MUITO BARULHO POR (QUASE) NADA
Filme ganha uma estrelinha a mais por ter feito os cães de guarda da direita tupiniquim espumarem de ódio
- por André Lux, crítico-spam
Quem acompanha meu blog sabe que tive uma pendenga com o crítico e dublê de cineasta Kleber Mendonça Filho, a quem devo meu apelido de “crítico-spam” e cujo primeiro longa-metragem, “O Som ao Redor”, é uma das coisas mais bisonhas que vi na vida. Todavia, confesso que gostei muito de ver ele e a equipe de “Aquarius”, seu novo filme, denunciando o golpe de Estado ocorrido no Brasil, o que provocou muita polêmica e me levou a ficar bastante curioso para ver o resultado final nas telas.
Mas, infelizmente, Kleber mostrou novamente que como cineasta continua um ótimo crítico. “Aquarius” é apenas mais um filme mal feito, mal dirigido e encenado, repleto de situações vazias e que não chegam a lugar algum (como o flerte da protagonista com um viúvo), e com um roteiro frouxo e sem qualquer peso dramático. Fica óbvio que a intenção do Kleber é nobre, principalmente no que diz respeito a fazer uma denúncia social das divisões de classe brasileira, que são ainda mais acintosas na região Nordeste onde o filme se passa, e na luta de David contra Golias representada pela personagem Clara (Sonia Braga) que enfrenta uma grande construtora que quer demolir o prédio onde ela mora sozinha. Ou seja, se aparececem umas navezinhas alienígenas para ajudar ela, ficaria igualzinho ao simpático "O Milagre Veio do Espaço", produzido pelo Spielberg nos anos 80.
O problema é que o roteiro é pífio e todas as cenas que apontam para esses contrastes são gratuitas e forçadas, soando mais como discursinho de comunista de classe média proferidos em saraus de faculdade de Humanas. A luta da protagonista contra a construtora não tem peso dramático algum, afinal mal conhecemos Clara e suas motivações, exceto por meia dúzia de informações rasas que são jogadas de vez em quando. No final, ela parece muito mais apenas uma velha chata e teimosa do que alguém que está lutando por suas convicções.
Se não bastasse isso, o filme tem uma edição sofrível e é alongado além da conta, atingindo a absurda marca de 2h20 de projeção, algo que não faz o menor sentido. Assim como em “O Som ao Redor”, Kleber não demonstra qualquer afinidade em dirigir atores, deixando-os falar um em cima do outro, enquanto a maioria apenas murmura seus diálogos sem verdade alguma. Nem mesmo a experiente Sonia Braga escapa da ruindade, embora até se esforce para tentar dar alguma ressonância a um personagem sem qualquer profundidade. A melhor cena do filme acaba sendo quando ela fica excitada ao testemunhar uma orgia que acontece no apartamento acima do seu e chama um garoto de programa para satisfazê-la, sem dúvida uma sequência corajosa, porém sem relevância para o resto da trama, infelizmente.
O Kleber também parece ter uma fixação mal resolvida com sexo, tanto é que insere diversas cenas quase explícitas de maneira sempre forçada e novamente sem muita relação com o resto do filme. A pior é a que envolve a tia da protagonista que está fazendo aniversário de 70 anos na cena que abre o filme. No meio dos discursos elogiosos dos parentes, incluindo duas crianças, ela olha para uma cômoda e aí tem flashbacks de uma transa, assim do nada. De vez em quando o diretor fixa sua câmera nesse mesmo móvel durante a projeção, mas confesso que não entendi direito o que queria transmitir. Que muita gente trepou em cima dele? Que isso era alguma forma de afirmar que a família de Clara era liberal e progressista? Tudo isso ao mesmo tempo? Pode ser. Ou não. Quem liga?
A conclusão de “Aquarius”, então, é risível, com o cineasta tentando vender uma daquelas cenas que tem o objetivo de provocar catarse na plateia, típica dos enlatados estadunidenses que ele tanto malha em suas críticas, mas que na vida real certamente mandariam a protagonista para a prisão algemada merecidamente. Sem comentários.
