniciou no cinema.
Em 1936, Kurosawa conseguiu emprego como terceiro assistente de direção na Photo Chemical Laboratories. Foi lá que começou a escrever roteiros para outros cineastas. Demonstrava aberta admiração pelo trabalho do americano John Ford em filmes como No Tempo das Diligências (1939) e As Vinhas da Ira (1940). As principais referências, literárias e cinematográficas, podiam até ser ocidentais. Mas Kurosawa, ao estrear na direção com o drama A Lenda do Grande Judô (1943), tratou de temas mais próximos a suas raízes — as artes marciais, a devoção à natureza, a descoberta paciente do amor.
Os militares, às voltas com a Segunda Guerra Mundial, abominaram o lirismo do longa-metragem e acusaram o diretor de renegar os sentimentos nacionais. As autoridades o obrigaram a aplicar uma espécie de autocensura. A derrota na guerra se avizinhava quando foi lançado o filme Os Homens que Pisaram na Cauda do Tigre (1945). É o primeiro jidai- geki de Kurosawa — que, se não foi o precursor, certamente o tornou o cineasta-chave para entender o gênero samurai.
O estigma de "o mais ocidental dos cineastas japoneses", atribuído pejorativamente a Kurosawa, tem início com esse ousado longa-metragem. Embora continuasse a tratar de temas contemporâneos, o diretor passou a ambientar suas histórias no Japão feudal. Os dilemas foram então avaliados através de valores tradicionais, especialmente a honra, a lealdade e o sacrifício, tão caros no universo samurai.
No ambiente do pós- guerra seus filmes ganharam acesso a festivais internacionais. Em 1950, o diretor surpreendeu ao sair do Festival de Veneza com o prêmio máximo — o Leão de Ouro — por Rashomon. O mundo do cinema passou a dar destaque para o cinema japonês, e Kurosawa foi convertido em celebridade.
"Foi ele [Kurosawa] quem melhor representou a aproximação entre seu país, o Japão, e o Ocidente, após a Segunda Guerra Mundial", escreveu o crítico Inácio Araújo, da Folha de S.Paulo. Nos anos 50, o Japão era conhecido apenas como uma nação exótica, que os filmes de guerra americanos representavam como pouco mais que um grupo de bárbaros fanáticos. Essa imagem preconceituosa do Japão foi completamente subvertida por Kurosawa a partir de Rashomon.
Remontando ao século 11, o longa conta a história de um controvertido julgamento. Numa floresta, a noiva de um samurai tem relações sexuais com o bandido Tajomaru. O samurai, logo em seguida, é encontrado morto, ali perto. O que ocorreu de fato? O bandido estuprou a mulher e depois assassinou o noivo dela? Ou o samurai se matou em nome da honra ao ver sua amada traí-lo? Na investigação, quatro pessoas são ouvidas — a noiva, o samurai (por mediunidade), o bandido e um lenhador. Os relatos se chocam. Em breves flashbacks, o filme mostra cada um dos pontos de vista e seus elementos contraditórios.
Rashomon foi o primeiro grande filme de Kurosawa — uma obra em que ele mostra que o limite das certezas é também o limite da justiça. Sua premissa narrativa e moral — uma história com múltiplas versões — irradia-se até os dias de hoje.
Em 1954, Kurosawa realizou sua obra-prima, Os Sete Samurais. O filme se baseia numa história verídica para contrapor honra e destino. Aldeões do século 16 estão ameaçados por bandidos que, sem piedade, ocupam o povoado e saqueiam as colheitas de arroz. O mestre Kambei é encarregado de contratar mais seis samurais para proteger o local.
O professor acadêmico e crítico americano Roger Ebert especula que em nenhum filme, antes de Os Sete Samurais, um grupo de personagens havia se reunido para executar certa missão. Não bastasse a originalidade, Kurosawa compôs um grupo heterogêneo, cujos membros têm personalidade e motivações diferentes — o samurai interpretado por Toshiro Mifune fez história.
O filme é um elogio a valores coletivos (solidariedade, disciplina), mas exalta a humanidade que cerca sentimentos pessoais como o medo e a covardia. Os Sete Samurais levou o Leão de Prata no Festival de Veneza e consagrou de vez Kurosawa — Hollywood fez uma versão em faroeste do filme, com o título Sete Homens e um Destino.
Se o faroeste era o gênero americano por excelência, Kurosawa transformou o jidai-geki no grande gênero japonês. Nada de caubóis, pradarias e longos duelos do Velho Oeste — elementos típicos do western. O diretor japonês iluminou o cinema de seu país com guerreiros samurais, aldeias medievais, xogunatos, lutas breves de lanças — a essência da arte do espadachim.
Está aí a principal razão para o reconhecimento e a fama de Kurosawa fora do Japão, acima de diretores como os também mestres Kenji Mizoguchi (1898-1956) e Yasujiro Ozu (1903-1963). De um lado, seus filmes apresentaram pontos de sintonia com a tradicional narrativa ocidental; de outro, o cineasta interpretou à sua maneira princípios universais — na arte e na sociedade —, atribuindo-lhes a riqueza dos valores tipicamente orientais.
