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terça-feira, 4 de março de 2025

Exagero e pretensão transformam “Nosferatu” em versão live action de “Hotel Transylvania”

Outros filmes do diretor Eggers sofrem do mesmo defeito: são desnecessariamente obscuros, modorrentos e pretensiosos

- por André Lux, crítico-spam

Fazia tempo que não via um filme tão chato e equivocado como esta releitura de “Nosferatu” dirigida pelo cineasta Robert Eggers, que vem se especializando no gênero terror e virou queridinho da crítica. Porém, o único filme dele que me agradou foi “O Farol”. Os outros sofrem do mesmo defeito deste: são desnecessariamente obscuros, modorrentos e pretensiosos.

Como todo mundo já sabe, o “Nosferatu” original é um filme mudo dirigido por Murnau em 1922. Na verdade, era para ser uma adaptação de “Dracula”, de Bram Stoker, mas quando os realizadores não conseguiram os direitos da obra, simplesmente mudaram o nome dos personagens e algumas situações, o que gerou um processo movido pela viúva do escritor e na quase destruição total da película (felizmente algumas cópias sobreviveram). A mesma história foi novamente adaptada por Werner Herzog em 1979, com Klaus Kinski no papel título.

Agora é a vez de Eggers fazer a releitura do original e, rapaz, ele falhou feio desta vez. Ele erra em alguns elementos que deveriam ser primordiais para o sucesso da empreitada. A começar pela fotografia que, embora tenha vários planos bonitos, é escura ao ponto de simplesmente ser impossível ver o que se passa na tela grande parte do tempo. Uma coisa é ser sombrio e contrastado, outra é ser um completo breu. O cineasta também abusa de movimentos de câmera repetitivos que saem do nada e chegam a lugar nenhum, em uma tentativa “artística” de gerar medo.

O roteiro também não traz nada de novo ao gênero, ou seja, quem já leu o livro ou viu as inúmeras adaptações cinematográficas de “Drácula” vai ficar entediado e até irritado por causa da edição modorrenta do filme. O personagem feminino principal não tem qualquer nuance ou arco. Ela já começa o filme totalmente histérica e não tem para onde ir, o que obriga a atriz Lily-Rose Depp a gritar, espumar e rolar pelo chão de forma cada vez mais ridícula e descontrolada, ao ponto de gerar risos na plateia. Perto dela, a menina de “O Exorcista” parece calma.

Nem mesmo o coitado do Willem Dafoe escapa da canastrice geral, fazendo o caçador de vampiros que deveria ser o Van Helsing do original, e também se perde numa atuação caricata na qual ainda tem que proferir ataques contra a ciência em favor de um misticismo tosco, algo muito inadequado para os dias de terraplanismo em que vivemos.

Mas a âncora que afunda de vez o filme é personagem título, em uma caracterização ridícula feita por Bill Skarsgard, com direito a bigodão estilo Leôncio do Pica-Pau, cujo sotaque extremamente carregado me fez lembrar do Drácula da animação “Hotel Transylvania”, do Adam Sandler. 

Para piorar, o diretor parece que ficou com vergonha do seu Nosferatu e o deixa escondido a maior parte do filme, chegando a desfocá-lo em primeiro plano, algo que consegue apenas gerar irritação pois dá a impressão que a projeção está fora de foco!

Nosferatu e Drácula do Adam Sandler: separrrrrrradossssss no nasssssscimentooooooo

A trilha musical de um tal de Robin Carolan é fraca e repleta de clichês do gênero terror. Basta comparar com a música sensacional composta por Wojciech Kilar para o “Drácula” de Francis Ford Coppola. Por sinal, é impossível não comparar “Nosferatu” com a exuberante obra de Coppola e o novo perde feio, mas muito feio, em todos os quesitos.

Enfim, uma grande perda de tempo que não merece os elogios que vem recebendo por aí. Novamente estão julgando um filme pelo que ele deveria ser e também pela pretensão de quem o dirigiu e não pela obra em si que, diga-se de passagem, é uma bela porcaria.

