DIVERSÃO DE PRIMEIRA
Não é um filme para todos os gostos e vai agradar mais quem conseguir entrar com a mente aberta e preparada para curtir essa "viagem" diferente
- por André Lux, crítico-spam
É engraçado como críticas positivas acabam, muitas vezes, mais prejudicando do que ajudando a carreira de certos filmes. É exatamente o caso desse PACTO DOS LOBOS, fita francesa que fez grande sucesso em seu país de origem, mas acabou passando em branco no resto do mundo. Esse fracasso relativo é, em parte, explicado pelos elogios excessivos que andou recebendo, com frases desconexas do tipo "É a melhor aventura de ação dos últimos dez anos" ou "Um épico grandioso" que, infelizmente, acabam criando na platéia uma grande expectativa em relação ao filme, fazendo-a esperar por uma obra-prima revolucionária ou algo do tipo.
O que, no final das contas, é uma grande injustiça, pois esse filme dirigido por Christophe Gans (que já havia demonstrado talento no pouco visto O COMBATE - LÁGRIMAS DO GUERREIRO) é, antes de mais nada, extremamente bem feito e original. O erro mais uma vez é tentar vender um produto tipicamente europeu como se fosse uma fita de "ação e aventuras" feita nos moldes do cinemão comercial dos EUA. Ou seja, querem nos fazer acreditar que estamos diante de uma simples fita de consumo rápido e superficial quando, na verdade, o que encontramos é um filme rico em conteúdos psicológicos e nuances, no qual o mais importante é o relacionamento entre os personagens (e aqui são muitos e complexos) e o desenvolvimento da personalidade deles.
Soma-se a isso uma grande quantidade de cenas de luta brilhantemente realizadas (que deixam bobagens pretensiosas como O TIGRE E O DRAGÃO comendo poeira) e uma pitada das fitas assumidamente trash que tanto amamos e, pronto, temos aqui uma ótima diversão indicada para quem conhece o mundo dos quadrinhos para adultos e filmes como EVIL DEAD (não por acaso a trilha musical é do mesmo Joseph Lo Duca, cuja assinatura está também no seriado XENA, A PRINCESA GUERREIRA).
Mas vai quebrar a cara quem está esperando ver um filme mal feito ou tosco, pois tecnicamente é primoroso, onde a montagem e a direção de fotografia são os destaques, alternando cortes e fusões inspiradíssimos com tomadas de rara beleza (é essencial assistir ao filme na versão original em widescreen). Gans não tem o menor pudor em colocar sua câmera em locais pouco ortodoxos nem em movimentá-la livremente por um cenário natural de fazer cair o queixo, sem nunca interferir na trama chamando a atenção para sí a não ser quando era necessário - como nas seqüências de luta, por exemplo.
A trama gira em torno de um fato real que aconteceu numa província da França do final do século 18, quando mais de uma centena de camponeses foram trucidados por uma besta feroz. O caso nunca foi solucionado e é a partir dessa premissa que Stéphane Cabel e Christophe Gans constroem seu roteiro, que começa com a chegada ao local do naturalista e filósofo Grégoire de Fronsac (Samuel Le Bihan) que vem para investigar os crimes a pedido do rei, acompanhado de seu fiel escudeiro Mani, um índio Iroquoi que também é mestre em artes marciais (interpretado por Mark Dacascos), que já na sua primeira cena dá uma surra exemplar em um bando de brutamontes.
É nessa excelente seqüência que o diretor deixa claro a que veio: fazer um filme de fantasia no melhor estilo das graphic novels e mangas adultos, cuja preocupação com a lógica é deixada um pouco de lado em favor de cenas esteticamente brilhantes e ricas em detalhes gráficos. Não é nada mais, portanto, que um ótimo quadrinho filmado. Ajuda muito o fato de contar com um elenco formado por atores de verdade, todos trabalhando a serviço da trama e do desenvolvimento de seus personagens, tão diferente dos enlatados do gênero feitos em série nos EUA com seus "astros" fazendo caras e bocas, soluções simplórias ou piadinhas irritantes.
Todavia, é preciso perdoar-se os detalhes sangrentos, os efeitos sonoros exagerados e a duração excessiva, resultando em 2h20 de projeção que, embora não chegue a incomodar como afirmam seus detratores, podia ter 20 minutos a menos sem trazer danos à trama. O maior problema do filme na verdade é mesmo sua conclusão, na qual tentam dar um sentido à história por trás das aparições da Besta que ficaria melhor se deixado em aberto com um tom mais sobrenatural. A própria revelação da criatura (cujo visual remete a RAZORBACK, outro trash talentoso feito por Russell Mulcahy) acaba sendo meio anticlimática, baseando-se muito em efeitos digitais exagerados e desnecessários.
Outro escorregão foi ter transformado metade do elenco em clones de "Conan, o Bárbaro" durante o confronto final, com direito inclusive a duelos com espada e outros instrumentos de luta que ficariam bem nas mãos de um Bruce Lee, mas não nas dos personagens do filme - exceto o índio Mani, cujo ar misterioso ajudava a engolir sua bizarra perícia em artes marciais.
Mas, entre mortos e feridos, O PACTO DOS LOBOS é diversão de primeira como há muito não se via nas telas, extremamente bem realizada e envolvente. E se não bastasse tudo isso, traz ainda de quebra a presença de Mônica Bellucci e suas curvas exuberantes (às quais são muito bem exploradas pelo diretor). Claro que não é um filme para todos os gostos e vai agradar mais quem conseguir entrar com a mente aberta e preparada para curtir essa "viagem" diferente.
Cotação: ****
2 comentários:
André, desculpe o off-topic, mas o seu Blog no Google Chrome está acusando distribuição de malware...
Alguém parece que está com medinho do seu Blog...
Aqui também, no Chrome tá acusando malware. Alguém tá de sacanagem aí.
Quando ao filme, faz tempo que assisti e até hoje considero um dos melhores filmes que já ví.
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