Tais características estão claras em outros filmes de samurai de Kurosawa, como A Fortaleza Escondida (1958), Yojimbo, O Guarda-Costas (1961), e sua continuação, Sanjuro (1962). Desses três, Yojimbo é o mais bem-sucedido em termos de crítica e público. Seu enredo gira em torno de um samurai solitário e desempregado, que resolve lutar para dois grupos inimigos. No filme seguinte, Sanjuro é o nome do samurai que cede à corrupção. Dois personagens, dois estudos morais.
Para incômodo dos japoneses mais ortodoxos, a carreira de Kurosawa sempre dialogou com o Ocidente. Na década de 50, o diretor adaptou para a tela grande O Idiota, de Dostoievski, e Ralé, de Gorki. Em Trono Manchado de Sangue (1957), ambientou Macbeth, de Shakespeare, no Japão feudal, e tratou do samurai Taketori Washizu. Destinado a ser xogum e instigado pela ganância da esposa Asaji, esse anti- herói envereda por uma luta que leva à memorável cena final: Washizu, imperecível, não sucumbe nem quando seus antigos comandados o atingem com dezenas de flechas.
O universo shakespeariano e o desenlace trágico são retomados em Ran, uma adaptação livre de Rei Lear e da lenda japonesa de Móri. O filme mostra uma disputa de poder marcada por traições no seio de um clã. Kagemusha é outro ensaio de Kurosawa sobre o poder, ambientado nos tempos dos samurais. Próximo da morte, o xogum Shingen vê que seu clã está em processo de ruína e arma uma manobra: arranja um sósia para sucedê-lo em sigilo.
Com a morte do chefe militar, o sósia a subir ao trono é um ladrão que aceita o disfarce e depara com uma série de crises. O larápio, no entanto, aprende as artimanhas do clã e vira uma personificação fiel do líder morto. Por esse épico espetacular — estudo de como a manutenção do poder pode custar caro numa sociedade de hipocrisias e aparências —, o cineasta japonês amealhou vários prêmios internacionais, com destaque para a Palma de Ouro no Festival de Cannes.
Lembrar Kurosawa cem anos após seu nascimento — como faz a Cinemateca Brasileira, ao programar um ciclo gratuito de filmes do diretor — é prestar tributo a uma cinematografia única. Uma vez mais, espectadores poderão entender por que esse gigante das artes japonesas foi definido até pelo diretor americano Steven Spielberg como “o Shakespeare visual do nosso tempo”.
* Texto adaptado de um artigo do autor para a revista Japão, 500 Anos de História, 100 Anos de Imigração
Há uma cena, logo no começo do filme Ran (1985), de Akira Kurosawa, em que um grupo de descendentes e súditos se encontra ao redor do poderoso daimiô Hidetora, chefe do clã dos Ichimonji, durante o período feudal no Japão. Não é uma reunião convencional. Aos 70 anos — sendo 50 deles dedicados à conquista de um vasto império de castelos e terras —, Hidetora resolve “sair de cena e dar as rédeas para mãos mais jovens”.
Mas, antes que o senhor feudal anunciasse sua decisão, alguém lhe pergunta se convém assar um javali recém-caçado. A resposta: “Ele era velho. Sua pele é dura, fedida, indigerível. Como eu, o velho Hidetora. Vocês me comeriam?".
Nascido há exatamente cem anos, Kurosawa, maior representante do chamado jidai-geki (filme histórico de samurai), "saiu de cena" em 1998, aos 88 anos. Vítima de um derrame cerebral, morreu sem saber se boa parte de seus compatriotas o engoliam. A muitos orientais, pouco importavam os 55 anos de carreira do diretor, os 32 filmes, inúmeros prêmios, a projeção que deu ao cinema japonês no exterior. Na visão de seus detratores, o diretor de Os Sete Samurais e Kagemusha era definido como um "cineasta de exportação" demasiadamente "ocidentalizado", que teria cometido o crime de renegar as tradições e os costumes japoneses.
A realidade é bem diferente. Nem na sua vida, tampouco na sua vasta obra, Kurosawa deu as costas para a cultura do seu país. Descendente de um clã de samurais, filho de um férreo administrador militar, ele nasceu em Tóquio no dia 23 de março de 1910. Recebeu forte influência do irmão Heigo — um benshi (narrador de filmes japoneses na época do cinema mudo) —, que o iniciou no cinema.
Em 1936, Kurosawa conseguiu emprego como terceiro assistente de direção na Photo Chemical Laboratories. Foi lá que começou a escrever roteiros para outros cineastas. Demonstrava aberta admiração pelo trabalho do americano John Ford em filmes como No Tempo das Diligências (1939) e As Vinhas da Ira (1940). As principais referências, literárias e cinematográficas, podiam até ser ocidentais. Mas Kurosawa, ao estrear na direção com o drama A Lenda do Grande Judô (1943), tratou de temas mais próximos a suas raízes — as artes marciais, a devoção à natureza, a descoberta paciente do amor.
