DIVERSÃO PURA
O filme é muito bom e não tem nada de patriotadas irritantes pelas quais os estadunidenses são famosos
- por André Lux, crítico-spam
Tinha tudo para dar errado mais esta adaptação de um super-herói da Marvel, a começar pelo nome “Capitão América”, que evoca as piores bravatas patrióticas pelas quais os estadunidenses são famosos.
Mas, por incrível que pareça, o filme é muito bom e não tem nada de patriotadas irritantes (que destruíram, por exemplo, “Invasão do Mundo: A Batalha de Los Angeles”). Pelo contrário, deram até um jeito de ridicularizar o herói quando é reduzido a um mero garoto propaganda do exército para angariar dinheiro em bônus de guerra.
O diretor Joe Johston, que veio dos efeitos especiais e não tem lá um currículo muito brilhante (seu filme melhorzinho era “Rocketeer”), até que se sai bem aqui, equilibrando satisfatoriamente cenas de ação com outras mais intimistas que ajudam a gerar simpatia pelos personagens, essencial para que esse tipo de filme funcione.
O desenho de produção é muito bom (bem diferente do horrível “Thor”) e evoca com maestria o clima dos anos 40 (a história passa em plena segunda guerra mundial). Ajuda muito o elenco, principalmente os coadjuvantes, que dão força ao ator principal Chris Evans como Capitão América (aqui num papel bem diferente do arrogante e cheio de si Tocha Humana que interpretou nos filmes do “Quarteto Fantástico”). Mas quem brilha é o sempre excelente Hugo Weaving, o eterno Sr. Smith de “Matrix”, como o vilão Caveira Vermelha.
Os efeitos especiais são bons e na medida certa, o que é sempre uma surpresa já que hoje em dia, depois do advento da computação gráfica, a maioria dos filmes de ficção e aventura desse tipo acabam poluídos pelo excesso deles. O irregular compositor Alan Silvestri, da trilogia “De Volta Para o Futuro”, acerta também ao compor uma trilha musical adequada e sem exageros, muito bem orquestrada e executada, que atua em favor do filme – principalmente nas cenas de ação.
O filme também tem bastante humor (do tipo inteligente, não igual ao “Thor”, onde quase todas cenas cômicas mostravam o herói batendo a cabeça em alguma coisa) e, maior dos méritos, não se leva a sério. Nesses quesitos lembra bastante o “Superman” de 1978, com Christopher Reeve. É diversão pura e sem pretensões além disso. Por tudo isso, vale a pena ser visto.
Cotação: * * * *
9 comentários:
APORRINHAMENTO BELICOSO
Antes de tudo, cabe uma confissão: desde os quadrinhos, detesto a figura do Capitão América e a política intervencionista estadunidense que ele simboliza. Acho, sinceramente, que o único personagem mais torpe que ele na Marvel é o Tony Stark/Homem de Ferro, que além de ser tudo que o Capitão representa de ruim, ainda faz o estilo playboy engomadinho. Dito isso, não era surpresa pra mim que essa aventura do bandeiroso na tela grande seria um desfile constrangedor de discursos sobre a "bravura" dos marines do Tio Sam e toda aquela patacoada belicista que vem à reboque. Ou seja, pra mim esse longa teria apelo limitado e já fui ao cinema ciente disso.
A decepção ficou por conta do acabamento dos efeitos visuais (bem abaixo da a média para o gênero) e da narrativa arrastada do filme, dirigido com total incompetência por Joe Johnston (do lamentável "Jurassic Park 3"), que falha tanto na caracterização do herói quanto do vilão feito por Hugo Weaving, o eterno Agente Smith, sem muito a fazer com um antagonista raso e clichê. A primeira metade do filme é um tédio sem fim, e não se sai melhor quando surgem as cenas de ação bobocas e até meio confusas que aparecem só lá pelas tantas, depois de muita encheção de linguiça pra tentar, em vão, conferir algum carisma ao bandeiroso. Em alguns momentos, forçam tanto a barra pra pintar Steve Rogers como "humilde e altruísta" que chegam a despertar o riso involuntário, como na cena da granada falsa. Ou quando Rogers interrompe uma perseguição a um servo da Hidra (hein?) só para ter certeza se um garoto sabia nadar.
