ARREBATADOR
De vez em quando surgem filmes que fazem a gente voltar a ter esperança na sétima arte.
- por André Lux, crítico-spam
De vez em quando surgem filmes que fazem a gente voltar a ter esperança na sétima arte. “Desejo e Reparação” é um deles, onde todos os elementos que dão vida ao produto cinematográfico são de qualidade excepcional e existem somente para o benefício da história a ser contada e das emoções transmitidas. Nem mais, nem menos.
Uma cena que mostra a chegada dos soldados à desolada praia de Dunkirk, na França, durante a segunda guerra mundial, ilustra bem essa perfeição: são mais de cinco minutos de um plano-seqüência sem cortes, onde uma multidão de pessoas é movimentada com precisão, trazendo resultados arrebatadores.
Baseado no romance de Ian McEwan, o filme tem como tema central um erro irreparável que destrói a vida de quase todos os personagens principais, cometido de maneira consciente, porém ingênua, por uma criança movida por paixões que ainda não tinha maturidade para compreender ou controlar.
Assim, num momento de ciúme vingativo, a menina Brioni, a filha de 13 anos de uma família aristocrata da Inglaterra dos anos 1930, acusa o filho da empregada (o intenso James MacAvoy, revelado na mini-série “Os Filhos de Duna”) de um crime que não cometeu. Justamente no momento em que o amor que ele sentia pela irmã mais velha dela (Keira Knightley) foi revelado – e aceito.
A denuncia contra o preconceito social e a hipocrisia das ditas “elites” também se faz presente, pois a prisão injusta do jovem oriundo das camadas mais baixas acaba sendo uma espécie de “vingança” silenciosa dos aristocratas contra aquele insolente que ousou tentar melhorar de vida, fazendo planos inclusive de estudar medicina, recusando-se a aceitar “seu lugar” e, pecado dos pecados, engraçando-se com uma de suas filhas.
Gostei muito da montagem inventiva (de Paul Tothill), que surpreende ao retornar a cenas já exibidas, mas monstrando-as sob um outro ponto de vista como que para lembrar o espectador que nem tudo é o que parece ser. A bela trilha musical de Dario Marianelli, cujo talento já havia sido comprovado em filmes como “V de Vingança” e “Os Irmãos Grimm”, também é muito eficiente e torna-se marcante ao incorporar musicalmente os sons de uma antiga máquina de datilografar ao tema de Brioni.
É por tudo isso que a tragédia descrita no filme ganha contornos ainda mais tocantes, especialmente durante a conclusão, quando a excepcional Vanessa Readgrave tem uma cena solo capaz de arrancar lágrimas do mais duro espectador. Afinal, quem é que nunca cometeu (ou foi vítima de) um erro irreparável, consciente ou não, que trouxe conseqüências desagradáveis, quando não trágicas, a si mesmo ou a outras pessoas durante a vida?
Não por acaso, durante a exibição veio à mente “O Paciente Inglês”, outro filme excelente que tem temática e clima parecidos – e parece que eu não estava errado, já que o próprio diretor daquele filme, Anthony Minghella, aparece em uma ponta como o entrevistador no final.
Para quem gosta de dramas históricos com uma pitada de comentário social ou simplesmente de cinema feito com amor e requinte, “Desejo e Reparação” é uma ótima opção. Simplesmente imperdível!
Cotação: * * * * *
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Um comentário:
Excelente resenha.
Desejo e Reparação virou meu filme favorito, vi e revi inúmeras vezes. O final é incrível e me levou às lágrimas. Já "O paciente inglês" não me encantou muito não...
Abraços.
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