Os militares, às voltas com a Segunda Guerra Mundial, abominaram o lirismo do longa-metragem e acusaram o diretor de renegar os sentimentos nacionais. As autoridades o obrigaram a aplicar uma espécie de autocensura. A derrota na guerra se avizinhava quando foi lançado o filme Os Homens que Pisaram na Cauda do Tigre (1945). É o primeiro jidai- geki de Kurosawa — que, se não foi o precursor, certamente o tornou o cineasta-chave para entender o gênero samurai.
O estigma de "o mais ocidental dos cineastas japoneses", atribuído pejorativamente a Kurosawa, tem início com esse ousado longa-metragem. Embora continuasse a tratar de temas contemporâneos, o diretor passou a ambientar suas histórias no Japão feudal. Os dilemas foram então avaliados através de valores tradicionais, especialmente a honra, a lealdade e o sacrifício, tão caros no universo samurai.
No ambiente do pós- guerra seus filmes ganharam acesso a festivais internacionais. Em 1950, o diretor surpreendeu ao sair do Festival de Veneza com o prêmio máximo — o Leão de Ouro — por Rashomon. O mundo do cinema passou a dar destaque para o cinema japonês, e Kurosawa foi convertido em celebridade.
"Foi ele [Kurosawa] quem melhor representou a aproximação entre seu país, o Japão, e o Ocidente, após a Segunda Guerra Mundial", escreveu o crítico Inácio Araújo, da Folha de S.Paulo. Nos anos 50, o Japão era conhecido apenas como uma nação exótica, que os filmes de guerra americanos representavam como pouco mais que um grupo de bárbaros fanáticos. Essa imagem preconceituosa do Japão foi completamente subvertida por Kurosawa a partir de Rashomon.
Remontando ao século 11, o longa conta a história de um controvertido julgamento. Numa floresta, a noiva de um samurai tem relações sexuais com o bandido Tajomaru. O samurai, logo em seguida, é encontrado morto, ali perto. O que ocorreu de fato? O bandido estuprou a mulher e depois assassinou o noivo dela? Ou o samurai se matou em nome da honra ao ver sua amada traí-lo? Na investigação, quatro pessoas são ouvidas — a noiva, o samurai (por mediunidade), o bandido e um lenhador. Os relatos se chocam. Em breves flashbacks, o filme mostra cada um dos pontos de vista e seus elementos contraditórios.
Rashomon foi o primeiro grande filme de Kurosawa — uma obra em que ele mostra que o limite das certezas é também o limite da justiça. Sua premissa narrativa e moral — uma história com múltiplas versões — irradia-se até os dias de hoje.
Em 1954, Kurosawa realizou sua obra-prima, Os Sete Samurais. O filme se baseia numa história verídica para contrapor honra e destino. Aldeões do século 16 estão ameaçados por bandidos que, sem piedade, ocupam o povoado e saqueiam as colheitas de arroz. O mestre Kambei é encarregado de contratar mais seis samurais para proteger o local.
O professor acadêmico e crítico americano Roger Ebert especula que em nenhum filme, antes de Os Sete Samurais, um grupo de personagens havia se reunido para executar certa missão. Não bastasse a originalidade, Kurosawa compôs um grupo heterogêneo, cujos membros têm personalidade e motivações diferentes — o samurai interpretado por Toshiro Mifune fez história.
O filme é um elogio a valores coletivos (solidariedade, disciplina), mas exalta a humanidade que cerca sentimentos pessoais como o medo e a covardia. Os Sete Samurais levou o Leão de Prata no Festival de Veneza e consagrou de vez Kurosawa — Hollywood fez uma versão em faroeste do filme, com o título Sete Homens e um Destino.
Se o faroeste era o gênero americano por excelência, Kurosawa transformou o jidai-geki no grande gênero japonês. Nada de caubóis, pradarias e longos duelos do Velho Oeste — elementos típicos do western. O diretor japonês iluminou o cinema de seu país com guerreiros samurais, aldeias medievais, xogunatos, lutas breves de lanças — a essência da arte do espadachim.
Está aí a principal razão para o reconhecimento e a fama de Kurosawa fora do Japão, acima de diretores como os também mestres Kenji Mizoguchi (1898-1956) e Yasujiro Ozu (1903-1963). De um lado, seus filmes apresentaram pontos de sintonia com a tradicional narrativa ocidental; de outro, o cineasta interpretou à sua maneira princípios universais — na arte e na sociedade —, atribuindo-lhes a riqueza dos valores tipicamente orientais.
Tais características estão claras em outros filmes de samurai de Kurosawa, como A Fortaleza Escondida (1958), Yojimbo, O Guarda-Costas (1961), e sua continuação, Sanjuro (1962). Desses três, Yojimbo é o mais bem-sucedido em termos de crítica e público. Seu enredo gira em torno de um samurai solitário e desempregado, que resolve lutar para dois grupos inimigos. No filme seguinte, Sanjuro é o nome do samurai que cede à corrupção. Dois personagens, dois estudos morais.
