MALA SEM ALÇA
Filme poderia ter sido um interessante retrato da mente criminosa na época da depressão econômica dos EUA. Mas o diretor está mais interessado em torrar o saco da platéia com altas doses de pretensão e pomposidade.
- por André Lux, crítico-spam
Com exceção de “Os Informantes”, com Al Pacino e Russel Crowe, todos os filmes do diretor Michael Mann que eu assisti padeciam dos mesmos defeitos: eram excessivamente longos, arrastados, melodramáticos, truncados e pretensiosos. E “Inimigos Públicos” não é exceção. O filme pretende contar a história real do assaltante de bancos John Dillinger, caçado pela polícia até se tornar o inimigo público nº1 dos EUA. Mas ao invés de tentar fazer um eletrizante policial de suspense ou então uma aventura escapista palpitante como “Os Intocáveis”, Mann carrega nas tintas e dá a impressão de querer produzir um épico com ares “shakespirianos”.
O problema é que o roteiro não aprofunda os personagens e não apresenta nenhum diálogo ou reviravolta interessantes. Tirando o protagonista, vivido por um pouco convincente Johny Depp, o resto do elenco passa batido e não tem o que fazer em personagens que beiram o vazio. Christian Bale é novamente desperdiçado como o agente do FBI Melvin Purvis, num papel que é nada. O mesmo vale para Marion Cottilard, que ganhou o Oscar por sua atuação como Edit Piaff e faz aqui a namoradinha sonsa do bandido Dillinger.
São duas horas e meia para contar essa história batida e sem graça, toda filmada em High Definition (digital) e câmera na mão que treme e balança o tempo todo causando mais irritação do que qualquer outro efeito. A fotografia do famoso Dante Spinotti utiliza quase sempre iluminação natural o que deixa o filme numa escuridão quase total, algo que serve apenas como exercício de estilo inútil e pedante. Em algumas cenas chave mal dá para se ver o que acontece na tela, tamanha a escuridão! Nem a trilha musical composta pelo competente Elliot Goldenthal (de “Alien 3” e “Frida”) escapa, sendo exageradamente melodramática e pomposa.
Também não entendo essa obsessão de Michael Mann em glamourizar bandidos sem escrúpulos, pintando-os, a exemplo do que fez em “Fogo Contra Fogo” e “Colateral”, como se fossem gênios incompreendidos ou coisa que o valha e fazendo suas quedas dignas de dramalhões mexicanos. Dá a impressão que o cineasta quer que a gente torça por gente como esse John Dillinger, de tanto que força a barra para mostrá-lo como uma pessoa simpática e profunda, quando não passava de um ladrãozinho de bancos assassino e estúpido (caso contrário não teria sido tantas vezes preso e no final abatido).
Se ao menos o diretor tentasse aprofundar o protagonista, mostrando o que o movia e o que o levou à vida de crimes, “Inimigos Públicos” poderia se tornar um interessante retrato da mente criminosa naquela época de profunda depressão econômica dos EUA. Mas, que nada, Mann está mais interessado em torrar o saco da platéia com altas doses de pretensão e pomposidade. É um verdadeiro mala sem alça, isso sim!
Cotação: * 1/2
3 comentários:
Pera-lá também né, a bandidagem também tem seu charme, sou mil vezes um ladrão de bancos que mete as caras do que um Daniel Dantas, ladrão de colarinho branco que rouba do povo.
Se o cara fosse um Robin Hood moderno ou então roubasse bancos em nome de alguma causa, vá lá. Mas não é o caso. Era só um bandidinho safado que roubava por roubar e matava por prazer.
Por que Dillinger era saudado como popstar? De que forma ele demonstrava ser inteligente e ter raciocínio rápido? De que forma ele se estabeleceu como uma espécie de "Robin Hood" pós-Grande Depressão? Se você gostaria de saber as respostas, vá pesquisar em qualquer outro lugar, pois o filme não mostra. Pelo contrário, como o blogueiro disse, ele parece mais um bandidinho estúpido, pedante e burro. Enfim, um filme chatíssimo que tenta se apoiar nos quesitos técnicos (pelo menos, é o que os que se dizem "críticos" estão falando...) e nos nomes envolvidos, Michael Mann, Johnny Depp, Chrsitian Bale e Marion Cottilard. Se tivesse sido dirigido e estrelado por nomes desconhecidos, teria passado despercebido ou seria massacrado pela "crítica". Eu devia era ter visto novamente "Up" ou "Happy Feet" com minha filha. Perdi meu tempo e torrei um pouco da minha cada vez menor paciência. E eu que estava me sentindo culpado por ainda não ter visto essa m...
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