Cotação: *

“Solaris” é uma ficção científica que reflete sobre a natureza humana

Assim como reflete um dos personagens sobre o enigmático planeta, o filme apresenta apenas escolhas, cabendo ao espectador fazer a sua 

- por André Lux, crítico-spam 

 Há pelo menos uma cena antológica em "Solaris" de Steven Soderbergh: ao falar sobre a descoberta do estranho planeta que dá nome ao filme com seu amigo psiquiatra Chris Kelvin (George Clooney), o cientista Gibarian descreve: "Ao observarmos Solaris, ele reagia como se soubesse que estava sendo observado". Ao mesmo tempo em que essa fala é proferida, observamos a bela Rheya (Natascha McElhone) desfilando sedutoramente na tela, reagindo ao olhar penetrante de Kelvin. Essa cena primorosamente dirigida e editada é a chave para a compreensão do filme como um todo, especialmente a sua conclusão.

Baseado no livro do escritor polonês Stanislaw Lem, "Solaris" narra a história de um grupo de cientistas a bordo de uma estação espacial em órbita de um planeta que parece ter vida própria e estranhos poderes, capaz de materializar sonhos e desejos dos tripulantes levando todos à beira da loucura. Para tentar solucionar o enigma, é enviado ao local o psiquiatra Kelvin, que passa também a sofrer com as aparições de sua falecida esposa cuja morte o deixou traumatizado.

Essa trama já havia sido adaptada para os cinemas em 1972 pelo pretensioso cineasta russo Andrei Tarkovsky. Embora a nova versão também tenha um ritmo lento e bastante cerebral, as semelhanças entre as duas versões acabam aí. No primeiro filme predominava um clima árido desprovido de emoção e sobravam discussões filosóficas enigmáticas e enfadonhas, bem como intermináveis sequências que nada acrescentavam à trama (como um passeio de carro pelas ruas de Moscou que durava longos minutos!). Tudo isso prejudicava a narrativa e alienava o espectador, de tal forma que transforma a conclusão do filme em algo praticamente indecifrável.

Já Soderbergh, também autor do roteiro da nova versão, preferiu investir em um clima mais humano dando ênfase ao relacionamento do casal central, cujos encontros e desencontros são apresentados por meio de uma narrativa brilhante e convincente, na qual presente, passado e futuro se misturam e se fundem sem nunca perder o fio da meada. É louvável o grau de maturidade que o diretor tem ao analisar a relação do casal, fato que parece incomodar algumas pessoas (prova disso é a ridícula polêmica levantada em relação à nudez de Clooney em uma cena casual).

Ao contrário da verborrágica e indecifrável fita de Tarkovsky, as questões levantadas pelo autor do livro - muitas delas relativas à própria natureza do ser humano - ficam perfeitamente claras na nova versão e, portanto, relevantes tanto para a trama do filme quanto para o espectador mais atento. É nesses momentos que "Solaris" chega perto de tornar-se uma obra-prima da ficção científica.

Pena que o filme caia um pouco quando surgem em cena os atores coadjuvantes Jeremy Davies (como Snow) e Viola Davis (comandante Gordon), pois ambos são muito fracos e destoam do restante. O visual do planeta também deixa a desejar (ficou parecendo uma bexiga cor-de-rosa que brilha no escuro) e perde feio se comparado ao do filme de Tarkovsky, que era muito mais enigmático e perturbador. 

Muitos reclamam também da conclusão do novo filme, que realmente difere da do livro e da primeira versão, mas a verdade é que ela em nada afeta o resultado final. Apenas demonstra que Soderbergh não teve medo de apresentar sua própria versão do que o planeta buscava - fato deixado em aberto na obra original.