Para incômodo dos japoneses mais ortodoxos, a carreira de Kurosawa sempre dialogou com o Ocidente. Na década de 50, o diretor adaptou para a tela grande O Idiota, de Dostoievski, e Ralé, de Gorki. Em Trono Manchado de Sangue (1957), ambientou Macbeth, de Shakespeare, no Japão feudal, e tratou do samurai Taketori Washizu. Destinado a ser xogum e instigado pela ganância da esposa Asaji, esse anti- herói envereda por uma luta que leva à memorável cena final: Washizu, imperecível, não sucumbe nem quando seus antigos comandados o atingem com dezenas de flechas.
O universo shakespeariano e o desenlace trágico são retomados em Ran, uma adaptação livre de Rei Lear e da lenda japonesa de Móri. O filme mostra uma disputa de poder marcada por traições no seio de um clã. Kagemusha é outro ensaio de Kurosawa sobre o poder, ambientado nos tempos dos samurais. Próximo da morte, o xogum Shingen vê que seu clã está em processo de ruína e arma uma manobra: arranja um sósia para sucedê-lo em sigilo.
Com a morte do chefe militar, o sósia a subir ao trono é um ladrão que aceita o disfarce e depara com uma série de crises. O larápio, no entanto, aprende as artimanhas do clã e vira uma personificação fiel do líder morto. Por esse épico espetacular — estudo de como a manutenção do poder pode custar caro numa sociedade de hipocrisias e aparências —, o cineasta japonês amealhou vários prêmios internacionais, com destaque para a Palma de Ouro no Festival de Cannes.
Lembrar Kurosawa cem anos após seu nascimento — como faz a Cinemateca Brasileira, ao programar um ciclo gratuito de filmes do diretor — é prestar tributo a uma cinematografia única. Uma vez mais, espectadores poderão entender por que esse gigante das artes japonesas foi definido até pelo diretor americano Steven Spielberg como “o Shakespeare visual do nosso tempo”.
* Texto adaptado de um artigo do autor para a revista Japão, 500 Anos de História, 100 Anos de Imigração
terça-feira, 9 de março de 2010
Oscar: Venceu o filme a favor da máquina de guerra
Achei interessante a análise, embora continue achando "Avatar" uma porcaria. Mas vale lembrar que a direitona dos EUA estava metendo o pau no filme por achar que ele era de esquerda!
- André
Oscar: Venceu o filme a favor da máquina de guerra
- Por Luiz Bolognesi*
Ao contrário do que parece à primeira vista, a polarização entre Avatar e Guerra ao Terror não traduz uma disputa entre cinema industrial e cinema independente, nem batalha entre homem e mulher. O que estava em jogo e continua é o confronto entre um filme contra a máquina de guerra e a economia que a alimenta e outro absolutamente a favor, com estratégias subliminares a serviço da velha apologia à cavalaria.
Avatar foi acusado nos Estados Unidos de ser propaganda de esquerda. E é. Por isso é interessante. No filme, repleto de clichês, os vilões são o general, o exército americano e as companhias exploradoras de minério do subsolo. Os heróis são o "povo da floresta". A certa altura, eles reúnem todos os ''clãs'' para enfrentar o invasor americano.
Clãs? Invasor americano? Que passa? É difícil entender como a indústria de Hollywood conseguiu produzir um filme tão na contramão dos interesses do país e transformá-lo no filme mais visto na história do cinema. Esse fato derruba qualquer teoria conspiratória, derruba décadas de pensamento de esquerda segundo a qual a indústria de Hollywood está sempre a serviço da ideologia do fast-food e da economia que avança com mísseis, aviões e tanques. Como explicar esse fenômeno tão contraditório?
Brechas, lacunas na história. Ou como diria Foucault, a história é feita de acasos e não de uma continuidade lógica cartesiana. A necessidade do grande lucro, da grande bilheteria mundial produziu uma antítese sem precedentes chamada James Cameron. O homem de Titanic tinha carta branca. Pelas regras da cultura do "ao vencedor, as batatas", Cameron podia tudo porque era capaz de fazer explodir as bilheterias mundiais.
Mas calma lá, cara pálida, uma incoerência desse tamanho, você acredita que passaria despercebida? O general americano, vilão? As companhias americanas que extraem minério debaixo das florestas tratadas como o império das sombras? Alto lá. Devagar com o andor, mister Cameron.
Aí, alguém chegou correndo com um DVD na mão. Vocês viram esse filme da ex-mulher do Cameron? Não, ninguém viu? Então vejam. É sensacional. Ao contrário de Avatar, nesse DVD aqui o soldado americano é o herói. Aliás, mais que herói, ele é um santo que arrisca sua própria vida para salvar iraquianos inocentes. Jura? Temos esse filme aí? Sim, o pitbull americano é humanizado e glamourizado, mais que isso, ele é santificado.
Então há tempo.
Guerra ao Terror estreou no Festival de Veneza há dois anos. Por acaso eu estava lá como roteirista de Terra Vermelha, do diretor italiano Marco Bechis, e fui testemunha ocular da história. O filme da diretora Kathryn Bigelow foi absolutamente desprezado pelos jornalistas e pelo público. E seguiu assim. Indo direto ao DVD, em muitos países, sem passar pelas salas de cinema. Até ser resgatado pela indústria americana como um trunfo necessário para contestar Avatar e reverenciar a máquina de guerra e o sacrifício de tantos jovens americanos mortos e decepados em campo de batalha.
