A New Line e a Warner lançaram no exterior uma versão expandida de ''O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel'', primeira parte da trilogia baseada na obra de J. R.R. Tolkien dirigida por Peter Jackson, em luxuosos Boxes com 4 e 5 DVDs.
Apesar destas edições estarem disponíveis na Austrália, que pertence à Região 4 como o Brasil, infelizmente nós ficamos de fora dos planos dos estúdios. Vou analisar aqui a edição com 4 discos - e quem tiver dinheiro sobrando para adquirir este produto importado terá motivos de sobra para comemorar.
Apesar do próprio Peter Jackson avisar que não considera esse corte do filme, que contém mais de 30 minutos de imagens inéditas, como a ''Versão do Diretor'', a verdade é que as novas cenas melhoram muito o filme, que já era praticamente perfeito ao ser exibido nos cinemas. Houve preocupação imensa em transformar essa nova versão em uma experiência totalmente coerente e refinada. Isso fica evidente quando percebemos que a montagem inclui várias tomadas diferentes das que foram usadas nos cinemas, para que a narrativa case melhor com as cenas inéditas, cujo exemplo mais nítido vem durante o ''Conselho de Elrond''.
Além disso, o compositor Howard Shore compôs e gravou músicas adicionais e totalmente novas para as seqüências inéditas, sendo que em alguns momentos elas acabam até predominando sobre a trilha anterior, o que deixa ainda maior a sensação de fluidez da montagem. Normalmente, em casos de ''Versões do Diretor'', muitas cenas ou seqüências novas são simplesmente jogadas no meio da narrativa, o que resulta em ''pulos'' na banda sonora ou na estrutura do filme.
Nada disso acontece aqui. Conforme explica o diretor Jackson, essa versão estendida é, de fato, o primeiro corte do filme já refinado, mas antes de começar a sofrer as pressões para redução da metragem. É claro que um filme com 3 horas e 28 minutos de duração seria grande demais para os cinemas, nos quais foi apresentada a versão reduzida com ''apenas'' 2 horas e 40 minutos (contida no DVD lançado no Brasil oficialmente).
Contudo, o mais interessante é que muitas das sequências reincorporadas ao filme mudam completamente o seu próprio conceito autoral. No início, por exemplo, após o prólogo explicativo sobre a história do Anel, temos a apresentação dos Hobbits, que é feita por Bilbo Bolseiro (Ian Holm) enquanto inicia os trabalhos de criação de seu livro. Essa seqüência toda é bastante diferente da que foi para os cinemas, tanto em relação ao clima quanto ao ritmo, especialmente nos diálogos travados entre Frodo (Elijah Wood) e Gandalf (Ian McKellen).
Adicionalmente, as novas cenas são muito mais focadas no desenvolvimento dos personagens e suas relações, do que em cenas grandiosas ou com grandes efeitos. Quem mais se beneficia nessa nova versão é sem dúvida Aragorn (Viggo Mortensen), cujo drama interior ganha maior destaque e profundidade. Apenas quem leu os apêndices do livro de Tolkien sabe, por exemplo, que ele foi perseguido a vida toda pelos seguidores de Sauron até acabar sendo levado por sua genitora até Valfenda, para ser criado pelos elfos - daí vem o início de seu romance com Arwen (Liv Tyler). Há a inclusão de uma bela cena na qual ele visita o túmulo da mãe, quando é interpelado por Elrond (Hugo Weaving), que tenta despertá-lo para seu destino. A relutância de Aragorn em aceitar sua herança - e as conseqüências disso para a Sociedade do Anel - são muito mais exploradas e realçadas aqui.
