GROTESCO E OFENSIVO
Só um degenerado poderia conceber algo como esse filme baseado nos quadrinhos do “Super-homem” que fazem a cabeça da garotada há décadas
- por André Lux, crítico-spam
Eu tenho pena das crianças de hoje em dia. Sei que parece papo de velho
falando, mas sinceramente, só um degenerado poderia conceber algo tão grotesco
quanto esse “Homem de Aço”, filme baseado nos quadrinhos do “Super-homem” que
fazem a cabeça da garotada há décadas e renderam pelo menos dois longas
metragens espetaculares: “Superman – O Filme” e a sequência “Superman II”.
O sucesso dos filmes dirigidos por Richard Donner e Richard Lester, no
final dos anos 1970, vinha justamente do fato deles não se levarem a sério.
Afinal, estamos falando de um sujeito praticamente indestrutível que se veste com as
cores da bandeira dos EUA, usa capa e a cueca vermelha por cima da calça, pelo
amor de Zod! Ou seja, é um filme para crianças! No final, durante o vôo de
despedida em volta da Terra, Christopher Reeve até cumprimentava a plateia, como
que dizendo "Ei, é apenas uma brincadeira".
Não faz o menor sentido, portanto, tentar aplicar ao “Superman” o mesmo
estilo ultra-realista dos novos filmes do “Batman”. Mas, que nada, como deu
certo com o "Cavaleiro das Trevas", por que não fazer o mesmo com o “Superman”,
não é mesmo? Aí chamaram David S. Goyer e Christopher Nolan para escrever o
roteiro (os mesmos dos novos “Batman”, vejam só!) e Zack Snyder (de “300” e
“Watchmen”) para dirigir. E o resultado é um dos filmes mais grotescos e
ofensivos de todos os tempos!
Confesso que fui um dos poucos que gostou do “Watchmen” do Snyder, mas seu
“300” é bem fraquinho e seu filme anterior, “Sucker Punch”, é simplesmente
nojento. Sinceramente, não dá para dizer o que é pior nesse “Homem de Aço”, mas
sem dúvida o troféu abacaxi vai para a trilha musical do abominável Hans Zimmer,
que é uma monstruosidade de ruindade, do começo ao fim, do tipo que deixa
qualquer um com dor de cabeça. Eu já havia comentado brevemente o CD com a
trilha do Zimmer, mas no filme fica ainda pior. Chega a ser embaraçoso o nível
de amadorismo e falta de talento de Zimmer junto com um filme tão pretensioso e
desmiolado como esse.
O começo, em Krypton, não faz o menor sentido. No original, Jor-El
(interpretado com grande carisma por Marlon Brando) tentava em vão avisar aos
governantes da destruição eminente do planeta. No novo filme, todo mundo
concorda com os avisos do Jor-El (na pele de Russel Crowe, que se transformou
num dos maiores canastrões da atualidade), mas mesmo assim nada fazem para fugir do
planeta, mesmo tendo altíssima tecnologia e naves poderosas!
Depois que o Superman chega à Terra, o filme pula para o presente e sua
infância aparece em flash-backs onde descobrimos que seu pai adotivo era um
tremendo babaca, além de ser um caipira extremamente articulado e metido a intelectual! A cena
da morte dele é de provocar gargalhadas, de tão ridícula. Por sinal, colocar
Kevin Costner e Diane Lane como os pais do herói não funciona nem um minuto, pois
os dois atores são requintados demais para convencer como dois fazendeiros
broncos do Kansas.
Tem outras coisas idiotas no filme. Como o fato de não decidirem se o Superman usa gumex no cabelo ou não. Na cena em que se entrega aos militares, por exemplo, ele está de gumex. Já na sequência seguinte, na nave, não está mais com gumex. Mas, depois, quando foge, volta o gumex! Também não ficam claras as extensões dos poderes do vilões. Pelo que dizem, o Superman levou anos absorvendo a radiação do sol para ficar poderoso, mas Zod e sua gangue ficam com a mesma força assim que chegam à Terra. E assim por diante...