Trabalhando num projeto para o mesmo diretor italiano, que pretendia fazer um filme sobre os viciados em guerra no Iraque, eu pesquisei o assunto durante alguns meses. Tudo muito parecido com o filme de Bigelow, exceto por um detalhe. O detalhe é que os soldados americanos que se tornam dependentes da adrenalina da guerra tornam-se assassinos compulsórios e não salvadores de vidas.
O sintoma dos viciados em guerra é atirar em qualquer coisa que se mexa, tratar a realidade como videogame e lidar com armas e balas de verdade como um brinquedo erótico. Se Guerra ao Terror representasse nas telas essa dimensão da realidade, seria um filme sensacional, mas não teria levado o Oscar, podem apostar.
Guerra ao Terror venceu o Oscar porque, como nos filmes de forte apache, transforma os assassinos que dizimam outras culturas em heróis santificados. A cena extremamente longa e minimalista em que os jovens soldados americanos em situação desprivilegiada combatem no deserto os iraquianos é o que, se não uma cena clássica de caubóis cercados por apaches?
Sem nenhuma surpresa para filmes desse gênero, os garotos americanos vencem, matam os iraquianos sem rosto, como os caubóis faziam com os apaches no velho-oeste. A cena do garoto iraquiano morto, com uma bomba colocada dentro do corpo por impiedosos iraquianos, que literalmente matam criancinhas, tem a sutileza de um elefante numa loja de cristais. Propaganda baratíssima da máquina de guerra.
No filme de Cameron, os na"vi azuis podem ser os apaches que derrotam o general e expulsam a cavalaria americana. Mas isso é apenas uma ficção. Na vida real do Oscar, a cavalaria precisa continuar massacrando os apaches.
*Luiz Bolognesi é roteirista de filmes como Bicho de Sete Cabeças e Chega de Saudade
- André
Oscar: Venceu o filme a favor da máquina de guerra
- Por Luiz Bolognesi*
Ao contrário do que parece à primeira vista, a polarização entre Avatar e Guerra ao Terror não traduz uma disputa entre cinema industrial e cinema independente, nem batalha entre homem e mulher. O que estava em jogo e continua é o confronto entre um filme contra a máquina de guerra e a economia que a alimenta e outro absolutamente a favor, com estratégias subliminares a serviço da velha apologia à cavalaria.
Avatar foi acusado nos Estados Unidos de ser propaganda de esquerda. E é. Por isso é interessante. No filme, repleto de clichês, os vilões são o general, o exército americano e as companhias exploradoras de minério do subsolo. Os heróis são o "povo da floresta". A certa altura, eles reúnem todos os ''clãs'' para enfrentar o invasor americano.
Clãs? Invasor americano? Que passa? É difícil entender como a indústria de Hollywood conseguiu produzir um filme tão na contramão dos interesses do país e transformá-lo no filme mais visto na história do cinema. Esse fato derruba qualquer teoria conspiratória, derruba décadas de pensamento de esquerda segundo a qual a indústria de Hollywood está sempre a serviço da ideologia do fast-food e da economia que avança com mísseis, aviões e tanques. Como explicar esse fenômeno tão contraditório?
Brechas, lacunas na história. Ou como diria Foucault, a história é feita de acasos e não de uma continuidade lógica cartesiana. A necessidade do grande lucro, da grande bilheteria mundial produziu uma antítese sem precedentes chamada James Cameron. O homem de Titanic tinha carta branca. Pelas regras da cultura do "ao vencedor, as batatas", Cameron podia tudo porque era capaz de fazer explodir as bilheterias mundiais.
Mas calma lá, cara pálida, uma incoerência desse tamanho, você acredita que passaria despercebida? O general americano, vilão? As companhias americanas que extraem minério debaixo das florestas tratadas como o império das sombras? Alto lá. Devagar com o andor, mister Cameron.
Aí, alguém chegou correndo com um DVD na mão. Vocês viram esse filme da ex-mulher do Cameron? Não, ninguém viu? Então vejam. É sensacional. Ao contrário de Avatar, nesse DVD aqui o soldado americano é o herói. Aliás, mais que herói, ele é um santo que arrisca sua própria vida para salvar iraquianos inocentes. Jura? Temos esse filme aí? Sim, o pitbull americano é humanizado e glamourizado, mais que isso, ele é santificado.
Então há tempo.
Guerra ao Terror estreou no Festival de Veneza há dois anos. Por acaso eu estava lá como roteirista de Terra Vermelha, do diretor italiano Marco Bechis, e fui testemunha ocular da história. O filme da diretora Kathryn Bigelow foi absolutamente desprezado pelos jornalistas e pelo público. E seguiu assim. Indo direto ao DVD, em muitos países, sem passar pelas salas de cinema. Até ser resgatado pela indústria americana como um trunfo necessário para contestar Avatar e reverenciar a máquina de guerra e o sacrifício de tantos jovens americanos mortos e decepados em campo de batalha.
