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quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Mesmo medíocre, “The Mandalorian” conseguiu a proeza de agradar até o mais empedernido fã de Star Wars


Com tanta gente talentosa envolvida no projeto, a gente fica sempre esperando algo mais elaborado, diálogos mais afiados, tramas menos simplórias, mas isso nunca acontece

- por André Lux

A Disney vem enfrentando uma série de problemas com a franquia Star Wars desde que a comprou a peso de ouro do seu criador George Lucas. Os novos filmes acabaram sendo mal recebidos por uma grande parcela dos fãs (a maioria composta por machistas e misóginos obcecados que não aceitam o fato da protagonista ser uma mulher, verdade seja dita) que passaram a vociferar seu ódio contra a corporação nas redes sociais fanaticamente.

Depois da má recepção do filme “Han Solo”, que apesar de divertido é realmente fraco, a Disney entrou numa sinuca de bico e cancelou vários projetos ligados à saga que deveriam ser exibidos em seu canal de streaming. Um deles, porém, sobreviveu: a série “The Mandalorian” (O Mandaloriano, em tradução livre), que obviamente originou-se de algo que deveria girar em torno do personagem Boba Fett, mas que devido aos problemas acabou se transformando nas aventuras de um outro mandaloriano (cujo nome só é revelado no último episódio).

Ao que parece a Disney acertou desta vez, já que a maioria dos fãs vem louvando a série e dizendo coisas como “isso sim é Star Wars!”. Um exagero, na minha opinião, pois embora tenha realmente boas qualidades, a série tem muitos problemas e besteiras que poderiam ter sido facilmente evitados. No final das contas, não passa de uma animação feita com atores de carne e osso.

A maior qualidade de “The Mandalorian” é retornar a conceitos básicos de outros filmes e gêneros inseridos nos Star Wars originais por Lucas, tais como os encontrados em faroestes e filmes japoneses de samurais. Assim, o protagonista é um caçador de recompensas, como nos Westerns, que depois cai em desgraça como um Ronin. Isso permite à série usar uma aproximação minimalista aos personagens que, embora transitem nos mundos futuristas de Star Wars, poderiam muito bem estar num saloon do velho oeste ou numa aventura no Japão feudal.

Infelizmente a série tem alguns problemas que a impedem de se tornar algo além de medíocre. O principal dele é a insistência em fazer o protagonista agir como um perfeito idiota, algo que destoa completamente da caracterização que tentam imprimir nele. Uma sequência que ilustra bem isso é quando Jawas rapinam sua nave (ela não tem proteção, alarme, escudo?) e a subsequente perseguição que ele faz ao Sandcrawler, escalando-o sem nenhuma proteção só para ser abatido e jogado pra fora quando chega ao topo. Por sinal, só essa queda já seria fatal, numa das muitas ocasiões que o Mandaloriano exibe qualidades de Highlander.

A trama principal gira em torno do resgate de um item valioso para ex-oficiais do Império (a série se passa depois dos eventos vistos em “O Retorno de Jedi”) que todos já sabem ser um "bebê Yoda". Não se sabe ainda se é um clone dele ou somente outro ser da mesma raça do antigo Jedi. E nas ações desse personagem percebemos claramente o caráter misógino e machista dos ataques de muitos fãs à nova trilogia feita pela Disney.

Ao mesmo tempo que chamam Rey de “Mary Sue” (adjetivo pejorativo usado contra mulheres que exibem poderes, conhecimento e força supostamente incompatíveis com o personagem) quando ela usa a força mesmo sem treinamento, não vemos ninguém dizendo o mesmo quando o “bebê Yoda” faz igual! Lamentável.

Misoginia dos fãs: "bebe Yoda" está liberado para usar a força sem treinamento, mas a Rey não!

Outro ponto baixo da série é a péssima música composta por Ludwig Goransson, um compositor talentoso que escreveu boas partituras para filmes como “Pantera Negra” e “Creed”, mas que aqui certamente foi obrigado a tentar imitar a paleta musical criada por Ennio Morricone para os faroestes italianos, algo que simplesmente não funciona no contexto de “The Mandalorian”. O tema principal associado ao lado mais aventureiro do personagem também é muito ruim e por demais parecido com o que Goransson criou para “Creed”, que já era algo derivado do que Bill Conti compôs para os “Rocky” originais.

“The Mandalorian” foi criada pelo ator, roteirista e diretor Jon Favreu (de “Homem de Ferro”) e  dividida em oito episódios de pouco mais de 40 minutos. A série se perde muito quando se distancia da trama principal, tendo alguns episódios muito fracos (o pior é o que treinam fazendeiros para enfrentar mercenários que usam um antigo andador AT-ST imperial, um dos clichês mais batidos do gênero). Irrita também o fato de o protagonista deixar o “bebê Yoda” toda hora sozinho na nave ou em outro lugar sem qualquer proteção, só para gerar suspense.

Os melhores episódios acabam sendo os dois últimos, quando finalmente começa a ser resolvida a trama central. Mas mesmo assim, muitas besteiras acontecem, especialmente quando dois stormtroopers conseguem capturar a preciosa recompensa, mas simplesmente param na entrada da cidade de maneira absurda só para serem atacados, e na cena em que o temido ex-oficial imperial tem os protagonistas totalmente cercados, mas resolve dar a eles várias horas para resolverem se entregar.

O protagonista é feito pelo ator Pedro Pascal, de “Game of Thrones”, embora poderia ser qualquer um, pois ele passa a série toda usando o capacete mandaloriano e só é visto por alguns instantes no último episódio (e sua cara de gaiato não combina com o personagem). O resto do elenco é bastante irregular e nenhum dos outros coadjuvantes chega a marcar.

Com tanta gente talentosa envolvida no projeto e o valor gasto em cada episódio a gente fica sempre esperando algo mais elaborado, diálogos mais afiados, tramas menos simplórias, mas isso nunca acontece de forma satisfatória. Agora resta aguardar a próxima temporada e torcer para que o nível melhore, já que a série tem feito bastante sucesso entre os fãs de Star Wars – um verdadeiro milagre!

Cotação: * * *

5 comentários:

Kiq disse...

Medíocre? Esse provavelmente é o melhor material de Star Wars que a Disney fez! hahahaha

Não é nada de espalhafatoso, nem com investimentos enormes, mas é ótimo.

Mário Gaglianone disse...

Com os fracos episodios no cinema,em que rogue one se destaca,mais pela nostalgia,mandalorian se sai bem por ser mais minimalista,diferente da grandiloquência nos cinemas.

Unknown disse...

Isso é zueira né?

Victor disse...

Deleta que dá tempo...

Unknown disse...

Maluco, nunca vi tanto argumento ruim e furado em tão pouco tempo