Tem outras coisas idiotas no filme. Como o fato de não decidirem se o Superman usa gumex no cabelo ou não. Na cena em que se entrega aos militares, por exemplo, ele está de gumex. Já na sequência seguinte, na nave, não está mais com gumex. Mas, depois, quando foge, volta o gumex! Também não ficam claras as extensões dos poderes do vilões. Pelo que dizem, o Superman levou anos absorvendo a radiação do sol para ficar poderoso, mas Zod e sua gangue ficam com a mesma força assim que chegam à Terra. E assim por diante...
Mas nada supera em ruindade o sujeito que colocaram para fazer o general
Zod, um tal de Michael Shannon que, além de ser péssimo ator, tem uma voz de
taquara rachada e um corte de cabelo estilo Cebolinha! E por que diabos o
sujeito quer tanto destruir a Terra? Bastava ele pegar o tal Codex com o
Superman numa boa e ir para qualquer outro planeta que eles já haviam colonizado
antes para reconstruir a civilização de Krypton. Afinal, nesta nova versão, Zod
não tem motivos para ter ódio de Jor-El e querer se vingar de seu filho, como no
original.
Zod e Cebolinha: separados no nascimento |
Entretanto, o que deixa esse "Homem de Aço" intragável são as infinitas
cenas de ação e lutas, todas completamente exageradas e ridículas, sempre feitas
em animação digital no pior estilo vídeo game. E a destruição causada por elas?
A primeira briga entre o herói e alguns vilões simplesmente arrasa Smallville! E
o ataque em Metrópolis, então? Dá pra imaginar que milhões de pessoas morreram
não apenas por causa do raio que sai da nave de Zod (que literalmente destrói
prédios inteiros), mas também da luta entre ele e o Superman! E tudo bem,
ninguém fala nada sobre isso! Ah é, mas o Super salva a Lois Lane e um soldado!
Para completar a orgia de nojeiras e insensibilidade, o nosso "herói" ainda mata
o vilão quebrando seu pescoço! Que coisa bonita e edificante para as crianças
verem, não?
Sei que muita gente vai dizer, com razão, que o Superman não passa de um
porta voz da indústria cultural imperialista dos EUA e que, por isso, já passa
valores deturpados desde o começo. Sim, é verdade. Não dá para negar isso (e nesse novo filme ainda chegam ao cúmulo de perguntar ao Superman com a sutileza de um elefante como poderão ter certeza que ele nunca vai trair os EUA, ao que ele responde: "Hey, fui criado no Kansas"!).
Porém, mesmo assim, quando você assiste ao primeiro "Superman" com o Christopher
Reeve existem muitos valores ali que podem ser serem benéficos para uma criança,
como o fato do herói "nunca mentir", ser fiel aos seus amigos ou colocar sua
própria vida em risco para salvar os seres humanos, que ele aprendeu a amar e
respeitar.
Mas neste novo filme nada disso está presente e as crises de consciência do herói são forçadas e tolas. E ainda tentam forçar paralelos entre o Superman e Jesus Cristo em uma cena patética em que ele vai se confessar numa igreja e no fato dele ter 33 anos também... Ninguém merece!
Mas neste novo filme nada disso está presente e as crises de consciência do herói são forçadas e tolas. E ainda tentam forçar paralelos entre o Superman e Jesus Cristo em uma cena patética em que ele vai se confessar numa igreja e no fato dele ter 33 anos também... Ninguém merece!
Dá até pena do coitado do Henry Cavill (que esteve na série "Os Tudors")
que é bonitão e tem pinta de Superman, mas é um ator por demais limitado para
tentar dar algum sentido a um personagem ilógico num filme
completamente sem eira nem beira como esse. Se não bastasse tudo isso, o filme é
mal feito, tem uma fotografia péssima (toda esmaecida e granulada como é a moda
agora dos supostos "ultra-realistas"), desenho de produção feio (algumas naves
parecem besouros e outras ridículos pintos gigantes!) e edição picotada e truncada (nas cenas de luta mal
conseguimos ver o que se passa).
Felizmente, esse lixo não está fazendo o sucesso esperado, o que significa
que talvez não façam uma continuação ou ao menos vão ter que repensar os
conceitos antes de aprová-la.
Cotação: ZERO