Trabalhando num projeto para o mesmo diretor italiano, que pretendia fazer um filme sobre os viciados em guerra no Iraque, eu pesquisei o assunto durante alguns meses. Tudo muito parecido com o filme de Bigelow, exceto por um detalhe. O detalhe é que os soldados americanos que se tornam dependentes da adrenalina da guerra tornam-se assassinos compulsórios e não salvadores de vidas.
O sintoma dos viciados em guerra é atirar em qualquer coisa que se mexa, tratar a realidade como videogame e lidar com armas e balas de verdade como um brinquedo erótico. Se Guerra ao Terror representasse nas telas essa dimensão da realidade, seria um filme sensacional, mas não teria levado o Oscar, podem apostar.
Guerra ao Terror venceu o Oscar porque, como nos filmes de forte apache, transforma os assassinos que dizimam outras culturas em heróis santificados. A cena extremamente longa e minimalista em que os jovens soldados americanos em situação desprivilegiada combatem no deserto os iraquianos é o que, se não uma cena clássica de caubóis cercados por apaches?
Sem nenhuma surpresa para filmes desse gênero, os garotos americanos vencem, matam os iraquianos sem rosto, como os caubóis faziam com os apaches no velho-oeste. A cena do garoto iraquiano morto, com uma bomba colocada dentro do corpo por impiedosos iraquianos, que literalmente matam criancinhas, tem a sutileza de um elefante numa loja de cristais. Propaganda baratíssima da máquina de guerra.
No filme de Cameron, os na"vi azuis podem ser os apaches que derrotam o general e expulsam a cavalaria americana. Mas isso é apenas uma ficção. Na vida real do Oscar, a cavalaria precisa continuar massacrando os apaches.
*Luiz Bolognesi é roteirista de filmes como Bicho de Sete Cabeças e Chega de Saudade
segunda-feira, 8 de março de 2010
Masoquismo puro: Análise do Oscar 2009
Esse último Oscar foi um dos piores, se não o pior, que eu já assisti. Não estou falando do show em si, que foi brega, irritante e interminável como sempre, mas sim dos filmes concorrendo.
Uma piada o fraco "Guerra ao Terror" ganhar seis estatuetas - ainda mais as técnicas, como melhor edição de som e efeitos sonoros, já que o filme é extremamente precário. Mas pior seria o desenho animado em computador "Avatar" ter ganho como melhor filme e diretor. Por sinal, como um filme desses, todinho feito digitalmente, pode ganhar o Oscar de melhor fotografia? Ridículo.
Sandra Bullock melhor atriz? Só rindo mesmo... Mas faz parte da lógica deles de tentarem alavancar a carreira de gente que ajuda a trazer dinheiro para as bilheterias e para as contas bancárias dos executivos de Roliúdi.
As únicas coisas boas da noite foram as premiações do Jeff Bridges, bom ator e um sujeito simpático, do filme argentino "O Segredo de Seus Olhos" e do compositor Michael Giacchino (por "Up", um desenho bem fraquinho cuja trilha sonora era a única coisa que prestava). Só faltava mesmo a grotesca trilha de James Horner para "Avatar" ganhar. Ou o abominável Hans Zimmer, que criou o barulho que chamaram de música para o desprezível "Sherlock Holmes".
Não dá mesmo para levar a sério esse concurso de popularidade, mas nunca haviam chegado ao fundo do poço como este ano. Filmes excepcionais como "Agora" ou "Watchmen" não terem recebido nenhuma indicação é apenas a prova que não se deve levar essa besteira à sério. A gente assiste e comenta por masoquismo puro e simples...
Uma piada o fraco "Guerra ao Terror" ganhar seis estatuetas - ainda mais as técnicas, como melhor edição de som e efeitos sonoros, já que o filme é extremamente precário. Mas pior seria o desenho animado em computador "Avatar" ter ganho como melhor filme e diretor. Por sinal, como um filme desses, todinho feito digitalmente, pode ganhar o Oscar de melhor fotografia? Ridículo.
Sandra Bullock melhor atriz? Só rindo mesmo... Mas faz parte da lógica deles de tentarem alavancar a carreira de gente que ajuda a trazer dinheiro para as bilheterias e para as contas bancárias dos executivos de Roliúdi.
As únicas coisas boas da noite foram as premiações do Jeff Bridges, bom ator e um sujeito simpático, do filme argentino "O Segredo de Seus Olhos" e do compositor Michael Giacchino (por "Up", um desenho bem fraquinho cuja trilha sonora era a única coisa que prestava). Só faltava mesmo a grotesca trilha de James Horner para "Avatar" ganhar. Ou o abominável Hans Zimmer, que criou o barulho que chamaram de música para o desprezível "Sherlock Holmes".
Não dá mesmo para levar a sério esse concurso de popularidade, mas nunca haviam chegado ao fundo do poço como este ano. Filmes excepcionais como "Agora" ou "Watchmen" não terem recebido nenhuma indicação é apenas a prova que não se deve levar essa besteira à sério. A gente assiste e comenta por masoquismo puro e simples...