Além de Weaving, outros nomes de peso foram chamados para dar vida aos personagens, como Stanley Tucci e Tommy Lee Jones, todos sem brilho em suas atuações. Mas nem dá pra culpar tanto o elenco, já que o problema maior é mesmo o roteiro mal alinhavado que não fez mais do que se apoiar nas frases de efeito pra exaltar os States; além da direção feita nas coxas, que impede qualquer torcida à favor do time "do bem" e tampouco causa apreensão quando retrata a ambição do Caveira Vermelha, cujas motivações são mal e porcamente explicadas. Até a música do geralmente eficaz Alan Silvestri (colaborador frequente de Robert Zemeckis) não demonstra inspiração.
Resumo da ópera: "Capitão América" é perda total de tempo e dinheiro, ruim politicamente - pelo já esperado apoio descarado ao belicismo ianque - e pior ainda como entretenimento juvenil. Dificilmente as adaptações da Marvel rendem alguma coisa e o longa do bandeiroso, infelizmente, não escapou à regra.
Desta vez a gente discordou completamente, não cyber? ;-)
Em gênero, número e grau.
Vou dar um voto de confiança no teu post e esquecer por alguns minutos o que esse personagem vestido com a bandeira yankee tem a oferecer...
Não assisti o filme, provavelmente não o farei mesmo. Mas gostei muito de ler as críticas de vocês, desta vez fico com Cybershark. Em minha opinião os piores filmes em termos de propaganda imperialista são na ordem : Independence Day e Whatchman.
Valeu, Hector. Só faço uma ressalva: não vejo nada de propaganda ianque em "Watchmen". Pelo contrário, o figurão que representa o belicismo ianque (Comediante) é mostrado como violento e canalha, embora os quadrinhos de Alan Moore - e o filme tb, por tabela - tenham acertadamente mostrado isso junto com nuances que humanizam o personagem.
Agora, o "Independence Day" é propaganda descarada mesmo, aí concordo plenamente. Mas aquele longa pelo menos é bem feitinho e até razoável como entretenimento, bem diferente das cenas de ação chatíssimas do "Capitão América". Que o filme teria essa patoacoada ufanista a gente podia esperar de antemão, só que nem como entretenimento juvenil funcionou.
Então retornemos, Cyber. Eu li wathcmen no seu lançamento, comprando os fascículos e como sempre, gosto de decifrar as "entrelinhas". O personagem Comediante é apenas uma caricatura rambiforme, feita exatamente para ofuscar o verdadeiro "herói americanóide" que é o Ozymandias. Quando o personagem emerge, aparecendo como o homem mais inteligente do mundo, o bonitão da bala chita, o mais forte e rápido de todos, vi que existia algo de podre no reino dos vigilantes e não era o Rorschach. Faço uma interrupção: lendo a mini-série original, o que mais me surpreendeu foram os encartes, tipo making of e entrevistas dos personagens, como na vida real, além claro da história dentro da história : o conto do cargueiro negro. Como vibrei com a imagem da balsa sendo carregada pelo tubarão amarelo moribundo. Voltando ao texto, bem a minha antipatia pelo + tudo de bom dos vingadores foi crescendo, ao ver o plano maquiavélico, meio teoria conspiratória, o uso das pessoas e artifícios lamentáveis para atingir um objetivo que poderia funcionar ou não. Enfim, a arrogância do sujeito, somada aos métodos me fizeram desejar sua morte pelo apático John, mas a vítima foi o Rorschach, pelo qual eu já começava a ter simpatia, pelo seu histórico de vida. Saudações.
O plano do Ozymandias tem prós e contras. Como disse o Dr. Manhattan, era aquilo ou ver o mundo sucumbiu na guerra nuclear.
Porém, tal como o Comediante e todos os personagens da narrativa da HQ, Adrian Veidt também é cheio de defeitos. Por exemplo, é um mauricinho egocêntrico para o qual vale tudo pra catapultar os lucro de sua corporação privada, chegando ao cúmulo de vender brinquedos baseados nele e nos outros vigilantes!
Mas o Rorschach, o Doutor Manhattan e todos os demais também são multidimensionais e tem seus prós e contras. É justamente isso que faz dos quadrinhos uma obra tão bacana, pq não dá pra ser maniqueísta de jeito nenhum e a gente fica sem saber pra quem torcer.
Em geral, é um bom filme, a pesar de escuro em várias cenas. A perseguição e o tiroteio no centro da cidade é o ponto alto. Acho que deveriam fazer um filme de gângster em três dimensões, pois os efeitos se mostraram sensacionais na telo na. Não sei porque a crítica malhou tanto. Talvez em razão do final, decepcionante.
M. Exenberger
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