HUMANIZANDO O MITO
Filme tem como protagonista ninguém menos do que Charles Darwin, o criador da teoria da evolução
- por André Lux, crítico-spam
Cinebiografias de personalidades reais sempre correm o sério risco de limitarem-se a elencar vários episódios importantes sobre a vida do biografado, falhando em aprofundar suas paixões, dores ou inspirações e alienando assim o espectador. Levando-se esses fatos em conta, “Criação” é uma boa surpresa. O filme tem como protagonista ninguém menos do que Charles Darwin, o criador da teoria da evolução, que revolucionou o modo como vemos a natureza e mesmo nosso lugar neste mundo.
Ao invés de tentar reproduzir nas telas toda a jornada de descobertas do cientista, o filme concentra-se na fase mais difícil de sua empreitada: justamente quando tem que completar seu livro “Sobre a Origem das Espécies”. Atormentado pela morte de sua filha mais velha, com a qual tinha grande empatia e continua conversando em momentos de delírio, e pelos conflitos entre sua fé cristã cada vez mais enfraquecida e suas descobertas científicas revolucionárias, Darwin reluta em finalizar sua obra. E quanto mais procrastina, mais estressado fica ao ponto de adoecer fisicamente.
Esses conflitos internos do protagonista são explorados de maneira sutil e madura, sem cair em melodramas ou reduções simplistas. O relacionamento entre Darwin e sua devota, porém muito religiosa esposa (a lindíssima Jeniffer Connely) também é bem enfocado, tornando-se parte importante do desenvolvimento psicológico do personagem. A interpretação de Paul Bettany como Darwin é convincente e o filme tem ainda uma excelente direção de fotografia e uma bonita trilha musical composta por Christopher Young.
Se não é nenhuma obra-prima, “Criação” ao menos tenta humanizar um personagem mítico da nossa história sem se preocupar em ser didático ou detalhista. E é exatamente assim que os bons dramas são feitos. Além disso, esse é o tipo de filme que, mesmo sendo respeitoso em relação à fé alheia, certamente vai provocar a fúria dos fanáticos religiosos - o que por si só já um ponto positivo a mais para ele.
Cotação: * * *
Um comentário:
Caro André
Realmente, assisti e gostei.A duvida sobre lançar o livro e cair no desgosto da esposa, que o envia para ser publicado, mesmo sabendo que era contrário á sua forma de pensar.
Saudações
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