É triste ler muitas críticas sobre o filme louvando a produção e supostas virtuoses da direção, em mais uma prova de que a maioria dos críticos atuais confunde amadorismo e falta de conhecimento sobre as técnicas cinematográficas com sinais de genialidade. Kleber é tão pretensioso que decora uma parede da sala da protagonista com um enorme pôster de “Barry Lyndon”, um dos filmes menos conhecidos do grande Stanley Kubrick, o que apenas nos faz lembrar de como a arte de se fazer cinema está cada vez mais diluída.
O mais divertido, todavia, é ver os cães de guarda da direita tupiniquim espumando de ódio contra esse canhestro filme só por causa do protesto em Cannes e de meia dúzia de frases de cunho humanista proferidas durante a projeção, ajudando assim a dar publicidade a ele e meio que obrigando qualquer pessoa que não vomite ódio irracional à esquerda a abraçar e proteger a obra. Só por isso ganha uma estrelinha a mais. Mas, pra variar um pouco, é muito barulho por nada...
Cotação: * *
8 comentários:
Ah meu chapa...pela tua lista de preferidos,já é possivel averiguar que teu conhecimento sobre cinema é bem limitado. Kleber faz com maestria aqui, o que pretendia ter feito em seu longa ficcional de estreia (o razoável, mas superestimado e desconexo O Som ao Redor).aquarius é um filme maduro...pra gente grande.Se você tem problemas pessoal com o cara , vai lá e sai no tapa com ele...mas não posta besteira.
Outra besteira que você escreve é, sobre Barry Lyndon...que é o melhor filme de Kubrick ...tecnicamente falando e muito cnhecido...ao contrário do que postas.
Gostei do "meu chapa".
Andre, na sua opinião, quais os melhores filmes brasileiros?
Parabéns, André, pela capacidade de exercitar a imparcialidade, apesar de você parecer ser, pelas suas outras postagens um "cão de guarda" da esquerda tupiniquim. :-) De minha parte, não sendo “cão de guarda” de nenhum partido - ojerizo isso de "tomar partido", ojerizo fanatismo e ideologistas que negam os fatos, e apesar de ter achado trágica a defesa partidária dos atores em Cannes – por diferentes motivos, adorei o filme, e recomendo a todos a assistirem. Sou defensora ferrenha de medidas socialistas – só que para mim o PT não representa isso, e também defensora de medidas anticorrupção - contra qualquer partido ou político que evidenciem corrupção.
Voltando ao filme, por coincidência, meu nome é Clara, e em 2008, em busca de comprar um apartamento em Boa Viagem, sonhei em comprar um apartamento no Oceania (nome veradeiro do Aquarius), justamente para impedir que construtoras o demolissem. hahaha. Desisti por motivos de segurança falha do prédio e saúde (escadas). Sigo tentando mudar aspectos de heranças culturais podres do Brasil, entre eles, sua política, em exercício de cidadania, no voluntariado, no serviço público, entre outros.
AGradeço a você a oportunidade de me fazer exercitar a empatia, comprovar como o ser humano é multifacetado, e, principalmente, fortalecer a aprendizagem e exercício do binômio admiração-discordância! Bom domingo!
Clara Emilie.
Acho que vc se enganou, Clara. Não existem cães de guarda na esquerda, pois irracionalidade é premissa básica para ser de direita...
Hahahahahaha hahahahaha
Melhor critica que eu li sobre esse filme. Faltou comentar o "deus ex-machina" no final e, também, que a Clara, no final das contas, não passa de uma birrenta mimada de classe média-alta que herdou o ape da mãe. Se existe na vida real, provavelmente bateria panela na varanda do seu apto contra o PT.
Eu meio que falei isso sim: "No final, ela parece muito mais apenas uma velha chata e teimosa do que alguém que está lutando por suas convicções."
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