É claro que nem todas as cenas inéditas são relevantes e muitas acabam funcionando apenas a título de curiosidade ou registro de passagens do livro que pouco acrescentam à trama. Um exemplo disso é a discussão entre os membros da Sociedade e os elfos de Lothlorién, que se recusam a deixá-los prosseguir floresta adentro. Todavia, existem algumas preciosidades nessa nova versão que melhoram muito o filme, sendo que algumas até corrigem alguns ''defeitos'' que atrapalharam a versão cinematográfica. Entre eles, temos um pequeno trecho de diálogo entre Gandalf e Frodo, nas Minas de Moira, quando o mago revela que Gollum já foi conhecido como Sméagol (informação crucial que foi deixada de fora e prejudicou o segundo filme, ''O Senhor dos Anéis: As Duas Torres'').
Outra diz respeito à preparação da queda de Boromir (Sean Bean), que ganhou várias cenas adicionais (como ele discutindo com Aragorn, enquanto ambos vêem Gollum no rio seguindo a comitiva) e cuja batalha contra os Uruk-hais ficou mais longa e aumentou em dramaticidade. Há a inclusão de um pequeno monólogo de Aragorn, logo após a morte de Boromir, o qual culmina com lágrimas escorrendo pelo seu rosto, que corrige o que parecia ser um grave defeito de montagem da versão original. Antes, ela cortava do personagem ajoelhado no chão para o close dele em pé, chorando. Agora podemos entender perfeitamente o desenvolvimento da cena, que havia ficado extremamente truncada.
Outra adição saborosa foi a da distribuição dos presentes aos membros da Sociedade, onde é mostrado um lado mais ameno de Galadriel (nos cinemas ela acabou ficando sombria demais), bem como a conseqüente paixão do anão Gimli pela elfa! Ou seja: se o filme que todos viram nos cinemas (ou em DVD) já possuía qualidades inegáveis, a nova versão deixa tudo ainda melhor, mais dramático, rico e profundo, mesmo tendo um ritmo mais lento e sendo, obviamente, bastante longo.
Os Extras Além do filme com 30 minutos a mais e com a opção do som DTS, os dois primeiros DVDs trazem ainda nada menos do que 4 faixas de áudio com comentários da produção, divididos em ''O Diretor e os Roteiristas'', ''O Time de Design'', ''O Time de Produção e Pós-Produção'' e ''O Elenco'' (com participação de Elijah Wood, Ian McKellen, Liv Tyler, Sean Astin, John Rhys-Davies, Billy Boyd, Dominic Monaghan, Orlando Bloom, Christopher Lee e Sean Bean!). Mas é nos próximos dois discos que somos apresentados a uma quantidade inacreditável de extras e bônus.
Só de documentários estilo making of são mais de 12 horas de material, divididos em ''Do Livro à Visão'' (disco 3) e ''Da Visão para a Realidade'' (disco 4), ambos subdivididos em uma série de capítulos nos quais cada aspecto da realização do filme é dissecado de maneira excepcional. De particular interesse é o documentário sobre a criação dos efeitos sonoros (especialmente os ruídos do Balrog feitos a partir do deslocamento de um imenso bloco de concreto!) e as diferentes técnicas usadas para deixar os Hobbits do tamanho correto (fundo azul, perspectiva forçada, uso de bonecos gigantes e dublês anões).
E, se não bastasse tudo isso, os discos ainda trazem mais de duas mil fotos de produção, mapas interativos da Terra-Média, storyboards, testes iniciais de filmagem, animatics comparativos, etc... Certamente quem gostou do filme poderá ver ''A Sociedade do Anel'' de uma forma que nunca sonhou ver antes.
Cotação: *****
7 comentários:
Só agora, depois de anos que a versão estendida está na internet, é que os sujeitos resolvem lançar uma versão em DVD? E quando todo mundo já está fazendo esquemas para conseguir ver as versões em HD?
O modelo de negócio das produtoras têm que ser completamente revisto.
Drakul, eles lançaram DVD faz muito tempo. Esse meu texto é velho. Estava no epipoca e resolvi importar ele para ficar registrado aqui no meu blog...
Ué!