Quem procura algo mais no cinema do que simples diversão e entretenimento descerebrado deve assistir ''Solaris'', uma ficção científica que não procura dar respostas ou soluções fáceis e certamente vai exigir um maior grau de maturidade e atenção da plateia. Assim como reflete um dos personagens sobre a natureza do enigmático planeta, o filme apresenta apenas escolhas, cabendo ao espectador fazer a sua. 

Cotação: ****

“A Substância” falha ao não criticar o capitalismo

 

 Nada faz sentido neste filme grotesco que acaba sendo um desserviço à causa feminista que pretende defender

- por André Lux, crítico-spam

“A Substância” é mais um daqueles filmes ruins que por motivos misteriosos vira queridinho da crítica e ganha prêmios nos festivais da indústria cultural.

Sim, eu entendi a MENSAGEM do filme de criticar a ganância dos executivos dessa mesma indústria cultural, que desprezam as mulheres depois que chegam à maturidade em sua ânsia por lucrar em cima dos corpos perfeitos das jovenzinhas. Essa lógica é concentrada num personagem extremamente caricato vivido por Dennis Quaid.

Mas mensagens não garantem a qualidade de uma obra de arte, por mais bem intencionada que seja. E aqui essa pretensão de criticar a ditadura da beleza é rasa como uma poça de água já que, em momento algum, toca na real causa dela: o capitalismo.

Criticar essa realidade sem enfiar o dedo na ferida do modo de produção capitalista, que busca o lucro acima de tudo e de todos, não faz sentido. Por isso “A Substância” vira apenas uma colcha de retalhos de clichês de filmes de terror “gore”, apelando a todo momento para lente grande angular, efeitos especiais nojentos, sangue e vísceras, virando uma espécie de “A Mosca” encontra “O Enigma de Outro Mundo” – dois excelentes filmes do gênero.

Demi Moore virando A Coisa

Sobra para a coitada da Demi Moore ficar o tempo todo fazendo caras e bocas, enquanto tem seu corpo cada vez mais coberto com maquiagem grotesca ao ponto de virar um monstro no fim do filme. Por sinal, a conclusão é simplesmente ridícula, digna de risos, ainda mais porque é levada a sério. Faria sentido se, no fim, descobríssemos que tudo não passou de um pesadelo ou delírio da protagonista, mas como isso não acontece não dá pra acreditar que aquela figura monstruosa não provoque reações de nojo nas pessoas, que inclusive a aplaudem.

O roteiro é cheio de furos e não explica nem mesmo como funciona a tal substância, quem está por trás dela e sequer como é comprada. A atriz que faz a jovem Demi Moore é sofrível e aparece o tempo todo hiper-sexualizada para atrair atenção, fazendo justamente aquilo que o filme dizia criticar. E se ela era uma versão jovem da protagonista, como é que ninguém a reconhecia?

Enfim, nada faz sentido neste filme grotesco que no fim das contas acaba sendo um desserviço à causa feminista que pretende defender. O mais triste foi ver Demi Moore perdendo o Oscar de melhor atriz justamente para uma atriz jovenzinha, confirmando aquilo que o filme critica, mas reforçando que essa lógica nunca vai mudar enquanto o capitalismo existir.

Cotação: *

segunda-feira, 3 de março de 2025

“Alien Romulus” é um Alien para a geração tik-tok

 

A pílula mais amarga do filme é a insistência do Ridley Scott em inserir na trama as besteiras que inventou para os ridículos “Prometheus” e “Alien Covenant”

- por André Lux,  crítico-spam temente ao Alien

Quem segue meu canal sabe que sou grande apreciador da franquia Alien, especialmente do primeiro que considero um dos mais aterrorizantes filmes de terror já feitos. Gosto até do polêmico “Alien 3” e dos crossovers entre Alien e Predador. Mas parei por aí.

A partir de “Alien: A Ressureição” a franquia oficial desandou e piorou muito quando o próprio Ridley Scott, cineasta que dirigiu o primeiro Alien, voltou a explorar este universo e nos brindou com “Prometheus” e “Alien Covenant”, de longe dois dos filmes mais ridículos já produzidos por um grande estúdio.