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Filmes: "O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus"
ANARQUISTA EM FORMA
É uma obra típica de Terry Gilliam, do Monty Phyton, cheia de alegorias, teatro mambembe, anões, delírios, histeria e viagens psicodélicas.
- por André Lux, crítico-spam
Depois de uma maré baixa, onde fez dois filmes fracos (“Os Irmãos Grimm” e “Contraponto”) e quase foi à loucura com as filmagens inacabadas de “Dom Quixote”, o anarquista Terry Gilliam volta à forma com “O Mundo Imaginário do Dourtor Parnassos”, filme que acabou ficando famoso por se tratar da última interpretação de Heat Ledger (o Coringa do último “Batman”) que morreu durante as filmagens e quase inviabilizou a finalização da obra.
Mas como a trama é bizarra e cheia de passagens delirantes, Gilliam conseguiu substituir Ledger com sucesso por Johnny Depp, Jude Law e Collin Farrel em momentos chaves do filme que se passam numa espécie de realidade paralela existente dentro de um espelho que é fruto dos poderes paranormais do tal Dr. Parnassus do título (Christopher Plummer em ótimo desempenho), um sujeito que tem uma trupe de circo que se apresenta em becos de Londres e vive há centenas de anos por causa de diversas apostas que fez com o diabo (interpretado pelo cantor Tom Waits). O personagem de Heat Ledger entra na trama depois de ser salvo de um aparente suicídio pela trupe circense e, como perdeu a memória, insere-se ao grupo e tenta injetar sangue novo às apresentações do Dr. Parnassus.
Embora o filme tenha um início truncado e mal alinhavado, tudo melhora quando Ledger entra em cena e as propostas do diretor começam a tomar forma, assim como a crítica à sociedade do consumo e à estupidez de quem faz parte dela acriticamente (que dá o tom à sua obra-prima “Brazil”).
Ou seja, é uma obra típica de Gilliam, cheia de alegorias, teatro mambembe, anões, delírios, histeria e viagens psicodélicas. O filme lembra em alguns momentos “As Aventuras do Barão Munchausen” (uma de suas melhores obras) tanto na forma quanto no conteúdo e tem relação com “O Pescador de Ilusões”, que também mostrava personagens derrotados vivendo em busca de redenção por meio da imaginação. Há inclusive uma cena completamente maluca dentro do espelho, onde policiais dançam numa espécie de musical, que faz referência direta aos quadros do genial grupo Monty Phyton (do qual Gilliam era o criador das animações).
Enfim, para quem gosta e estava com saudades do bom e velho Gilliam, este filme é um prato cheio.
Cotação: * * * 1/2
É uma obra típica de Terry Gilliam, do Monty Phyton, cheia de alegorias, teatro mambembe, anões, delírios, histeria e viagens psicodélicas.
- por André Lux, crítico-spam
Depois de uma maré baixa, onde fez dois filmes fracos (“Os Irmãos Grimm” e “Contraponto”) e quase foi à loucura com as filmagens inacabadas de “Dom Quixote”, o anarquista Terry Gilliam volta à forma com “O Mundo Imaginário do Dourtor Parnassos”, filme que acabou ficando famoso por se tratar da última interpretação de Heat Ledger (o Coringa do último “Batman”) que morreu durante as filmagens e quase inviabilizou a finalização da obra.
Mas como a trama é bizarra e cheia de passagens delirantes, Gilliam conseguiu substituir Ledger com sucesso por Johnny Depp, Jude Law e Collin Farrel em momentos chaves do filme que se passam numa espécie de realidade paralela existente dentro de um espelho que é fruto dos poderes paranormais do tal Dr. Parnassus do título (Christopher Plummer em ótimo desempenho), um sujeito que tem uma trupe de circo que se apresenta em becos de Londres e vive há centenas de anos por causa de diversas apostas que fez com o diabo (interpretado pelo cantor Tom Waits). O personagem de Heat Ledger entra na trama depois de ser salvo de um aparente suicídio pela trupe circense e, como perdeu a memória, insere-se ao grupo e tenta injetar sangue novo às apresentações do Dr. Parnassus.
Embora o filme tenha um início truncado e mal alinhavado, tudo melhora quando Ledger entra em cena e as propostas do diretor começam a tomar forma, assim como a crítica à sociedade do consumo e à estupidez de quem faz parte dela acriticamente (que dá o tom à sua obra-prima “Brazil”).
Ou seja, é uma obra típica de Gilliam, cheia de alegorias, teatro mambembe, anões, delírios, histeria e viagens psicodélicas. O filme lembra em alguns momentos “As Aventuras do Barão Munchausen” (uma de suas melhores obras) tanto na forma quanto no conteúdo e tem relação com “O Pescador de Ilusões”, que também mostrava personagens derrotados vivendo em busca de redenção por meio da imaginação. Há inclusive uma cena completamente maluca dentro do espelho, onde policiais dançam numa espécie de musical, que faz referência direta aos quadros do genial grupo Monty Phyton (do qual Gilliam era o criador das animações).