Muito estranho ...
Descí o sarrafo nesta (mais 1 porcaria roliudiana) trilha sonora horrorosa, pretenciosa, repetitiva e enfadonha, irritante até e ... nao saiu meu comentário.
Algum problema por aí, André?!
Inté,
Murilo
Aqui não chegou nada, Murilo. As vezes o bloger faz dessas.
André,
De novo, traveis e mais 1 vez, to puto c/ essa porcaria chamada Internet Explorer.
Fui 1 dos q já reclamou (milhoes de outros tmbm) sobre essas "estranhas" coisas q andam acontecendo.
Nao é só por aqí, pois inclusive email q mandei prá minha sobrinha, q mora em Genebra, nao cehgou.
Há algo de podre se passando na net, e ... é por aqí.
Inté,
Murilo
O fato da New Line não ter lançado a versão extendida no Brasil por achar que "não haveria mercado" (numa época onde qualquer seriadinho insignificante já tinha boxes compeltos em DVD) foi a maior cachorrada, trairagem e estupidez já feita por uma distribuidora internacional no Brasil.
Peguei tanta raiva da New Line que me comprometi a nunca mais comprar nada deles, e passei a apoiar definitivamente a pirataria digital.
Assisti a todas as versões extendidas, inegavelmente melhores que as cinematográficas, resultantes de cortes exigidos por executivos tão cretinos quanto os que subestimaram o Brasil como mercado consumidor. (A exceção de uma única cena nova no Regresso do Rei, quando um Nazgul ataca Gandalf no castelo de Minas Tirith, que simplesmente não fez sentido.)
Isso é só um exemplo do maravilhoso "liberalismo" de mercado pregado pelos defensores das grandes corporações e opositores ferozes da Revolução Digital. A promessa de que o mercado satisfaz todas as nossas necessidades cai por terra não apenas pelo fato de jamais ter sido capaz de fazer coisa alguma sem apoio constante, irrestrito e ostensivo do estado. Mas também desaba ante a qualquer burrice de uma única corporação, que parece se esforçar, ela mesmo, em mostrar que a Mão do Mercado é tão Invisível quanto impotente.
A trilogia em si na sua versão estendida já é a melhor trilogia da história do cinema, na minha opinião, melhor que PODEROSO CHEFÃO por exemplo, que ao contrário do Lord of the Rings, tem seu desfecho muito ruim (PODEROSO CHEFÃO 3), o que evidentemente não acontece em Lord of the Rings, que tem em seu desfecho um filme emocionante, marcante, impactante, lindo... que é o RETORNO DO REI.
Mas em especial, A SOCIEDADE DO ANEL é o melhor dos 3 filmes, é um filme que já está entre os grandes, um filme que além de ser muito bonito visualmente tem na sua apresentação da terra média o ponto alto, e aí que é arrastado, ele tinha que ser assim, e ainda bem que Peter Jackson o tenha feito assim, ele é de uma contemplação incrível. Eu amo cinema, já vi centenas de filmes, clássicos, Billy Wilder, Frank Capra, Visconti, Bergman, entre outros... sou fã de todos estes, e por isso falo, na minha opinião, A SOCIEDADE DO ANEL está nesse nível, coloco lado a lado com grandes filmes do cinema. Ele tem tudo que um filme pede, direção, interpretação, roteiro, FOTOGRAFIA, história, música incrível, cenas marcantes... tudo em exuberância pura.
PARABÉNS PETERJACKSON POR TER A CORAGEM DE TRAZER A TERRA MÉDIA PRA NÓS, NESSA MARAVILHOSA TRILOGIA (EM ESPECIAL A ESTENDIDA), MAS PRINCIPALMENTE POR ESSE A SOCIEDADE DO ANEL, UM FILME MÁGICO NA SUA VERSÃO NORMAL E ANTOLÓGICO NA SUA VERSÃO ESTENDIDA.
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