Surge então “Alien Romulus” que prometeu trazer a franquia de volta aos trilhos. Ledo engano. Embora tenha sido dirigido por um cineasta competente, Fed Alvarez, o roteiro é um verdadeiro queijo suíço, repleto de furos e besteiras que acabam comprometendo o esforço técnico investido no filme.

Já começa a história com a bendita companhia achando o Alien do primeiro filme encapsulado num casulo em meio aos destroços da Nostromo. Mas como isso é possível se a nave foi destruída por nada menos do que três explosões nucleares e o próprio monstro foi ejetado pela Ripley a milhares de quilômetros do local da explosão? E por que diabos iriam vasculhar o espaço atrás do Alien se já sabiam da transmissão que vinha do planeta onde existem centenas de ovos?

O mais triste é que, já que resolveram trazer a criatura original, podiam ter feito algo bem melhor e coerente mostrando o caos e a destruição causada por ela na estação espacial. Mas, não, ao invés disso inventam uma trama sem pé nem cabeça onde um bando de adolescentes idiotas resolve sair do planeta onde são obrigados a trabalhar praticamente como escravos e ir buscar suprimentos na tal estação espacial que tem o nome de Romulus/Remus.

A partir daí as perguntas começam a pipocar no cérebro de qualquer um que tenha mais do que dois neurônios funcionais: por que a companhia abandonaria a estação, na qual investiram milhões em busca de domar o “organismo perfeito”, na órbita do planeta onde ela operava? Por que jogaram no lixo um androide em perfeito estado que tem acesso às dependências da empresa? Como os jovens poderiam sair do planeta usando uma nave da própria companhia sem qualquer tipo de represália? E por aí vai...

Tudo isso seria desculpável se o filme ao menos seguisse a lógica criada pela própria franquia, todavia, como foi feito para tentar prender a atenção dos jovens espectadores acostumados a ver vídeos de 2 minutos no Tik Tok, apelam para uma edição frenética e desmiolada na qual o tempo de duração da impregnação de um personagem pelo facehugger até o surgimento do monstro em sua forma final é de 5 minutos.

Se não bastasse tudo isso, ainda trazem de volta um “irmão gêmeos” do androide Ash do primeiro filme num efeito de computação gráfica sofrível que desrespeita a memória do ator Ian Holm e ainda acaba com a lógica do original. Ora, naquele filme o sintético foi colocado em segredo na nave justamente para ajudar a trazer o Alien de volta à terra. Se existissem outras cópias daquele mesmo androide andando por aí nas naves da companhia, todo mundo saberia de cara que ele era um deles, não é mesmo?

Androide gêmeo de Ash destrói a lógica do primeiro filme
O gêmeo do Ash: destruindo a lógica do primeiro filme

Mas a pílula mais amarga que existe em “Alien Romulus” é a insistência do Ridley Scott, que é um dos produtores do filme, em inserir na trama as besteiras que inventou para os ridículos “Prometheus” e “Alien Covenant”, ou seja, aquela maldita gosma preta que cria Aliens do nada e os patéticos Engenheiros, que pareciam uns bebês mutantes bombados. Isso faz o filme desembocar em mais uma conclusão tosca, na qual a protagonista tem que lutar contra um híbrido entre Aliens, humanos e Engenheiros que consegue ser ainda pior que o Newborn de “Alien Ressureição”. 

Besta quadrada: é um alien? É um humano? É um engenheiro?

Ao que parece, Ridley Scott parece determinado a destruir o legado de todos os filmes bacanas que fez no passado, haja visto que também é responsável pelas bombas “Blade Runner 2049” e “Gladiador 2”. Alguém precisa parar esse homem!

Apesar de todos esses pontos negativos, “Alien Romulus” é perfeitamente passável, tem algumas sequências tensas e a parte técnica é primorosa, usando muitos efeitos práticos nas criaturas. Mas é pouco frente ao que poderia ter sido feito com o material.

Cotação: **

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025