Enfim, para quem gosta e estava com saudades do bom e velho Gilliam, este filme é um prato cheio.
Cotação: * * * 1/2
Filme: "O Segredo de Seus Olhos"
IMPERDÍVEL
Obra mostra o que há de melhor no cinema argentino da atualidade.
- por André Lux, crítico-spam
Depois de passar uma temporada dirigindo episódios de séries famosas nos EUA (como “House” e “Lei e Ordem”), o diretor Juan José Campanella, de “O Filho da Noiva” (leia minha análise neste link), voltou à Argentina para produzir mais um excelente filme chamado “O Segredo de Seus Olhos”.
Novamente trabalhando com seu ator preferido, Ricardo Darin, Campanella adapta um romance de Eduardo Sacheri com sua habitual maestria, juntando no mesmo filme diversos tipos de gêneros do cinema, tais como suspense, drama, romance, policial, comédia, denúncia política (uma parte do filme se passa durante a ditadura militar argentina) e até uma pitada de film noir.
Darin interpreta com sua naturalidade e competência de sempre Benjamín Espósito, um oficial de justiça aposentado que resolve escrever um livro tendo como premissa um caso escabroso que investigou no passado e que trouxe conseqüências trágicas para todos os envolvidos.
Mas não é só isso. Em seu livro Espósito quer também expiar seu remorso por não ter tido coragem de lutar pelo amor de sua vida, interpretada por Soledad Villamil (que esteve em “O Mesmo Amor, A Mesma Chuva” também com Darin e dirigido por Campanella), que era sua supervisora no Fórum. Outro personagem importante é o parceiro de Espósito, Pablo Sandoval, na pele de Guillermo Francella, que serve como alívio cômico à trama (preste atenção às formas como ele atende ao telefone da repartição).
Por meio de flashbacks muito bem elaborados, vamos sendo apresentados ao crime e aos desdobramentos que ele provoca na vida dos envolvidos.
É digna de nota a firmeza com que Campanella conduz a trama, sempre de forma inusitada e buscando o aprofundamento psicológico dos protagonistas à medida que eles vão sendo afetados pelos desenlaces do caso investigado.
O filme busca também fazer um estudo do que leva uma pessoa a ficar obcecada, em contraste com o vazio existencial enfrentado por Espósito e o que ambos sentimentos geram de consquências.
Se você já conhece o trabalho do diretor Campanella então não pode perder mais esse excelente filme dele. E se não conhece, está aí uma ótima oportunidade para tomar contato com o que há de melhor no cinema argentino da atualidade.
De qualquer forma, “O Segredo de Seus Olhos” é um filme simplesmente imperdível.
Cotação: * * * *
Obra mostra o que há de melhor no cinema argentino da atualidade.
- por André Lux, crítico-spam
Depois de passar uma temporada dirigindo episódios de séries famosas nos EUA (como “House” e “Lei e Ordem”), o diretor Juan José Campanella, de “O Filho da Noiva” (leia minha análise neste link), voltou à Argentina para produzir mais um excelente filme chamado “O Segredo de Seus Olhos”.
Novamente trabalhando com seu ator preferido, Ricardo Darin, Campanella adapta um romance de Eduardo Sacheri com sua habitual maestria, juntando no mesmo filme diversos tipos de gêneros do cinema, tais como suspense, drama, romance, policial, comédia, denúncia política (uma parte do filme se passa durante a ditadura militar argentina) e até uma pitada de film noir.
Darin interpreta com sua naturalidade e competência de sempre Benjamín Espósito, um oficial de justiça aposentado que resolve escrever um livro tendo como premissa um caso escabroso que investigou no passado e que trouxe conseqüências trágicas para todos os envolvidos.
Mas não é só isso. Em seu livro Espósito quer também expiar seu remorso por não ter tido coragem de lutar pelo amor de sua vida, interpretada por Soledad Villamil (que esteve em “O Mesmo Amor, A Mesma Chuva” também com Darin e dirigido por Campanella), que era sua supervisora no Fórum. Outro personagem importante é o parceiro de Espósito, Pablo Sandoval, na pele de Guillermo Francella, que serve como alívio cômico à trama (preste atenção às formas como ele atende ao telefone da repartição).
Por meio de flashbacks muito bem elaborados, vamos sendo apresentados ao crime e aos desdobramentos que ele provoca na vida dos envolvidos.
É digna de nota a firmeza com que Campanella conduz a trama, sempre de forma inusitada e buscando o aprofundamento psicológico dos protagonistas à medida que eles vão sendo afetados pelos desenlaces do caso investigado.
O filme busca também fazer um estudo do que leva uma pessoa a ficar obcecada, em contraste com o vazio existencial enfrentado por Espósito e o que ambos sentimentos geram de consquências.
Se você já conhece o trabalho do diretor Campanella então não pode perder mais esse excelente filme dele. E se não conhece, está aí uma ótima oportunidade para tomar contato com o que há de melhor no cinema argentino da atualidade.
De qualquer forma, “O Segredo de Seus Olhos” é um filme simplesmente imperdível.
Cotação: * * * *
Assinar:
Postagens (Atom)